Google+ Estórias Do Mundo: PRESENTE: O Valete de Ouro

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

PRESENTE: O Valete de Ouro

Bem, é impossível resumir quatro dias de carnaval em apenas um post, por isso, vamos por partes:


UM


Caicó estava fria. Nuvens pesadas cobriam as serras que cercam a cidade. Era uma noite incomum ali. Chovia fino. E raios caíam, anunciando o que me esperava no carnaval. Cansado, subi escadas carregando minhas malas. Levei-as até o quarto e joguei num canto. Os outros habitantes daquele apartamento jogaram suas coisas ali também. Cada um ganhara um espaço. E eu deitei e dormi. Um sono pesado que não deixou meu corpo reconhecer que estava num colchonete fino sobre o chão. O dia prometia amanhecer perigoso e assim, não tardou.
Acordei. O dia nublado. Saquei meu telefone. Liguei para Mariah. Maraiah chega. Junto trás Rafa. E os amigos deles, alguns conhecidos, outros não. Aproximam-se. Bebo. Fumo. Estou rindo, quando de repente, viro-me e o encontro. Os cabelos dele estão negros como sempre foram. Mais cumpridos do que eu estava lembrado. Repicado. Balançavam. Caíam lisos sobre os ombros magros que já foram de meus beijos. Ele ria, cercado por seus amigos. Para mim, seu sorriso não aparecera. Respiro fundo e vou até lá. Pergunto se posso falar com ele. Minha voz sai forte e decidida, mas por dentro meu coração treme de medo, treme de esperança. Ouço-me falar a ele que ainda o amo. Ouço-me dizer-lhe que ele esta errando em ficar longe de mim. Mas antes de chegar a implorar, eu desisto. Porque desisto? Porque os olhos dele estavam vazios. Ele olhava através de mim, por cima de mim. Meneava a cabeça como ele sempre fazia quando não estava interessado no que diziam a ele. Ria um sorriso simpático, mas o brilho que havia nos olhos dele que deixavam nossas fotos juntos lindas não existia mais. Ele estava nervoso sim. Constrangido também. Mas educadamente ouviu tudo o que tinha de dizer, e saiu. Sem dizer-me nada.


DOIS


Noite. Na praça. Cercado por barulhos ensurdecedores. Com lama nos pés. Sentado na mesa comigo estão Andarilho e Pry. Eles comem. Eu só observo a noite. Nem quente nem fria. Olho as pessoas que passam. Homens bonitos. Alguns exibem os torsos desnudos. Mulheres loiras. Cabelos lisos, enxarcados de suor. Elas vestem camisetas de blocos. Devem ter dançado muito sobre os caixotes. Ele chega. Bem vestido como sempre. Usa um colar que eu dei a ele. Não consigo não conter um sorriso. E nem um pensamento: foi de propósito? Se não foi, será que é o subconsciente dele tentando demonstrar algo? Eu grito que sou tolo. Mas ninguém houve meu grito. Por que ninguém houve? Por quê? Quando volto a mim, percebo que ele notou meu interesse. E aí ele vai embora. Deixa-me lá com um olhar de pena. E se vai. E eu quero chorar. Quero. O Andarilho não deixa. Ele diz que eu sou melhor que isso. Que vou conseguir superar e encontrar alguém que realmente me dê valor. Eu nego. Digo que é impossivel. E ele se irrita. Levanta-se e vai embora. Com raiva. Fico lá, abandonado a noite. Sentado na calçada. A mesma que Beto apresentou-me a seus amigos. Que disse pela primeira vez na minha frente: este é meu namorado.


TRÊS


Chovia. Ao fundo o açude Itans contrastava com as montanhas que se jogavam em seu espelho. Pedras sertanejas rasgavam a terra seca. Em cima das pedras, um casarão onde uma música conhecida rasgava aquela paz tão bucólica. Gente e mais gente. Conhecidos muitos. Muitos de Caicó. Muitos outros de Natal. A luz do dia entrava prateada e banhava aquelas pessoas pelo alpendre. Ele estava lá. Dançando. Dançando como ele me conquistou. Ele me conquistou numa festa, de repente me lembrei o porquê daquela música ser tão familiar. Era a música que tocava quando ele me conquistou. Dançando. Feliz. Como ele estava feliz. Toda vez que eu me virava. Ele saltava, pulava. Ele estava feliz. O Andarilho estava irritado comigo. Ele sabia que eu estava sofrendo e dizia que ele não merecia isso. Não merecia meu sofrimento. Não merecia minhas lágrimas. Não merecia.


QUATRO


Uma tarde suave. Ana e eu conversamos sentados junto a Caixa. Não venta, mas não faz calor. As nuvens cobrem o céu com um manto plúmbeo. Falamos sobre relacionamentos. E ela fala que notou minha tristeza. Que meus olhos estão cinzentos como o céu. E que achou meu ex muito estranho. Disse-me que notou que ele fingia alegria quando me via. Disse que ele costumava estar parado, triste, bem quieto. Mas quando percebia que eu olhava, mudava de atitude. Dançava, pulava, tornava-se o Beto que eu conheci. Pry ouve a conversa. Acaba dizendo que percebeu o mesmo. Rafa diz-me que ele sempre, mesmo comigo, dizia que nunca tinha esquecido o ex. Nigue diz que eu deveria esquecê-lo de vez, porque ele não me amava como eu o amo. Não chorei.


CINCO


Noite. Última. Céu sem estrelas e sem lua. Vamos à Ilha carnavalizar. Noite quente, apesar de uns pingos de chuva que teimam em cair. Tenho medo de chover. Conheço pessoas novas. Riu ao lado delas. Danço ao lado delas. Bebo. Fumo. Sonho. Curo-me. Hora de ir embora. Pergunto a Pry se devo falar com Beto. Ela acha que sim. E vou falar com todos. Ele é o primeiro. Tchau, já vou. Tento abraça-lo. Ele não deixa. Tento beijar seu rosto, muito menos. Afasto-me. Ele conheceu Pry aquela noite. E a abraça-a e chora porque ela já vai. Trocam telefones. E o ódio toma conta de mim. E eu descubro que um amor não morre, ele se transforma. No caso dele tornou-se indiferença. E no meu caso agora se transformou em ódio. Adeus meu valete! Você está definitivamente enterrado. Agora minhas lágrimas de ácido não são mais por ele, são apenas por mim mesmo.

13 comentários:

  1. tá vendo pq naum quero me apaixonar ?
    rs prefiro ficar avulso a tudo isso
    flutuando entre as nuvens e sonhando com beijos dispersos

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  2. Cara, eu me apaixono sim, adoro me apaixonar. Mas prrecisamos ser realista, primeiro nunca digo que amo digo até que adoro, mas se eu digo que amo estou dando a minha cabeça a prêmio para o diabo. Sinceramente te faltou tato ao chegar pra ele e admitir uma coisa tão profundo assim de uma hora pra outra. Vc tem que conteer mais as suas emoções.
    Beijos querido.
    Ps: mas commo chuveu nesse carnaval!! Daqui a pouco o sertão vai virar mar.

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  3. Complicado Foxx...
    Sentimento é foda!
    Espero que, de fato, tenha enterrado seu Valete!
    Abraço.

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  4. Foxx. Nunca conseguimos enterrar uma paixão. Conseguimos transformá-la. Ninguém escutou o grito ou ninguém entendeu seu pedido? A indiferença dele apenas é a defesa que ele tem para um rei de coraçao grande.

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  5. Oi amigo!

    Isso é triste! Mas, força aí! O tempo é o melhor remédio!

    Forte abraço!

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  6. quantas emoçoes...
    faz o seguinte.
    chore bastante
    depois levanta a cabeça e vai a luta por outro.
    abração

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  7. Muito triste. Força amigo.
    (Foxx vc é um poeta, a dor faz um poeta, vc é um poeta)
    Beijo

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  8. Lenin querido, o que tenta nos destruir nos fortalece. E ele num te merecia. Se ele fez tudo isso, significa que ele num te merecia msm.

    E como o baralho tem mais sei lá qnts cartas e esse valete já era, vá ás outras [só num vale as damas pq num tem graça...]

    Abração!

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  9. Amigooooooooooooooooooooooooooo! Blz? Bom, tristezas a parte, comemore! Afinal, uma parte da profecia se concretizou! Vida nova, cherry!
    Beijos!

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  10. é triste ver q o seu carnaval se resumiu a uma pessoa...
    é mai triste ainda ver q seu carnaval se resumiu a distorcer um sentimento...
    o contrario do amor nao é o ódio, é a indiferença! ja disse isso no meu flog uma vez...
    nao o odeie, pq odiando, vc ainda se importa e pior ainda, odiando-o, vc se torna inferior a ele...
    como disse sunshine... so lamento!
    abraços e força pra todos nós

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  11. OI Cara!!!
    É a primeira vez que estou comentando aqui... è muito chato quando não somos correspondidos... Ainda mais quando temos sentimentos tão nobres pra oferecer, mas a vida é assim mesmo... Nem todos merecem o que vc tem de melhor... Procura alguem que te mereça!!!
    Um grande abraço

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway