Google+ Estórias Do Mundo: China: O Pêssego Mordido

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

China: O Pêssego Mordido

, em Natal - RN, Brasil



Na literatura chinesa existem poucas referências homoeróticas em comparação, por exemplo, com as tradições gregas ou japonesas, as poucas alusões que existem são sempre feitas fazendo uma relação/comparação com a Idade de Ouro imperial, a Dinastia Han. Um dessas referências que são constantemente relembrados e reatualizados pela poesia e literatura é o Yútáo ou "a sobra do pêssego/pêssego mordido". A história é citada pela primeira vez na obra legalista do filósofo chinês Han Fei. 
Han Fei Zi viveu entre 280 e 233 a.C., era membro da aristocracia chinesa, membro da família real do Estado de Han, primo do imperador, e sintetizou as teorias de filósofos confucionistas Li Si, Gongsun Yang, Shen Dao e Shen Buhai para constituir a doutrina do legalismo, mas sua grande influência é, sem dúvida, do taoismo. Esta doutrina pregava que as pessoas são naturalmente más e sempre agem para evitar uma punição e para obter ganhos, esta seria a natureza humana, sendo assim, a lei deveria punir severamente qualquer ação indesejada, enquanto ao mesmo tempo recompensar aquelas pessoas que a seguem. Segundo Han Fei, o governante que seguisse o legalismo seria capaz de controlar o estado através de três conceitos: sua posição de poder, shi; certas técnicas, shu, e as leis, .  
Diz ele:

Nos tempos antigos, Mizi Xia tornou-se o favorito [chang] do governante de Wei e vivia com ele no palácio. Contudo, de acordo com as leis do estado de Wei, qualquer pessoa que secretamente fizesse uso do transporte do governador seria punido com os pés amputados. Quando a mãe de Mizi Xia caiu doente, alguém entrou no palácio durante a noite para contar-lhe isto, ele então forjou uma ordem do governador e tomou o carro do governador e foi encontrar sua mãe. Quando o governador descobriu o que aconteceu, não fez nada, apenas o elogiou dizendo: "Que grande filho! Para ver sua mãe doente esqueceu de todo o perigo de ter seus pés cortados!" Outro dia, Mizi Xia estava passeando em um pomar e, mordendo um pêssego e encontrando-o doce, desistiu de comer a fruta e deu-lhe ao seu governante para que ele pudesse desfrutar da doçura do fruto. "Como é sincero seu amor por mim!", exclamou o governante, "Você esqueceu o seu próprio apetite apenas para me dar coisas boas para comer!". Porém, mais tarde, quando o amor do governante por Mizi Xia esfriou e ele desapareceu dos seus olhos, ele foi acusado de uma série de crimes contra seu senhor. "Depois de tudo", disse o governante, "uma vez ele roubou o meu carro e outra vez me deu um pêssego meio comido para comer!". Mizi Xia não estava agindo diferente do que sempre agira, comportamento que havia sido elogiado nos primeiros dias e mais tarde apareciam como acusações porque o amor do príncipe havia se tornado ódio.
Se você ganhar o amor do governante, a sua sabedoria será apreciada, e ele vai apreciar os seus favores, mas se ele te odeia, não somente sua sabedoria será rejeitada, mas você será considerado um criminoso e empurrado de lado. O animal chamado dragão pode ser domado e treinado ao ponto de você montar em suas costas. Mas o lado inferior da sua garganta tem escamas com um pé de diâmetro que pode se enrolar para trás a partir do corpo, e o risco de que ele venha a escová-las contra você é sempre grande e sempre certeza de morte. O governante de homens também tem sempre as suas escamas eriçadas. 

A referência de Han Fei, no entanto, em momento algum discute a moralidade do relacionamento entre Mizi Xia e o governador de Wei, ele apenas usa a relação de ambos como exemplo para tratar da maldade intrínseca ao governador que só era amenizada pelo amor que ele sentia por Mizi Xia. É, de fato, o contrário. O exemplo serve para tratar da maldade e da falta de compromisso com a moralidade que o governador possuí por ser um homem como qualquer outro, Han Fei afirma que somente enquanto o governador estava interessado em obter vantagens amorosas do jovem Mizi Xia, ele evitava tratá-lo mal, contudo quando o amor do governador pelo favorito se esvaiu, toda a boa vontade para com ele também se desfez. Ele conclui com um conselho para Mizi Xia e para todo aquele ou aquela que é amado por um homem poderoso: saiba que todo homem é sempre um dragão pronto para envenená-lo quando lhe convier. 

14 comentários:

  1. Gosto dos textos e do nível de informação que eles tem, mas sugiro repensar a tipografia utilizada no blog. Cansa muito a leitura. E mais que ler em telas é mais dispendioso que ler em papel. Fica a dica.

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    1. nossa, Rodolfo, ninguém havia dito antes que estava incomodo. vou mudar sim, pode deixar.

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    2. Espero que a leitura do blog tenha melhorado com esta nova tipografia, Rodolfo.

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  2. Pois então Foxx, eu já havia percebido isto mas entre uma coisa e outra nunca fale ... melhorou e muito ...

    Suas aulas de história são grandiosas ... já disse aqui ... sempre aprendemos e muito, além do que, vc aborda temas pouco divulgados e analisados ...

    bjão

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  3. Gostei Foxx. A historia chinesa é rica em ensinamentos.
    Abraços

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  4. Oi FOXX
    Hoje não é muito diferente, quanto alguém nos ama,somos uns anjos, mas quando esse amor acaba viramos capetas.
    Bjux

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  5. Drops históricos by Foxx... quem não gosta, nzé?
    E "vafanapoli!" foi óoooteeemoooooo! Bjs!

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  6. Oi Foxx, tudo bem?
    Eu adoro histórias chinesas, gregas e tal, acho-as fascinantes.
    Pq tu acha q tô apaixonado? rsrs
    Bjo

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  7. Esse é um período bastante conturbado da China antiga, período conflituoso entre os seguidores de Confûncio e os Taoistas – taoísmo político.
    Mas, o que eu queria colocar em relevo é a figura ‘simbólica’ do dragão. No relato, ela é colocada e uma forma bastante negativa, o aspecto destruidor da figura do dragão, que destrói , pune e mata de acordo com os seus interesses, sempre ligado ao exercício de um poder maior e que é o seu símbolo mais eloquente. Talvez essa negatividade seja fruto de uma crescente hostilidade dos seguidores de Confûncio em relação a seus prodígios. Mas também ele possui outros aspectos dentro da simbólica: O dragão é a união de vários outros seres – serpente, águia, leão, peixe. Também representa a união dos quatro elementos – ar, agua, terra e fogo. É símbolo da perfeição. Ocupa uma posição vertical elevando-se aos céus e, descendo as profundezas da terra, está relacionado com um outro símbolo capital : a Oruborus. É uma criatura andrógina, possui tanto as características femininas e masculinas de uma maneira unificada.
    Então surgiu a questão: não seria propositadamente a inclusão da figura do dragão dentro da narrativa poética, como sendo um símbolo de uma relação homoerótica? Ainda que essa posição não exclua outras.
    Dentro da literatura antiga a questão dos símbolos pode evocar uma série de possibilidades .
    Será que viajei na maionese ou pirei na batatinha????

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    1. na verdade, Renato, a relação dos dragões com relações homoeróticas é bem próxima, mas vou falar sobre isso em outro texto. aguarde um pouquinho e confie no seu amigo Foxx aqui.

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  8. Gostei, não conheço quase nada da China

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  9. Chamou de gordo mesmo, nzé? Gracias pela confirmação. Hahahahahaha! Bjos obesos pra ti!

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