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domingo, 12 de abril de 2015

Analfabetismo

Cheguei a conclusão que nosso único problema, o único mesmo, a causa de todos os nossos males sejam eles sociais, políticos, religiosos e sexuais, absolutamente tudo!, é o analfabetismo histórico. Duvidam de mim? Vejamos alguns exemplos: o racismo. Se pretende resolver este problema a partir da exposição de uma igualdade baseada na Biologia/Genética, mesmo que isto não seja verdade. É visível que não somos iguais. Brancos, negros, índios, indus, orientais, árabes, judeus tem características físicas/genéticas que os diferenciam uns dos outros. Isto é um fato! Seja a quantidade de melanina, seja a suscetibilidade a algumas doenças. Somos sim diferentes! É preciso, na verdade, parar de jogar para debaixo do tapete esta realidade e começar a aceitar que a diversidade humana começa em nossos corpos. No lugar de ensinarmos que somos todos um, precisamos ensinar que todos somos diferentes, mas nem por isso merecemos ser tratados com desrespeito. O racismo se resolve facilmente quando reconhecemos que apesar de todas as diferenças nós, humanos, compartilhamos uma História em comum. Nós, brasileiros, americanos, europeus, africanos, asiáticos dividimos este planeta desde o começo do tempo. Porém se o conhecimento histórico fosse acessível a todos saberíamos que, neste mundo de meu Deus, nós fomos explorados igualmente explorados independente de nosso código genético. O problema definitivamente não está na inferioridade de alguns corpos, como os defensores da eugenia, de tempos em tempos repetem.
Outro exemplo? Eu poderia citar o papel ridículo da classe média brasileira pedindo o retorno da Ditadura Militar ou comparando o governo petista com um governo socialista. A falta de conhecimentos sobre o nossos governos ditadoriais ou sobre o que é socialismo me fazem quase chorar. De verdade! Posso também citar como os americanos elegem inimigos mortais a cada mandato presidencial. Inimigos que eram antes aliados, devo dizer. Clínton elegeu o Iraque; Bush, o Afeganistão; Obama, Irã e agora a Venezuela. Os americanos esquecem que seus presidentes só tem reais poderes em caso de guerra, que qualquer governador pode promulgar leis em sua federação, e portanto sem um inimigo (mesmo que imaginário) ele perde toda a utilidade. Se o conhecimento histórico fosse disseminado poderiam os americanos questionar o porquê de seu antigo aliado hoje é um inimigo. Hussein, os aiatolás afegãos, os fundamentalistas iranianos e até mesmo a economia venezuelana exclusivamente baseada em vender petróleo para os EUA e consumir seus produtos foram resultado  de influência direta dos americanos.
Exemplos não se acabam. O fundamentalismo islâmico e evangélico é resultado direto também do analfabetismo histórico. Dos fiéis pelo mundo que não conhecem a verdadeira História do Alcorão e da Bíblia. Que não leem seus livros sagrados a partir do contexto histórico que os formulou. Que acreditam que porque este conhecimento fora revelado por Deus os homens que os escreveram estavam imunes ao tempo que viveram. O analfabetismo neste caso está relacionado ao desconhecimento de um dos conceitos-chave da História: historicidade. Nenhum homem é imune a seu tempo. Nem mesmo profetas, nem mesmo o messias. Ninguém pode existir neste planeta sem viver sobre as suas regras e uma delas é o tempo. Homens que vivem dentro de um mesmo tempo, educados dentro de uma mesma sociedade, socializados dentro dos mesmos conceitos, só conseguem pensar seu mundo dentro de um certo limite. Conceitos como ateísmo, amor romântico, infância, escravidão, saúde, natureza, entre outros, não são imutáveis. Eles dependem do tempo em que existiram para serem definidos e pressupor que nossos conceitos de hoje são os mesmos de autores que escreveram entre 2 mil e 1500 anos atrás é o maior crime que alguém que já teve uma aula de História pode ter: anacronismo.
O analfabetismo histórico, portanto, leva diretamente a este pecado. Leva a acreditar que o mundo sempre foi do jeito que ele é hoje. Faz todos acreditarem que as relações entre homens e mulheres são naturais. É daí que se origina o machismo, "os homens sempre dominaram as mulheres", que se origina a homofobia, "os homens de verdade sempre foram assim", que se origina as críticas ao casamento homoafetivo, "o casamento sempre foi entre homens e mulheres". Sem o estudo da História, com seriedade, como elemento de transformação social, nós estamos fadados a acreditar que o mundo nunca foi diferente do que é hoje, tanto para o bem, como para o mal. Sem esta consciência, repetiremos os mesmos erros incessantemente e não reconheceríamos sequer que aquilo é um erro porque não saberíamos que o diferente é possível. Sem aulas de História, sem aulas que ampliem a consciência de crianças e adultos para além da experiência imediata que nossos sentidos são capazes de fornecer não nos tornaremos nunca seres humanos melhores.

12 comentários:

  1. concordo! falta mais estudo para todo mundo!, o que precisamos mesmo é mais aulas de historia!

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    1. Sim, pra quê tanta aula de matemática na vida das pessoas? Principalmente no ensino fundamental? As crianças deveriam estar estudando História!!!

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  2. Gostei de sua análise sobre esta perspectiva histórica ... bem por aí mesmo ...

    Beijão

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    1. olha, Paulo concordando comigo, isso é raro por aqui.

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  3. Concordo muito com você depois de dito tudo isso, analfabetismo histórico e ao que parece eterno ... e não me canso de perguntar, até quando?

    E não preciso nem comentar o analfabetismo literário ... rs

    Gossip of Men.
    http://gossipofmen.blogspot.com.br/

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    1. ah, Chris, o analfabetismo literário é fruto do histórico. As pessoas nem sabem que existem livros maravilhosos para ler, elas acham que o mundo que conhecem através dos sentidos é todo o mundo que existe.

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  4. Excelente Foxx. Sabes que relativamente ao racismo, houve um slogan em Portugal, que dizia "Todos diferentes, todos iguais", muito em linha com o teu post.

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    1. pois é, precisamos parar com essa história que para sermos iguais temos que apagar todas as nossas diferenças, não é por aí que funciona, esse caminho é o do fascismo e da eugenia.

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  5. Gosto demais quando você escreve nesse estilo. Esclarece coisas que, muitas vezes, não são tão fáceis de entender. Tenho uma pergunta (rs), mesmo porque você, como professor de história, é a pessoa ideal pra responder: por que a maioria dos professores de história não procuram fazer com que os alunos entendam os processos históricos, as diversas causas e efeitos dos movimentos, das mudanças, dos retrocessos, que engendram o suceder das civilizações? O que costumamos ver é a tentativa de “narrar” a história como se fosse uma mera sucessão de fatos, datas, personagens... entende o que estou querendo dizer? Outra coisa que me irrita um pouco é a “mania” de descrever a história como uma sucessão evolutiva das coisas, o que, convenhamos, é uma visão positivista da história, concorda? O jeito como você escreve, temos que convir, não é o que se costuma ensinar nas escolas! Isso deve ser um dos fatores que engendram (rs) esse analfabetismo que você descreve.

    Abraços

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    1. oi Adriano, desculpe a demora para responder sua pergunta:
      então, os professores de História são preparados para ensinar história dessa forma que vc acha melhor, mas não podem por dois motivos: 1) o vestibular/Enem não cobra nada mais do que esse conhecimento narrativo, se eles ensinarem algo que está fora do que vai cair no vestibular serão demitidos.
      2) o conhecimento histórico é constituinte da revolução, então não interessa aqueles que estão no poder que os professores de história contem o que realmente aconteceu para não incitarem a revolução.

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  6. Gostei muito desse texto, pois era algo que eu vinha pensando ultimamente, mas sem ter tanto embasamento pra falar sobre isso como vc tem.
    Inclusive é uma crítica pra mim tbm, pois só estudei história na escola, e como comentou ai em cima, não é o forte das escolas nos fazer pensar.

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  7. Então... concordo quase que 100% com vc. Mas acredito que a coisa não é tão simples.

    Precisamos repensar o currículo das escolas, que não traz nenhuma abordagem sobre direitos, deveres e cidadania, nem sobre educação emocional (pq só a razão se deve educar, ignorando a inteligência emocional?), menos ainda sobre informática e internet (o que capacitaria nossos jovens a tirar melhor proveito do mundo virtual e suas possibilidades de construção social).

    Além disso, seria bom repensar a questão "quantidade da aulas x Qualidade das aulas", pois a maioria dos órgão governamentais acham que quantidade é sinônimo de qualidade. Se a qualidade fosse priorizada, não importaria que a disciplina de matemática e a de português tivessem um pouco mais de aulas que as outras (afinal, elas desenvolvem raciocínios e habilidades básicas que influem na aprendizagem dos outros conteúdos)...

    Somado a isso, provas como o Enem tem que acompanhar essa mudanças que são necessárias e ficarem menos "conteudistas".

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway