Google+ Estórias Do Mundo: Bang Bang

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Bang Bang

, em Natal - RN, Brasil



Saímos juntos pela primeira vez numa terça-feira à noite. Nós três cantamos no mesmo coro. Eles cantam no naipe dos baixos, eu não diria que são os únicos baixos gays do planeta, mas com certeza isso é bem raro. Sentamos em um bar de mesas de plástico em torno de um cajueiro em uma rua movimentada de Neópolis. Falávamos sobre música, cerveja, namoros e decoração. Ríamos de besteiras e esquecíamos de problemas. Era bom sair com novas pessoas, eu preciso mesmo refazer meu grupo de amigos já que os antigos se afastaram e os novos são (pela idade mesmo) novos demais. Brindamos a isso: novos amigos.
Estávamos então distraídos quando um homem se levantou na mesa ao lado. "Está acontecendo uma assalto no bar ao lado", disse. Havia um outro bar alguns metros adiante abarrotado de mesas douradas também de plástico. Um motoqueiro apontava uma arma em direção aos clientes. Foi quando o homem que se ergueu sacou também sua arma. O amigo dele que estava sentado ali já havia corrido para o outro bar e gritava para o motoqueiro: "Parado, polícia!". O primeiro tiro foi disparado pelo ladrão. Todos correram do bar que eu estava. Havia, inclusive, um casal com uma criança pequena. Os policiais responderam os tiros. Três ou quatro disparos já havia sido feitos quando percebi que eu havia corrido também e que, por milagre, havia lembrado de pegar minha bolsa que estava no chão.
Via as pessoas correndo sem rumo, eu sabia, no entanto, que tinha que colocar algo entre mim e os disparos que continuavam. Entrei então no banheiro feminino, atrás de mim vieram meus amigos baixo e barítono, um casal (gay) de namorados e uma moça. As balas continuavam lá fora e a porta de madeira foi fechada com o ferrolho de metal. Um dos meninos gays sentou no vaso sanitário e se apegou com Deus em orações, o namorado tentava acalmá-lo com uma mão em seu ombro. Eu vi que havia um cigarro aceso na minha mão que resolvi apagar para não incomodar ninguém.
Os disparos do lado de fora cessaram e um silêncio tenso se instalou. Foi meu amigo baixo que abriu a porta, o menino que rezava, apavorado, pedia que perguntássemos se tudo tinha terminado. Saimos, o baixo me perguntou: "Pedimos a conta?". Eu respondi procurando minha carteira já. "Ainda tem mais da metade da cerveja na garrafa que está na mesa, mas podemos pedir a conta...". O baixo riu então e falou que deveríamos, portanto, terminar a cerveja e se acalmar antes de sair. Sentamos novamente, enchemos nossos copos e comentamos sobre o ocorrido e, logo, a rua estava apinhada de curiosos e três ou quatro viaturas. "Olha, eu acho que não precisamos sair daqui não, hoje, agora, não existe lugar mais seguro em Natal".

8 comentários:

  1. Nossa! Tenso! Mas jamais "sem antes terminar a cerveja", claro... hehehehe! E tinha certeza que a t-shirt do Silver Surfer te agradaria... hehehe! Boa semana!

    ResponderExcluir
  2. Eu adoro um risca faca, mas se isso acontecesse enquanto eu estivesse por lá, nunca mais eu iria aparecer! ... e obviamente, terminaria minha cerveja antes. Isso é uma certeza! rs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. kkkk, "risca-faca"? kkkkkk, vc é ótimo!

      Excluir
    2. "boteco", "risca-faca", "sujinho", "copo-sujo" e por aí vai!
      Sao os melhores lugares pra se beber! Bebida barata e gelada sempre!
      Pode se preparar Dr, quando eu for te visitar, estaremos sempre nos risca-faca da vida da regiao! kkkkkkkkkk

      Excluir
  3. Oi! Faz tempo que não 'falamos', né? Espero (como sempre :( ) reparar o erro...

    ... bom, isso que você postou me fez lembrar de vários episódios que vivi na noite...

    ... por isso sempre me sento de frente para as portas, hehehehe!

    Saudades suas!

    Saúde, sucesso e amor pra você...

    Abraços mnemônicos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. oi, querido, muitas saudades mesmo. vc sumiu, desapareceu.
      espero que volte logo por aqui.

      Excluir
  4. super tenso ... nunca apreciei estas coisas e felizmente nunca vivenciei ...

    ResponderExcluir

" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway