Google+ Estórias Do Mundo: Homohistória (Introdução)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Homohistória (Introdução)

Eu ia escrever um texto sobre o Egito, mas me dei conta que antes de começar a falar sobre relações homoeróticas no passado é preciso deixar claro um conceito antes. Uma idéia importantíssima que se não for levada em consideração toda vez que falamos de relações amorosas e sexuais entre dois homens ou duas mulheres pela História da humanidade pode destruir totalmente o seu argumento. O fato é: não existem gays na História Antiga ou na História Medieval, ou mesmo na História Moderna. Entre os homens que faziam sexo na Atenas clássica, os amantes guerreiros espartanos, os eunucos persas, os homens-mulheres do Egito, os sacerdotes de Astarté, as alunas de Lesbos, Gilgamesh e Eridu, os homens retratados no Kama Sutra, não existem gays. Não existem gays nos mosteiros medievais e nem sendo acusados pela Inquisição. Não existem gays entre os humanistas, Michelângelo e Leonardo da Vinci não são gays. Como também não os são os meninos castrati, nem os atores japoneses do teatro Kabuki. 
Os primeiros homossexuais só aparecem no século XVIII como doentes a serem tratados, junto com as mulheres histéricas e os que traziam consigo um infeliz complexo de Édipo, ou sendo processados na Inglaterra como foi Sir Oscar Wilde, os primeiros gays só aparecem no primeiro raiar do século XX, na noite alemã, perseguidos nos Estados Unidos, lutando por direitos na Inglaterra, usando couro e bigodões. 
Ser gay é mais do que a relação homoerótica entre duas pessoas, ser gay é uma identidade e uma cultura compartilhada por um grupo social característico do Ocidente. Sendo assim, não podemos chamar outras pessoas que membros de outra cultura e de outro tempo por uma identidade social que é utilizada nos últimos dois séculos (XX e XXI, a saber). Fazer isso é o crime capital para a História chamado anacronismo.
Fazer com que pessoas de outro tempo e espaço se comportem tal qual nós nos comportamos hoje é um erro bastante comum na verdade, que acontece porque sempre pensamos o outro através de nossa própria vivência, isso você pode chamar de egocentrismo, eu prefiro chamar de lente cultural, como diz Geertz. É comum, mas é algo que devemos combater. Em nós mesmos e esse já é um exercício.
Ao perceber de que relações sexuais, no passado, acontecerem entre dois homens ou duas mulheres isso não os torna imediatamente gays. O termo que devemos usar aqui no caso, como já utilizei antes, são relações homoeróticas por acontecerem entre pessoas iguais (homo). E porque não os torna? Porque elas se davam de forma distinta das que se dão hoje. 'Tá, eu não estou dizendo que eles enfiavam seus pênis em outros lugares mágicos, apesar que na Grécia havia o sexo interfemural (não sabe o que é isso, vai ter que esperar eu falar sobre a Grécia então), mas o relacionamento entre estas pessoas se dava diante de outras regras que não são as mesmas que seguimos hoje no mundo contemporâneo. Eles não são gays, mas posso garantir que é uma fato que sempre existiram relações homoeróticas entre homens e mulheres, os registros históricos estão aí para provar e pretendo apresentar alguns deles para vocês por aqui agora. Sigam-me os bons.

26 comentários:

  1. Bom ou não, estou seguindo!!

    E o anacronismo é foda. Por isso todas as Bíblias (incluindo o Pentateuco de Kardec, mais novinho) deviam ficar no museu, apenas como referência e estudo.

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  2. Bom texto para reflexão.

    Importante estarmos atentos ao hábito [que tenho/temos]de imaginar e avaliar comportamentos de pessoas de outros tempos e espaços com nossos olhos e valores atuais.

    O ser humano, a humanidade, a história, é muito mais plural do que a gente gosta de pensar. Inclusive no tocante a relações sexuais entre iguais. Ser gay, quando consideramos o rótulo normalmente associado a essa palavra, como conhecemos hoje, é mesmo uma coisa ocidental e contemporânea.

    Há muitos tipos de homens, mesmo hoje, que praticam sexo com outros homens, e estão longe de serem vistos como gays. Não só por esconderem isso.

    Em Biautiful (filme fraquinho) há uma cena, um "casal", que nos leva a considerar isso também. Nem todo rótulo serve para todos.

    Fazer sexo com outro homem não nos torna todos iguais. Longe disso. Quer hoje, e principalmente ao longo da nossa existência passada.

    Obrigado pela oportunidade da reflexão, Foxx!

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  3. Até há pouco tempo atrás, eu considerava que todo homem que transa com outro é gay. Mas, depois de um debate com outra pessoa, eu considerei a opinião do outro debatedor. Hoje em dia, há homens que transam com outros, mas querem saber apenas das características femininas desse outro. Sem contar - aí não concordo muito - com detentos, garotos de programa, bêbados, que fazem sexo com outros sem ter necessariamente atração sexual.
    E antigamente, como vc mesmo disse, esse relacionamento se dava diante de outras regras diferentes das de hoje.

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  4. Concordo com o seu texto e faço minhas as palavras do Alex e as do Billy.
    E, como bem lembrado pelo Edu, o erro das pessoas em geral é não focar a evolução dos tempos ao analisarem fatos, comportamentos, idéias ou sentimentos do passado. Os religiosos são um dos melhores exemplos.
    Beijos.

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  5. Oi Foxx. A palavra "evolução" foi mesmo inadequada no contexto.
    No entanto, eu quis me referir ao desdobramento ou as transformações que o ser humano vem passando ao longo da sua história e não, necessariamente, à idéia de progresso, ok?
    Beijos.

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  6. Eu não sou bom. Sou ótimo. Hahahaha! Mas te sigo. Sempre!!!! Hugzz!

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  7. É cara... Faz sentido!
    Esses exemplos que você deu me fez lembrar alguns filmes que tentam reconstituir a história antiga, mas que acabam em anacronismo...
    Bem, vou esperar os próximos posts (ansioso para saber o que é sexo inerfemural, acho que não vou ressitir e vou caçar na wikipédia... kkkk)

    Abraço, Foxx... Até o próximo

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  8. Um bom texto introdutório. Lembro-me de ter lido num artigo seu sobre essa questão de não haver gays ou homossexuais na Grécia Antiga, creio que ainda tenha a cópia impressa deste texto nos meus arquivos. Só pr reforçar, adoro estes seus textos, me lembra as minhas aulas de História, as quais eu sempre gostei de assistir. Bjo, raposinha.

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  9. Opa!

    Bom, eu não concordo muito com o que vc disse. No passado as pessoas podiam não se considerarem gays, podiam não ter os mesmos anseios dos gays atuais, podiam não se comportarem exatamente como os gays de hoje, mas isso não faz com que os gays nunca tenham existido.

    Digo isso porque se fosse tão direta essa relação, poderíamos considerar que a pessoa só é gay se ela se identifica com o "conceito gay". E não existiria gay "incubado", por exemplo, já que ele não se identifica como gay e não assume para si essa identidade. Tem gente que não se considera gay. Tem gente que diz que isso é apenas uma parte da personalidade dele e não a parte mais importante. Essa pessoa deixa de ser gay só por não se considerar um?

    Entende onde quero chegar?

    Poderia-se dizer que o conceito de homossexualidade não existia e que, portanto, as pessoas não se consideravam assim. E que os gays de antes tinham comportamentos, convicções e estilos de vida diferentes dos gays de hoje.

    Afinal, mais que relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, muitíssimo provavelmente devem ter existido relações homoafetivas. Podemos citar a relação O Rei inglês Ricardo I (na época ainda o Duque de Aquitânia) com Filipe II rei da França. Havia mais que relação sexual entre os dois. eles viviam numa relação connjulgal.

    Considerar que gays do passado e do presente são iguais seria anacronismo, sim. Aí concordo.

    Enfim, abração!

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  10. Reflexões interessantes!!!Sigo vc sempre, pq vc é muito bom...
    Abraço Foxx

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  11. essas suas séries históricas são ótimas.

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  12. Hummmmm,pegando meu banquinho para acompanhar os próximos capítulos.
    Abraços.

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  13. Foxx,

    Perfeito seus textos ... precisos. Relações Homoeróticas sempre existiram ... mas a forma contemporanea de exercicio é contemporanea ... Assim como a questão do amor romantico, certo?

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  14. Quando foi que nos perdemos do Amor Universal? É tão importante assim classificar, diferenciar, marginalizar.

    Onde fica o que se sente?

    Estou de volta, Le Foxx.

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  15. Excelente texto. É claro que vou segui-lo, afinal de contas , sou bom.
    Bjão

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  16. Não deixe de ir assistir então!
    Abraços

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  17. Muito interessante.
    Quero muito acompanhar essa sua 'viagem' ao passado e essas histórias.
    Abraço

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  18. Ô... se dou. Dou muito. Trabalho, claro. Hahahahaha!!!! Hugzão, Raposão!!!!!

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  19. hmm ansioso para os fatos entao!
    tava em debito por aqui né?

    bj

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  20. Como eu sou só uma coisa: Maravilhoso seguirei!!
    Curioso pra saber sobre esse sexo interfemural... imaginei mil coisas aki já!!
    Abraçoooo!

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  21. Adorei o texto e os argumentos.

    Estranho é que concordo com vc e com o Alex Brasil e Billycious Bay, mas também entendo os argumentos do Cara Comum.

    Fiquei em cima do muro.

    No aguardo, então, dos próximos capítulos... vai que eu pendo para algum lado? =D

    Parabéns pela qualidade dos textos... adoro essas aulas suas ;)

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  22. Ressalva importantíssima! Seguindo aqui...

    Bj

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway