Google+ Estórias Do Mundo: dezembro 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

PRESENTE: O Anjo, parte I

, em Belo Horizonte - MG, Brasil
Noite fria de primavera em Belo Horizonte. Já começaram as chuvas de verão que umedecem o ar da cidade e fazem a estação lembrar muito um inverno. Cheguei pontualmente ao Estúdio da Carne, onde havia combinado com o Behink, e acendi um cigarro enquanto esperava uma mesa. O lugar estava lotado, como sempre, pessoas conversavam e a música ambiente mal podia ser ouvida. Terminei o primeiro cigarro ainda sozinho e foi quando minha mesa ficou pronta e o garçom me levou até ela.
Sentei na mesa, de costas para a parede, observando o salão em que as pessoas bebiam e conversavam. E eu o vi, ele estava diante de mim. Sua mesa, escondida por uma coluna, não permitia que eu visse com quem conversava e ria. Então eu bebia minha cerveja e discretamente o admirava, afinal ele poderia estar com o namorado, mas também poderia não estar. Foi quando o Behink chegou, com o namorado e um amigo, sentaram-se ele e o namorado diante de mim, enquanto o amigo sentara a minha esquerda, e agora eu podia observá-lo com mais tranquilidade, por cima dos ombros do Bê.
Foi após isso que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez. E ele sorriu. E ele sorriu e eu não acreditei. "Ele deve estar se divertindo com o bobinho aqui olhando para ele", pensei. Mas continuei a olhar mesmo assim, mesmo sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas, mesmo acreditando que era impossível ele estar interessado em mim. Ele era lindo. Completamente, totalmente lindo. Um sorriso luminoso, olhos negros cobertos por um óculos cristalino, cabelo curto e magrinho. "É defintivamente meu tipo!", eu repetia. E ele continuava a me olhar e a sorrir.
Foi quando ele levantou e saiu com um Black e uma taça de vinho, se dirigindo a área de fumantes. Pedi uma caneta a garçonete e num guardanapo anotei meu telefone. Eu não planejara o que fazer ainda, entregaria-lhe o número e sairia, provavelmente. Essa era uma possibilidade! Mas pedi licença aos meninos na mesa, que agora me olhavam curiosos, e saí atrás dele. Cheguei lá e o vi, de costas, fumando. Acendi um cigarro, esperando o momento propício para abordá-lo. Foi quando ele se virou e me viu ali, com ele, e se aproximou.
Apresentações de praxe, e ele me contou seu nome de anjo, e eu meu nome de homem. "Camarada!". Conversamos pouco, na verdade, o que fazíamos, onde morávamos, se estávamos sozinhos. Ele estava com o irmão. Falamos de Natal e do Canadá, de onde ele acabara de chegar. Perguntou se eu pretendia esticar a noite e falei que ia para o The L com meus amigos ainda. "Este é o plano". Porém quando me virei, meus amgios já haviam pago a conta e agora saíam. Avisaram-me e eu falei com ele, despedindo-me, ele pediu meu telefone e eu entreguei-lhe o papel. Surpreso, eu expliquei-lhe que anotei para entregar a ele. Disse-lhe que havia saído para isso. "Então meu plano deu certo", disse ele, "porque eu saí com esta taça para você perceber que estava saindo e ficaria um tempo aqui e viesse atrpas de mim". Eu sorri, ele também, iluminando aquela noite fria. Foi quando ele me beijou. Ali na calçada do bar.
Reencontrei, então, os meus amigos e o namorado do Behink me deu os parabéns, "Alguém já saiu na frente", enquanto o Behink perguntava porque eu não o convidei para ir ao The L conosco. "Nós trocamos telefone, Bê, e ele sabe para onde estou indo", falei caminhando para o carro, "e se for me encontrar lá, já é uma prova que está interessado, não é?".

sábado, 12 de dezembro de 2009

PASSADO: Anna Karenina, capítulo 1

, em Natal - RN, Brasil
"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira."


Era forró que tocava no ar quando eu vi Anna a primeira vez. Na verdade não a vi, primeiro, eu vi Jonathan que estava ao lado dela. A imensa tatuagem no braço dele, que começava no antebraço e se perdia por dentro da manga da camisa justa que usava, ressaltando-lhe os músculos, chamou-me muita atenção. Eles conversavam entre cervejas e um cigarro que tamborilava entre os dedos de unhas vermelhas que ela ostentava. Ele era moreno, de profundos olhos vivos e negros, ela tinha uma pele branca, cujos seios não muito grandes perdiam-se num corpete negro. O cabelo dela estava preso e o colo todo a mostra reluzia as cores que escapavam do palco.
Eu estava próximo a eles, observava e fui notado. Eles conversaram algo e eu notei que ela dissera um veemente não para alguma proposta dele, e me lançara um olhar morto, daqueles que só pessoas que já sofreram muito têm. O olhar morto e meio cheio de desespero. Assustado, reuni-me aos meus amigos que bebiam no bar, e fiquei por lá por um tempo, quando notei o Jonathan sozinho, agora, me rondando. Ele me olhava, ao encontrar meus olhos sorria, eu sorri também, e com a coragem que somente o álcool poderia me dar, aproximei-me. Ele se apresentou com aquela voz de barítono, contou da banda de pop rock que cantava, falou mais algumas palavras, e quando me enlaçou com aqueles braços tatuados me beijou.
Foi quando uma mão se colocou entre nós, uma mão branca com unhas vermelhas se pôs entre nós. Eu olhei sem entender o que acontecera, e Anna olhava para Jonathan com fúria, apesar dos olhos mortos que ostentava, e uma tapa explodiu na cara dele, de uma mão branca e unhas vermelhas.