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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A TV Globo e os Gays: A Repressão

, em Natal - RN, Brazil
Depois da riqueza de personagens gays explorados na década de 1980 nas novelas globais, somente em meados da década de 1990, porém, que um novo personagem gay foi apresentado. A Próxima Vítima, de 1995, trouxe Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes) e ganhou também uma tremenda antipatia do público. Na década de 1990, na batalha pela audiência as pesquisas apontavam rejeição para os personagens da novela de Sílvio de Abreu e Jorge Fernando e, com isso, os personagens foram afastados dos holofotes, o que, no entanto, não impediu que André Gonçalves posasse para a G Magazine todo vestido com tiras de couro e explorando o ar de lolito que ele tinha à época e que também fosse atacado na rua, apesar de heterossexual, no primeiro caso notório de homofobia que os jornais globais foram obrigados a reportar. De repente, o Brasil descobriu que gays corriam risco somente de sair na rua.
Em 1996, Glória Peres e Ary Coslov apresentaram, em Explode Coração, a traveti Sarita (Flávio Priscott) que participando do núcleo cômico da novela, foi, digamos, aceita pelo público telespectador da maior rede de tv brasileira, podendo, inclusive, no último capítulo da novela flertar com alguém. Esta, no entanto, foi a única alusão a sexualidade de Sarita diramte toda a trama, um flerte discreto nos últimos minutos da novela. Talvez tenha sido esta a audácia de Sílvio de Abreu que o público um ano antes não suportou: Sandrinho e Jefferson eram um casal, sua história falava da saída do armário de ambos para suas famílias e de um namoro. Foi demais, porque até aqui nenhum personagem gay tinha de fato história sobre a sua homossexualidade para contar, todos eles já tinham suas vidas feitas, eles eram gays, mas este tema (seus amores, suas descobertas, seu sexo) eram apagados, inexistentes. Eram homens e mulheres assexuados. Uma exceção, talvez, seja o Rafael, da Por Amor (1997), de Manoel Carlos e Ricardo Waddington. Nesta novela, Odilon Wagner faz um pai de família que após anos casado deixa a belíssima esposa Virgínia (Ângela Vieira) para viver sua sexualidade livremente, apesar disto não ser sequer insinuado em qualquer cena. Sabe-se que ele a deixou para ficar com homens, mas em momento algum vemos o Rafael conhecendo pessoas e tendo os problemas normais que um relacionamento pode ter.
E também, em 1996, o Gabriel, vivido por Thierri Figueira, em Malhação, que como personagem convidado semanal da série trouxe a questão da aceitação de sua sexualidade para o centro da trama. No meio de toda esta política repressora da Globo, nesta década, é impressionante ver estes dois casos serem tratados com tanta seriedade, sobretudo o caso de Malhação que estava em sua segunda temporada e era um produto destinado a adolescentes. Escrito por uma equipe chefiada por Patrícia Moretzsohn e Emanoel Jacobina e dirigida por Wolf Maia, o objetivo da série era tratar de forma realista os problemas que os adolescentes viviam, namoros, problemas com drogas, questões sobre a sexualidade, eram temas recorrentes na série. Porém talvez pela sua história durar apenas uma semana que o Gabriel pode existir, logo, ele fora esquecido também.
Teimoso, todavia, em 1999, Silvio de Abreu, com Denise Sarraceni, tentou novamente. Em Torre de Babel, Rafaela (Cristiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) eram um casal. Contudo, marcando a vitória do Ibope sobre a criatividade, uma explosão matou as personagens abortando o projeto de Abreu como nem a censura militar havia feito antes. Posso dizer que foi triste ver acontecer. Acusou-se a beleza do casal Torloni-Pfeifer de incomodar os brios da conservadora audiência global, ou será que da conservadora direção da tv? Até porque no mesmo ano, no alívio cômico da novela Suave Veneno, de Aguinaldo Silva e Ricardo Waddington, personagens gays puderam ir ao ar. O Uálber de Diogo Vilela e o Edilberto de Luís Carlos Tourinho que juntos com Deborah Secco traziam os ares mais leves da comédia para a novela das 21h não saíram o armário na novela, eles não chegaram a dizer ao que vieram, somente reforçaram que o lugar permitido para os gays da Globo são no teatro de Baco.
Em 2000, a Globo comprou os direitos para exibir a série americana Dawson's Creek, do canal TW, por três anos, contudo, exibiu somente as duas primeiras temporadas. No início da terceira, quando o personagem Jack (Kerr Smith) assume-se gay, a série que era exibida nas tardes de sábado, horário considerado na emissora como destinado ao público infanto-juvenil, é imediatamente arrancada da programação.
A repressão global aparece nesta década com clareza, inclusive com a demissão do seu único ator assumidamente gay, Jorge Lafond, em 1991, quando este ainda trabalhou como o Divino, no humorístico Os Trapalhões. Nenhum outro ator ou diretor global teve novamente a coragem de assumir sua sexualidade. A direção da emissora estava visivelmente decidida a conter a expansão deste tema em sua teledramaturgia sempre usando a desculpa do Ibope, mas, não obstante o discurso se manter o mesmo, abandonando na prática qualquer espécie de criatividade de vanguarda que pudessem ter antes.


PARTE I: Os Anos Dourados     PARTE III: Uma Popularização

17 comentários:

  1. Gostei MUITO do Sandrinho&Jéferson, à época. E acho o Silvio de Abreu lindão.

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  2. Mas tudo na vida muda ... a história está aí para confirmar isto ... dias melhores virão ... eu acredito ...

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  3. Eu acompanhei esses personagens de perto. Vi dentro de casa a censura que corria o mundo àquela época. Minha mãe não gostava dos personagens Sandrinho e Jefferson, nem de Rafaela e Leila, menos ainda do de Odilon. Mas a Sarita era divertida. O que incomodava era o homossexual não se encaixar no rótulo de efeminado e cômico. A primeira novela que vi minha mãe olhar os personagens gays com simpatia foi Insensato Coração. E isso mostra que pra tudo há seu tempo. E como disse Bratz, os tempos estão mudando, graças a Deus.

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  4. Ah, só um detalhe, FOXX. Quem interpretava Sarita era Floriano Peixoto. ;D

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  5. Agora eu lembrei de alguns personagens e não sabia do esquema de Dawson's Creek. Ainda bem que assistia na TV fechada e, depois, em DVD. Adorava a série, lembra minha adolescência.

    Beijo! Espero que realmente tenha gostado da minha viagem... rs

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    1. Eu vi na Globo, Dawson's, e fiquei sem saber o que aconteceu quando a série foi retirada da grade, mas acabei descobrindo depois.
      E eu adorei sua viagem, pena que acabou.

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  6. Isso aqui tá bom demais!!! Quando sai o próximo capítulo?!

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  7. Olha, sabes o quão inconstante sou né? Mais mesmo assim prefiro achar que sou do tipo que segue planos e metas... Mesmo deixando a vida me levar mais do que deveria.

    Sábado foi um daqueles dias meio chuvoso, meio cinza, onde a melhor companhia é o silencio de se estar só, ta certo que meus pais estavam em casa, o que dá na mesma em estar só.. sorrisos, foi quando me Li, li meu blog todo, meus últimos 8 anos... já fez isso querido?

    Como Sou filhadaputamente (oiq?) fútil, hahaha hoje talvez bem menos, mas mesmo assim... muito fdp! Como fica claro no começo do blog o quanto vc era importante pra mim, e presente... li o episódio da ligação chorando de madrugada, por conta do desfecho do rolo com o Encantado Primo Gostoso, lembra disso? saudade dos Xeros que recebia no msn... porque ele foi eliminado mesmo??? enfim.. Melhor que falar é fazer.. Saindo da casa de meus pais, sabe como isso me rende histórias né? quero mesmo voltar a escrever, pra quem sabe daqui mais uns anos me ler novamente e rir!!

    Um beijo e um Xero! e impossível não parabenizar sua pesquisa, rede globo ta ai, mostrando o que brasileiro não quer e quer ver.. Sorrisos

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    1. Oi, querido, tudo bom?
      Eu lembro sim, lembro quando vc era Marcelo, quando se tornou Sunshine, quando adotou o Dellano; lembro do primo sim, lembro dos Rs também, não digo que tenho saudades porque vc me parece bem mais feliz agora, então eu prefiro o hoje. No entanto eu sinto falta de vc escrevendo mais mesmo, espero que vc resolva falar mais em 2014. Assim posso ler e mandar sempre um xeru pra vc.

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  8. Recentemente ainda aconteceu isso com Glee, que teve sua primeira temporada apresentada pela globo no sábado de manhã e que a partir da segunda temporada caiu no esquecimento da madrugada pra depois deixar de passar... no episodio 16 da segunda temporada acontece o primeiro beijo gay da série.
    Muito bom o texto, lembro muito bem de alguns desses personagens.

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  9. Interessante histórico.
    No caso do Jefferson e Sandrinho, que eu acompanhei de longe, acho que ainda tinha o problema do racismo. Jefferson era negro, não?

    Felizmente as coisas melhoram, até na Globo! Eu não acredito, mas se outros pensam assim, tomara que assim seja!!

    O que manda ali é audiência e grana. Tudo o mais gira em torno disso.

    Só vou acreditar que o preconceito realmente diminuiu quando assistir, numa sessão da tarde, sábado, ao filme "Agora eu quero voltar sozinho", com uma pré-sessão com o curta "Eu não quero voltar sozinho".

    Até lá, ficaremos apenas na torcida.
    E, sim, constatando que um mundo melhor para todos é possível!!

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    1. Olha, Alex, não sei dizer sobre o racismo. Nós não temos outros exemplos de casais gays interraciais, como Jefferson e Sandrinho para saber se existe diferença entre gays negros e brancos, qualquer afirmação sobre isto seria somente divagações

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  10. Querido Foxx, fico impressionado com tua linha de raciocínio desenvolvendo este excelente traqbalho, tuas lentes foram além das da globo e pude ver com mais clareza o preconceito do preconceito dentro da televisão. Percebe-se também, que o povo, ou, os telespectadores, também ajudam bastante a perpetuar o preconceito, embora pareçam confusos, às vezes, face esta manipulação que os meios de comunicação exercem sobre todos...(já tou divagando rs). Excelente post.
    ps. Carinho respeito e abraço

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    1. Que bom que vc gosta, Jair, fico muito feliz com seus comentários.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway