Google+ Estórias Do Mundo: A Terra Estéril

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A Terra Estéril

, em Natal - RN, Brasil
Era noite de sábado, formatura do meu irmão mais velho no curso de Ministros de Deus da escola Rhema, realizado no Centro de Convenções de Natal. Roupas de gala para todos, eu me recusei de ir de terno, escolhi uma calça jeans e uma camisa branca com um xadrez discreto, sapatos de couro, e um blaser bem cortado por cima. Bastava isso, sobretudo para o clima de verão de Natal. Quase toda família foi, meu pai de terno, meu irmão caçula de terno, mas sem gravata; minha mãe, minha sobrinha (filha deste irmão mais velho) e a esposa dele, todas as três de longo. Faltou o primogênito do meu pai, e sua esposa e três filhos. Todavia, ainda assim, era um clima da celebração mesmo. Celebração de um curso que ainda não entendi muito do que se trata. Também não entendi quando a cerimônia começou e, após os professores da escola formarem a banca, haver um desfile de bandeiras de alguns países e estados brasileiros, onde a Rhema tem escolas, que me lembravam a abertura de uma olimpíada. Não entendi também o show de uma banda gospel, com uma cantora loira e gorda que agitava os braços no ar, respirava pela boca e desafinava em todas as músicas. Não entendi o culto que demorou pelo menos uns 45 minutos da cerimônia. Sem entender, levantei-me e sai. Resolvi sentar no hall e fica aproveitando o cheiro de maresia que vinha do mar em frente ao centro de convenções. Meu irmão caçula me seguiu. Conversamos lá sobre filmes do 007, ele sentado num sofá desconfortável, eu sentado no braço do sofá, quando dois meninos se aproximaram. Não deviam ter mais que dezessete anos, o mais moreno olhou-me nos olhos e sentou-se no sofá, no centro, o outro sentou do outro lado, junto ao braço. O moreno então deixou-se deslizar para bem próximo de quem eu ainda achava que era apenas seu amigo e cruzou a perna, de uma forma que sua perna ficou apoiada na perna do outro, estranhei aquele comportamento, dois homens heterossexuais não sentaria assim, tão próximos. Agucei meu olhar e o amigo, mais branco, espreguiçou-se e baixou seu braço, descansando-o no apoio para as costas do assento, e foi aí que eu percebi, naquele antro de evangélicos, o menino fazer um carinho no ombro do mais moreno. Aquele carinho discreto que diz: "estou aqui do seu lado". Eu, no meu íntimo, torci naquele momento por aqueles dois meninos. Desejei-lhes toda felicidade do mundo. E eu soube, que por mais que a terra seja estéril, o amor floresce em qualquer lugar. 

22 comentários:

  1. Sabe, ficou muito lindo esse post, lindo mesmo... a sua sensibilidade é algo maravilhoso. Eu, sou um pouco mais, digamos, relativista (será essa a palavra correta?). Eu consigo imaginar esse mesmo post escrito, por exemplo, pelo seu irmão. A frase final poderia ser assim? “E eu soube que, por mais que a terra seja fértil, as ervas daninhas florescem em qualquer lugar!”

    Desculpe, meu lindo... eu apenas estou querendo dizer que a vida, como entendo, é feita exatamente disso: confrontos, bifurcações, opostos, multiplicidade, turbilhão, pendulo... relatividade... as coisas em si mesmas não são acessíveis (feliz ou infelizmente) a nós que vivemos imersos nisso tudo.

    É essa a grandeza da vida... eu aprendo todo dia a admirar tudo cada vez mais.

    Beijos

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  2. sim, isto floresces até mesmo nas terras estéreis ... portanto ... acredite ...

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  3. Ah, que lindo!!
    Um pontinho para o amor!! =)

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  4. É como sempre dizem: Omnia Vincit Amor! Independente de religião, orientação sexual, ou qualquer outra coisa... :D

    Abraço, Foxx... Até o próximo!

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  5. Lindo de doer, amigo! Quisera que todos fossem iguais a você!

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  6. Ownnnn, soltei um Own sonoro e canino aqui lendo isso, hehe

    Bjs

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  7. Lindo quem vê e sente que "por mais que a terra seja estéril, o amor floresce em qualquer lugar."

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  8. Own, que final le fofo!
    "Curti" o comentário do MA!
    PS: esqueci de lhe dedicar a versão Dolls do "não gosto dos meninos". Kisses

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  9. De algum modo me vi nessa história.
    Lembranças...
    Pena q o meu final não foi tão feliz.
    Enfim...

    Abraços Querido
    Te Adoro!!

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  10. Vou escrever o que um amigo me disse hoje: A Pessoa É Para o Que Nasce.

    Abraços.

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  11. Ontem, durante um passeio por aqui, vi dois casais gays (vejo todos os dias).
    Um de mãos dadas passeando e, o outro, já mais distante do calçadão (onde vi o primeiro), entre supermercados, bancas de jornal, farmácias, pessoas chegando do trabalho, etc e etc, discutindo com os rostos quase colados um de frente para o outro. Um deles segurava o rosto do parceiro com as duas mãos - uma em cada bochecha. Este, falava (discutia) algo em bom tom (não consegui escutar porq a rua tava muito barulhenta), mas consegui escutar algo muito carinhoso.
    Enfim, eram nitidamente namorados e estavam 'cagando' pros transeuntes.
    Aí, após ler o seu relato, foi inevitável a comparação.
    [nesse momento, escuto pela janela alguém assobiando "ai se eu te pego". MeoDels, conheci essa música no Reveillon e não aguento mais]

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  12. A lugares no mundo que a terra é definitivamente estéril, mas a vida é sempre muitissimo forte ...

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  13. a última vez que fui numa festa da faculdade foi no mesmo dia que aquelas passeatas que tem dos evangélicos no aterro, em botafogo. tinha que ver o metrô indo pra botafogo. cheio de viado crente.

    achei bonitinho.

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  14. que fofinha essa história, também torço para eles e para todos aqueles que amam!!!
    bjos

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  15. Florecer florece. Mas morre com a mesma facilidade. Ou matam.

    Beijo Primo!

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  16. Nossa, o que mais me deixou chocado foi este último comentário...

    Por deus, nãoooo. As coisas só morrem se a gente deixar ou quiser... não acho que ninguém além de nós matamos o amor que floresce.

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  17. Gente! Que bacana! Gostei muito desse texto. daqueles que são dignos de ser publicados em livros, com capas bem produzidas, amigos intelectuais falando bem na orelha do livro e tudo mais.

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  18. Floresce sim... E como floresce...
    Abraçoooo!

    PS: Sua roupa me pareceu ótimaa!! ;)

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway