Por algum motivo, Júpiter em Leão provavelmente, não é raro algum homem me adicionar no Facebook. Adicionam cheios de segundas intenções obviamente. Bonitos homens que chegam com conversas mansas, perguntando sobre minha vida, minhas preferências e minhas ideias. Por acaso, são realmente homens interessantes. Não todos, mas a maioria. Em um mês, por exemplo, teve um de nome francês, corpo de jogador de capoeira, cabelos com dreads e que havia viajado boa parte do mundo e me contava estórias da Nova Zelândia, Bélgica e Filipinas; teve um bancário, de roupa alinhada, sorriso perfeito e barba por fazer, amigo de um amigo, que perguntou tudo sobre mim ao nosso conhecido em comum e o fez ficar torcendo para que eu finalmente desencalhasse; teve um estagiário de direito, magrinho e com um sorriso lindo, imberbe, cujas roupas sociais ficavam grandes demais para ele, menos na mala; e o modelo, lindo!, de cabelo perfeito, sorriso perfeito, rosto perfeito, corpo perfeito, e que ao me encontrar me perguntou: "você me achou mais feio pessoalmente não foi?", e eu fui obrigado a dizer-lhe que, pelo contrário, ele era extremamente mais bonito pessoalmente que nas fotos que eu havia visto.
Sim, eu encontrei com todos eles. Sempre em uma quarta-feira. Meu único dia livre a noite. O primeiro me levou a um bar. Disse que achava que ele ia beber cerveja sozinho, mas que eu estava bebendo e ele já estava ficando tontinho. Conversamos sobre biologia, evolucionismo e criacionismo, sobre tipos de vozes masculinas. E eu sabia que ele não estava interessado por mim no instante que a conversa chegou a este determinado ponto:
- Os fonoaudiólogos dizem que se você não está satisfeito com sua tessitura vocal, (eu dizia) isto é, se você acha a sua voz fina ou grossa demais, é possível mudar. A minha já foi muito mais aguda do que agora, por exemplo.
- E você acha que a sua já está bom? Perguntou o garoto de nome francês.
E eu respondi: - Não, é aguda demais, eu sei, mas não me interessa mudar. Eu aprendi que eu tenho um dom, que nem todo homem pode alcançar as notas que eu consigo, comprometer esta habilidade porque eu não encaixo no fetiche dos viados desta cidade não está nos meus planos.
Ele mudou o assunto para a Dilma e o Aécio, e eu soube ali que não haveria um segundo encontro, apesar de bêbado ele ter mencionado que seria legal me ver cantar.
O bancário, numa outra quarta-feira, me convidou para tomar um açaí. Ele era lindo, não tão lindo quanto o francês, mas eu o encontrei numa lanchonete e comemos falando sobre o mundo gay natalense, sobre meus grupos de corais, sobre os amigos dele e nosso amigo em comum, ele pagou a conta no final com uma cara de culpado. Eu li nos olhos dele o seguinte quando ele pagou a conta: "Eu fiz ele vir até o outro lado da cidade para nada porque nem beijá-lo eu vou, vou pelo menos pagar a conta". E, o que eu achei bem honrado, ele mal esperou nos separarmos para mandar uma mensagem, via Whatsapp, dizendo: "Olha, eu nem sei bem como te dizer isso, mas você é um cara legal e não quero te dar falsas expectativas, mas não rolou química". Eu respondi com um tumbs up e um "de boa". E toquei minha vida.
Com o estagiário eu comi, também numa quarta, um sanduíche em uma lanchonete de rua. Detesto praças de alimentação de shoppings, só vale a pena se o calor estiver infernal. Conversamos sobre o trabalho dele, ele perguntou sobre o que eu havia estudado, seus olhos brilharam quando eu falei que era doutor, ele perguntou sobre minha dissertação, minha tese e da experiência em Belo Horizonte (eu menti dizendo que tinha adorado tudo e que tinha sido um grande sucesso, para quê falar sobre meus fracassos, não é?). Ao sairmos para ir embora, ele parecia excitado sob a calça, o que confirmou depois pelo Whatsapp, vindo até minha casa dias depois para nos conhecermos ainda melhor, if you know what I mean. Chegou meio bêbado porque havia saído de uma festa com amigos e estava animado. Seu corpo branco e apertado era quente e macio. Mas, apesar de eu ter mantido contato, algumas semanas depois, quando eu enviei uma mensagem novamente o convidando para ele voltar aqui, ele respondeu: "Podemos ver isto sim, algum dia". Ok, né? Nunca mais voltou.
O modelo chegou atrasado quase uma hora quando marcamos. Ele mora longe, é verdade, e pediu mil desculpas dizendo que houve um acidente, implorou para que eu o desculpasse, e porque não né?, era quarta-feira e eu estava em casa sem fazer nada mesmo. Ele veio até perto da minha casa, na verdade, caminhamos juntos e ele falou sobre estudos, sobre planos para o futuro, fez perguntas indiscretas sobre minha situação financeira e quis conhecer minha casa. Eu não resisti. E ele explodiu sobre meu peito duas vezes sem se tocar. Foi lindo de ver. Ele era lindo de ver. Voltou outra vez, não ficou 1 hora comigo, e eu percebi que apesar de toda aquela beleza, ele, estranhamente, tinha muita vergonha do seu corpo, sempre pedindo que eu desligasse as luzes quando ele pretendia se despir.