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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Como Se Nasce Gay: Sexualidade Não É Natural. (Parte II)

Nós não nascemos gays! Nem héteros! Nem bissexuais! Sexualidade não é algo com que nascemos, mas é algo que construímos a partir do nascimento. Gênero, no entanto, é algo com que nascemos. Existem pessoas que vem ao mundo meninos ou meninas, mas também meninos no corpo de meninas e meninas no corpo de meninos, também nascemos meninos-meninas (sim, os dois ao mesmo tempo) e também nenhum deles, apesar da presença de uma genitália. O gênero, este sim, tem um componente genético, e é extremamente mais complexo do que a oposição macho e fêmea que os pênis e vaginas dão a entender.
Sexo (homo, hetero, bi, gay, g0y., H.S.H), no entanto, é uma construção identitária, isto é, acontece na mente e não no cérebro. A partir das relações do indivíduo com outras pessoas (família, amigos, vizinhos), com o ambiente que ele vive (escola, igreja, trabalho) e sua cultura, ele começa a projetar uma identidade na qual ele pode lidar com os impulsos sexuais que seu corpo produz. Ele, o indivíduo, que projeta seu desejo para algum objeto graças as respostas que ele tem na sua primeira infância, cria uma identidade para lidar com as respostas que recebe. Trocando em miúdos, um menino que projeta sua necessidade de carinho para um homem e recebe deste um resposta satisfatória sempre tende  a criar dentro de si um padrão procurando aquele mesmo homem nos seus relacionamentos futuros. A psicologia já repetiu incansavelmente que homens heterossexuais procuram suas mães nas parceiras, porque foram elas as primeiras a satisfazer sua pulsão sexual satisfatoriamente (opa, me assustei como soei freudiano agora, culpa do Joseph Campbell que estou lendo). 
A maior prova que a sexualidade é uma construção identitária que varia de acordo com nosso ambiente esta escrita em toda história da Humanidade. Ela está recheada de inúmeros exemplos de identidade sexual distinta do padrão que nós utilizamos hoje em dia, aqui, no Ocidente. E reforço no Ocidente porque mesmo nos dias que vivemos encontramos formas distintas de sexualidade (fora da chave homo-hetero-bi) em tribos indígenas americanas, em aborígenes nas ilhas da Oceania, entre os países islâmicos, na Índia, China e Japão. Sociedades que fogem desta complexa cultura compartilhada que chamamos de Ocidente criam identidades sexuais distintas. É a cultura, e somente ela, que define uma identidade sexual, ela fornece os modelos em que o indivíduo aprende a expressar os impulsos sexuais que vêm descontrolados do seu subconsciente. Inclusive, diz Karl Marx, no prefácio de Uma Contribuição a Crítica da Economia Política, que não é a consciência dos homens que determina a realidade, é a realidade social que determina a consciência dos homens.
Se esta teoria (sim, teoria, não trabalhamos com certezas em ciência) é correta poderíamos evitar o desenvolvimento de homens gays dando-lhes somente experiências com mulheres hiper carinhosas e protetoras? Segundo Nelson Rodrigues não. E eu afirmo que além de impedir o desenvolvimento social do menino (ele não poderia frequentar a escola, por exemplo, nesta experiência) o que prejudicaria seu processo de socialização e desenvolvimento psicossocial (o que somente isso já deveria ser considerado um crime), tolheríamos a liberdade desta criança, obrigando-a a seguir por um caminho que nós consideramos o correto, e não que ele escolheu. A ideia de que conseguiríamos controlar o ambiente em que uma criança vive e as projeções que ela faça do seu subconsciente não é, no mínimo, uma ilusão megalomaníaca de controle?
Por fim, a sexualidade é muito mais complexa do que estes padrões dualistas de hetero e homo nos permitem ver. Ela também não nasce com você, mas é construída por toda sua vida e, dependendo, das experiências que você se permita ter, nunca estará completamente madura. Mas uma coisa é certa, ela começa a esboçar-se sempre na tenra infância, moldada por nossas experiências no seio de nosso primeiro grupo de socialização. Seja ele qual for (família, família estendida, escola, creche, vizinhos, etc). Todas as experiências nesta fase de formação do ego são extremamente marcantes.

22 comentários:

  1. Tentar controlar as contingências de uma criança para torna-la heterossexual é megalomaníaco, mas é mais ou menos o que Silas Malafaia demostrar acreditar ser possível e investe quando diz qu não teria um filho gay pq seu filho seria bem educado... Silas é um excelente exemplo de magalomania.. Como muito bem diz um pastor que vi numa entrevista dia desses enquanto os evangélicos continuarem com esse pensamento que internaliza agressivamente nas pessoas a ideia de pecado permaneceram sendo o os piores do mundo pior que eles mesmo criam...

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    1. Como ele acredita que é possível manipular uma criança para torná-la gay, ele também acredita que através de inferência de outra pessoa a sexualidade de uma pessoa pode ser moldada não é, Gato?
      E concordo com vc, é melalomania acreditar-se capaz de controlar a vida de uma criança totalmente a este ponto. Tanto para torná-la gay, como para torná-la heterossexual. Mas, no meu caso, devo dizer: eu fui educado para ser gay.

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  2. Opa... Esse texto me representa! Não sei se projetei o homem ideal em alguém lá atrás, mas o desejo, sim, aliás, em vários. E concordo que a sexualidade é uma construção complexa e anterior à maturidade sexual: começa na infância e ocorre um desenvolvimento na idade adulta.

    Você reforça aqui um pouco daquilo que eu coloquei na parte I, sobre como o meio ajuda a consolidar ou despertar a sexualidade de alguém, na maioria das vezes da maneira mais brusca possível com ofensas e agressões diversas mas também, como seu texto retrata, de uma maneira sutil, até inconsciente, inevitável e de importância crucial.
    B.H.
    P.S.: como assim você foi educado para ser gay? Conte.

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    1. Oi, BH, então, meus pais sempre tiveram certeza que eu era gay porque, quando criança, eu era bem efeminado, como eles acreditavam que por causa disso eu seria necessariamente gay, eu fui criado entre xingamentos de "viadinho", surras, ameaças de morte que tentavam me ensinar que eu não era digno de amor. Mas tb eu fui criado para fazer tarefas femininas, enquanto meu irmão ajudava meu pai com o carro, eu limpava a casa com minha mãe (o argumento era que era mais cuidadoso), eu aprendi a cozinhar, lavar roupa, fui educado para ser dona-de-casa sabe?

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  3. Pois eu nasci assim e na próxima vida exigirei nascer assim de novo, senão nem venho.

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  4. Ué, mas não dizem que meninos criados apenas por mulheres tendem ao homossexualismo do que os criados no meio de garotos, irmãos que gostem de futebol, cerveja e muié? Esse assunto é muito complexo para debater assim no coments do blog...é coisa pra sentar e conversar por horas...abração e boa semana.

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    1. Você anda lendo muito Nelson Rodrigues, Rafael. Nas crônicas dele que este argumento se popularizou aqui no Brasil. Sobretudo porque a homossexualidade é sempre um sinônimo de efeminado, meninos criados somente por mulheres tendem a ser mais efeminados, de fato, mas isto não quer dizer que eles seriam gays, não é? Como meninos criados entre homens tendem a ser mais masculinos porque repetem e internalizam os modelos de comportamento, porém podem ser gays da mesma forma, não é?

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  5. Exatamente Foxx,
    sexualidade é muito que sexo ou hero/gay. As pessoas normalmente colocaram gênero e sexo tudo no mesmo pacote, como se um ou dois conceito pudesse explicar tudo. E acabam excluindo outras tantas pessoas e não enxergando a diversidade da sexualidade.

    Gostei do texto, cara.

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  6. Faz todo sentido... e vem de encontro a minha filosofia de que todo mundo nasce "folha em branco"!!! E tipo assim: se o Edu vier mulher na próxima vida, eu como! #prontofalei! ;)

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    1. Fred, por que se o Edu nascer homem você não come?
      kkkkkkkk
      E eu também apoio a teoria da folha em branco,
      acho-a a mais sensata.

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    2. Como também, claro! Sendo maior de idade e pesando mais que 30kg a gente come!!! Hahahahaha!
      E "fantasiada de Ursula" foi blaster!!! ;)

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    3. kkkkkkkkkkk
      vc é ótimo, Fred!

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  8. Amigo, como esse assunto é polêmico. Adorei ler um pouco mais sobre isso. Contudo, sempre acho que ainda estamos muito atrasados no que se refere aos estudos sobre a determinação do comportamento sexual dos seres humanos. Isso, porque, para mim, não temos como quantificar nem qualificar o desejo. Uma vez que o desejo é subjetivo, como saber como ele se define? Como explicar a existência de relações homossexuais em outros animais? Tudo isso é muito complexo. Mas os primeiros caminhos já estão dados. Obrigado por mais um texto lindo.

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    1. Ai está a questão, Menino, relações sexuais e desejo não são a mesma coisa. Só existe problema, porque ainda persiste esta visão. Os animais tem relações sexuais, isto é, eles agem a partir do instinto, nós nos comportamos a partir de relações culturais, e é dentro deste arcabouço que entra a identidade gay. Se separamos instinto (sexo/gozar) de cultura (orientação sexual/hetero,gay,bi,trans) então não existe nenhum problema em vc reconhecer que a sexualidade não é natural e encontrarmos animais tendo relações homoeróticas. Um bom exemplo é este, existem animais carnívoros, mas nós brasileiros que também comemos carne não comemos cavalos, cachorros ou gatos, para um leão, que vive por instinto, os animais que citei são carne, mas para nós, humanos e que vivemos na cultura brasileira, comer carne de cavalo, cachorro ou gato é errado/interdito, enquanto para os franceses comer carne de cavalo e caramujo é normal, enquanto os hindus não podem comer carne de vaca, judeus não podem comer carne de porco, camarão, lagosta e mariscos, e tailandeses comem cachorro, gato e escorpião. Será que eu me fiz entender?

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    2. Com esse paralelo, ficou mais fácil entender a sua posição. Obrigado, +1 vez, pela atenção e carinho. beijos.

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    3. que bom que você conseguiu entender, meu amigo.
      =)

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  10. Desde que me conheço que sei duas coisas: que o meu género é masculino e estou perfeitamente identificado com ele, mas também que a minha sexualidade sempre esteve orientada para o mesmo género - o masculino.
    O resto, é uma evolução normal.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway