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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Argumentos Contra A Parada Gay

, em Natal - RN, Brasil
Em uma discussão no twitter com o @heterofobia e @rafaourives, levantei os três pontos principais que a comunidade gay fala contra a Parada Gay: primeiro, que é apenas festa; segundo, que denigre a imagem dos homossexuais por mostrar apenas promiscuidade e que ela não é representativa da comunidade gay por reforçar apenas estereótipos. Este assunto ainda está em pauta porque, apesar da parada paulista já ter acontecido, cidades como Belo Horizonte, Salvador e Rio de Janeiro estão preparando as suas ainda, aqui em Natal é apenas em novembro.

A Festa e a Política

O argumento diz que a Parada gay "perdeu" seu aspecto de ativismo e tornou-se apolítica, não passando mais do que uma micareta gay. E eu repito, este argumento é uma falácia. Primeiro, porque a parada gay não perdeu seu aspecto ativista e militante, porque ela é organizada por grupos ativistas e militantes e não por uma promotora de eventos, ela coroa uma semana de discussões que, quem acompanha sabe, acontece durante toda a Semana de Orgulho Gay das cidades que realizam. Se as pessoas não sabem desses outros eventos, aí é questionar porque não interessa aos meios de comunicação de mostrarem algo além da Parada. Outro ponto é que a parada é pensada para ser uma festa e não uma passeata. Ela é a festa que encerra a semana do Orgulho Gay.
Ai vem outro ponto: a parada não é um espaço para se exigir nada porque ela é um espaço de mostrar que os homens gays e as mulheres lésbicas, os\as transexuais e travestis, além dos bissexuais, tem orgulho de ser quem são. É um momento de comemorar o fato destas pessoas terem vencido uma sociedade que sempre te disse que eles deveriam se envergonhar de ser quem são e caminhar sempre nas sombras, ela é o momento de comemorar com alegria e cor e de sair em plena luz do dia mostrando a todos que não existe nada o que esconder. Absolutamente nada!
Critica-se então dizendo que nesta comemoração não existe nada de político. Não se acredita que a festa, per si, também é um ato político. Os romanos com seus circus maximus, os reis medievais com o carnaval, a Igreja Católica com seus dias santos, a República Francesa com seus feriados nacionais, nossos governantes com a Copa, todos eles sabiam e sabem do poder político da festa, que pode não ser ativista como o de um militante ou deputado que consegue a aprovação de uma lei, mas que funciona politicamente, de forma perfeita, no lugar do simbólico. 
É necessário pensar o que significa se fazer uma "micareta gay" em um ambiente homofóbico em que vivemos. É necessário pensar o que significa realizar uma festa gay na rua de qualquer cidade brasileira em segurança e sem ouvir xingamentos de todos os lados. É necessário também lembrar que a possibilidade desta liberdade uma vez por ano abre o precedente para que os gays possam exigir que esta liberdade possa acontecer todos os dias. Se ainda não acham que isso é pouco, a festa é sendo somente uma festa também um ação política em que homossexuais, transexuais e bissexuais tomam conta das principais avenidas de suas cidades e ficam sua bandeira dizendo que circulam também no espaço público, que este precisa abraça-los também, porque são cidadãos da cidade e as políticas públicas precisam contar com eles. A parada gay é sim, somente uma festa! Só que isso, definitivamente, não é um defeito.

A Imagem Que Se Constrói

A Parada começou com o objetivo de promover visibilidade. As paradas brasileiras tinham como objetivo inicial mostrar para a população brasileira que os gays existem, de fato, que estão entre eles, que são seus médicos, professores, artistas e advogados, era um outing coletivo. Que queria provar que existimos e exigir que não fossemos mais empurrados para as sombras dos guetos. Contudo se argumenta que as pessoas que frequentam a parada são promiscuas e que efeminados e travestis (de um lado) ou garotos musculosos descamisados (de outro) não representam em nada a comunidade gay como um todo. Falemos de cada um separadamente. 
A primeira critica é sempre que a imagem que a parada gay cria sobre os homossexuais é uma imagem de promiscuidade, que as pessoas que vão para lá reforçam a imagem (cristã) que os gays são apenas depravados e predadores sexuais. Argumenta-se que os participantes da parada gay são em 90% pessoas que vão lá apenas para fazer pegação e sem a menor consciência política do que significa a parada. Não existe comprovação nenhuma deste argumento, muito menos desta porcentagem (o que seria interessante inclusive perguntar, em uma pesquisa com os frequentadores, se estes conhecem o tema, por exemplo, da parada), mas ela é repetida sempre que o assunto é abordado. 
O pior que o contra-argumento é sempre o mesmo, também. Que se os homossexuais são promíscuos, o que dizer dos heterossexuais em suas festas (micaretas, rodeios, bailes de carnaval)? A resposta, esta sempre dada por homossexuais (que estão repetindo uma crítica heteronormativa ao mundo gay), é que no ambiente gay a promiscuidade é muito maior, mais clara, mais explícita. Mais clara e mais explícita, eu até concordo; porém maior não. Gays e lésbicas ainda são aprisionados nos guetos e pouco frequentam ambientes heterossexuais e, esta é a única explicação que consigo imaginar, não conhecem o que acontece nestes outros ambientes. Um exemplo que me é bem familiar é do Carnatal, carnaval fora de época de Natal, em que pessoas fazem sexo atrás de carros na rua e que a tv exibe beijos triplos (entre duas mulheres e um homem) e pessoas fazem competições de quantas meninas/os beijaram por dia de evento. O carnaval em cidades mineiras ou no Rio de Janeiro também não é muito diferente disso, a contagem de nascimentos de crianças em novembro no país demonstram.
Outro parte deste argumento é que os críticos não se vêem representados pelos gays que participam da parada. Este argumento é tolo, porque a parada não se pretende mais representativa. Não é mais o objetivo da parada gay requerer visibilidade, agora ela tem como tema pleitear direitos (veja: tema, não objetivo) e , por isso, não cabe a ela educar que existem mais tipos de gays que os efeminados e drag queens ou que garotos de corpos talhados pela academia. Até porque a parada em si não tem como controlar exatamente que público a frequentará, não pode proibir que certas pessoas venham e certas não e, sobretudo, se você quer que a parada gay te represente vá lá e mostre seu rosto. Esteja lá, com os frequentadores, sendo a pessoa que você é. 
No entanto, e acho isso mais importante, quem mostra que a parada gay é formada apenas por efeminados, drag queens e go go boys é uma mídia que se interessa apenas em mostrar o que é o diferente. Uma mídia (televisão, jornais e sites) que se interessa pelo extraordinário, pelo inusitado, pelo excêntrico, e se excusa a mostrar dois homens comuns, de mãos dadas, caminhando orgulhosamente sem chamar nenhuma atenção sobre si. A culpa se a parada gay reforça estereótipos não é dos frequentadores da parada é da mídia que se interessa em mostrar somente os estereótipos para que o público que só conhece o próprio estereótipo reconheça a parada como gay. A crítica não deveria ser a parada, mas a uma mídia que não se importa em falar a verdade, mas que se preocupa somente em ser entendida facilmente por uma população que não conhece nada mais do que uma iconografia preconceituosa sobre o mundo gay. 

33 comentários:

  1. eu acho que direitos não se exige em uma festa, que é o que as paradas gays são. Existem outros locais e momentos para isso, concordo que as paradas gays são para mostrar que nos existimos, e isso como vc bem falou já uma conquista simbólica, nada melhor do que causar estranhamentos em uma sociedade homofóbica.

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    1. Frederico, no seu caso, eu sugiro ler os livros de João José Reis e Marc Ferro, que vc com certeza vai mudar de ideia.

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  2. Eu simplesmente não gosto, como não gosto de carnaval fora de época ou de ir à missa, é só uma questão de gosto mesmo e não tenho nada contra quem vai e se diverte, aliás tenho vários amigos que adoram. Simples assim. Abraçooo!

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    1. mas não é uma questão de gostar, Vanderson, é a questão de entender para que serve.

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    2. Eu entendo que é importante, foi mais importante no passado na minha opinião, mas não gosto. Simples assim.

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    3. Gente, eu queria mesmo saber quando NO PASSADO a parada foi diferente de hoje em dia, pq eu esqueci de falar sobre este argumento, que antes era melhor, mas ninguém nunca fala uma data ou pq, só lança esse argumento atemporal que não pode ser comprovado nunca. Se olharmos para a história do movimento militante gay, com a recente aprovação pelo STF da união estável e as conversões em casamento acontecendo pq se propõe que no passado q nenhum desses direitos era sequer imaginado a parada gay tinha mais importância?

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  3. Ótima a sua definição de política... polis... o que se expressa no espaço da polis. Como festa é política sim, não formal, mas é, sem dúvida. Texto absolutamente racional e coerente.

    Beijos.

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    1. gosto de suas avaliações sobre os textos, Lucas, obrigado por continuar os lendo e dizendo o que acha sobre eles.

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  4. Mamilos e Foxx são polêmicos... hehehe! Eu ainda não consegui ter uma opinião coerente sobre o assunto, acredita? Mas teu texto - como te costume - tá bem amarradinho e pertinente. Hugz, guri! E caRRRRma que os X-men virão.

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  5. Eu nunca fui, não gosto e nunca gostei de carnaval. Mas negar a importância política que já tiveram e ainda têm, seria pouco razoável, uma visão limitada [#Minha opinião].
    Tudo que ser faz é política. Elas já tiveram (e acho que ainda têm) um importante papel na melhoria da qualidade de vida de todos nós.
    Respeito algumas críticas, mas boa parte delas revela mais preconceito e vergonha [falta de orgulho ou de autoestima?] do que qualquer outra coisa. E sobre esses comentários de que são frequentadas por esses ou aqueles, nem vou falar nada... Preconceito de quem sempre foi e ainda é discriminado eu entendo e aceito ainda menos do que aqueles arraigados nas mentes dos heterossexuais, brancos e ricos.
    Muito boa sua reflexão. Parabéns!

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  6. Oi Foxx, tudo bem?
    Menino, eu acho que ela deixou um pouco de lado o foco principal de quando era no início. Ela se tornou algo muito comercial. Claro que não deixou de lutar pelos direitos dos homossexuais, continuam lutando sim, como já tiveram vários avanços, isso não se pode negar.
    Sobre teu comentário, independente de quem seja, é ruim de qual quer forma, mas um adulto pode ao menos tentar lutar para sobreviver, mas uma criança de forma alguma, além de ser algo horrendo, cruel, é covarde.
    Bjo

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    1. Dil, eu não deixei de lado de como era ela no início, até onde eu saiba, até onde eu tenho informações, ela começou exatamente do jeito que é, só aumenta seus números a cada dia, sempre foi uma festa. Eu repito o comentário que fiz acima no Vanderson: que passado idílico é este que se projeta onde a parada gay era mais militante e os gays mais politicamente conscientes, mas que não conseguia nenhum avanço real em oposição a nosso presente onde a parada é só festa e os gays alienados, porém há avanços?

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    2. Dil Santos, a parada se tornou mais comercial?? Mas é (e sempre foi) um evento gratuito!!!!

      Alguém pode argumentar: "mas o ganho financeiro é indireto, na venda de água, bebidas, comida e etc." Ok, mas quem vende essas coisas são os comerciantes da cidade, assim como no carnaval. Mas não vejo ninguém acusar o carnaval de ser comercial...

      Aliás, onde está o pecado em mostrar ao comércio local a força econômica do povo que, se não fosse tão oprimido, poderia lhe render mais lucros? é triste que tenhamos que "comprar" nossos direitos, mas é assim que o mundo funciona (assim como foi com a abolição da escravidão)...

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  7. Bem... Com todos os argumentos que vc lançou aki e em uma conversa nossa anterior me comprometo em ir de coração aberto... E ai, como te disse, a gente depois fala sobre as minhas impressões...

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Foxx, meu querido amigo! Teu texto está perfeito, irretocável. Aplausos para vc!

      Os dois argumentos que eu acho mais hipócritas são:

      1) "A parada é um evento político, por isso não vou, não gosto, não apoio e falo mal." - Mas nos outros eventos que acontecem antes da parada com um teor político muito mais evidente, onde estão estas pessoas que dizem isso???

      2) "A parada já foi melhor e, por isso, hoje eu não vou, não gosto, não apoio e falo mal." - Pessoas assim, além de um saudosismo de um passado que provavelmente não existiu, assumem uma postura em que criticar é tão mais confortável que fazer uma ação que interfira no rumo das coisas e "melhore" a situação que as incomoda... Pq vc aí que está insatisfeito com a Parada não vai reunir sua galera e fazer algo no sentido de melhorar a situação?? Reúna seus colegas "com engajamento político igual ao seu" e "moralmente irreprováveis" e sejam maioria na parada que vc tanto critica. Simples assim!

      Beijos, Foxx!

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  9. Ótimos os filmes do Serginho, nzé? Tb curti!

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  10. Durante todo o texto só consegui pensar em uma coisa, que não é segredo para ninguém... os gays são muito preconceituosos. Acho que muitos se sentem feridos em se ver representados por drag queens. Os intelectuais provavelmente se sentem feridos representados pelas drags e pelos bombados.. E por aí vai.. Uma discordia idiota que nunca tem fim... Pq infelizmente para a maioria dos gays o negócio é segregar e não somar forças.

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  11. Novamente a questão da promscuidade gay e o sexo. Se homossexualidade não se resume apenas em sexo, por que tamanha preocupação com a promiscuidade dos gays? Ser promíscuo é muito bom desde quando não prejudique ninguém. Ser fiel também, ser romântico também, etc, vai de cada um, da forma que cada um escolhe. Os gays precisam parar com essa perseguição da sua própria promiscuidade, e parar de debater o que os outros vão pensar. A parada gay representa o universo gay em um contexto geral, sem ser politicamente correto ou sendo. E o universo gay têm muita sensualidade sim, sexo, perversão, romantismo, intelectualismo, burrice, tudo junto. Deixem os promíscuos em paz.

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  12. Sem querer por lenha na fogueira, eu acho a parada válida. Quem me conhece um pouco sabe disso. Mas também acho que a 'festa', não deveria ofuscar os demais eventos que a antecedem (os que acontecem durante a semana do orgulho gay. E se os meios de comunicação não divulgam, ou menos do que deveriam, a culpa é sim dos organizadores. Cabe a eles tornar a 'semana' tão ou mais interessante do que a 'festa'.
    No mais, a 'festa' de encerramento, como o próprio nome sugere, é pra comemorar mesmo. E é, claro, super válida. E que seja mesmo só alegria, de orgulho, de música e tudo mais. Ali não é moemnto de fazer política - embora há quem faça - ou de chorar mágoas.

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  13. leia e reflita

    "Por isso, Deus os entregou aos desejos dos seus corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos.
    Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém!
    Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza.
    Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario.
    Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os aos sentimentos depravados, e daí o seu procedimento indigno.
    São repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade.
    São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais.
    São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia.
    Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem".
    (RM 1, 24 - 32)

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    1. sim, exatamente, OS ROMANOS DA ÉPOCA DE PAULO são assim. eu nasci em Natal, Rio Grande do Norte, em 1981, não tenho nada a ver com o que os romanos faziam de sua vida, nos anos após o advento do messias. contextualize a Bíblia senão ela não serve de nada pra ninguém.

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    2. Anônimos... um beijo pra vcs!

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  14. covarde publique meu texto...

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    1. publiquei querido, deixe de pressa! acha que eu passo o dia pendurado na net somente esperando alguém postar nos textos antigos é?

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  16. Eu acho que cada pessoa tem que cuidar da sua propria vida, que assim estará mais perto de Deus. Na minha opinião ninguem tem que gostar ou não gostar de gays, não gosta não seja, não quer ter amigos, não tenha. Não concorda com o casamento homossexual não case com um homossexual, simples assim. Se cada pessoa cuida-se mais da sua vida o mundo não seria como é . Deixa os gays viverem a vida deles, e vai viver a suas também, ninguem tem que aceitar, tem que calar a boca e respeitar. Aquele que mais julga um gay ou precisa muito de ajuda porque é uma pessoa mau amada, porque vive com o preconceito ou é um gay inrustido e tem medo de sair do ármario. Aceito todos idependente de cor, raça e sexo. Para mim somos todos iguais o que muda é quem escolhemos para ter um relacionamento, se você tem nojo não transa com um gay simples não? abraço.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway