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domingo, 25 de janeiro de 2015

Spice Your Life

Sabemos que o processo homossexual de assumir-se, o famoso sair do armário, pode ser bastante doloroso e traumático para várias pessoas, tanto homens quanto mulheres, seja o processo inicial de aceitar a si mesmo como diferente para a progressão (que se torna inevitável) de assumir-se para amigos, familiares e colegas de trabalho (normalmente nesta ordem). Inevitável porque após assumir-se para si, de forma plenamente satisfatória (sim, porque existem níveis de aceitação de si mesmo) tornar-se normalmente irritante continuar tentando se esquivar dos outros, em determinado momento qualquer um se cansa (o que muda neste processo é somente o tamanho da paciência de cada um). No entanto, para lidar com este processo, com os problemas que esta situação leva cada um a enfrentar, sobretudo o preconceito, os homens gays costumam ter cinco tipos de reações mais comuns. São normalmente processos bastante inconscientes de defesa que eles controem em torno de si para se proteger do mundo que eles consideram, no mínimo, perigoso porque os odeia. Cinco reações são as mais comuns e, coincidência ou não, podemos representá-las pelas cinco Spice Girls.
Se vocês não se lembram, as Spice Girls era um grupo de música pop inglesa, formado por cinco garotas que ffez muito no sucesso no fim da década de 1990. O grupo era formado por Emma Bunton, Geri Halliwell, Melanie B (Brown), Melanie C (Chisholm) e Victoria Adams (depois Beckham). Elas eram também conhecidas por seus apelidos: Emma era a Baby Spice; Geri, Ginger Spice; Mel B, Scary Spice; Mel C, Sporty Spice; e Victoria, Posh Spice. 

1) Baby Spice.

Emma era a mais jovem das Spices. Já muitos homens gays para reagir ao preconceito se comportam de forma infantil. Reagem aos problemas que lidar com sua própria aceitação causaram paralisando a vida deles numa eterna juventude. Irresponsáveis e imaturos, promíscuos também, dedicam suas vidas a noitadas intermináveis, drogas inúteis e bebedeiras homéricas. Não constroem nada, nem projetam nada para o futuro, tudo porque se viram tão privados de todas essas vivências em sua adolescência ou juventude - bloqueados porque temiam serem descobertos - que, tardiamente, precisam viver tudo isso com imenso afã. 

2) Ginger Spice.

Geri era a Spice sexy, e inúmeros homens gays reagem ao preconceito que minou sua autoestima superinflando-a. Eles pensam que todos os querem, que todos os desejam. Eles se consideram os homens mais lindos, mais gostosos, mais bonitos e mais interessantes de todos os lugares que estão. Irresistíveis, todos os homens, sejam eles gays ou heterossexuais, tem que desejá-lo. É uma reação clara de alguém que se sentiu tão inferior que ele se sente forçado a empurrar-se para o outro extremo, quanto mais ele sentir-se superior, quanto mais homens ele ter em sua lista, mas ele terá vencido sua própria história de vida.

3) Scary Spice.

Acredito este ser o tipo mais comum. Mel B, a negra, era a assustadora do grupo e aqui são os homens gays que saem armados todo dia de casa. Eles foram em suas histórias de vida tão agredidos que agora eles estão sempre prontos para uma briga, para um barraco, para o ataque. Também de gestos grandiosos, nada discretos, espalhafatosos, teatrais, eles montaram personagens que são difíceis de conviver porque é difícil assistir uma peça 24 horas por dia. Eles querem, com isso, exatamente afastar as pessoas antes que eles os machuquem. O objetivo aqui é assustar para longe da verdadeira e frágil pessoa que está embaixo da armadura. Tão feridos que foram, tanta luta pelo que já passaram, eles aprenderam a esperar somente o ataque e por isso atacam primeiro, seja em suas roupas, em seus gestos, em suas ações. Eles recusam-se, terminantemente, a ser novamente vítimas.

4) Sporty Spice.

Mel C deveria representar as meninas mais masculinas entre os personagens da banda, entre os gays esta se refere aqueles que mantém fixação com seus corpos. E sei que muita gente vai pensar nas barbies (os garotos malhados que dedicam horas nas academias para esculpir seus corpos), mas eu também incluo neste grupo os ursos (os gordinhos peludos) e os efeminados. Atacados em sua consciência de grupo, renegados por amigos, estes homens procuram um modelo físico que lhes garanta aceitação externa que eles não conseguiram antes ou que achavam não merecer. Desvalorizados, como eles se percebem, acreditam que a aceitação está em achar um modelo cujo qual eles possam reproduzir e, sendo igual aos outros, ele poderão finalmente ser aceitos por algum grupo e finalmente fazer alguns amigos.

5) Posh Spice. 

Victoria, que se tornou esposa de David Beckham, deveria representar as garotas fúteis preocupadas com suas roupas e representa também um grupo extremamente fragilizado em sua autoestima: aqueles que reagiram achando que basta cobrir-se de roupas caras, frequentar os lugares mais caros e mais badalados, conhecer as pessoas dos círculos mais ricos que ele seria recoberto com uma sensação de valor que sua história de vida negou-lhe. Protegidos pelo dinheiro, sobretudo, eles não seriam mais incomodados por aqueles que os faziam se sentir inferiores.


Não estou com isso cavando justificativas para aqueles que tem estes comportamentos, apenas reconhecendo que estes comportamentos são explicados por causa das trajetórias de enfrentamento que ser gay exige. Também, de forma alguma, pretendo dizer que todos os gays passaram por algum destes tipos. Absolutamente. Muitos superam os crimes que foram-lhes cometidos mais rápido, alguns, graças a Deus, nem tem problemas com aceitação de todos os lados, mas eu estou errado em ver estes tipos circulando por ai? Eu com certeza encontrei vários destes tipos pela minha vida, também admito que aqui em Natal, durante muito tempo, eu acreditei que a vibe Posh Spice era a única forma de sobreviver a cidade que eu vivo, mas graças a Deus, o amadurecimento me provou o contrário. E com vocês?

21 comentários:

  1. Bem... Achei legal as suas 5 categorias mas eu acrescentaria outras... Tem a gay que acha que tem que agradar a todos para não correr o risco de ser rejeitada novamente; tem a que fica reclusa (mas sem ficar agressiva para afastar os outros)...

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    1. Ah, com certeza existem muitos outros tipos. Lembrei agora o que se esforça pra ser o melhor aluno, melhor profissional, tem que estar sempre no topo pra compensar o fato dele ser gay. Tem várias formas de lidar com o trauma né?

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  2. Interessante a anal(ui!)ogia! E até que gostei de finalmente me ver incluído em alguma coisa "esportiva", rs. Acho que "meu grupinho" foram os blogueiros. Mas como destes sobraram poucos, tô meio urso polar no Ártico em derretimento...

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    1. Kkkkkkk
      pois é, o sr. é urso afinal de contas, né Edu, mas tenho certeza que não é do tipo chato que julga as outras pessoas só porque são diferentes

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    2. Não - e nem frequento o "meio". Me incomoda a homogeneidade (vixe, é assim que escreve??) em qualquer forma. Quando morei na DK, me incomodava todo mundo ser branco/loiro que nem via diferença entre os altos e magros e os baixos e gordos. Coisa de doido. Mas mudando de assunto... "o dado tava dando 1 o tempo todo, pelo menos até agora." quer dizer que agora o dado tá dando 6? Discorra sobre isso, rs.

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    3. Eu imaginei que vc pensasse assim, Edu. Por outro lado você deveria chamar muita atenção na Dinamarca não?

      Sobre o dado, 6 ele não deu ainda. Mas ele tem variado. Chegou até um 5 inclusive, mas 6 ainda não.

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    4. Olha, uma vez um grupinho de "árabes" (? - barbudos e turbantes) ficou gritando na minha frente. Acho que me consideraram parecido com eles. De resto... fica por conta da sua imaginação. ;-)

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    5. Ui... olha que da minha imaginação já brotou romance, dissertação, tese... ela é fértil kkkkk

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  3. Bem legal sua reflexão e contextualização mas não me identifiquei com nenhuma das categorias. Tive problemas sim, problemas meus, para me aceitar ... isto durou uns 7 anos ... mas me aceitei e vi q o bicho não era tão feio qto parecia e q, este bicho só existia em minha cabeça. No mundo à minha volta eles não existiam ... tudo foi muito tranquilo e tem sido assim até hoje ...

    Beijão

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    1. Tem certeza, Paulo?
      Por que eu tenho quase certeza inclusive que muitas pessoas que se enquadram nestes padrões não se veem neles, lembre-se que os processos aqui são inconscientes.
      Outra coisa, todos os problemas em relação a saída do armário só existem em nossa cabeça mesmo, mesmo uma família que não aceita ou um emprego que vc perde não são problemas se vc não os encarar como problema. Por que alguém gostaria de trabalhar numa empresa que o julga por sua sexualidade, por exemplo? Ser despedido porque se assumiu gay não é um problema, é uma oportunidade de sair daquele ambiente preconceituoso.

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  4. Interessante a analogia e a classificação. São tipos comuns, mas há outros muitos, e mistura de vários deles. Desses aí eu tenho ainda um pouco de Scary e Baby.
    A vida não foi tranquila, mas reconheço que mais do que o mundo, eu mesmo fui meu carrasco. O HIV veio, nesse sentido, agora, depois de alguns anos, a me ajudar a ligar o foda-se e viver. Apenas.
    O que é que tenho pra hoje?

    Abraços

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    1. Claro, claro, existem outros tipos com certeza. Digamos que esta foi uma primeira classificação, aos poucos vamos aumentando a lista né?

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  5. Também não me identifiquei com nenhuma, mas adorava Spice Girls! Quem nunca? Rs

    Abraço!

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    1. Kkkkkkk
      sou obrigado a perguntar se vc tem certeza?
      mas não foi minha intenção cobrir todas as possibilidades, acho que seria impossível inclusive, só levantar a discussão mesmo.

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  6. Enquanto lia, percebi como fui ou agi em algum momento como uma Spice! hahaha
    Não posso me definir por nenhuma delas, mas talvez ao longo dessa minha trajetória eu tenha passeado (ou ainda passeie) por esses e outros meios de tentar ser mais aceito ou me aceitar.
    E com certeza tbm vejo esses tipos muito por aí!
    Abraços!

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  7. Gostei deste post. Além dos tipos que colocaste, certamente há espaço para mais. Pessoalmente não me identifico com nenhum destes que mencionaste, embora seja sincero - jogo muito à defesa. Quero muito gostar de alguém e apaixonar-me, mas não estou interessado em momentos de uma só noite. Para isso, contento-me comigo mesmo. Dá menos trabalho e muito menos dores de cabeça. ^^

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    1. Mas, João, eu não estou tratando de relacionamentos amorosos, mas de como pessoas lidam com se aceitar gay.

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  8. Esse bom post vem ao encontro de minha mente tacanha,
    esclarecndo-a e ampliando-a. Até agora, sem nutrir nenhum
    interesse pelo assunto, reduzia a 'espécie' gay a apenas três tipos:
    - os enrustidos;
    - os que dão pinta;
    - os que 'soltam a franga'.
    Agora me dou conta de que 'gay é espécie humana!',
    e como tal, compartilha toda tipificação possível.
    CONCLUSÃO: Faz bem à mente ler o Foxx!
    Abraço.

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    1. Que honra ler esse elogio feito por vc, moço. Muito obrigado.

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    2. Queria saber em qual dos três tipos o tesquinho me coloca(va), rsrs.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway