Google+ Estórias Do Mundo: O Filho Viado

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Filho Viado

, em Natal - RN, Brasil
- O que significa "discurso homofóbico", Foxx?
Perguntou meu pai, enquanto eu estava sentado no sofá cinza da sala dos meus pais.
- Significa ser contra gays.
Eu respondi, sem me alongar muito na questão. Eu também já estava me levantando para sair, eu precisava voltar para casa porque já era tarde. Devia ser quase 23h da noite e eu faço minhas orações sempre as 23:30h. 
- E quem seria a favor dos gays? - perguntou minha mãe - Nenhum deles presta!
Ela falou olhando nos meus olhos, em tom de ataque.
- Eu presto. 
Sorri para ela. Intocado pela raiva que ela me lançava.
- Você não é gay.
- Sim, eu sou, mãe. E não adianta você dizer que não sou. Tentar negar isto.
Eu peguei minha bolsa no sofá e coloquei no ombro.
- Eu não coloquei no mundo nenhum viado, Foxx. Filho meu não é gay!
Disse ela de voz alterada.
- Então eu acho que nasci de chocadeira.
Eu encerrei a discussão, girando nos meus calcanhares, para ir embora. Ela gritou ainda:
- Eu não tenho filho viado!
- Sua opinião foi registrada.
E eu caminhei pela garagem escura sozinho.


P.S.: Esta é a septigentésima postagem. 

17 comentários:

  1. Eu teria acrescentado, em sua fala final: "e isso é fruto de um discurso homofóbico!"...

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    1. não dava para acrescentar muita coisa, Cara Comum, sem transformar numa briga. Isso é o que dá quando eu frequento muito a casa dos meus pais. Se ir demais, essas coisas acontecem...

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    2. Ah, mas eu não fugiria de uma briga assim por nada! rsrsrsrs

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    3. E eu não entro em brigas que já sei de antemão perdidas...

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  2. É pena a tua Mãe ter esta opinião...

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    1. Com certeza, pra ele principalmente. Eu sou um filho fabuloso! =)

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  3. Muito triste voc~e ter que enfrentar isto em casa, vamos precisar de mais algumas geraçoes para mudar isto! fique bem!

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    1. Sim, é muito triste sim. Mas eu também entendo minha mãe e meu pai, porque ele também não é muito diferente, só fala menos. A questão é que eles foram criados em uma época muito diferente da nossa e, mesmo não sendo desculpa, é muito difícil para eles desmanchar tudo o que conhecem sobre homens gays que eles aprenderam. E como na minha vida ser gay é absolutamente um acidente de percurso (já que não tenho vida amorosa/sexual), eles não tem nenhum contato com o que me torna gay, não há como "educá-los".

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  4. Então esta é a postagem que ocupa a posição imediatamente a seguir à seiscentésima nonagésima nona? Interessante - pena que o tema não é feliz, mas dá gosto saber da sua compreensão (acima). Seguramente você os está educando, vagarosa mas inexoravelmente. :-)

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    1. e você é 17.141º comentário, Edu.
      Será que eu os estou educando mesmo? Não vejo avanços, na verdade, quando o tema surge sempre a resposta é a mesma porque, como eu disse, eles não são expostos a minha vida gay de forma alguma. Para eles, no fim, eu sou apenas o filho que está sempre solteiro. Meus pais não conhecem meus amigos gays porque eles não vivem em Natal, e os que vivem não convivem comigo; eles também nunca foram apresentados a um namorado meu, acho que a única coisa que meus pais já presenciaram foi eu sofrendo homofobia, sendo maltratado, xingado, agredido, mas eles nunca me protegeram, nem quando criança, eles sempre ficaram do lado do agressor. Sinceramente, não vejo que eu esteja conseguindo educá-los em algo, não tenho como fazê-lo.

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  5. Sinceramente! Considerando ser a seiscentésima nonagésima nona vez eu já não me daria ao desfrute de discutir isto com ela.
    Sinceramente tb, levando em conta os meus quase 64 anos, toda a experiência de vida acumulada e os meus pensamentos q te causaram tanta curiosidade em "Quando se aceita viver!", eu já não estaria mais frequentando com tamanha intensidade a casa deles. Só mesmo em casos de extrema necessidade deles, pois, por necessidade minha procuraria quem me respeita e me aceita.

    Quem não gosta de mim ou não me aceita como sou não merece a minha consideração e o meu respeito, seja ela quem for!

    Beijão

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    1. E eu acho que vc tem absoluta razão, Paulo.
      Eu evito inclusive frequentar a casa dos meus pais, o menos possível eu tento ir, contudo, ao mesmo tempo, eu sei que eles precisam aprender a conviver com isso, mas se eu simplesmente sumir eles nunca vão aprender não é? Eu tento ir o suficiente para que eles aprendam que eu sou gay e que eles precisam aceitar isso se desejam conviver comigo, mas eu acho, sinceramente, que não tem surtido nenhum efeito, não vejo melhoras.

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  6. Eu passei por isso no começo, mas ouvi isso do meu pai. Algumas semanas depois minha mãe me aceitou e até ocorreu um caso em que ela "tirou" uma mulher que dizia que eu namorava com uma menina que não prestava, minha mãe logo em seguida olhou pra ela e disse mas meu filho gosta de homem. Desde então ela sempre me da apoio e tudo mais meu pai acredito que não aceita mas não se pronuncia sobre nada. O que na minha opinião fazem eles não aceitarem um filho gay é que pra eles a gente vai se vestir de mulher, falar fino, ou até mesmo virar travesti o que também não é nenhum problema. Mas eles ainda vivem com esse tabu, principalmente com filho homem.

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    1. É, como havia sua mãe dentro de casa te apoiando, eles provavelmente discutiam o assunto, lá são eles dois contra mim e eu já sai de casa exatamente porque sabia que era batalha perdida. Gostaria de poder "educá-los" para mudar esta situação, mas não será possível.

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  7. É daquele tipo de coisas que como dizemos cá em Portugal:

    "Entram a 100 e saem a 1000..."

    Abraço

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    1. er... não entendi o que isso significa, João.
      =)

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  8. obrigado pela dica, Henry, obrigado.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway