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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Índia: As Virgens do Manu Smriti

, em Natal - RN, Brasil


O Manu Smriti, um dos mais antigos códigos de condutas que foram propostas para serem seguidas pelos Hindus, também menciona as práticas homoeróticas para regulá-las. Estas práticas eram consideradas parte de qualquer outra prática sexual, apesar de não ser sempre bem aceita, mas elas existiam e deviam ser reguladas pela lei. Existindo, inclusive, algumas punições para os comportamentos homoeróticos, contudo quando estes aconteciam contra outras situações sociais. 

Por exemplo, o verso 370, do capítulo VIII, que refere-se as relações sexuais entre uma mulher mais velha e uma virgem fala: "... uma mulher que poluí uma donzela (virgem) deve imediatamente ter (sua cabeça) raspada ou dois dedos cortados, e deve ser feita cavalgar (até a cidade) em um burro", sugerindo um severo castigo. Ao mesmo tempo, o verso 367, do capítulo VIII, que se refere  ao ato sexual entre duas virgens sugere uma punição menor: "... uma donzela que poluí (outra) donzela deve ser multada em duzentas (panas), pagar o dobro da sua taxa (nupcial), e receber dez (chibatadas com uma) vara". Estas disposições, retiradas do seu contexto podem parecer homofóbicas, mas, de fato, elas se preocupam não com o gênero dos parceiros sexuais, mas com a perda da virgindade que prejudicaria seu casamento futuro da donzela. Outro exemplo, a punição pelo ato sexual forçado entre um homem e uma mulher não muda muito quanto isso, vejamos o verso 367, também no capítulo VIII: "... se alguém através da força e insolência contamina uma donzela, dois de seus dedos devem ser imediatamente cortados e ele pagará uma multa de 600 (panas)", que parece ainda mais severo que o castigo prescrito para o mesmo ato entre duas virgens. 

O sexo entre mulheres não virgens geravam uma multa muito pequena, enquanto a relação homoerótica entre dois homens era censurada por uma prescrição de que, por exemplo, dois homens sempre tomassem banho usando suas roupas, nunca ficando nu diante do outro, sob a pena de "comer cinco produtos de uma vaca e manter-se uma noite acordado", e caso havendo relações sexuais propriamente ditas, a pena seria modificada pela perda de seu lugar na casta, como dizem Vanita e Kidwai.  No verso 68, no capítulo XI, fala ainda "causar injúria a um sacerdote, cheirar vinho ou outras coisas que não podem ser cheiradas, desonestidade, e a união sexual com outro homem são coisas que tradicionalmente causam a mudança de casta". No mesmo capítulo, no verso 175, a expiação dos brâmanes que realizavam atos homoeróticos é um banho: "um homem nascido duas vezes que tem relações sexuais com um homem ou com uma mulher em uma carroça puxada por bois, deve tomar um banho, em água, a luz do dia, vestido com suas roupas". Aqui, deve-se perceber, que as proscrições são especificamente para os brâmanes, não há nenhuma referência no Manu Smriti de punição para o comportamento homoerótico entre os homens de outras castas.

A discrepância do tratamento, diz Kanika Goswami, é devido ao status diferenciado entre homens e mulheres em uma sociedade em que a mulher era considerada o mesmo (ou até inferior) a terra, seu gado e seus outros bens. De qualquer forma, a maioria das questões sexuais tratadas por este livro de leis são de cunho heteroerótico, e suas punições são bem mais severas. Por exemplo, "um homem que não é um brâmane deveria sofrer a morte por adultério [samgrahana]". Isto pode indicar que os comportamentos homoeróticos não eram considerados um problema, caso não acontecessem entre os brâmanes ou envolvendo mulheres virgens. A necessidade, todavia, de um maior número de regras para o comportamento heteroerótico demonstram como esta forma de comportamento sexual precisava de um controle social mais intenso, por ser, obviamente, a base da constituição da sociedade e da propriedade, graças ao casamento.

7 comentários:

  1. Oi, bom dia meu lindo...

    Como sempre você arrasando na informação e, principalmente, no cuidado ao transmiti-la com o máximo de exatidão possível. Parabéns!

    Afora que pra mim sempre soa muito estranha essa associação entre “sexo e poluição”, tudo bem, os psicólogos estão aí pra cuidar disso (e, na maioria das vezes, não resolver nada... kkkkkkk... me desculpem os psicólogos de plantão), tem uma informação no seu texto que me fez rir aos “montes”...

    Quer dizer que se dois fofos, tipo, ficassem se deliciando num banhozinho maneiro, a pena seria “comer cinco produtos de uma vaca e manter-se uma noite acordado”... sei, sei... teriam que passar a noite num bom papo, degustando um emmental, um gruyère, um roquefort...

    E se rolasse um sexozinho básico? Será que não podia acompanhar um vinhozinho, heim (kkkkkkkkkk)

    Beijão, meu lindo!

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  2. 'Cheirar o vinho ou outras coisas que não podem ser cheiradas' vem junto com união sexual entre homens? Hmm, realmente o homoerotismo não era problema pros hindus.

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  3. erotismo é algo sagrado e assim deveria ser considerado por todas as religiões pois, isto, é dádiva divina ... mas as noias de poder e dominação das mesmas não permitem ...

    quero sexo com vinho e queijos finos ... rs

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  4. Ai, ai... lembrei de quando eu era virgem... heheh! E Foxxito, acredite: caranguejo pra gaúcho ainda é exótico... hehehe!

    Delicia? Eu? São teus olhos, babe! Hugzão e boa semana!

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  5. E muitos ainda taxam eles de atrasados, mas são mais avançados que os ocidentais em muitos quesitos !

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  6. Menino, publica isso em livro!

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  7. Duas coisas:

    1) Sobre seu texto, pra mim o grande tabu que também enxergo nessa história toda é a virgindade e não o sexo entre iguais.

    2) Sobre o cometário do Fred, eu fiquei chocado: como assim ele já foi virgem??? Huahuahauahauhau

    Beijos!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway