Por Essa Ninguém Esperava
Tudo começou com uma carta em uma manhã de fim de primavera. Ju entregou-a pedindo que a lesse sozinho. O intervalo havia terminado naquela escola de classe média em um bairro suburbano, bairro este que eu podia enxergar abraçado por dunas douradas através do pergolado que fechava a parede do corredor em que eu resolvera me deixar ficar. Curioso, desembrulhei aquele bilhete e fui atingido por palavras que me encheram de vergonha.
Em um quarto de folha de caderno, escrito numa caligrafia feia, preenchido em ambos os lados, dizia-se: "Foxx, sabe o que é, está acontecendo algo muito chato, os meninos estão comentando que você está soltando indiretas para Tom". Eu parei ali, sem acreditar, respirei fundo e voltei ao início, eu devia ter lido errado, era um mal entendido. "Foxx... comentando... indiretas... Tom". Aquilo estava realmente acontecendo, náuseas subiam em ondas, eu estava tonto, que bom que estava sentado, pois eram apenas as primeiras linhas. "Olhe, Foxx, eu sei que você é amigo de todos, mas você sabe que quando alguns meninos se aproximam dos outros...", alguns meninos ou simplesmente eu?, "... como você está muito amigo do Tom, eles já começam a fofocar".
Aquele papel de pautas vermelhas e com letras escritas com uma suave tinta negra parecia que estava em chamas, queimando minhas mãos, ferindo meus olhos e a antecipação de como ele devia terminar já fulminara meu coração. E ainda faltava todo um lado, e as pessoas ainda estavam no corredor, meu medo era não conseguir conter as lágrimas até me ver sozinho. Respirei e olhei para as dunas, o sol da manhã fazia a areia brilhar mais intensamente, dava para ver meninos correndo por cima delas também. Quando voltei ao corredor, todos já haviam retornado a suas salas, sozinho, virei o papel. "Lembra daquele comentário de Wallace que os meninos viviam falando...", comentários? que comentários? sobre eu e Wallace? por isso ele deixou de falar comigo? por isso ele deixou de falar comigo!, lágrimas. Doía-me tanto porque aquelas pessoas de minha escola, aquelas eu tinha como meus únicos amigos, e como únicos, eram também os melhores. "Ele está triste, não por você, mas pelos comentários", ele está triste? ele?!?, "Não fique chateado comigo", não culpe a mensageira, "... não quero que continuem falando de vocês, beijos, te adoro, Ju".
Um frio subia-me em vagas e deixei-me ficar ali estático, meu braço caído ainda segurava aquele papel em que com certeza alguém borrifara o filtro de Dejanira, porque como Hércules eu me sentia consumido pelo fogo. Eu tinha vontade de gritar. Gritar para todos pararem de se preocupar, ninguém novamente falaria de mim. Mas a única força que tive foi de deixar afundar-me a cabeça entre meus joelhos, soluçando.
"Tudo bem?", Ju tocou meu ombro. Levantei a cabeça e quando a reconheci, enxuguei as lágrimas com as costas das mãos e fingi um sorriso, ela tentou se explicar e eu a impedi. "Não precisa dizer mais nada, eu sei bem o que fazer".
Em um quarto de folha de caderno, escrito numa caligrafia feia, preenchido em ambos os lados, dizia-se: "Foxx, sabe o que é, está acontecendo algo muito chato, os meninos estão comentando que você está soltando indiretas para Tom". Eu parei ali, sem acreditar, respirei fundo e voltei ao início, eu devia ter lido errado, era um mal entendido. "Foxx... comentando... indiretas... Tom". Aquilo estava realmente acontecendo, náuseas subiam em ondas, eu estava tonto, que bom que estava sentado, pois eram apenas as primeiras linhas. "Olhe, Foxx, eu sei que você é amigo de todos, mas você sabe que quando alguns meninos se aproximam dos outros...", alguns meninos ou simplesmente eu?, "... como você está muito amigo do Tom, eles já começam a fofocar".
Aquele papel de pautas vermelhas e com letras escritas com uma suave tinta negra parecia que estava em chamas, queimando minhas mãos, ferindo meus olhos e a antecipação de como ele devia terminar já fulminara meu coração. E ainda faltava todo um lado, e as pessoas ainda estavam no corredor, meu medo era não conseguir conter as lágrimas até me ver sozinho. Respirei e olhei para as dunas, o sol da manhã fazia a areia brilhar mais intensamente, dava para ver meninos correndo por cima delas também. Quando voltei ao corredor, todos já haviam retornado a suas salas, sozinho, virei o papel. "Lembra daquele comentário de Wallace que os meninos viviam falando...", comentários? que comentários? sobre eu e Wallace? por isso ele deixou de falar comigo? por isso ele deixou de falar comigo!, lágrimas. Doía-me tanto porque aquelas pessoas de minha escola, aquelas eu tinha como meus únicos amigos, e como únicos, eram também os melhores. "Ele está triste, não por você, mas pelos comentários", ele está triste? ele?!?, "Não fique chateado comigo", não culpe a mensageira, "... não quero que continuem falando de vocês, beijos, te adoro, Ju".
Um frio subia-me em vagas e deixei-me ficar ali estático, meu braço caído ainda segurava aquele papel em que com certeza alguém borrifara o filtro de Dejanira, porque como Hércules eu me sentia consumido pelo fogo. Eu tinha vontade de gritar. Gritar para todos pararem de se preocupar, ninguém novamente falaria de mim. Mas a única força que tive foi de deixar afundar-me a cabeça entre meus joelhos, soluçando.
"Tudo bem?", Ju tocou meu ombro. Levantei a cabeça e quando a reconheci, enxuguei as lágrimas com as costas das mãos e fingi um sorriso, ela tentou se explicar e eu a impedi. "Não precisa dizer mais nada, eu sei bem o que fazer".
Isso poderia ser um episódio de "Malhação"!!!
ResponderExcluirEu assistiria intrigado!
Isso já aconteceu muito comigo também, as pessoas pensam que somos predadores sexuais 24h por dia... As vezes quando um amigo meu ht me convida pro cinema e vai só nos dois pergunto se ele tem certeza disso, pois nao temo por mim, mas de perder meus amigos por eles nao suportarem um possivel preconceito que se volte contra eles
ResponderExcluirum abraço
Nossa...
ResponderExcluirTodos nós temos uma história dessas, é foda. Incrível como começa mais cedo os problemas de quem é gay. A escola é sempre uma provação.
O mais engraçado é que até um dia antes a escola era tudo de bom e você tinha aquela vida sem problemas. Tudo corria bem. Tudo era OK! O maior dos problemas era uma prova aqui ou lá... uma tarefa que tinha que ser feita...
Pois bem querido, juro que deu vontade de te abraçar e seu post me deu vontade de contar algumas coisas que já aconteceram comigo tb... vou fazer isso semana que vem.
Em que série foi isso?
Um beijo, querido! E um abraço apertado que é mais valioso que qualquer coisa em momentos como esse!
Tive também meus problemas na escola. Quem não os teve que atire a primeira pedra.
ResponderExcluirMas nunca vindo de meus amigos. Meus amigos sempre me respeitaram. Mesmo tendo sabido de mim há pouco tempo, nunca me criticaram. Por mais que com certeza imaginassem algo.
Não tenho do que reclamar de meus amigos hts.Eles sempre me apoiaram livres de preconceito. Não acho justo criticar a todos os heterossexuais porque alguns idiotas destrataram você.
acabei de voltar ao passado também mas eu nunca recebi bilhete
ResponderExcluiracabei de voltar ao passado também mas eu nunca recebi bilhete[2] uma dessas histórias foi o caso da vaca da tia Mirian que postei lá no blog no dia das crianças ano passado...
ResponderExcluirOutra coisa, vc tem muita a manha de preender o leitor para o próximo capítulo. O que vc sabia que tinha de fazer???? Conta logo!
Bjos!!!
lembrei de algumas coisas aqui...
ResponderExcluirNão relembrei o passado. Porque isso pra mim ainda é presente. Só que agora na minha época tem MUITO menos preconceito e consigo suportar os comentários contrários com o apoio dos meus amigos.
ResponderExcluirReza a lenda que o que não mata, nos fortalece... mas o que não dizem é que dói para burro, né?!
ResponderExcluirAbração!
acho que é por isso que eu praticamente não tenho amigos héteros, por estas situaçõeszinhas, geralmente mulheres me rodeiam... quando rodeiam, os pouqissímos héteros amigos mesmo são raros, eu tive a sorte de encontrar um pelo caminho, mas o contato ficou mais díficil com a mudança de cidade, mas sei que quando morávamos na mesma cidade era verdadeira a amizade.
ResponderExcluirmuito triste mes mo essas coisas.
hum...lembranças do meu passado tb...escola foi uma época complicada...
ResponderExcluirInevitável não ter flashbacks lendo o seu texto...
ResponderExcluirVia de regra, não somos ensinados a conviver com pessoas e sim reagir a certos rótulos; quando eles não são o que esperamos, lá se vai a civilidade ralo abaixo!
ResponderExcluirNão bastasse a vida ser difícil, ainda temos de fazê-la complicada...
***
Domínio público: só faltou saber o título da sua dissertação (são tantas!).
impressionante, é dificil pra mim aceitar esse tipo de coisa, ao mesmo tempo que eu sei que acontece, nao so com voce, mas com centenas de garotos e garotas em todo o mundo. na minha época de colegio, minha homossexualidade nao era nem cogitada, as vezes sentia isso como um tema tabu, que poucos tinham coragem de especular, talvez pelo fato de que eu cresci com os mais populares e os melhores no futebol (nao que isso tenha sido extremamente positivo, ainda mais depois q cada um começou a faculdade e a minha homossexualidade passou a ser obvia). enfim, é por isso que eu sempre achei o ambiente escolar um tanto cruel, afinal, se vc nao pode ser voce mesmo no lugar que tecnicamente mais nos sentimos a vontade quando crianças, onde mais poderemos ser?
ResponderExcluirabraços
O que vc fez? Conta! Bj
ResponderExcluirquerido, como isso é complicado né...
ResponderExcluirimagine eu que sempre fui super malinha, andava com a calça bemmmmm baixa, pixava muro, adorava brigar, era super enturmado e tudo mais.. imagine quando ficou perceptível aos outros o que eu era... não doeu, foi uma escolha minha, mas foi estranho..
mudei todos meus amigos, todas as pessoas que eu gostava tanto... mas depois passa e vc se sente tão leve, tão bem. As pessoas que gostam de vc continua do seu lado, as outras saem, isso é bom, foi muito bom pra mim, espero que tenha sido assim com vc tbém..
feliz 2009!!
:)
Amigo, não sei o que dizer. Meu mundinho era masi falso. Bjos!
ResponderExcluir"As crianças são as mais cruéis". Eu creio nisto. Sabe o post me ativou a memória Foxx. Não fui discrimando pela sexualidade, mas tive outros rótulos impossíveis de disfaçar. Sem dúvida muito cruéis. Abraço
ResponderExcluirpor isso eu sempre tive amigas meninas
ResponderExcluiragora, depois d adulto, é q os homens apareceram na minha vida
e eu amo meus amigos homens
inclusive meu amigo hetero
enfim...
por iso eu nunk passei, ainda bem
mas nós superamos, sempre superamos
xx
.apesar de cicatrizes e de uma dor imensa (pois além de toda a dramaticidade de adolescência, é realmente uma punhalada), o que importa é saber que aos poucos o tempo passa, as coisas não mudam muito, mas realiza-se que a vida encontra-se muito além.
ResponderExcluir.principalmente, acompanhado de quem realmente importa.
abraço.
Oi Foxx,
ResponderExcluirAdorei o texto,
Beijos mil de Londres
Dan
www.sembolso.blogspot.com
Oi Foxx,
ResponderExcluirAdorei o texto,
Beijos mil de Londres
Dan
www.sembolso.blogspot.com
Ai
ResponderExcluirEssas situações são horríveis né.
Já aconteceram comigo. Mas com amigos do bairro mesmo. Quando a gente passa a andar muito junto com as pessoas logo começam os comentários maldosos.
Já aconteceu de se afastarem de mim por causa de comentários.
Acho que por isso que hoje o número de amigos héteros é bem menor que o de amigas.
Mas superei.
Isso tem continuação?
ResponderExcluirTô curioso, rs...
Lendo os comentários, parece que só muda os endereços e algumas particularidades, mas o sentimento de rejeição é o mesmo!
ResponderExcluirUm lord na escrita né Foxx
Bjão
Acho que já passei por algo um pouco parecido.
ResponderExcluirbjs!
Porque não tenho amigos gays ou, porque quase não tenho amigos gays, mas essa posto depois.
ResponderExcluirMandaram-te um beijo
Repasso
Eu mandei um beijo
ResponderExcluirAcredite, todos já passaram por algo semelhante. Mas nem por isso me afastei dos amigos heteros, muito pelo contrário! Tenho vários, todos maravilhosos e fantásticos.
ResponderExcluirPessoas idiotas existem dos dois lados, heteros e gays... Basta saber escolher os que realmente valem a pena serem chamados de amigos!
por ''isso e por outros'' rsrs eh que eh bom ser mulher. kkk naum passsamos por isso.andamos grudadas cm as maigas e naum somos chamadas de lesbiks.nem somos, qndo o fazemos.
ResponderExcluire tem mtas outras vantagens, ih nem kberi aki no post.
by juliana