Google+ Estórias Do Mundo: 2008

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

EXTRA, EXTRA, EXTRA: O príncipe Arthur e a Raposa 2





PARTE 1, aqui.

Longe da raposa, o príncipe tentou viver sua vida. Um dia, inclusive, num baile no castelo, na corte, conheceu um belo vilão. Apesar dele não ter esquecido o Foxx que fugira, ele estava decidido a tentar e aceitou a corte que o vilão lhe propunha, porém a tentativa fora inútil, o príncipe Arthur estava encantado por ele. Foxx, a raposa.
Sendo assim, por meses, pela floresta branca, o jovem procurou seu objeto de devoção tomado de paixão. De estima. De admiração. O carinho e a generosidade daquela raposa que, não obstante seu medo de humanos, o ajudou, haviam feito com que ele desejasse, sinceramente, sua companhia.
Incansável em sua busca, Arthur vasculhou cada centímetro da floresta e, um dia, ao lado de uma fonte a reencontrou. "Sabias que te procuro por entre espinhos há tempos?", e sorriu. A raposa, no entanto, rosnou: "Que fazes a perseguir-me?". Surpreendido pela reação violenta da raposa Foxx, o príncipe olhou tristemente para o chão. Esta, comovida, falou: "Desculpe-me se sou rude. É que temo por minha vida. Um príncipe de terras mais distantes desta floresta, de cabelos negros como a noite e olhos de carvão, me feriu um dia gravemente". O príncipe Arthur então fixou aqueles enormes olhos de esmeralda, cercados por cílios de seda, em Foxx e disse-lhe: "Eu sou diferente dele", e abriu os braços, ajoelhando-se no chão, pedindo um abraço que, tímido, a raposa deu, "Por favor, Foxx, acredite". A raposa sentiu, então, o calor daquele abraço e a verdade de suas palavras, aconchegou-se então e relaxou.
Todavia, no segundo posteiror, de um salto ela se afastou. "É impossível!", dizia Foxx, "sou uma raposa, tu és um príncipe". O príncipe sorriu e falou que sabia que as raposas podiam se tornar humanas na lua cheia. Foxx tremeu e, baixinho, repetiu vários e vários "não". Preocupado, Arthur abraçou o Foxx e perguntou-lhe o que se passava, sem deixar de acariciar-lhe embaixo das orelhas, a raposa então respirou fundo e deitou aconchegada em seu colo quando uma lágrima rolou pelo seu pêlo macio. "Minha forma humana é terrível, meu príncipe, se tu a ver, com certeza deixará de me amar". Arthur levantou-se indignado. "Por que monstro me tomas?", gritava ele. A raposa apenas se encolheu, temerosa.
Foi quando Arthur percebeu. "É isto que temes, não é minha raposa? Que quando eu conhecer tua verdadeira forma, faça como todos e te abandone?". Entre lágrimas, Foxx confirmou com um aceno, o príncipe, então, novamente ajoelhou-se diante da raposa e a abraçou. "Eu sou diferente! Eu sou!".
A raposa sorriu e acreditou, aconchegada no colo do príncipe, os dois esperaram, juntos, a lua cheia. E foi numa noite clara e quente que esta chegou. Arthur estava ansioso, e quando um clarão ofuscou-lhe a visão, ele sorriu com suas pedras de marfim, porém, quando a luz se desfez e seus olhos se depararam com uma forma fantasmagórica e bruxuleante, o sorriso deu lugar a repulsa. Foxx, a raposa, agora um homem, tentou tocá-lo, abraçá-lo, porém o toque que antes ele tanto ansiava, agora feria-lhe as carnes. Vertigens subiram-lhe a cabeça. E no momento que a raposa tantou beijar-lhe, ele fugiu, balbuciando um desculpe. "Eu realmente achei que não ia me sentir assim". E correu. O mais rápido e o mais distante que conseguira. De volta a proteção do seu castelo. Deixando a raposa Foxx lá, na floresta branca, presa naquela forma repugnante, incapaz de retornar. A raposa, então, coube apenas chorar. "Eu sei que você não pretendia, meu príncipe, mas você foi só mais um. Igual a todos os uns".




MORAL DA ESTÓRIA: Não existem finais felizes para contos de fadas com raposas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

PRESENTE: Merda! Shit! Merde! Mierda! Scheiße!

O título resume meu ano. Fazendo o levantamento das vitórias e derrotas que o ano de dois mil e oito trouxe para mim. No fim, me restou um balaio cheio de merda, como se diz na minha terra. Belo Horizonte era, mas não foi. Merda! Cheguei aqui cheio de esperanças, que minha vida mudaria, mas foi o que aconteceu? Em certa medida foi! O que aprendi este ano? Que a colonização começou em 1530 tanto no Brasil quanto na Índia, que minhas fontes devem ser definidas por dentro e não por fora, que as crônicas coloniais eram elementos para angariar prestígio. Também que ninguém me ama como a minha mãe, que eu tenho amigos verdadeiros e a distância não apaga uma amizade verdadeira, que o blog pode te fazer conhecer pessoas incríveis. Mas a maior lição, foi não sonhar. Não sonhe! Faça planos! Trace objetivos! Shit! Eu não consigo deter um sorriso cínico quando me lembro que não derramei uma lágrima quando deixei Natal um ano atrás. Por que eu não chorei? Porque Belo Horizonte ia me trazer tudo o que Natal se negava a me dar. Era esse meu sonho! Liberdade, independência, um amor. Merde! Esse sonho ruiu nas primeiras semanas. Sem trabalho, sem bolsa, liberdade e independência foram as primeiras coisas que se desmancharam no ar. Mierda! Um amor? Ah, amor! Eu tinha uma ilusão sobre isso. Eu achava que o problema não estava em mim. Eu achava que os potiguares, os natalenses, que não conseguiam enxergar a beleza que há em mim. Bem, os mineiros também não conseguiram. Scheiße! E é idiotice achar que se eu tentar de novo, outra cidade, outras pessoas, isso acontecerá diferente. Lembro das palavras do Razi: "Você precisa vir para o sudeste, tudo será diferente". Não, Razi, não foi. Shit! Continuo sendo o mesmo menino que realmente sonha em encontrar um amor de verdade, mas que não tem a menor chance de encontrá-lo. Belo Horizonte me ensinou isso. Belo Horizonte apenas me tirou aquilo que eu tinha e não sabia que tinha. Merda! Meus pais, meus irmãos, essas pessoas que sempre estiveram ao meu lado, mas eu nunca os vi, Minas Gerais me arrancou deles e só hoje, agora entre lágrimas, eu descubro quanto os quero ao meu lado. Meus amigos, ah meus belos amigos em Natal, os quais demorei tanto a encontrar, só hoje, quando lágrimas rolam pelo meu rosto enquanto digito esse texto, que sei quanta falta eles me fazem. дерьмо! Um ano depois, eu posso dizer que aprendi muitas coisas, e poucas delas foram agradáveis. O que será que 2009 me reserva?

sábado, 13 de dezembro de 2008

OI.........GENTE 2


Gentemmm, vocês não me conhecem mas uma vez me apresento!
- Prazer meu nome é Jezebel profissioanal do SEXO.
Vocês pode me localizar pelo Google maps na avenida principal de Copacabana, com uma bolsinha imitação da GUCCI.Pedi a foxx pra me encostar aqui no blog dele,( NEM VOU COMENTAR COMO O CONHECI ) ( ABAFA ) já que fui praticamente expulsa do Blog do Goiano, porque lá não catei nenhum cliente.E agora com a chegada da Madonna tenho certeza que o RIO vai fervilhar de gatinhos e tenho plena convicção que vou conseguir pagar a 24 prestação do meu fusca 78, e começar a compra umas roupinhas novas como as calcinha importadas da europa que ao ser lambida se desmancha na boca e ainda deixa o cliente com a lingua roxa, são tantas as novidades que tenho pra oferecer, como por exemplos pernas cabeludas, lixa mesmo aquelas que ao toque arranham ate na alma, tem home que adoraaa sentir uma roçada de pernas cabeludas, e a mas recente descoberta feita por nos quengas de plantão é a mamada .... "mama milico", a mamadinha notuna diária no sargentão Roçapau, um negão de 195 um armario em forma de maxo. ( ouve-se um tremendo barulho )
- gentemmm vou ter que me mandar as amigas de pista PEDROCA e BEBEL, foram pegas pela guarda municipal estavam fazendo um boquete no hidrante da prefeitura... XAU monasssss .. fui.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

PASSADO: La Telenovela Mexicana 2

Gente, não imaginei que esse post causaria tanto alvoroço, que bom né?, mas vamos lá, continuando...

Episodio Seis


Encontrei Gustavo no outro dia. Ainda na faculdade de manhã, ele veio falar comigo. Feliz por finalmente eu ter ligado. Como ele era bonito! Um corpo cultuado em horas na academia que eram sagardas para ele! Braços fortes naquela camiseta pólo salmão, a farda da Biblioteca Central, o peitoral marcado, e a calça jeans justa, pernas, bunda e sim, um volume imenso. Ele sabia que era bonito. E aquele menino bonito me queria. Enquanto conversávamos, Juan me ligou. Perguntou se eu estava bem. Perguntou se estávamos bem. "Foi você que aprontou, não foi?". Ele pediu desculpas, pediu sinceras desculpas, e eu comovido o desculpei. "'Tô combinando com uns amigos de ir a Santa Rita, se você quiser ir?". Ele concordou! Eu sorri! "Santa Rita é?", virou-se Gustavo para mim. "Meus pais têm uma casa de praia lá! Vou com amigos... amigos héteros". Ele esperou um convite. Que não veio. Ele então se aproximou do meu ouvido e, baixinho, disse-me: "Hoje eu quero mais do que só você me chupar".


Episodio Siete


Eu estava apoiado na parede. Nu. Minha pele branca tocava a pele negra de Gustavo que apertava-me a cintura com aquelas mãos grossas. Ele se esfregava na minha bunda e mordia minha orelha e respirava na minha nuca. Com uma camisinha que mal cabia naquele músculo rijo, ele tenta me possuir. Eu fujo. "Calma!". E apertava minha bunda. Era bonito o contraste entre nossas peles quando ele me abraçava, e aqueles braços musculosos ficavam em torno do meu corpo. Bonito! Muito bonito! Segunda tentativa, mas é grande demais. Demais para mim! Eu saio novamente. Mais rápido do que ele consegue me conter. Ele me olha decepcionado. Eu me ajoelho e o engulo. Todo. E com força. Ele se segura na parede e geme alto. E conforme eu sugo, ele geme ainda mais alto. Minhas mãos passeiam por aquela barriga perfeita. Os dedos dele se enfiam entre meus cabelos. Ele grita. Eu sugo mais. "Filho da Puta!!!". E minha boca se mantém ocupada, enquanto ele goza e suas pernas fraquejam, precisando que eu o segure para que ele não caia no chão desfalecido.


Episodio Ocho


Liguei para Juan na sexta, nos falamos na semana pelo MSN. Ele me explicou sua situação. Pediu mais desculpas. Eu realmente não estava me importando mais. "Chifre trocado não dói". Avisei-o durante toda semana sobre a casa de praia. Queria ir com ele, e ter o prazer de, pela primeira vez, estar entre amigos com um namorado. Dormir juntinho. Sexo! Ah, sexo! Eu, pela primeira vez, não seria o único ali a não fazer sexo. Esse papel seria do Fê. Estava animado. Liguei para ele na sexta. "Hoje eu não posso ir". Um inquietação subiu no meu peito. "Mas amanhã sem falta eu chego lá, 'tá?". Certo, um dia a menos, mas teremos dois, um sábado e um domingo. E eu terei prazer em apresentá-lo. "Fran, este é meu namorado, Juan". Tudo bem! Também falei com o Alejandro pelo MSN, depois de mil desculpas, também o desculpei, foi um erro, seres humanos cometem erros. E, no sábado, ele me ligou. "Juan me disse que você estava na praia". Ele continuava falando com Juan, estranho, mas decidi ser superior. "Ele acabou de me ligar dizendo que não vai poder vir, eu queria ele aqui, sabe? Mas fica para uma próxima vez". Eu, na verdade, estava com ódio. Fê estava se agarrando no jardim da casa de praia com o namorado da Fran, eu, no telefone, na porta, para avisar caso alguém descesse do primeiro andar, onde nossos amigos estavam bebendo, fumando e ouvindo música. E eu, apesar de estar namorando, era novamente o único solteiro dentro daquela casa, sobrando. "Quando eu passei na casa dele hoje, ele tava cheio de coisa p'ra fazer!". Tudo parou naquele momento. "Quando você passou na casa dele?". Alejandro percebeu o que tinha feito, de novo, gaguejou e eu desliguei o telefone na cara dele. Foi quando ouvi Fran atrás de mim, tirando o meu Carlton da minha mão. "Sabe porque gosto de fumar com vocês, vocês não babam o cigarro". E viu. Fê e o namorado. Ela só girou nos calcanhares e voltou. Eles nem notaram. E eu, entrei no meu quarto, pus uma sunga, era noite, e fui para o mar.


Episodio Nueve


A água quente do mar do nordeste me envolveu naquela noite sem estrelas. Minhas lágrimas, de raiva, ódio, desprezo, rolavam pelo meu rosto e caíam na água. "Ele estava na casa de Juan... jogando Banco Imobiliário que não era". Foi a gota d'água. Gustavo tinha sido pouco. Ele nem sentiria uma outra traição. Aquela puta precisava de mais. Precisava que eu o fizesse se apaixonar por mim. Ele merecia, não chifres, ele merecia era um coração estraçalhado. "Eu preciso que ele se apaixone por mim!" E chorava. Eu olhei para o céu e para o mar. As lágrimas saíam aos borbotões. Foi no colo de Iemanjá que chorei todo o ódio que me maltratava o coração. Ódio por Juan! Ódio por Alejandro! "Eles devem estar juntos agora, enquanto eu choro aqui, não posso, não devo ficar assim". E me levantei e saí, mas desejando que eu não me apaixonasse por ele, nunca, mas que ele caísse de amores por mim. E foi quando eu já tomava uma ducha, no jardim da casa, que todos que estavam lá ouviram uma voz feminina dizer: "Será assim como desejas, Foxx!".


Continua?

sábado, 6 de dezembro de 2008

PRESENTE: Não Digam Que Nunca Pensaram Nisso

Sentado no banco daquela delegacia, eu tive que avaliar minha vida. O que eu estava fazendo até agora comigo mesmo? Os policiais passavam por mim. Bem vestidos em suas fardas justas, exibindo corpos bonitos e alianças nas mãos. O que eu estava fazendo ali? E como aquelas alianças me incomodaram. Eu reparei novamente, olhei a mão de todos os que estavam naquela sala, todos homens e homens não gostam de compromisso, o rapaz algemado sentado em frente a mim, dois agentes conversando num balcão, outro no telefone, quatro policiais, o escrivão, todos tinham alianças em suas mãos. Eu era novamente o único solteiro. Eu não conseguia parar de pensar, será que era por causa disso que eu estava naquela delegacia? Não que ser solteiro seja crime, mas será se eu não estivesse solteiro teria me envolvido com isso e acabaria aqui? Onde mais eu era o único solteiro? Foi a pergunta que cruzou meu cérebro. No meu doutorado eu sou único solteiro da turma também. Entre homens e mulheres. O único gay e o único solteiro. E é claro que a questão explodiu dentro de mim: será que é porque eu sou gay? Se eu não fosse, se eu fosse hétero, se eu pudesse pelo menos fingir que sou hétero, será que eu estaria solteiro? Pela lógica que vi naquela delegacia, pela lógica que consigo enxergar na minha turma, fazia muito sentido acreditar nisso.
Claro que um embate homérico se instalou dentro do meu coração: como eu poderia estar pensando aquilo? Eu sou gay, eu tenho orgulho de ser quem sou, gay e bem sucedido. Disso eu tenho muito orgulho. Semestre que vem torno-me professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Aí estou eu provando para todo mundo que ser gay não é demérito para ninguém. Eu sou bem resolvido! Ou não sou? Fiquei a pensar em todas as pessoas bem e mal resolvidas que passaram em minha vida até hoje. Os que se orgulhavam, batiam no peito e diziam a qualquer um e a qualquer hora que eram gays, aqueles outros que tinham vergonha, que ficariam mortificados se qualquer um suspeitasse de seus gostos; homens que namoravam mulheres e homens ao mesmo tempo, homens que se vestiam de mulher todo o tempo. Eu sempre me coloquei do lado daqueles que se orgulhavam, e estava eu ali sentado, enquanto o delegado fumava e revistava o bolso do cara algemado, os policiais diziam que ele fora encontrado de posse de um carro roubado, ele se dizia inocente, "todos são sempre inocentes". Pop, Six, Squish, Uh uh, Cicero, Lipschitz! Olhando aqueles policiais eu desejei sinceramente ter um jeito de ser igual a eles. De ser hétero, de poder largar toda essa vida, de parar com isso, de começar algo novo, diferente, inexperado, porque só o inexperado muda nossa vida. E o que seria mais inexperado do que eu apaixonado por uma mulher? E o que seria mais inexperado do que uma mulher apaixonada por mim? Quer dizer, nem tanto, já aconteceu algumas vezes.
Seria uma tentativa válida, não é? Afinal eu já vi muitos meninos dizerem que se descobriram gays ao perceber que a coisa com mulheres não funcionava muito bem. A minha com homens também não funciona, quem sabe, no fundo, eu sou hétero. Deve ser por isso que estou sozinho: porque sou gay! Contudo, aí eu pensei em meus amigos, dos quais quase todos são gays e quase todos estão namorando. Inclusive foi uma onda avassaladora de começos de namoros que eu recebi nessa semana que me impulsionou a sair naquele domingo de qualquer maneira, mesmo sozinho. Eu precisava provar para mim mesmo que eu estava bem. Sozinho, mas bem. E onde terminei? Ali, num banco duro de delegacia! Eu tive vontade de chorar ali. Mas não chorei, porque homem não chorar nem por dor, nem por amor. Meu pai sempre disse isso, e eu sempre fui um chorão.
Eu estava com lágrimas nos olhos quando um dos agentes me arrancou dos meus pensamentos: "Mas e você é extravio de documentos, não é?"

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

PASSADO: La Telenovela Mexicana

Voltando a programação normal...

Episodio Uno


Eu conheci o Juan nas salas do UOL. "O melhor conteúdo". Aquele surfista moreno de olhos verdes e corpo escultural, não sei porquê conseguiu chamar minha atenção. Passamos ao MSN. Conversas constantes e diárias culminaram conosco nos conhecendo numa rave no estacionamento de um shopping. Eu fui acompanhado de amigos, naquela época amigos, Roger, Fê e Alejandro. E todos ficaram babando quando Juan chegou com as suas mãos nos bolsos de trás da calça. Aqueles olhos verdes, aquele rosto perfeito e aquele sorriso de menino tímido eram demais para mim. "Nunca será meu!". Mas foi. Naquela noite mesmo vi o Roger bater no meu ombro e dizer: "Que bom que você pegou, senão eu pegava!". E eu tive que responder: "Peguei não, estamos namorando!". Sim, nos conhecemos, e na mesma noite já estávamos namorando. E, nos beijando, na parte mais escondida do estacionamento, trocamos os nosso chaveiros (não, isso não foi um eufemismo). Ele, simpático como só ele sabia ser, conheceu também meus amigos. Estes conversaram com ele. Principalmente Alejandro. E é claro que eu não me preocupei, por que me preocuparia mesmo quando eles trocaram telefones e e-mails? Afinal era um amigo. Era até bom que meu novo namorado fosse amigo dos meus amigos.

Episodio Dos


Segunda-feira pela manhã eu estava na faculdade. Gustavo também estava lá. Gustavo era um negro lindo de olhos mel e corpo sarado que fazia biblioteconomia e nós já nos conhecíamos há algum tempo e, digamos, tínhamos um rolo que sempre terminava num dos banheiros da faculdade comigo o chupando. E ele gostava muito disso. Suas pernas chegavam a perder as forças quando ele gozava na minha boca. Eu gostava disso. Mas agora eu estava namorando. E ele estava insistindo. Passou a manhã jogando charme para cima de mim. Passou a tarde também, quando eu voltei para o trabalho na minha bolsa de iniciação científica e ele para a aula, afinal pela manhã ele estava no estágio na biblioteca. E que fique claro, era muito difícil resistir aquele homem. Mas eu fazia corajosamente.


Episodio Tres


Era o fim da tarde quando o Fê me liga dizendo que não tinha mais aula. "Vamos pegar um filme?". Topei. "Passa aqui no bloco que a gente vai para o Natal Shopping". O problema é que era o mesmo bloco que o Gustavo tinha aulas também. Rezei para não encontrá-lo, mas não adiantou muito. Enquanto eu ligava para o Juan convidando-o para ir ao cinema comigo, "Rio Verde, lá no centro", Gustavo sorriu de longe. O Fê sabia de nossa estória e riu. Juan do outro lado do telefone disse-me que tinha um compromisso e não poderia ir, disse-lhe que tudo bem e ao Fê: "Vamos embora daqui que eu também sou feito de carne e osso!". Circular, decidimos que o Natal Shopping é muito mais perto, cinema, chocolate e salgadinhos na Docelândia, a dúvida cruel entre qual dos dois filmes em cartaz nas duas salas do Cine Natal Shopping. "Prefiria que tivéssemos ido ao Rio Verde mesmo com o cheiro de mofo", reclamo. O Fê reclama é do quanto eu reclamei do filme quando saímos. "Você tava insuportável!".


Episodio Cuatro


Já é noite quando saímos do shopping, as pessoas dirigem-se apressadas as suas casas. "Vamos pegar o 18?". Esperamos o único ônibus que podemos pegar juntos, apesar dele poder pegar qualquer um daqueles que se dirigem a zona norte da cidade e eu, àqueles que dirigem-se a zona oeste. É quando vejo o Alejandro se aproximar e, do lado dele, Juan. Por um segundo eu sorri, no outro eu raciocinei. "O que vocês dois estavam fazendo na praça cívica do campus?". Alejandro ficou vermelho e mais rápido do que consegui imaginar ele havia sumido. Juan me olhava sem saber o que dizer. Fê do meu lado segurava um riso nervoso. "Você e o Alejandro ficaram?". Juan corajosamente admitiu. Contou que Alejandro, meu amigo, ligou para ele e eles marcaram de se encontrar e ficaram. Sentados numa mureta na parada de ônibus lotada, eu perguntei: "Você quer ficar comigo ou com ele, Juan?". Ele não exitou. Falou que queria ficar comigo. E, no meio das pessoas, naquela parada de ônibus me beijou. Apaixonado. Quando ele parou de me beijar, envergonhado, eu nem olhei em volta, apenas disse-lhe que nós então conversávamos depois, e puxando o Fê pela mão entrei no primeiro ônibus que apareceu.


Episodio Cinco


Ficamos em silêncio durante uns bons momentos. Fê me olhava esperando eu dizer algo. "Ele me traiu!". Fê finalmente começou a rir. "Nós começamos a namorar ontem e ele já me traiu!". Fê gargalhou alto fazendo com que outras pessoas que estavam no ônibus olhassem para nós. "Ele me beijou na parada de ônibus do Natal Shopping! Do Natal Shopping!! Você sabe o que é isso?". Rindo, o Fê contou que ouviu nossa conversa e que não acreditava que eu ia deixar assim barato. "Filho da puta do Alejandro!". Fê novamente gargalhou. "Puta que pariu! Ele é meu amigo e faz uma coisa dessas?". E eu realmente não podia deixar aquilo barato foi quando Gustavo surgiu na minha mente. "Aquele ali só tem cara de santinho! É uma puta!", rosnou Fê. Saquei o celular e procurei na agenda. "Ah, eu também sei ser puta! Alô? Oi Gustavo, você vai fazer alguma coisa amanhã?".


Continua...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ESPECIAL SAMPA (Parte 3): Os Encontros

Era uma tarde quente que, de repente, passou a soprar um vento consideravelmente frio, enquanto eu caminhava por aquela calçada de pedras irregulares da Avenida Paulista. Meu ônibus deixara-me na altura da estação da Consolação, vinha de um almoço com o Vilser e o seu marido, Robson. "Não te achei aquela bichinha que você tanto dizia que era", intimidade é uma coisa né? "Era exatamente como eu pensava que você seria". O almoço começou tímido e terminou tímido, com o Vilser servindo de tradutor entre eu e o Robson, nos apresentando na verdade.
Da Consolação, parti em busca da Frei Caneca, pois, diante do shopping, eu deveria encontrar os blogayros. Mas antes eu deveria encontrar um banco porque eu não tinha dinheiro algum, e eu precisaria para pegar o metrô, pois dali eu me debandaria para a rodoviária. Sim, eu carregava minha mala comigo. Preocupado com o banco, não vi a Frei Caneca passar por mim. Encontrei o Banco Real, saquei o dinheiro que precisava, e continuei andando, até perceber que eu já deveria ter passado. Perguntei numa lanchonete e o rapaz me confirmou, eu deveria voltar. E eu que não queria fumar naquele dia, com ódio de mim, comprei um maço de Carlton. "Foda-se!" e acendi enquanto voltava quarteirões. Atrasado, já, mandei uma mensagem para o SAM: "Estou perdido! E a maldita OI não disponibiliza meus créditos!". Três cigarros depois, encontrei a rua, tencionei perguntar a dois seguranças que estavam por lá onde ficava o shopping, e mal eu citei "shopping frei caneca" um deles me interrompeu dizendo que ficava a quatro quadras dali. Agradeci, e segui meu caminho. Na porta do shopping estavam o Paulo, o Megafashionista, o SAM e o Demian. O Paulo me reconheceu: "Lá vem o Foxx!". E todos se apresentaram. Abraços! Mas faltaram os beijinhos! "Vamos p'ra onde?".
Voltamos então pela Frei Caneca, conversando e rindo já. Primeiro bar: "Se chegar mais alguém não vai caber aqui". Continuamos. Segundo bar: Bar da Loca! Entramos, sentamos no fundo do bar, e pedimos cervejas. Eu, o Paulo e o Mega. O SAM e o Demian começaram com suquinhos. "Laranja, com gelo, por favor!". Mas o Demian não resistiu e logo juntou-se ao grupo alcoolizado. Conversas e mais conversas, Demian: "Foxx, de que site você tira aqueles contos que você posta no seu blog mesmo?"; SAM: "Eu tava conversando com o Goiano outro dia e ele falou assim: 'Você acha mesmo que tudo o que ele posta é verdade?', você aumenta um pouquinho né?". Que maledicência!! "Eu só falo a verdade! No máximo dou uma arrumadinha p'ra ficar mais bonitinho. Mas tudo o que eu narro realmente aconteceu".
Risos. O Venenoso então liga para o SAM. O Edu-Ouriço me manda uma mensagem pedindo que eu o ligue. Eu ligo mas "o número ligado se encontra desligado ou fora da área de cobertura". Mais cervejas, mais cigarros, fumam eu, o Paulo e o Demian. As outras mesas nos olham. "Vamos sair daqui quilos e quilos mais magros". O Venenoso chega e, a seis, ficamos lá falando de baladas, nossas vidas, nossos mundos, relacionamentos, namoros e casamentos, experiências, Kylie Minogue e a pista VIP da Madonna, o make up do Venenoso, a chapinha do Demian e do Mega, a progressiva do SAM, "puf!", e que não tem graça ficar com amigos. "Pois me considere fora da sua lista de amigos, Paulo".
Entre piadinhas e conversas sérias, entre promessas de novos encontros e baladas marcadas para o próximo fim de semana, entre cervejas, sucos e sanduíches, ficamos lá até as 22h. Com uma chuvinha que ameaçava cair, deixamos o bar, de carona com o Paulo, eu e o SAM fomos novamente até a Consolação. Lá, me despedi do organizador do encontro, e desci para pegar o metrô enquanto ele ia em busca do seu ônibus. Lá, quando eu me dirigia para comprar o ticket, cruzei com um japonesinho lindo. Olhei para ele, apenas pelo costume de admirar a beleza quando ele fala: "Foxx?".
Facilmente o reconheço. "Edu!". Essas coincidências do destino. "Tentei te ligar...", "Eu te retornei...", "Deve ter sido na hora que eu entrei no metrô...". E um novo abraço. Ele ia encontrar um rolo. Eu tinha que ir pegar meu ônibus de volta a Belo Horizonte. Garoava lá fora. Conversamos um pouco, ali no metrô mesmo, mas eu precisava ir. De mala não mão entrei no metrô em direção ao terminal do Tietê. Plataforma 1, ônibus para Belo Horizonte das 23:00h. Cheguei em BH as 7h da manhã, bem mais feliz. Fiquei feliz em conhecê-los, todos, finalmente, foi apenas um breve encontro, mas que tenho certeza, só abriu novas portas para uma amizade que já existe.



CONVOCAÇÃO
Caríssimos, blogayros mineiros, venho por meio desta convocar a todos para a organização do I Encontro de Blogayros de Minas Gerais. Vamos lá?

sábado, 22 de novembro de 2008

ESPECIAL SAMPA (Parte 2): Diário de Campo

Era uma noite surpreendentemente quente em São Paulo. Eu esperava frio. Afinal chovia quando deixei Belo Horizonte para trás, mas alguns quilômetros de distância separam uma chuva torrencial de uma agradável noite com estrelas no céu. André nos pegou no carro dele. Eu saí para uma boate, ou como dizem os paulistas, "para uma balada", usando uma regata pela primeira vez. Emprestada, devo dizer, afinal eu esperava frio.
Estacionamos o carro. Para um lado a Ultra Diesel, "se você for bonito, ganha V.I.P."; do outro lado ABC Bailão, "acima de 65 anos - 15 reais". Bem, eu não estava disposto, e não me arrependi: ABC Bailão! "Mas qualquer coisa a gente vai p'ra Diesel, 'tá?". Entramos, à porta um simpático senhor de cabelos e bigode brancos apertava a mão de cada cliente que entrava. Apertou minha mão, desejou-me boa noite e eu sorri. E sorri durante toda a noite.
Primeiro pelo set list definitivamente único, o qual me lembrou muito minhas noites em Natal graças ao forró, samba e axé que apareceram entre as músicas. Sou feliz, por isso estou aqui, também quero viajar nesse balão. Superfantático! Mas, sobretudo, não é qualquer lugar que toca Cher, Cindy Lauper e Madonna, junto com Rihanna e Lindsay Lohan. Do you believe in life after love?
Segundo porque aquelas pessoas estavam ali para se divertir. E que pessoas eram essas? Sejamos claros, eu me senti um menino; e não duvido que fosse ali. Eu deveria ser com meus 27-quase-30, um dos mais novos presentes. Sim, eram quase todos velhos. Mas velhos que sabiam se divertir. A noite começou, por exemplo, com uma drag vestida de Clara Nunes dançando na pista diante de mim. "Foxx, você já viu coisa mais feia?". Ela então girava sua saia rodada. Bum bum be-dum bum bum be-dum bum, why do I feel like this? "O velhinho ali 'tá fritando mesmo!", eu e André observávamos enquanto o velhinho, baixinho, de cabelos completamente brancos, dançava e cantava animado. Because I'm living a bad dream. Um teddy também fritava atrás de mim. Suava, dançava, e me deu alguns empurrões enquanto cantava também. Come on up to the dance floor, I've got something so sweet. Dois senhores acompanhados por um loiro e moreno musculosos. Enquanto o loiro não se negava ao serviço que fora contratado, "Quanto será que eles cobram?", o moreno parecia envergonhado, principalmente quando seus olhos cruzavam com os meus. Eu não tinha culpa, meus olhos eram atraídos por aquela beleza. E ele parecia pedir socorro. "Mas eu não posso pagar o que ele te paga, queréedeenho!". Muitos casais também. Casais do tipo que não vemos na novela, nem na boate, nem na reportagem de capa da DOM, pessoas comuns, cheias de estereotipos de como é ser gay, mas felizes, se divertindo a olhos vistos, sem vergonha de ser quem são. Bichinhas tratadas como mulher de malandro, mas felizes por ser quem são.
Porém eu não fui ao Bailão apenas para ver, também fui visto, claro. Aos poucos olhares também começaram a se voltar para mim. At last, my love has come along, my lonely days over and life is like a song. Alguns senhores, outros homens, alguns meninos. Dos que me interessaram, comecei olhando para dois. Um japinha baixinho, de corpo escultural dentro de uma camiseta vermelha que marcava seu braço, ele percebera meus olhares e já sorrira também. "Calma! 'Tá cedo!". Também um loiro de olhos verdes, alto, peitoral largo, e queixo quadrado, usando uma bandana preta na cabeça. "Cara de homem, ao contrário do japinha que parece mais um menino". Tempos depois, eu localizei na pista, ao longe, ele estava do outro lado, um moreno de rosto perfeito, corpo nem tanto, uma bunda muito grande, quase feminina, bem alto, mais alto que o loiro que já era mais alto que eu. Os olhares com o japinha continuavam. Ele esperava que eu chegasse nele. "Foxx, aquele loiro de bandana veio me perguntar se você 'tá solteiro?". Minha surpresa ficou clara. Afinal eu tinha achado ele interessante, mas não tinha visto ele me achando interessante. "Ah, manda ele vir falar comigo". André foi saltitante enquanto eu corava de vergonha. De longe então ele olhou para mim por baixo das sobranceças, sorrindo, me chamou para perto dele. "Sabe quando eu passei por você e vi tua boca: eu precisava beijá-la". Foi a primeira coisa que ele me disse, me fazendo sorrir. "Com esse sorriso a vontade só aumenta". Não tinha como não beijá-lo. "Vamos ali para o canto". Eu o segui, enquanto ele me levava pela mão. Beijamos, um beijo macio, com calma, delicado, bom. Já as mãos vasculhavam. Nossas bundas, nossos paus, minhas coxas, seus braços, meu cabelo, seu rosto. "Queria que você me chupasse!". Eu ri e falei que ali era impossível. Ele concordou."Você é mestiço? Adoro olhinhos apertadinhos". Perguntou onde eu morava e se decepcionou ao ouvir que eu vinha de Belo Horizonte. Algum tempo depois, o amigo dele apareceu, falou que eles tinham que ir embora, e ele se demorou comigo despedindo-se. Afastou-se umas duas ou três vezes, retornando e me beijando mais um pouco. "Adeus!".
Voltei a pista. Encontrei o André que olhava para um cara feio enquanto um gato olhava pra ele. "Não faz meu tipo, pode ficar p'ra você". Chocado, resolvi arriscar, mas o gato só tinha olhos para o André, fiquei então dançando, foi quando o moreno que eu observara do outro lado da pista chegou do meu lado. Ofereceu-me uma Halls e ficamos batendo papo. Foi quando o amigo dele chegou. Pressupôs que estavamos ficando e enquanto o cara foi no bar, começou a elogiar o amigo, dizendo coisas que nós dizemos de nossos queridos amigos, eu então o avisei que não estávamos ficando. Nem um beijinho ainda. "Mas você quer beijá-lo?". Eu ri e disse que sim, e quando o amigo dele voltou, ele falou com ele, fazendo o moreno curvar-se para beijar-me. Foi quando o André chegou, convidando-me para ir embora. Eu me despedi e saí. "Você, hein, safadeeenho, pegou dois?". E rimos o caminho todo para casa.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ESPECIAL SAMPA (Parte 1): Carteado

Saí de Belo Horizonte esperando encontrar frio e chuva em São Paulo, porém cheguei lá numa noite estrelado de sextra feira, mas com uma certa cerração. A mesma cerração que eu costumo ver no meu futuro e que eu queria substituir por um sol claro, por isso estava ali sentado diante do Dih. Quando sentei-me e ele acendeu uma vela e um incenso, e escreveu meu nome numa folha de papel junto com a data do meu aniversário, um arrepio de medo me percorreu a espinha. Ele somou os números e um foi o resultado obtido. O número do individualismo. "Pronto! Vou ficar sozinho sempre é?". Ele me acalma e se explica: "Isso representa que sua Lição de Vida é desenvolver a individualidade e a liderança, ser o seu próprio chefe, não dependendo de ninguém". Eu respiro fundo, concordando. "Você precisa desenvolver a capacidade de tomar a iniciativa e nunca esperar os outros dizerem o que deve ser feito". Isso eu já faço. "Deve aproveitar para descobrir novos campos de atuação. Ser vanguardista, original e intuitivo, liderar e ser ambicioso se quer algum sucesso na vida, mas também não deixar ser envolvido pela arrogância, pelo orgulho e pelo egoísmo". Um outro suspiro meu, e ele termina: "Você é alguém que não precisa do outro para se conhecer, para ser feliz, mas que precisa de alguém para dividir aquele que você é, aquilo que costuma sempre conquistar sozinho, porque você consegue quando quer". Eu olho para aquele papel branco, agora coberto de números, e concordo: "O problema é exatamente esse: quando depende de mim, como meu doutorado, eu sou sempre um vitorioso, agora quando eu dependo de alguma outra pessoa, qualquer coisa que tenha uma outra pessoa no meio é naufrágio certo!".
Ele então veste suas guias. Azuis, verdes, brancas, amarelas, brozeadas. Juntamente com um bracelete. Joga, então, três vezes dezesseis búzios sobre a mesa branca, recolhendo aqueles que caíam virados para cima. Os búzios me deram sete meses. Novembro, dezembro, janeiro. Em sete meses eu serei agraciado com os prêmios que mereço e desejo. Fevereiro, março, abril. Em sete meses eu não terei motivos para reclamar de minha vida. Maio.
Mas que vida é essa? O Baralho Cigano é o primeiro a me responder. Ele inicia dizendo que voltarei a Natal, que minha vida está ligada aquela cidade, onde tenho raízes e família, e, sobretudo, minha vida está ligada ao mar. "Odoiá, minha mãe Iemanjá!". E que eu não preciso me preocupar com dinheiro, que o trabalho e meus estudos são os elementos que nasci para brilhar, que, nesta área da minha vida, o sucesso me aguarda, porém se, e somente se, eu manter-me nas graças de uma filha de Iansã. Uma mulher morena, filha da chuva. Que eu acho que sei quem é. Mas as mulheres me dão sorte.
Sobre o amor, no entanto, o Baralho Cigano me mostrou nuvens, um menino e um homem. A carta das nuvens fala de muitos amores, passageiros, vazios e que, na verdade, mas me iludem e decepcionam do que trazem alegrias. Ó sina, ó azar! E que por causa desses amores, eu não consigo enxergar nenhuma saída para este destino em que me meti. E por isso meu desespero e minha descrença. Mas o baralho também tem boas notícias: ele me contou de dois amores, a carta da Criança e a carta do Mensageiro.
Primeiro apareceu-me um menino. Este vai entrar na minha vida logo logo, mais novo, e muito complicado. Imaturo. Para ser imaturo não precisa ser mais novo, na verdade. O Dih me conta então que ele vai me trazer problemas, muitos. Era só o que me faltava! Porém eu vou me apaixonar verdadeiramente por ele. Um namoro longo, um namoro que pode se transformar incluvise em mais do que isso. "Minha nossa! Quem será?". E eu que sempre atraí menininhos! Mas o Dih ainda falou do Mensageiro, um outro homem, mais velho, rico, estável, adulto, o extremo oposto do menino vai cruzar meu caminho enquanto eu estivesse comprometido. "Mas não te vejo ficando com esse cara, deve ser um affair, coisa rápida, talvez sexo. E ele vai ser da área que você trabalha". Embaralha tudo de novo. "Corta em três com a mão direita". E ele me fala que o menino deve aparecer até o fim do ano. "Ele 'tá no teu presente! E, no fim, uma viagem que não sei se você o leva, ou se você tem que escolher entre ele e a viagem". Chocado! O mais velho, no entanto, só apareceu no baralho num futuro distante, junto com minha ascensão profissional e financeira. "Encerrou?". Ufa! Ufa! Surpreendentemente só coisa boa! "Só coisa boa, hein? E nós vamos comemorar aonde nesta noite esse seu futuro grandioso?". Eu sorri, e agradeci ao Dih com um abraço.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Alguma Coisa Acontece No Meu Coração

Vamos a Sampa, comemorar a República?
Espero encontrar alguém lá, viu?

domingo, 9 de novembro de 2008

PRESENTE: Senhorita Porquinha


Como toda noite mineira, esta começou em um bar. Eu, Sibil e Bruno sentados numa mesa numa das calçadas da Savassi, após não encontrar lugar para sentar no Yo-Yo (como sempre!). Cerveja e Gin para a Sibil. Sexo povoando as conversas. "Sexo ativo, aquele quem fala, sexo passivo, aquele quem escuta". Risos demorados, Sibil falando da nova Barbie dele e homens lindos nos cercando como apenas Belo Horizonte proporciona. Uma e meia da madrugada e decidimos ir para casa, mas no meio do caminho, uma vontade de dançar explode nos três e dentro de um táxi rumamos para a Miss Pig. "Major Lock, por favor!". E entramos naquela boate com a luz do neon rosa iluminando nossos cabelos.'"Como o Foxx descobre esses lugares?".
Duas surpresas dentro da Miss Pig: a primeira, festa temática sado-masô! No palco, acima do dj, uma menina, vestida com couro e meia arrastão, chicoteia dois go-go boys mascarados ajoelhados no chão, manequins amarrados e submissos decoram a pista, e nós subimos para o mezaninno para observar melhor. Logo, um outro go-go, este apenas de sunga e enormes olhos castanhos, subiu no palco próximo ao mezaninno, dançava, fazendo meninas suspirarem e meninos tentarem algo com ele. Mãos e conversas no pé do ouvido, mas ele os ignora. Eu o observo dançar, somente. Não me atrevo, nem a tocá-lo e muito menos propôr algo. Acho que isso acaba por chamar atenção para mim, e ele começa a dançar, mirando nos meus olhos, rebola e tira a sunga para mim, sorrindo o sorriso mais safado que já vi.
Quase sem ar, descemos, preciso de uma bebida e vamos ao bar, no qual descubrimos a segunda surpresa: vodca liberada! Um copo, dois copos de vodca com energético. Encontro uma menina linda, de cabelo curtinho, regata verde-lodo e uma tatuagem de uma rosa vermelha que tomava quase toda a parte de trás de seu ombro. Três. "Linda você!", disparo. Um elogio apenas. Ela sorri e me agradece com um beijo demorado. Sorrindo ainda, vai embora sem nem me dizer seu nome. Quatro. Voltamos ao mezaninno, o go-go já passara para o palco principal, agora mais distante, ele não me via mais, mas eu via outros meninos, alguns se repetindo insistentemente, tentando arrancar-lhe um beijo ou um número de telefone. Observo-o de longe, quando uma menina, de cabelos castanhos compridos, usando um colete cheio de bottons se aproxima e começamos a conversar sobre a noite, a convido para ir buscar mais vodca.
Cinco. Ao pé da escada, reencontro a menina da rosa no ombro, ao me ver ela novamente me beija e eu, surpreso, retribuo, Sibil chocado presencia a cena. Mais vodca o acalma. Seis. A menina do colete, Camila, então se vira para mim e, um pouco envergonhada, pergunta se pode me pedir um beijo. "Claro!", e um se transformaram em três até ela sair a procura de suas amigas. Sete. Naquele instante, dou um passo para trás, acabo por esbarrar no go-go boy que dançara para mim lá em cima. Ele aperta meu braço com carinho, e antes que eu virasse para pedir desculpas ele diz: "É assim que você me agradece?". Eu me virei e o vi sorrindo e já se afastando quando eu o puxei pelo braço, "Não! É assim!", e dei-lhe um beijo. Um beijo macio como se meus lábios tocassem seda. Ele apenas sorriu, me olhou com o mesmo olhar safado com o qual dançara para mim e se afastou. Pouco tempo depois a Camila retornou, trazendo uma amiga dela, mas não a beijei de novo, afinal eu não estava mais ali, havia sido arrastado pelos olhos de ressaca que aquele go-go boy lançou para mim.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

PASSADO: Isso Tem Nome, Inveja!

Numa noite, há oito anos atrás, eu andava pelas salas de bate-papo no Uol. Pessoas entravam e saíam. Nicks, nomes falsos, ativos e passivos, "de onde você tecla?", "como você é?". Ele entrou e puxou papo comigo. Conversamos o trivial, MSN, fotos, papos mais quentes, ele quase virgem, eu com um passado que o encantava. Surpreendia. Tornei-me seu confidente. Eu fui a primeira pessoa a quem ele contou que estava namorando, com um menino que também conhecera no bate-papo, na mesma noite que eu.
Conheci-o pouco tempo depois, ao lado do namorado dele. Formavam um belo casal, marcamos no Feitiço, uma boate que funciona aos domingos. Eu os encontrei no fundo da pista, próximo a mesa de som. Conversamos, rimos juntos e tornamo-nos grandes amigos. Fê e eu tornamo-nos unha e carne. Ligações diárias, conversas longas, nos encontravámos quase todo dia. "Eu não achei que faria um novo amigo assim. É bom ter com quem compartilhar essas coisas pela primeira vez". Ele me mandou essa mensagem, e ali eu soube que ele me considerava seu melhor amigo. Meses depois, o namoro terminou. Eu fui seu conselheiro, e seu ombro quando ele precisou. Tornamo-nos figurinha fácil de ser encontrada nas baladas pela cidade. Sempre juntos. Baladas hetero na semana. Baladas gays no fim de semana. E um padrão começou a aparecer.
Fê via minhas façanhas. Os homens que eu pegava. Boates, bares, casas de praia. Ele via os olhares que eu atraía. Na rua, na praia, na padaria. Ele via a coragem que eu tinha. Felipe ficou com inveja. Primeiro, ele propunha competições com um riso irônico no rosto. "Vamos ver quem beija mais hoje?", e ele cansou de perder. Depois ele começou a dar em cima de todos os meninos que já haviam ficado comigo. "Tem uma tensão estranha entre vocês dois", disse-me um, uma vez, "parece que vocês estão competindo". Eu não estava, já ele. O terceiro passo do Fê foi tentar me imitar: e aí eu o vi se arriscar, dar em cima de homens héteros não é para qualquer um, é necessário um radar muito apurado para saber onde você está se metendo, e saber avançar na medida que ele te dá espaço. Felipe não sabia disso. E eu o vi apanhar, sendo necessário eu salvá-lo de um cara que gritava: "Porra! Eu não sou viado!". A quarta tentativa foi começar a se interessar pelos meninos que eu queria ficar. Ele sabia dos meus interesses, sobretudo dos meus gostos, então, quando conheci o Peter Pan e me interessei, Fê decidiu que conseguiria ficar com ele antes de mim. Numa festa de carnaval que eu o vi tentar agir, puxei-o num canto e disse-lhe que ali ele estava passando dos limites. "Nós não temos inveja dos nossos amigos!". Ele respirou fundo, e me olhou com os olhos negros e apertados que ele tinha. "Então acho que não somos amigos!". E saiu, e nunca mais falou comigo.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Que o Diabo Te Carregue!

No meu quarto, no computador passa Jericho há horas, deitados na minha cama estamos eu e o Pequeno Diabo.
- Você acha mesmo que sua vida hoje foi moldada por sua opção sexual? Ele me pergunta surpreso.
- Claro! Tenho certeza absoluta disso!
- Mas por quê? O Pequeno Diabo se senta, realmente querendo ouvir o que tenho a dizer.
Olho para ele e respondo: - Olha, eu tenho certeza que a pessoa que sou hoje foi moldada pelo fato de eu ser gay. A pessoa que eu me orgulho de ser hoje não seria a que é, se eu fosse hétero. Ou se, pelo menos, fosse possível disfarçar que eu sou gay.
- Como assim?
- Ah, se eu fosse hétero, ou pelo menos pudesses disfarçar, eu provavelmente estaria casado com alguma menina por aí, e teria dois filhos, ela - claro - teria casado grávida, e seria um professorzinho qualquer da prefeitura da cidade do Natal e do Estado do Rio Grande do Norte. Com poucas ambições, e provavelmente cheio de preconceitos.
- Mas por que você acha que se fosse hétero não teria as mesmas ambições?
- Porque minhas ambições são a tentativa de mostrar para mim mesmo que eu não preciso viver dentro do gueto que eu fui criado para viver. Eu fui criado para ser manicure num salão de beleza...
- Para tudo! Tua mãe te educou para ser manicure num salão de beleza?
- Não assim tão diretamente. Mas eu era um menino muito... como direi?
- Delicado?
- Isso! E as pessoas decidiram que eu era gay antes de eu saber o que era isso. E passaram a me tratar assim. Meus irmão evitavam ficar próximos a mim! Minha mãe... lembro que ela me chamava de "florzinha", quando se chateava com algo que eu tinha feito. Isso tudo me marcou muito profundamente... por isso, hoje, a pessoa que eu sou é exatamente o resultado de todas essas coisas.

sábado, 25 de outubro de 2008

PRESENTE: The Love Is Dead!

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada.
Concordo!
Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram.
Como assim? Mesmo não recebendo o carinho que procuramos devemos sempre tentar de novo e de novo? Isso não é o contrario do que a frase anterior dizia. Clarice, Clarice, minha adorada Libélula, não bagunça minha cabeça.
Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição.
É verdade, se ele não te ama, é melhor desistir, não vai ser seu carinho, suas grandes demonstrações que o vão fazê-lo do nada querer-te. O Amor sempre nasce a primeira vista: você olha e se encanta por alguém, se você vê-lo como um simples amigo, ele nunca se tornará um grande amor.
Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés.

Que bom que não sou só eu que acho o Cupido completamente louco.
Os sentimentos são sempre uma surpresa.

Atualmente eu não considero mais uma surpresa, é sempre tão lógico: eu gostei dele => ele não gostará de mim, uma sequência infalível. Acho que cada tentativa minha acaba se tornando uma forma do universo me mostrar que isso, encontrar um amor, não vai acontecer. Talvez algum anjo, santo ou deus olhe para mim e diga: "Meu querido, porque você ainda tenta? Não vê que é inútil?".
Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido
.
Quantas vezes eu procurei esmolas, hein? A última vez foi o Trintinha que jogou isso na minha cara, ainda não me recuperei das palavras dele, elas ficam ecoando na minha cabeça toda vez que eu saio para a balada. "Você é uma pessoa tão incrível, merece mais que isso!". Mas eu consigo encontrar algo a mais do que esmolas numa noite? Lábios e sexo descartáveis em "pessoas descartáveis", pra citar o Oz.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer.
Meu problema é que aqueles que me querem - é, existem uns poucos - eles não chegam nem aos pés do que eu considero que eu mereço. Durante muito tempo da minha vida, eu me acostumei a aceitar essas pessoas, a aceitar porque nenhuma outra pessoa se interessava por mim mesmo, então tinha que agradecer aos anjos, santos e deuses por alguém ter olhado para mim, ou seja, eu aceitava esmolas porque achava que não poderia conseguir aquilo que desejo. Isso não é saudável! E explica porque nunca me apaixonei por nenhuma das pessoas com quem tentei namorar. Com excessão de Beto, que nunca me amou de verdade, para quem eu era apenas uma muleta para ele recuperar-se do seu ex. E citando Ugly Betty: "Por que eu não teria direito ao meu próprio conto de fadas?"
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.
Pois é! O que caracteriza um psicótico? Ter os mesmos resultados e continuar tentando! Estou oficialmente desistindo de namoros, paqueras e afins, não nasci para este jogo. Este texto da Clarice Linspector (que roubei do blog do Latinha) serviu agora para corroborar minha tese.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

PASSADO: Quatorze Anos, Quinze Horas e Cinco Minutos

Lembro deste dia com uma clareza que nem as minhas lágrimas conseguem embaçar. Eu tinha quatorze anos, ou seja, coloca treze anos nas minhas costas. Eu estava deitado na minha cama, na parte de baixo de um beliche de madeira num quarto que eu dividia com meus três irmãos desde muito, lia Cinco Minutos de José de Alencar: "É uma história curiosa a que lhe vou contar, minha prima. Mas é uma história e não um romance". Foi quando meu irmão, o segundo filho do meu pai, eu sou o terceiro, entrou no quarto. Ele parecia nervoso. Juntou umas roupas, virou-se para mim com o dedo em riste e disse-me, as palavras ecooam até hoje nos meus ouvidos: "Você acha que quando papai morrer você vai poder virar uma bichinha, é? Na minha casa não, viu! Na minha casa não!". E saiu.
Eu não sabia de onde tinha surgido aquilo. "
A mulher é uma flor que se estuda, como a flor do campo, pelas suas cores, pelas suas folhas e sobretudo pelo seu perfume". As letras ficaram embaçadas rapidamente porque as lágrimas me saíam aos borbotões. Eu queria morrer. Definitivamente ali eu desejei profundissimamente a minha própria morte. Foi a primeira vez que eu pensei em suicídio. Pois eu tinha certeza que não era amado por ninguém naquela casa onde eu vivia. Meu coração de menino ficou em pedaços, "triste e pensativo, como um homem que ama uma mulher e que não conhece a mulher que ama".
Foi quando um calor - que os homens chamam de esperança - se ascendeu dentro de mim. Eu fechei meus olhos úmidos e sonhei que um dia alguém me salvaria daquela vida. Que alguém olharia para mim e me amaria por aquilo que eu era, por aquilo que eu sou. Que não se importaria se eu era gordo, magro, bicha ou não. Alguém que estaria ao meu lado em qualquer situação. Eu fechei os olhos e imaginei um príncipe que me resgataria da torre. Bobo? Infantil? Ora, eu tinha quatorze anos! Eu tinha uma imensa certeza que não importava o quanto demorasse, cedo ou tarde, esta pessoa surgiria na minha vida e realmente me amaria, realmente me aceitaria. Essa foi a primeira vez, que eu lembre, que eu sonhei com um amor para mim. Desde esse dia, eu espero...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

PRESENTE: Outro Ponto de Vista

Noite de uma sexta feira em Belo Horizonte, eu não sabia o que encontraria lá. Festa na Faculdade de Letras da UFMG, pensava em me divertir, beber um pouco, quem sabe descolar uma menina, mas quando cheguei foi com ele que me deparei. E estava parado na entrada da faculdade, e ele passou por mim. Odeio estes sentimentos dentro de mim, mas não consegui evitá-los. Eu o observei passar: casaco vermelho, com capuz, uma barba por fazer, lindo! Ele pareceu me notar, olhou-me por um segundo, mas logo baixou os olhos, eu não consegui fazer o mesmo, ele passou e eu só consegui acompanhá-lo com o olhar. Malditos desejos! Malditos sentimentos!
Nesta hora eu sabia que deveria ter ido embora. Sabia! Mas entrei, o encontrei lá dentro. Na verdade, entrei procurando por ele, eu o procurava e o encontrei, mas quando o vi tentei fugir. Tentei fugir de mim mesmo, da minha vontade, dos meus malditos desejos! Mas eu sempre voltava a procurá-lo, com o olhar, e quando ele estava fora do meu campo de visão eu sentia a imensa necessidade de descobrir onde ele estava. Foi assim que o vi conversando com amigos que fumavam maconha, outros que bebiam com ele, o vi conversando com meninas também. Foi quando decidi: não posso ficar com ele, isso é errado! Muito errado! Homem foi feito para mulher! E é com uma que eu vou ficar hoje.
Não foi dificil descolar uma bela morena. E, como por encanto, após o primeiro beijo que dei nela, vi que ele estava próximo a mim na hora, ele simplesmente sumiu. Aquele que era a minha tentação desaparecera logo após a cachaça grátis ser anunciada por uma menina no microfone. Não resisti, fui ver se ele estava lá. Bebia com dois amigos, um inclusive já estava ficando bêbado. Eu peguei uma bebida para mim também. Voltei para junto da minha mina. O que eu estava fazendo procurando por ele? Ora, eu gosto de mulher!
Com isso ele desaparecera de novo. E o pior é que quando ele sumia eu me desesperava. Não sei porquê, quer dizer, sabia, só não queria admitir. Não queria admitir que aqueles lábios me atraíam tanto quanto ou mais do que esta menina. Procurei-o durante toda a noite, e ele não reaparecera. Eu já tinha certeza que ele devia ter ido embora, quando o vi em meio a multidão e sorri. Não consegui evitar e sorri. Ele viu e sorriu também. Sorriu para mim. Aquele cara lindo abriu um sorriso lindo também para mim. Eu gelei, e gelei mais ainda quando o vi vindo em minha direção. Acho que tudo ficou em câmera lenta a cada passo que ele dava. Foi quando ele passou direto por mim, apenas apertando meu braço, e continuou caminhando. Eu olhei para trás, ele me olhava, sabia o que ele queria, que eu o seguisse. Mas eu não podia... ou podia?
Maldito álcool! Malditas cachaças! Foram elas que me fizeram seguir os passos dele. Mas eu fui certo de que ia dizer que foi tudo um mal entendido. Ia pedir desculpas para ele, se tinha dado a entender que queria algo com ele. Ia dar um fora nele. Se ele insistisse eu ia cair de porrada nele. Ia sim. Mas o encontrei atrás das escadas, ele sorriu e me disse boa noite. Eu balbuciei que aquilo era errado. Ele se fez de inocente, quando ele me perguntou "aquilo o quê?" de uma forma tão bonita que desmanchou todo o discurso que eu tinha planejado. Eu pretendia citar a Bíblia! A Bíblia! Mas ai ele me puxou para junto dele, quando vi aquela boca tão perto, aquela barba tão macia, eu não resisti e o beijei. Beijava, olhava nos olhos negros dele, o cabelo liso pintando de vermelho, a barba macia que eu fazia questão de passar a mão, como também passava a mão na cintura macia dele, e ele também me permitia apertar-lhe a bunda. Na verdade, foi ele quem colocou a minha mão na bunda dele. Ele me beijava e falava pouco. Não perguntou meu nome. Só me beijava e, quando percebia minha exitação, me tranquilizava. "Pare de racionalizar, só faça o que você está com vontade", ele me disse com um sotaque doce. Queria perguntar de onde ele era, de onde aquele homem tentador tinha aparecido, mas eu não queria me envolver com ele. Claro que não, ele é gay, eu não sou. Não sou! Eu sou homem! E teve uma hora q eu quis ir embora, mas acho que ele leu minha mente. Quando pensei em me afastar, ele segurou no meu pau sobre a calça. Cara, puta que o pariu! Eu queria, juro que eu queria sair dali, mas agora eu não conseguia mais. Não conseguia. Foi nessa hora que eu perguntei o nome dele: Foxx, ele respondeu.


PS: Meus caros, sim este texto é baseado em fatos reais. Eu fiquei com um menino que se dizia hétero numa festinha na universidade, esse texto, a partir da perspectiva dele foi possível porque ele mesmo me falou muitas coisas depois: que estava fugindo de mim e ao mesmo tempo me procurava; a parte da câmera lenta e de ter pensado em me bater e, sobretudo, cada elogio feito a minha pessoa saiu da boca dele.

PS²: No post anterior não aconteceu nada que mereça destaque. Fomos a boate e rolou uns beijinhos. Só.

sábado, 4 de outubro de 2008

PASSADO: Dito e Feito

Um sábado a tarde, em frente ao computador, era uma coisa comum. Era o horário de marcar a balada da noite, principalmente se na sexta ninguém tinha se jogado na Vogue. Ou seja, a pergunta no ar era "vamos ou não vamos para o Avesso?", nem sempre íamos, haviam outras opções, nenhuma outra gay - com excessão das raves da D-Place -, mas haviam. Foi num sábado a tarde que ele voltou a minha vida. Osama era seu nickname naquela tarde, e nada mais apropriado. "Foxx, quando a gente vai se ver, sair, fazer qualquer coisa?".
Meses atrás tínhamos nos conhecido, ele dizia-se hétero, negro, mas com traços delicados, minha altura, com um abdômen perfeito daqueles que são dons divinos. Eu o achava lindo. Felipe queria porque queria levá-lo para uma cama. Saímos algumas vezes juntos, com o Felipe, o Dim e a Mila, sempre programas héteros - boates e casas de praia - porque nós nem cogitávamos alguma possibilidade. Apesar que Felipe tentava. Ele sempre tivera este mal costume: nunca sabia ouvir um não. O que só o irritou quando aconteceu.
Devia ser um domingo. Tédio e calor empesteavam o ar. Estávamos os cinco no apartamento do Dim, tínhamos visto O Xangô de Bakerstreet no DVD e conversávamos quando alguém perguntou se o Osama ficaria com um menino. Ele pensou um pouco e, exitante, falou: "Eu poderia experimentar". Felipe, é óbvio, lançou olhares gulosos. "Mas só se fosse o Foxx". Eu fiquei vermelho. Mila riu alto e começou a incitá-lo: "Ele 'tá aí, ó, é só experimentar". Ele argumentou que era hétero, que não faria isso, mas completou: "Se fosse para ficar com um homem pela primeira vez eu escolheria o Foxx, sim". Ela insistiu mais, ele se negava mais, até que falei: "Olha, Mila, ele não quer! Deixa quieto que também ninguém perguntou se eu topava!". Não, eu não pretendia mexer com o orgulho dele. O orgulho que todo homem bonito tem. Ele, inclusive, adorava saber que muitos homens, além das mulheres, o desejavam, ele os esnobava dentro de um jogo que ele achava muito divertido. Eu presenciara em diversas outras ocasiões. "Então você não quer?". Ele perguntou sentando-se do meu lado. "Você é hetero! Ganho nada querendo você não! Sou vacinado!". Foi aí que ele me beijou, sem jeito e muito nervoso, um beijo tão rápido que quando acabou Mila falou: "Eu beijo minha mãe igualzinho, faça isso direito!", e ria, enquanto Dim e Felipe recolhiam os queixos que caíra ao chão.
Ele se levantou, parecia não saber se continuava ou não, eu o ignorei. Ele sentou-se perto da Mila, ela argumentava que ele tinha que ter a "experiência completa" ou não teria valido de nada. O olhar dele parecia muito confuso. Ele devia estar precisando de uma bebida, mas não havia nada além de água ou suco ali. Foi quando ele se levantou e veio em minha direção, pediu que eu levantasse e me puxou pela cintura, desta vez, beijando com vontade. "Sua barba arranha", eu disse que era porque ele tinha beijado um homem, ele riu. "Nem excitado você ficou, definitivamente o senhor é hétero".
Mas, naquele sábado à tarde, ele me chamava para sair, eu concordei e perguntei aonde ele gostaria de ir. "O Avesso, que tal? Eu queria conhecer! E quem sabe lá, a gente...". Eu, do outro lado do computador, não pude conter o sorriso. Topei. Queria ver no que isso ía dar. Lembrei das conversas com Mila, ela querendo saber se ía rolar algo entre a gente. Eu dizendo que se algo fosse acontecer só seria depois de alguns meses, que era o tempo que ele ia precisar para digerir todos os sentimentos confusos que estavam latejando na cabeça dele: a vontade e a culpa deviam estar corroendo-o. Dito e feito, meses depois ele estava de volta.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PRESENTE: Quanto Mais Eu Rezo...

Fim de tarde, um céu anil sobre Belo Horizonte esconde a ameaça de granizo que paira sobre a cidade. A aula acabara de terminar. Nós saímos juntos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, descendo a escada, que leva até o ponto de ônibus dentro do campus, quando ambos passamos direto.
- Ah, você também pega ônibus lá fora?
- Não, não! Eu moro logo ali. Uma quadra depois da Antônio Carlos. Acho que dá até para ver meu prédio daqui. - e me coloco na ponta dos pés - ó é aquele telhado ali.
- Ah, você é uma pessoa... - ele desiste do que vai falar de repente, eu percebo, mas finjo que nada aconteceu, pois ele continua - a gente tem uma turma ótima né?
- ... - melhor não responder, sei o que vai sair dali se eu continuar esta conversa.
- As aulas são sempre divertidas, né?
- Ah, sim! É verdade! - droga! - Tem sido bem divertido fazer essa disciplina.
- Quantos anos você tem?
- 27, e você?
- 25!
- Não parece! Você parece ter menos! - Parece mesmo, pena que parece que faz vinte anos que sua mãe largou você fora e criou a placenta! Vai ser feio assim no diabo que te carregue, prejura! 'Tá c'a muléstia!
- Sério?! Você é a primeira pessoa a dizer isso.
- É! Eu te daria, no máximo, 20 anos.
- ... - ele pára, parece tomar coragem - Já arranjou algum amor mineiro?
- Eu? Não sou disso não, menino!
- Mas por quê?
- O povo não gosta de mim não - falo enquanto caminho olhando como os galhos retorcidos das árvores daquela alameda emolduram o céu azul.
- Como isso é possível? - ele sorri aquele sorriso feio, mas cheio de bondade dele - Bonito, simpático, inteligente, bom papo, você deve arrasar corações por aí.
- Eu? Ah, quem dera! Se isso é verdade, então não sei demonstrar muito bem - fico conversando com o Jovem Grisalho, começo a acreditar nas coisas que ele me diz.
- Não? - ele deve ter planejado tudo isto, porque agora faz uma pausa dramática digna de um filme - Pois se você estiver aceitando currículos, eu me inscrevo.
- ... - Um buraco! Um buraco!
- ...
- Nem sei o que dizer.
- Fui muito direto né?
- Um pouco!
- Mas não precisa dizer nada não. Olha, eu vou ficando por aqui, viu? Qualquer dia me convida para conhecer sua casa, seus livros, 'tá?
- Convido sim! - Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! - Convido, pode deixar! - E um rapaz lindo, como só os mineiros conseguem ser bonitos, cruza meu caminho. Ah, um desses não vem me dizer uma coisa assim, né?

sábado, 27 de setembro de 2008

PASSADO: Carrinhos

Era um domingo a tarde, eu saíra com um pedaço de giz de casa. Meus pais eram professores, era muito fácil ter giz em casa. Ele me chamou para brincar. Carrinhos. Desenhamos toda uma cidade, com ruas, postos de gasolina, pontes, oficinas mecânicas, na calçada da casa da tia dele. Sentamos no chão, calções amarrotados, agora também apagavam o giz que estava no chão, delimitando nosso mundo imaginário. O meu carro era azul, o dele vermelho. Empurravamos aqueles carrinhos, pelas ruas estreitas de nossa imaginação e mal traçadas por nossas mãos de crianças. A mãe e a tia dele observavam de dentro conversando seus assuntos de adulto, na varanda da casa. As primas dele brincavam com bonecas, no jardim interno. A calçada era o lugar dos meninos.
Foi quando eu estava de cabeça abaixada, olhava para o carrinho para evitar que ele passasse entre as linhas brancas, que ele veio, engatinhando, chegou perto de mim e beijou-me os lábios. Eu me assustei. Um movimento brusco me fez jogar a cabeça para trás. Ele estava lá, de quatro, sorrindo. Foi quando vi uma mão cercar-lhe a cintura e levantá-lo no ar. Uma voz que eu não sabia de onde vinha gritava: "Que pouca vergonha é essa? Você é viado, é?". Eu fiquei vermelho de vergonha. Mas ouvi a voz se afastar, ela não se referia a mim, ele fora carregado para dentro de casa. "O que você estava pensando?", continuavam os gritos, pancadas começaram e um choro baixinho também. Olhei ao redor, sem saber exatamente o que tinha acontecido, só sabia que a brincadeira tinha acabado. Juntei os carrinhos, coloquei-os dentro do jardim, as meninas me olhavam também sem entender e pareciam perguntar-me o que se sucedera. Levantei-me e voltei para casa, em silêncio, pressentindo que algo ali estava errado.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Lágrimas

Enquanto as lágrimas rolam no meu rosto, apenas uma coisa me vem a cabeça: "Quem diria?". Enquanto soluço no salão de embarque, após já ter chorado quando desci do carro, após ter chorado ao ver minha mãe dizer que me ama, após ter chorado quando deixei o Andarilho, Michel e o Peter Pan na casa de praia. "Quem diria que eu ia chorar porque não quero deixar Natal". Cada lágrima é uma surpresa nova, cada soluço é a confirmação de que as coisas mudam. Natal já foi para mim o túmulo que iria me encerrar, o mausoléu que conteria minhas ultimas esperanças, e hoje, aquela cidade luminosa e fresca, é tudo o que me dá forças para continuar. É engraçado como as coisas mudam. E como eu mudei.
E nem era necessario o comissário de bordo perguntar se eu estava passando bem. "É só saudade!". Ele sorriu, complascente, deve ter amigos, amores ou familia longe. E é isso que eu tenho. E foi isso que eu só descobri agora. E essas lágrimas que agora banham meus olhos são a prova viva disso. Do amor que meus irmãos hoje me demonstram, do amor que minha mãe sempre me teve, do orgulho que meu pai não sabe como demonstrar, do carinho que meus amigos têm comigo. Cada lágrimas é para um deles. E eu os deixo lá em Natal, guardadinhos. Prometendo que volto, e um dia para ficar.
Te amo, mainha, painho, meus irmãos, Andarilho, Peter e Michel. Eu volto. Eu volto.

domingo, 14 de setembro de 2008

PRESENTE: O maravilhoso efeito da cidade maravilhosa

Questionamentos popularam minha mente durante o meu sábado carioca. Ainda no ônibus que me trouxe das montanhas mineiras as terras cariocas, eu já pensava: ou é o Rio de Janeiro que sempre me recebe de cara fechada, ou meus pecados são tantos que o Redentor prefere se esconder entre nuvens, como dizia o Rik? Um dia nublado no Rio, apesar da semana de calor. "Foi você quem trouxe a chuva de BH", escuto sentado num quiosque diante da Farme de Amoedo, "eu prefiro acreditar que Ele sabe o que anda fazendo com minha vida e tem vergonha de me enfrentar pessoalmente diante de tudo que causou". E resoluto eu resolvo dizer: "Eu só sei que o Rio não é a minha cidade. Definitivamente."
Explicações me são exigidas. Em inglês também. Surfistas australianos com seu sotaque forte e meninas também do Novíssimo Mundo com uma simpatia desarmadora. Todos loiros. Apaixono-me por dois: Josh e Mark, mas eles não se apaixonam por mim. Mas eu continuo a divagar, quem mandou viajar sozinho, e eu penso que o Rio me ensina que eu não pertenço a este mundo. Devo ser de um lugar qualquer em que as The Weeks e Le Boys não existem. Em que não somos julgados pelo que aparentamos. Em que um paulista que não guardei o nome, sob a desculpa de ter gostado da minha cara, pode dizer que as pessoas que nos julgam são os verdadeiros inferiores. "Se ele não gostou de você, que se foda! Você é muito melhor que isso!".
Contraditoriamente a isto, junto com o cheiro de maresia que invadiu minhas narinas ao descer daquele "frescão", eu deixei o Rio me contaminar com toda a sua auto-estima. Enfim a cidade maravilhosa me ensina o quanto sou bom, e quanto as pessoas conseguem ser cegas. O Rio me ensina que não importa, eles, estes mesmos que todos nós achamos lindos e interessantes, são todos grandíssimos idiotas, tal qual eu mesmo que tive coragem de não ficar com um cineasta baiano por causa de sua barriga saliente, tal qual eu dispensando meninos na balada, tal qual eu esperando que o menino sarado, que veio sozinho e voltou sozinho, olhe para mim. Pois cada menino que eu dispensei ou simplesmente não prestei atenção porque estava prestando atenção em algum conjunto de biceps, tríceps, peitoral e abdômen, estão pensando o mesmo que eu, porém me incluindo entre os idiotas. O Rio de Janeiro me faz encarar que eu pertenço exatamente a esse mundinho da The Week e Le Boy, Pedro e Paulo do Solange, tô aberta!, o cara que eu beijei na área de fumantes da Le Boy e me perseguiu durante toda a noite, e eu fiz questão de rir dele; o peruano que me pagou uma cerveja e eu o deixei ouvindo-o dizer em espanhol: "¿usted va ya?" e eu sorri mentindo que voltaria, apenas ajudam a minha iluminação: eu também sou um idiota exatamente como eles.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Rio de Janeiro e Natal



Sim! É isto mesmo que vocês estão vendo. Eu estou indo viajar. De novo. Desta vez com escala no Rio de Janeiro e, em seguida, embarco para Natal. Fico apenas um dia em terras cariocas, mas quem quiser conhecer a raposinha aqui, deixa um contato. De qualquer forma, estarei em Ipanema hospedado.
Depois, a partir de domingo, volto a casa dos meus pais e minha saudosa terra. Quem diria, não é?, eu dizendo que tenho saudades de Natal.
Pois bem, esperemos mais estórias para contar. Com tempero carioca e potiguar.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

PASSADO: O Policial

Uma tarde qualquer de 2006, o sol inclemente castigava os coqueiros que cercavam o setor de aulas II da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde a aula sobre o espaço colonial ibérico acontecia. O setor II da UFRN é famoso na cidade, seus banheiros, sobretudo naquele horário, são conhecidos por todos como pontos de pegação. Saí da aula um instante e entrei nos banheiros, no entanto, apenas para usá-lo normalmente e também para lavar meu rosto, hábito que conservei após as espinhas adolescentes. Porém, lá dentro, um olhar me paralisou. Ele era moreno, um pouco mais alto que eu, tinha olhos apertadinhos de índio e usava a camiseta do curso de educação física que marcava um corpo definido, mas não forte. Usei o banheiro enquanto ele se vestia, acabara de tomar banho, depois lavei o rosto, as mãos, sequei o rosto, tudo sobre o olhar atento dele. Desconcertado, saí.
Saí, mas na porta, algo me dizia para ficar. Aquele olhar não foi por acaso. Aquele olhar não podia ter sido por acaso. Fiquei então um pouco distante da porta do banheiro, naqueles corredores abertos que eu podia ver coqueiros, cajueiros, mangueiras e oliveiras que cercam os corredores balançando ao sabor do vento. Foi quando ele saiu, e para meu susto, usava a farda cinza de um policial militar. Ainda mais bonito, de cacetete na cintura e arma no coldre. Ele olhou de lado e me viu, sorriu instantaneamente e caminhou em minha direção, parou do meu lado, observou as árvores, eu estava nervoso, olhava para ele, olhava para o chão, acompanhei algumas saúvas levando folhas para seu formigueiro, sentia-me ruborizar, e aí ele virou e se apresentou.
Perguntou meu nome. Eu respondi. Conversamos pouco. Muito pouco. Logo estávamos de volta naquele banheiro com a boca dele, sedenta, buscando a minha; com suas mãos, não menos ávidas, buscando minha bunda. Em segundos, minha bermuda estava no chão, e a mão dele dentro de minha cueca. "Ai, meu Deus! Minha aula!", ele me beijava, o pescoço, a orelha, "Que se foda o espaço colonial ibérico!", e me virou contra a parede do reservado, levantou minha camiseta e sua lingua áspera desceu e subiu pela minha coluna. "Deixa eu te comer?". Ele mostrava já a camisinha. Mas ali, em pé, com aquele pau enorme? Sim, era enorme! E eu sou megalofóbico! "Não!". Ele questionou porquê: "Você é muito grande!". Ele sorriu, todos sorriem ao ouvir isso. "Eu vou ser bem cuidadoso com você". Eu repeti o não, mas sem muito entusiasmo enquanto ele brincava de me penetrar e de falar na minha orelha o quanto eu era perfeito. Tentei novos nãos, mas ele continuava, e sem dor alguma - nenhuma mesmo - o vi se instalar por completo dentro de mim. "Viu? Nem doeu não foi?", dizia ao pé do meu ouvido enquanto me masturbava até eu explodir em gozo na porta do reservado e ele dentro de mim. Ele me beijou mais uma vez, me passou seu telefone, não sem antes de comentar: "Cada vez que você dizia 'não' meu tesão aumentava!". Eu sorri sem graça.
Ele saiu. Vestido com sua farda. Lavei meu rosto, e voltei a aula, onde encontrei a sala vazia. Meu material jazia abandonado. Peguei minhas coisas e, voltei a minha vida normal, liguei para um amigo que pretendia me apresentar o seu namorado. Marcamos para aquela tarde, após a aula. Liguei confirmando, e ele disse já estar a caminho do Natal Shopping, marcamos na entrada do Rio Center. Peguei o circular, eu subi, e quando o ônibus encheu, percebi que o policial havia parado atrás de mim. "Oi!". Eu sorri. Ele já aproveitava o ônibus cheio para me encoxar e disse no meu ouvido: "Você me realizou uma fantasia!". Eu respondi que ele havia me realizado uma também. Ele perguntou qual e eu apontei para a farda dele, fazendo-o rir. "Sempre que quiser", comentou. Descemos na mesma parada, ele perguntou se eu iria ao shopping e diante de minha confirmação caminhamos juntos, conversando. Foi quando avistei meu amigo sentado no canteiro, na entrada, ele se levantou rindo. "Natal é um ovo mesmo! Vocês se conhecem?!". Eu não entendi, o policial também não. "Foxx, esse aqui é meu namorado! De onde vocês se conhecem?". Eu engoli seco. Ele suava de medo. "Da universidade, ora! Da universidade!".

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

PRESENTE: A ironia mais bela

Texto escrito em 16 de setembro de 2005, após uma conversa com Wagner, um cara que eu tinha conhecido pela internet e me vira com o Felipe na Bienal do Livro em Natal. Naquela conversa ele me disse que se eu não fosse tão bicha, como ele tinha notado, ele não me deixaria escapar, porque "aquele era meu único defeito". Como este tema tem reaparecido nas minhas conversas emessênicas ultimamente e, ontem, uma amiga do Bruno disse que perto de mim ela parece um homem, então, vale a pena rememorar o texto.





Você não acha que a Ironia é a coisa mais bonita que existe na face da Terra? Veja só.
Existe coisa mais bonita que a lágrima que você derrama quando descobre que esnobou o grande amor de sua vida?
Existe coisa mais bonita que quando você descobre que o seu maior defeito é a chave de sua felicidade?
Existe coisa mais bonita do que descobrir que o melhor dia de sua vida é o último?
Existe coisa mais bonita do que perceber que aquilo que te deixa triste alimenta tua força?
Existe coisa mais bonita do que entender que o caminho mais fácil, desistir, é também uma opção digna?
Existe coisa mais bonita do que notar que o fim é só mais um começo?
Existe coisa mais bonita do que ver a esperança nascer da dor?
Agora e para sempre eu sou como a Fênix, e não existe ironia mais bela!




E sobre o The Blogger Bachelor, estão inscritos:
minininho_badboy
Rhenan
Max Demian


o Léo, o Goiano, o The Secret Boss, o Thiago, o Little Pet e o Teago não confirmaram.

Então, se eles confirmarem, ainda resta uma vaga.

Gente, é só uma brincadeira, para nós nos conhecermos, para haver mais integração, apenas isso.
Vamos lá.
Vamos brincar.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

THE BLOGGER BACHELOR: MAURI #01


Ele tem um blog porque adora contar histórias e conversar sobre tudo, com seus 22 anos, olhos verdes e cabelo loiro, do alto de seus 1, 84 e 83kg, conseguidos com malhação diária após o trabalho, este jovem analista de sistemas que gosta de cinemas em dias de semana ("porque são mais vazios") e que procura um cara educado, carinhoso e disposto a ir em frente, porque ele não começa nada pensando no dia que vai acabar, pois deseja um amor que dure (sim, ele acredita no amor) é o nosso primeiro Bachelor: Mauri.





Eu sou seu apresentador, o Foxx, e vamos a regra do jogo: dez bloggers disputaram o nosso solteirão, eu apresentarei aqui as provas que eles deverão fazer cujos resultados serão analisadas por nossa comissão e pelo próprio Mauri, o vencedor da prova terá direito de fazer algo especial com o Mauri, além de imunidade na votação popular que excluirá dois do jogo por semana aqui no Estórias do Mundo.


E aí? Quem topa brincar?

INSCRIÇÕES ABERTAS PARA CANDIDATOS

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

PASSADO: "É Só o Sorvete Que Você Chupa Assim?"

- É só o sorvete que você chupa assim?
Virei-me de lado, e vi o menino que tinha acabado de cruzar comigo na passarela falando com um carregado sotaque paulista. Sem acreditar que ele estava mesmo conversando comigo e dizendo aquelas palavras, fiz uma cara de quem não estava entendendo, ele não se fez de rogado e repetiu:
- Só o sorvete que você chupa assim?
Pensei então que se ele tava sendo tão direto assim, não adiantava bancar o santo:
- Não, tem outras coisas que eu chupo bem melhor.
Ele não resistiu e apertou o pau sobre a calça.
Aproximou-se mais observando meu corpo, e discretamente passou a mão nas minhas costas e barriga, puxando a camisa ao mesmo tempo, fazendo os músculos ficarem mais aparentes. Eu observava ele, com uma camiseta regata que revelava-lhe o peito definido, uma calça cargo muito larga e tênis do tipo skaterboy.
- Você é muito gostoso!
Eu enrubesci e baixei o rosto. Ele sorriu feliz.
- Onde 'cê tá indo?
- Uma festa na casa de alguns amigos.
- Não teria um lugar lá p'ra eu te foder?
Chocado, por um instante me peguei pensando na possibilidade.
- Na casa da Flor?! Impossível!!
- E, por aqui? Nesses shoppings?
- É que minha carona vai chegar daqui a pouco. Não poderíamos nos encontrar amanhã?
- É que eu volto para São Paulo hoje de madrugada.
- Ah, você é de lá?
- Sim, estou de férias aqui. Mas minha família é daqui.
- Que pena!
Ele sorriu como se concordasse. Enquanto ele sorria, o carro do Alê chegou.
- Meu amigo...
Apontei, e ele sorriu, dizendo novamente:
- Você é muito gostoso, viu?
Eu sorri, apertei sua mão, e o Alê perguntou quando entrei no carro:
- Quem é?
- Um cara que me acha gostoso!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

PRESENTE: 3, 2, 1, Feliz Aniversário!

Sábado, dia 9 de agosto, Josefine Classic. Eu chego lá, na verdade, já passaram da meia-noite, já é o décimo dia de agosto, o dia em que 27 anos atrás minha mãe me colocava no mundo sobre as estrelas de Leão, Touro, Sargitário e Virgem. Parabéns para mim. Fila na porta andando rápido, caixas e recebo fácil o meu cartão de consumo que vai direto para minha carteira Stalker. Caminho, mais seguranças na porta e, no lounge, me surpreendo com Walkíria de La Roche, a drag residente, deitada num divã acompanhada por dois go-go boys vestidos como marinheiros, sem camisa, dando-me as boas vindas e abrindo a cortina branca que dá para o bar principal e a pista central já aberta. Folhagens estilizadas em acrílico branco pendiam do teto, e no globo de vidro o nome Classic filtrava a luz refletida.
Eu estava sozinho naquela noite. Achando que a noite não ia render. Ledo engano! Fui para beber a meu aniversário e comemorar o simples fato de estar vivo, mas o destino me reservava coisas diferentes. Comecei apenas com uma Pepsi. Uma Pepsi, dois Carlton, recostei-me no queijo que os go-gos subiriam ainda aquela noite. E logo percebo como aquela noite, na Josefine, estava sendo diferente. De um lado, um cara baixinho com um peitoral largo e braços fortes me observa atento, mais a frente um japinha magrinho e definido me olha, do outro lado, uma bicha de cabelos longos presos num cóqui também tenta flertar. Dirijo-me ao bar, é hora de uma cerveja, uma, duas, três Skol Beats. No bar, percebo: é a primeira vez que retorno a Josefine desde que vim aqui com Sibill e Brunno, ou seja, uns seis meses, e como todos sabem como mudei nestes últimos seis meses, não é?
Quando volto ao queijo, os go-go boys já subiram. Observo o show e quando percebo, o japinha está do meu lado. Ele me olha insistentemente. Eu acabo por sorrir e ele sorri de volta. Diante de sorrisos, eu sempre me aproximo. Puxo papo, me apresento, ele também, mas ele está nervoso, envergonhado, tímido, acaba colocando a mão no meu ombro e saindo, eu volto ao bar. Fora Nº 1. Mas quando retorno com mais uma Skol Beats na mão, ele está lá de novo, no mesmo lugar, me olhando. Ele quer que eu volte? Arrependeu-se? Não, amigo, comigo não rola.
A segunda pista abriu, Denaday toca e ele é o melhor DJ daquela boate. Subo. A pista é menor, luzes coloridas cobrem todo o teto e um sofá negro domina a parede esquerda. Outro cigarro, e um menino loiro e sarado pede a amiga o isqueiro, eu com o meu na mão me adianto e acendo o cigarro dele, ele sorri, surpreso e agradecido. Vou para o outro lado da pista, passo novamente pelo bar, subo no nicho do DJ para cumprimenta-lo pela qualidade do som, paquero lá de cima com um negro, alto, forte, musculoso, ele retribuí, mas quando volto o perco de vista e, tempos depois, reencontro com o loiro, ele sorri. Diante de sorrisos, eu sempre me aproximo. Puxo papo, me apresento, ele também, mas ele está nervoso, envergonhado, tímido. "É que meu namorado está lá embaixo". Eu entendo e peço desculpas. "É que nenhum estranho nunca tinha sido tão educado e charmoso me acendendo o cigarro assim". E me deu um beijo na bochecha, eu o seguro então pela nuca e roubo-lhe um beijo que ele não evitou dar. Ele repete sem força que não deve fazer isso. "Omi, relaxe". Ele olha nos meus olhos com seus olhos castanhos, quase mel, e me puxa para o Dark Room da boate. Lá ele me beija sem medo, passo a mão pelo seu abdomên perfeito e sua bunda empinada, ele não se nega a aproveitar de minhas pernas e braços. "Olha, já faz muito tempo, seu namorado deve estar te procurando". Eu o vejo sorrir constrangido, apesar do escuro daquela sala. Saímos, ele desce a escada de um lado, eu volto para a pista que nos encontramos, decidido a comprar mais uma cerveja.
No caminho, reencontro o negro que paquerava comigo enquanto eu falava com o DJ. Ele se aproxima - realmente alto, penso, eu fico na altura do seu peitoral forte e largo - e ele nem chega a perguntar meu nome, apenas me puxa pela cintura, como se eu fosse um boneco de pano, e me beija. Um beijo rápido, com gosto de homem, sem delicadeza, nem sentimento, que quando terminou chegou a me deixar envergonhado, ele apenas continuou seu passo, reencontrando o amigo dele que estava observando, chocado, ao lado. "E desde quando você beija meninos?", gritou.
Envergonhado, sinceramente envergonhado pela forma que fui abordado, desci daquela pista. Não sem encontrar o japinha novamente me encarando agora ali. Ele provavelmente vira o negro me abordando e me beijando. Desci, entrando na pista principal da Josefine, o loiro foi o primeiro que eu encontrei. Ele nem olhou para mim, nem eu para ele, comprei outra cerveja, dancei ao som de Katy Perry, e novamente reencontrei o japinha atrás de mim. Agora eu tinha certeza, ele se arrependera do que tinha feito, provavelmente fora uma reação involuntária, ele deve ter entrado em pânico por alguém ter chegado nele, coisa comum até mesmo comigo. Às vezes você não está preparado para que aquela pessoa que você está olhando, também esteja olhando para você. Porém, ele já teve a chance dele e, às 4 da manhã, entrei em um táxi em direção ao Caiçara. Sozinho.


E novidades: A partir de Setembro estarei de portas abertas para receber vocês aqui em BH. Quer conhecer o Foxx? Pode vir a BH, você vai ter lugar para ficar.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

PASSADO: A Carta

"Vamos lá, que confusão toda é essa?". A diretora perguntava a nós três, de pé diante da mesa dela, eu, Karla e Cíntia, naquela sala apertada que servia de diretoria de uma escola estadual. Eu tinha a cabeça baixa, morrendo de vergonha, primeiro porque estava ali, nunca tinha ido a sala de um diretor escolar antes, e segundo pelos motivos pelos quais estava ali. "A culpa é dele", Karla resmungava, enquanto Cíntia estava ocupada soluçando. Eu levantei o rosto e vi um sorriso complascente da diretora, devia pensar como estes meninos são bobos, mas virou-se para mim e perguntou o que acontecera. "Ah, só me pediram para entregar uma carta". Karla contra-argumentava me acusando de mentiroso, perguntava quem ia fazer aquilo, eu mentia dizendo que não sabia, que era uma menina mais velha que eu não conhecia, a diretora me pedia uma descrição e eu joguei uma qualquer para cima dela, Cíntia soluçou um nome qualquer que deveria corresponder a minha descrição, mas Karla disse que a menina nunca faria isso. "Ela é da oitava série! Porquê ia fazer isso? ", nós éramos da sexta, sentíamo-nos ninguém diante de um aluno da oitava ou do segundo grau. Eles eram deuses! "E eu vi seu código na assinatura da carta, eu sei que foi você que escreveu", disse Cíntia agora chorando por achar que aquela carta iria revelar seus desejos de amor secretos. Amaldiçoei aquela idéia naquele instante: XOXOX deveriam proteger minha identidade, não tão facilmente revelá-la . Era uma carta anônima, de amor, mas anônima, a única carta ridícula que escrevi. Era para o Sílvio e quando eu ía colocar nas coisas dele, Karla perguntou o que era aquilo e eu inventei toda aquela estória, ela, então, arrancou o envelope de minha mão e pediu para ver. "E onde está essa carta?". Olhei para Cíntia com um certo alívio. "No lixo, eu rasguei, está lá".

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

PRESENTE: Devaneios no Inferno

"O Bruno não acorda p'ra gente sair, aff". Bato na porta do quarto, o chamo, nenhuma resposta. 21:50h marcam o relógio. "Ah, é a terceira vez que eu venho chamá-lo! Ele que me perdoe, mas tenho que ir tirar dinheiro". Corro no shopping ao lado de casa, o relógio da rua marca 21:54 e 20° quando chego. Vou direto ao caixa eletrônico, não sem notar nas vitrines como estou mais magro. "100 reais: caso decidamos ir a Josefine e não a Mary In Hell". Eu quero ir na Jô, mas o aniversário é do Théo, ele que escolhe. Saio do DelRey pela saída da Riachuelo, meu telefone então toca: Bruno. Viu minhas ligações para ele, provavelmente, feitas do meu quarto a alguns metros de distância, para tentar despertá-lo. Atendo, ele pergunta onde estou. "Indo para o aniversário do Théo, você vem junto?". Ele concorda. Corre para se arrumar, e eu volto para casa para esperá-lo. No caminho, telefono: Rajeik. "Ei, vamos demorar, a bela adormecida só acordou agora". Ele ri de seu jeito peculiar. Uma nota mais aguda que se mete lá. Uma hora depois, exatamente, Bruno está pronto e nos encaminhamos para o Centro e de lá para a Savassi.
Três cigarros distam o Centro da Savassi. A Savassi é uma praça cercada de lojas caras, de onde partem ruas estreitas das quais brotam bares, emos e MacDonalds. Meninos musculosos em camisetas justas também. Estes se encaminham para o Pátio, o shopping local, enquanto os emos, magrinhos e com seus cabelos cuidadosamente arrumados, preferem o frio da lua. Atravessamos o lugar, passamos por bares bahianos, restaurantes italianos, copos sujos de calçada e um vestido de noiva nos dirigindo a Tomé de Souza. Aviso a todos no caminho: "Se me aparecer algum zumbi na noite, eu vou embora viu?". O Bruno necessita de explicações e o Théo se encarrega de falar: "É que se você for vestido como zumbi hoje, você paga apenas metade da entrada". Enquanto eu repito mentalmente minha promessa, Bruno diz que se tivessem avisado a ele antes, ele teria se maquiado.
Mas logo as chamas pintadas na parede negra da boate aparecem a vista. Uma fila confusa está na porta. Identidades. Comandas. Botons de presente na entrada. Uma escada com tapete vermelho. No alto, uma porta se abre para um grande poster, a direita banheiros e a escada que leva para a pista, nos encaminhamos para esquerda, uma Kaiser Summer no bar, e sentamos num dos sofás negros que dominam as paredes dos três ambientes. Resolvemos descer. A música nos invade. "What are you waiting for? Nobody's gonna show you how, why wait for someone else to do what you can do, right now?". A pista, dominada por uma dj vestida como um personagem de animê, era um espaço pequeno. Ao descer você encontrava as pick-ups, e do lado oposto, um degrau abaixo, arcos negros formavam uma espécie de alcova, que dava para um inferninho. Um lounge de luzes vermelhas e paredes cobertas com cartazes de filmes antigos, a grande maioria de terror, pequenas mesas e alguns sofás em que sentavam-se emos magrelinhos com cara de quem falsificou a identidade, heteros antenados com pulseiras de couro e calças skinny, sapinhas estilosas com cabelos na chapinha e vestidos balonê, menininhas groupies de bandas de rock ou de anti-depressivos (não dá para saber).
Um cigarro. "This is so weird. Am I sleeping? Is this a dream?". Outra cerveja. Pessoas chegando, lugar lotando, olhares começando. Théo caçando do meu lado, me cutuca mostrando as pessoas. "Ah, eu gosto de caras mais velhos mesmo", ele diz. "I'm simply sick and tired of those (toy soldier), I don't want no more (toy soldier)". Mais um cigarro, outra cerveja. Subimos, na fila do banheiro encontro o Lipe, amigo do Rajeik, ele que me reconhece e vem falar comigo. Levo-o até os meninos e ele se agrega ao grupo. "Eu quero é ver o oco: sem controle, tocando fole, é o hora de dançar". E voltamos. Comprimidos perto da mesa do DJ, agora outro, Théo beija, enquanto Bruno e Rajeik namoram e eu danço funk até o chão com o Lipe. "Tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha". Olhares em minha direção. "Não mesmo, você é muito pouco p'ra mim, eu quero aquele ali". Mas aquele ali já estava com outro.
Então me vi cercado. Théo beijando um desconhecido, Bruno e Rajeik namorando, o Lipe esperando que o próximo cara sarado-bombado olhasse para ele, e pensei: "Será que eu quero mesmo isso?". Namorar, estar com alguém, será que sinto falta realmente disso? Ou fui ensinado a sentir falta, porque todas as novelas que vi, músicas que ouvi e livros que li ensinaram que você só pode ser feliz se tiver um amor ao seu lado. Será que eu quero mesmo isso ou fui apenas programado? "Pane no sitema, alguém me desconfigurou". Ou pior, será que só sinto inveja? Será que me considero tão bom, tão melhor que os outros, que me corroí a idéia das pessoas naquele ambiente imitando um prostíbulo, onde facilmente se conseguiria beijos grátis, conseguirem homens tão bonitos e interessantes e eu não, não obstante, no fundo, eu não querer. No entanto, meu orgulho me empurra e quando reclamo, não é a carência que fala, mas um orgulho leonino ferido em seu íntimo. Mais um trago e junto com a fumaça, meus devaneios se perdem no ar.









Ah, recebi este selo do Goiano, com estas seguintes regras:

- O prêmio deve ser atribuído aos blogs que vocês considerem ser bons. Entende-se como bons blogs aqueles que vocês costumam visitar regularmente e deixar comentários.
- Se você recebeu o “Diz que até não é um mau blog”, deve escrever um post indicando a pessoa que lhe deu o prêmio com um link para o respectivo blog. Neste post devem aparecer o selo e as regras.
- Indique outros nove blogs ou sites para receberem o prêmio.
- Exibir orgulhosamente o selo do prêmio no seu blog, de preferência com um link para o post de quem te presenteou.

E os indicados são:
Mundo Alternativo
Mamma Sibill
Pequi com Pimenta
Vivendo em Kauan
Sou Pára-Raio de Doido
O Holograma
Mais Que Pensamentos
The Hedgehog's Dilemma
Saindo do Armário