Google+ Estórias Do Mundo: PASSADO: Entrevista a Oswaldo Montenegro

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

PASSADO: Entrevista a Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos, quem você mais via a dez anos atrás, quantos você ainda vê todo dia? Quantos você já não encontra mais?

Há dez anos, 1998, eu estava no 3° ano colegial. Pré-Vestibular. Morava em Natal, com meus pais. E todo dia, como era de se esperar, encontrava meus amigos de escola. Apenas de escola. Nós não tínhamos nenhum relaciomento além daquela sala de aula, no entanto, mesmo assim, ainda foi possível que rumores que eu e outros três meninos tínhamos "casos" (eu pegando todos eles) se espalharam pela escola. Qual foi minha reação? Fim da escola, fim do contato com todos. Dos amigos que eu via a dez anos atrás, fiz questão de apartar-me de todos.

Faça uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar?

Profunda, Oswaldo! Há dez anos, meu maior sonho era ser aceito. Mas para mim ser aceito seria ter um namorado. Ser amado. Para mim era isso que representaria namorar: eu seria aceito por alguém completamente. Desejo este que eu sublimei. Transferi. Transferi para os amigos. Eu só encontrei esta aceitação entre amigos, até porque nestes últimos dez anos nunca encontrei um relacionamento - leia-se namoro - de verdade. Então, se teve algum sonho que desisti, foi o de ser amado para ser aceito. Descobri que o caminho da aceitaçao não passava por isso.

Quantos amores jurados para sempre: quantos você conseguiu preservar?

Destes dez anos, eu só jurei amor eterno uma vez. Para Beto. Inclusive, até ele, eu não achava que isso fosse sequer possível. Não o amor eterno. Mas eu amar alguém a ponto de jurá-lo. Até ele tive namoros "para constar". Eu namorava sem sentimentos, apenas porque alguém lindo desejava namorar comigo. Francisco. Juan. Provas cabais que meu ego leonino controlava meu coração. Mas eu amadureci e cresci, e conheci Beto, e o amei verdadeiramente. Coisa que ele não fez. Então, nenhum eu preservei. Nem como amigo.

Onde você ainda se reconhece na foto passada, no espelho de agora: hoje é do jeito que achou que seria?

(risos) É óbvio que não. Em 1998 eu tinha uma juba leonina (risos). E também conseguia ser muito mais gordo. Porém, eu acho que ainda sou aquele menino romântico. Por mais que hoje eu tente forçar-me a entender que amores não existe, no fundo, isso é só a forma que eu aprendi para lidar com o mundo - é, mas isto é outra música -, eu ainda acredito no amor. Anote isso que eu não vou repetir até a próxima década, viu? Ah, e outra coisa, como há dez anos eu poderia me imaginar doutorando?

Quantos amigos você jogou fora?

Muitos! Consciente e inconsciente. Consciente: o pessoal do meu pré. Inconsciente: os amigos que a vida ía levando para outros destinos. (pausa) Quer dizer, não é tão inconsciente assim: eu sou do tipo que espera convites, não gosto de forçar minha presença para ninguém. Sou do tipo que só entra em um lugar se for expressamente convidado, então como os amigos que cruzaram minha vida nestes dez anos e partiram, não manifestaram expressamente o desejo de minha companhia fazendo, por exemplo, convites para sair, eu os deixava ir. Não os jogaria fora, só não impedia quando o vento os embalava para longe.

Quantos mistérios você sondava? Quantos você conseguiu entender?

Meu maior mistério sempre fui eu mesmo. Por que sou como sou? E minha vida, graças a pena, tornou-se uma longa auto-análise. É escrevendo que eu coloco para fora quem eu sou, e quando estou do lado de fora fica mais fácil de entender quem sou. Entender minha timidez. Minha sexualidade. Minha personalidade. Meu poder de sedução. Só consigo através da pena e do papel.

Quantos segredos que você guardava hoje são bobos, ninguém quer saber?

(risos) Meio óbvio, não? (risos) Há dez anos eu morreria se alguém suspeitasse da minha sexualidade. Hoje... (risos). Acredito que seja um processo que acontece com todo mundo: o medo dos outros descobrirem sobre você é apenas um reflexo de sua própria aceitação. Sinceramente, hoje não me importo se acham que eu sou ou que não sou gay. Pouco me importa. Apesar de que, não por isso, vou levantar uma bandeira e dizer a todos o que sou. Afinal o que faço na cama não é da conta de ninguém. Contudo, ainda preservo meus pais desta realidade, nosso relacionamento não está preparado para isso, talvez algum dia esteja, talvez não.

Quantas mentiras você condenava? Quantas você teve que cometer?

(risos) Fui educado para não beber e, muito menos, fumar. Quanto m ais utilizar "aditivos" ilícitos. No entanto, olha o que já aconteceu: experimetei a fada verde, absinto, a bebida com maior teor alcoolico do mundo, com quase 93%, cuja qual é proibida no Brasil; já cheguei a ficar com os dedos amarelos de tanto fumar no carnaval do ano passado e já provei maconha - não recomendo -, passei mal com loló na casa do Peter e adorei ecstasy. Bem que eu não tive que cometer, mas...

Quantos defeitos sanados com o tempo era o melhor que havia em você?

Ih! Tenho dúvidas se consegui sanar algum defeito. (pausa) Há dez anos lembro que era muito introspectivo, ninguém sabia nada de minha vida, o que impedia as pessoas de se aproximarem, eu achava, e ainda acho, isso um defeito, um que eu sanei, mas não penso que ele era o melhor que havia em mim.
Mas ainda hoje eu tenho muitos outros defeitos. E um deles, eu acho, é o melhor que há em mim: ser efeminado! (risos) É, eu acho que é uma benção. Você percebe quantas pessoas vazias se afastaram de mim apenas por isso? Por que uma pessoa que não consegue nem ser amigo de outra por ela ser diferente é uma pessoa, no mínimo, vazia, não acha? Também isso afasta de mim gente mal resolvida. Pense bem, é um saco enorme namorar alguém que fica olhando para os lados com medo de alguém ler seus pensamentos, e alguém assim não sai com uma bichinha como eu. Uma benção! Nem vou falar dos amigos falsos...

Quantas canções que você não cantava hoje assovia para sobreviver?

Meu gosto musical mudou muito em dez anos. Em 1998, eu estava começando a sair do casulo. Eu tinha vergonha de ser efeminado, sabe? E dos olhares que atraía, que eu considerava todos de reprovação - ledo engano (risos) - e preferia não sair de casa. Até que cansei do meu auto-exílio e aceitei o convite de um vizinho para ir a show de forró. E daí não parei mais. Comecei no forró, passei ao pagode, virei dançarino de banda, passei ao rock, ao pop , MTV, conheci as raves, descobri o blues, mpb, música clássica, e formei meu gosto eclético (risos). Inclusive agora estou fazendo aula de funk (risos)!

Quantas pessoas que você amava, hoje, acredita que amam você?

Vir a BH me deu completa noção disso. Coisas que eu não conseguia enxergar antes, agora parecem muito mais claras. Antes eu falaria, com certeza, que quem realmente me ama são meus amigos, mas por mais que eles tenham um carinho estupendo por mim, sei que tem, nada se compara ao amor que minha mãe finalmente conseguiu demonstrar. Sem dúvida, hoje, é minha mãe.

10 comentários:

  1. Adorei saber um pouco de ti...
    difícil as perguntas né...

    Adorei o gosto musical, totalmente eclético!

    e fala sério, amor de mãe, família em geral é o único que não tem como acabar né... simplesmente passar... e tem gente que demora tanto a perceber isso...

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  2. Adorei saber essas coisas mais, digamos, íntimas... e sugiro que vc peça aos outros blogayros para responderem as perguntas tb. Ia ser super legal! Tipo, vc podia convocar cinco e esses cinco convocam mais cinco e aí vai!

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  3. Hum.. entendo perfeitamente o caso de nao querer impor sua presença aos amigos... Sou um pouco assim, mas acho que às vezes eles acham que é descaso... é preciso se impor um pouco... =)

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  4. ai foxxx lendo esse texto eu fiquei com saudade de conversar com vc
    hauha me senti intimo

    saudades garoto

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  5. Nossa, que ótimo isso!! Haahhaah!!

    Adorei essa entrevista!!!

    Abs!!

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  6. Muito bom... vc passeia bem por tudo aquilo que sabemos acontecer com todos n'os

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  7. Po mto legal isso ae... me sairia mto mal nesse questionario!

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  8. Essa idéia de entrevista ficou bem legal! E gostei tb da idéia que o Mike deu de outros blogrs fazerem isso tb!

    Abraços pra vc!

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  9. adorei conehcer esse blog.
    voltarei mais vezes para um café. ;)

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  10. Até q o Oswaldo Montenegro se mostrou um bom jornalista!!! rs
    E vc, arrasou nas respostas!
    É legal pensar em 10 anos atrás e ver qta coisa mudou. Acho q é um processo natural, mas, mtas vezes a gt nem percebe... tentei fazer uma análise rápida de 10 anos atrás, mas eu era uma criança de 12 anos!! hehe
    Acho melhor deixar pra responder isso mais tarde... lá por volta dos meus 32 anos! Acho q aí sim teria do q me lembrar e perceber qto mudou!

    Abraço procê!
    ^^

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway