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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Hatti: Os Deuses Protetores

, em Natal - RN, Brasil
Poucas referências religiosas foram legadas para nós pela civilização hitita, os poucos textos que nos chegaram foram tábuas de treinamento de escribas que restaram após a destruição da civilização, recuperadas na capital, Hattusa. Textos sobretudo muito tardios em relação a quando estes foram compostos. São em sua maioria parte da administração do templo como a organização do culto ou relatórios sobre os trabalhos dos adivinhos. O acesso a religião hitita se dá, portanto, através das referências feitas a partir de esculturas feitas em pedra, no qual os deuses aparecem normalmente montados nas costas dos seus animais símbolos. É interessante também registrar que era comum na mitologia hitita o aparecimento de animais como pégasos (cavalos alados), grifos (leões com asas) e quimeras (cabras com peles de serpente), etc.
Sua mitologia era claramente influenciada pelos mitos mesopotâmicos, demonstrando as relações entre estas duas civilizações, porém ela manteve suas características próprias. A cidade de Arina era o maior centro religioso, onde havia um grande templo ao deus solar, Utu ou Istanu, e o deus das tempestades, Tarhun, os grandes protetores do imperador. No entanto, Gary Beckman afirma que era comum encontrar além destes deuses nacionais, versões próprias de cada um dos habitantes, ou versões de grandes centros religiosos como Nerik.
Porém entre a maior parte da população o panteão hitita se configura com Tarhun, o deus da tempestade e do trovão, que é casado com a deusa-mãe, Hannahannah, senhora dos animais. Eles tiveram dois filhos: um homem, Telepinu, deus da agricultura e fertilidade, e Inara, deusa da primavera. O mito de Telepinu inclusive é extremamente parecido com o mito de Adonis. Ele desapareceu da face da Terra e todo o mundo secou e murchou, sua mãe, desesperada, enviou animais por todo o mundo procurando pelo filho, até que uma pequena abelha encontrou o deus. Ele havia sido sequestrado pelo deus do mar e do mundo dos mortos, Aruna, que exigiu que para que ele fosse libertado o jovem deus deveria casar com sua filha, Hatepuna. Aruna era filho da deusa da cura e da magia, Kamrusepa, que é quem define a forma como o sequestro deve ser resolvido, e irmão da deusa dos juramentos e do amor, Ishara, a deusa da constelação de escorpião, cujas estrelas são seus sete filhos, os Sebitti. Também podemos citar como deuses importantes Arma ou Kaskuh, a deusa da lua, ou a deusa dos  pastores, Habantali, ou a deusa dos reis, Hanwasuit; além, é claro de Alalus, o grande deus criador que criou o universo e é substituído por Utu, seu filho como rei do universo, este é substituído pelo seu próprio filho, Kumarbi, que é substituido pelo seu póprio filho, Tarhun.
No século XIII antes de Cristo, preocupada com o sincretismo cada vez maior existente em sua religião, Puduhepa, rainha e sacerdotisa, fez a primeira reforma religiosa hitita. Em uma inscrição ela fala:  "Sol, deus de Arinna, você é meu senhor, você é rei de todas as terras. Na terra de Hatti que assumiu o nome de Utu, deus de Arinna, mas no que diz respeito à terra que fez de cedros (ou seja Arinna) assumiu o nome de Hebat".
Contudo, entre estes deuses existe uma categoria específica chamados de Lamma. Segundo Billie Jean Collins, a palavra significa "poderoso/a" ou "virtuoso/a", e eles têm um papel de protetores contra o que existe de mal na natureza. Os Lamma (lammassu) faziam parte de rituais e cerimônias envolvendo santuários portáteis que poderiam ser uma espécie de carrinho sagrado ou até um objeto sagrado ou mesmo o próprio rei. Gregory McMahon em sua tese de doutorado faz quatro distinções entre os tipos de divindade Lamma:
1) As divindades cujos nomes estão escritos nos textos, como, por exemplo, Inara é referenciada (Inara Lamma = Poderosa Inara);
2) As divindades cujo título é, somente, Lamma;
3) As divindades cujo título é Lamma, mais o nome de uma cidade, o que significa que estes deuses protegem especificamente uma cidade;
4) As divindades cujo título é formado por Lamma mais um epíteto, que pode ser uma outra palavra ou um sufixo cuja origem pode ser hitita, luwita, sumério ou mesmo acadiano. Tal relação, afirma James Rogers, indica que a origem do deus é provavelmente estrangeira e é também Rogers quem encontra 35 usos no Antigo Testamento da mesma fórmula hitita demonstrando que existe influência na composição da Bíblia da mitologia hitita.
Contudo o Lamma que nós procuramos é o Lamma Lulimi, ou o Lamma, o Efeminado, ou o Passivo, ou o Fraco, que é oposto sempre ao Lamma Innarawant, Lamma, o Másculo, o Víril, o Poderoso.  Ilan Peled afirma que a relação etmológica das palavras Lamma e Lulimi não é bem clara. Segundo ele a tradução de Lulimi como efeminado que aconteceu na década de 1930 só ocorreu após a tradução da palavra Inarawant  como "másculo, viril, poderoso", o que resultou que o deus que deveria ser oposto a ele, segundo o ritual Anniwiyani, deveria ser traduzido como efeminado, passivo e fraco. Novas pesquisas, contudo, que associam a palavra Lulimi ao verbo Lulli, prosperar, permitiram que a tradução começasse a ser revista para algo como "próspero, feminino, fértil". A ideia aqui é que o feminino ainda é o que este lamma protege, enquanto o segundo rege o mundo masculino, este deus protetor também protege os homens que são passivos nas relações sexuai, enquanto Innarawant protege aqueles que são ativos, todavia se retira do nome do deus a ideia imediata de que este feminino é por si negativo, ele só é negativo quando está em um homem, um lugar de onde ele não é natural. Cabe a mulher, e somente a mulher, segundo o pensamento hitita ser feminina e fértil. 

3 comentários:

  1. Como sempre, um belo texto e, repleto de conteúdo, Foxx. Adorei esse em especial, porque fala mais sobre a mitologia deles. Ah, e ainda esclareceu aquela dúvida sobre os Lamma efeminado e másculo. Pronto, não tenho dúvidas agora, só elogios. =)

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  2. Mitologia é algo que me fascina de um jeito que nem sei explicar...

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    1. Também sou apaixonadíssimo, essa é minha especialização em história inclusive.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway