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quarta-feira, 9 de junho de 2010

PASSADO: Melhores Amigos

Os livros eram meus melhores amigos. E como bons amigos, eles formaram a pessoa que eu sou. Aprendi com eles a ler, a escrever e a ser muita coisa que nunca consegui viver. Foi com eles que sobrevivi a meu ostracismo. Mas tudo isso a trancos e barrancos, pois filho de pais pobres, poucos livros tínhamos em casa, quando criança li e reli mil vezes os contos dos Irmãos Grimm, um dos poucos livros que restavam na estante da sala de casa, entre livros de receita, um exemplar de História Geral de Arnaldo Souto Maior de onde saíra meu nome e Monteiro Lobato, filho do modernismo, que me apresentou em Os Doze Trabalhos de Hércules minha grande paixão: os deuses gregos. Comecei então a frequentar bibliotecas. Li tudo que encontrei pela frente sobre mitologia, em português e em francês, mesmo sem saber francês. Eu tinha doze anos e sentava com Le Bélle Letres e um dicionário e tentava decifrar aquela outra língua, como aprendera a fazer nas aulas de inglês na escola. Também conheci os quadrinhos, outra paixão, e passei a gastar todo o dinheiro que eu tinha com revistas dos X-Men e passagens de ônibus à biblioteca. Nos quadrinhos fui apresentado a belas estórias como Deus Ama, o Homem Mata, e me senti parte de algo. Os X-Men eram mutantes, diferentes, sem culpa de ter nascido assim. Para mim, os X-Men eram, como eu, todos gays.
Os primeiros livros que dediquei-me, no entanto, foram os do Romantismo e do Realismo brasileiro. E muito devo a eles. Minha adolescência foi embalada por José de Alencar, Machado de Assis e seus comparsas. Senhora, de Alencar, me marcou profundamente e me ensinou a manter a tensão e a atenção do leitor até a última página. A Mão e A Luva de Assis me convidaram a poesia em prosa e me fez cair de amores pelos contos. O Ateneu, me ensinou que as vezes os clássicos são decepcionantes. O Cortiço que a literatura podia ser bem sensual. Mas eu não parei por aí: essa leitura ávida me lançou a univesidade e um mundo novo de leituras se abriu para mim.
Livros técnicos, de historiadores de renome, como Ciro Flamarion Cardoso e Michel Foucault me deixaram profundamente devedores deles. Mas Joseph Campbell definitivamente precisa de um lugar especial na minha história literária. Ler Mitologia Primitiva me marcou física e emocionalmente, e moldou o historiador que sou hoje, me fez entender que um mundo é muito maior do que pensamos e que como historiador é minha tarefa política mostrar isso a quem desejar ver. O Queijo e os Vermes e O Massacre de Gatos tornaram-se livros que povoavam a minha imaginação fértil, e me ensinaram que o lugar da poesia na História também existe, principalmente no título. Mas a literatura não me abandonara.
Os romances históricos me fizeram delirar nos primeiros anos de faculdade. Cláudio, Portões de Fogo, Nero, Rei Davi, Ramsés, me fizeram sonhar com tempos que eu não tinha vivido e da qual sentia saudades, escritos por historiadores, estes romances me proporcionaram conhecimento e deleite, mas, sobretudo, me ensinaram a ser sútil quando os temas são duros. Entrementes, a faculdade também me apresentou os verdeiros documentos históricos, os clássicos da literatura ocidental: A Ilíada, A Odisséia, Virgílio e Cícero, os historiadores gregos e romanos, A Vida dos Doze Cézares, a poesia de Safo, a Bíblia, tornaram-se livros de cabeceira, lidos em latim e em grego, porque nada expressa melhor um autor do que a própria língua que ele escreveu. Encantado, corri aos clássicos, para lê-los, tudo culpa de Ítalo Calvino. O Amante de Madame Bovary e Capitães da Areia mexeram com minha libido, Agatha Cristie com meus brios, Dom Quixote e Ulisses, de James Joyce, com minha paciência (até hoje estão inconclusos). Além destes, descobri Oscar Wilde ao me deparar com O Retrato de Dorian Grey, o homoerotismo oculto e a sensualidade aberta me fizeram querer conhecer o resto da obra do maior escritor inglês, na minha modesta opinião, e entre tantos, lágrimas me correram aos olhos e molharam as páginas de De Profundis, e eu descobri o que era amar alguém de verdade.
Mas os clássicos chegam a um ponto que precisam ser superados. Principalmente porque chega um ponto que eles não refletem mais seu espirito. Foi quando o Marcelo Sunshine me apresentou Hell - Paris. Fiquei encantado com aquela escrita vazia, desesperançosa e machucada, com o submundo e as drogas, e o glamour, ah, o glamour! Hell me levou a um caminho diferente de tudo que eu estava lendo e a punk literature caiu no meu gosto. Litium de Patrício Júnior, Mate-me, por favor e Fugalaça da filha de Dias Gomes, Mayra, me levaram a um vórtice que definiu a forma de escrever do meu blog, da minha dissertação de mestrado, dos meus artigos. Frases curtas. Pontos no lugar de vírgulas. Frases fortes no fim de tudo. Exclamações!
Mas nem tudo podia ser tão pesado, não é? Afinal considero a tribo dos blogs que o meu participa daqueles que exalam o glamour que só a vida gay possui. Isso não foi gratuito, é a influência de Meu Reino por um Cashemere, O Diabo Veste Prada e Confissões de uma Shopaholic. Tudo tem explicações, tudo! Mas, tardiamente, só tardiamente, eu conheci o livro que transformaria minha vida e o meu blog: O Pequeno Príncipe de Saint-Exúpery mudou minha forma de olhar para o mundo e para o amor, e eu conheci o meu pequeno príncipe.
Agora, vamos ver o que o futuro nos reserva. Tudo depende de eu conseguir ou não terminar de ler O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Saramago. E está bem difícil.

14 comentários:

  1. Olá Fox, passando aqui para responder ao recado que você deixou no meu blog. A mesma resposta se encontra lá.

    Calma, Fox. Calma que não é bem por ae. Preciso te esclarecer pelo menos três pontos (claro que poderia citar vários outros)sobre Jornalismo para que você possa entender.

    1º Todo jornalista tem, por obrigação, ouvir as fontes antes de redigir uma matéria para que a mesma tenha credibilidade. O profissional não sabe tudo, por isso existem as fontes para esclarecer os jornalistas. Portanto, ao escrever sobre fatos históricos, política, etc, ele deve ouvir alguém, pois jornalismo não é historinhas ou contos.

    2º Fontes não são apenas as pessoas. Fontes são também os livros, documentos, etc. Então se você já leu uma matéria no qual não é citado "especialistas", com certeza o jornalista fez uma pesquisa para escrever sobre o assunto.

    3º Hoje, os jornalistas são capacitados sim, para escrever sobre história, medicina, política, economia, meio ambiente, etc. Vários profissionais se especializaram exclusivamente para poder falar sobre os assuntos. Uma prova disso, são os jornais, revistas, sites, suplementos especializados que existem. Não são feitos apenas por jornalistas, mas por jornalistas especializados nas áreas.

    Peço que você também pesquise mais sobre o assunto, pois certamente chegará a conclusão de que seu pensamento está equivocado.

    Abraços

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  2. Vc tava sumido! E que tema bom! Eu também começei a ler muito pequeno para fugir da estranheza que sentia em relação a tudo. Mas, como era confortável abrir as páginas de um livro! Li toda a coleção vaga-lume, Tudo do Fernando Sabino e mais... muito mais...
    Minha decpeções: Moby Dick, chato! Empaquei na Ilíada na parte da descrição (super exaustiva) das naus... como se lê aquilo?...
    Projetos: Preciso leo o "Em busca do tempo perdido" de Proust.
    Livro da vida: "A aprendizagem ou o livro dos prazeres" de Clarice Lispector.
    Bj

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  3. ótima idéia do Rafa... quem quiser comentar conte seus livros mais marcantes aqui tb...

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  4. Gosto muito de ler tb viajo demais lendo e o último q li foi "memória de minhas putas tristes" do Gabriel García Márquez. Adoreii!
    abraçooo!

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  5. Lindo, Foxx.
    pode parecer bobagem, mas eu me emocionei, acho que trajetorias literarias sao uma das coisas que mais me fascinam na vida das pessoas. lindo mesmo, ótimo texto, parabéns.
    e quanto ao pequeno príncipe, vale fazer uma ressalva em especial. é o unico livro que li em fases diferentes da minha vida, uma quando muito criança, outra depois de crescido, e diferente daqueles que adoram critica-lo, digo, entendi ja de cara o contexto do pequeno principe na primeira leitura, mas foi na segunda, depois de crescido, que chorei.
    =*

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  6. Foxx,
    Meu querido tudo bem?
    Então eu repliquei sua resposta em minha box de comentário. Se se interessar passa lá novamente e veja meu ponto de vista sobre seu comentário. Acho que você apenas missunderstood my point of view.
    Bju
    Jay

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  7. Hum, irei entender alguns livros aí como indicações de leitura... rs. Férias chegando, acho que consiguirei um tempo para ler mais. Também cresci lendo livros. Adoro ler, viajar! Minha mãe dava graças a Deus que pelo menos um dos filhos dela gostava de ler... rs

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  8. eu detestava ler...
    Comecei a gostar na idade adulta com os chick lits

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  9. Ah, é pra fazer o que o Rafa falou? Hm...
    Moby Dick é chato? Ah, é nada. Todo menino de quinze anos tem que ler. Ótimo livro. E não precisa terminar de lê-lo, Rafa.

    Oscar Wilde todos deveriam ler e tentar ser como ele, acima de tudo pela sua elegância.

    Não entendo gente que não lê ou não gosta de ler. Pra começar a ser gente você tem que ter lido no mínimo 50 livros na sua vida, ou seja, lá pelos 18 anos. A partir daí ela começa a tomar feições de ser humano civilizado.

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  10. É medo mesmo... hehe! Hugz, sumido!

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  11. Eiji, desses também já li muitos! Engrossaria a lista com todos do Gabriel Carcía Marquez e o sempre sempre Caio Fernando Abreu.

    Se você juntar um pouco ainda de Córtazar, Luis Fernando e Érico Veríssimo e Stephen King verá o que eu quero ser quando crescer.

    Se é pra sonhar, vamos sonharrrr!!! Heheheh

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  12. Viva os livros... e viva os nossos melhores amigos que também não deixar de ser nosso livros os quais lemos, compreendemos e repassamos nossas experiencias...
    Bjunda

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  13. Ah... mas não é de hoje que a gente sabe que pensa parecido, né? Hehehe! Hugz!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway