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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Pérsia: As Respostas de Ahura-Mazda



A religião persa chamava-se Zoroastrismo, fundada por Zaratustra ou Zoroastro (em grego). É a primeira religião baseada em um monoteísmo ético, isto é, haviam duas divindades (dualismo), Ahura-Mazda (o bem) e Arimã (o mal), na qual os seguidores deviam apoiar Ahura-Mazda, seguindo seus preceitos e praticando o bem, para assim enfraquecer Arimã e o planeta chegar ao paraíso após a chegada de um messias. O Zoroastrismo influenciou profundamente o judaísmo e o cristianismo durante o período do Cativeiro da Babilônia. 
Antes do Zoroastrismo, a Pérsia cultuava inúmeros deuses classificados como Ahura (senhores) e Daevas (deuses e, mais tarde, demônios sobretudo por representarem deuses de outras nações, como os deuses hindus). Porém por volta de 1750 a.C., Zaratustra, conta a tradição, que era um sacerdote de um certo ahura, foi guiado por um ser feito de luz, Vohu Manah (o bom pensamento), até a presença de Ahura-Mazda e os cinco Amesha Spenta (os imortais sagrados), os quais lhe transmitiram uma nova mensagem religiosa. Zaratustra então começou a pregar sua religião dualista o que o fez ser perseguido e, após doze anos, ele teve que deixar a Pérsia e se fixou na região da Báctria, atual Afeganistão, sob a proteção do rei Vishtaspa e da rainha Hutosa que convertidos a religião do persa transformaram o Zoroastrismo na religião oficial do reino. Contudo foi Dario I, em 590 a.C., que reconheceu o Zoroastrismo como religião oficial do império persa. Neste período, existia entre os medos uma classe sacerdotal chamada os Magi ou Magoi que adotaram o Zoroastrismo e acabaram por incluir nele diversas práticas suas como a exposição dos cadáveres a aves de rapina, o casamento entre membros do próprio grupo, e a personalização dos Amesha Spenta que tomaram a forma de antigos deuses medos como Anahiti, deusa da fertilidade, que ocupa o lugar de Ameretat, a imortalidade; Mitra, o sol, que substituí Asha Vahishta, a verdade perfeita; Vayu, o vento, que ocupa o lugar de Khashathra Vairya, o governo desejável; Tishtrya, a chuva, que toma o lugar de Hauravatat, a plenitude; e Awmaiti, a terra, que tornar-se Spenta Ameraiti, devoção protetora; além de Tiri, o planeta Mercúrio, aparece no lugar de Vohu Manah, o bom pensamento.
Para a maioria dos historiadores, Zaratustra é na verdade um grande reformador. Ele propôs uma mudança no panteão indo-ariano no sentido do dualismo e monoteísmo, ao qual deu preferência aos Ahura, que passaram a representar aqueles que haviam escolhido o bem, enquanto os Daevas passariam a representar aqueles que haviam escolhido o mal. A lógica, no entanto, é a oposta quando pensamos a religião hindu, em que os Daevas são os principais deuses da Índia. Os principais documentos que permitem conhecer o Zoroastrismo são os Gathas, dezessete hinos atribuídos a Zaratustra, escritos por volta de 1500 a.C., que são o principal núcleo do Avesta, o livro sagrado do Zoroastrismo. Os Gathas revelam esse pensamento dualista porém num sentido ético, cabia ao homem escolher para si um comportamento bom, correto e honesto, porém, somente posteriormente, com outros textos que são agregados ao Avesta que este dualismo passa a tornar-se cosmológico, agir ao lado de Ahura-Mazda e contra Arimã torna-se a tarefa primordial que mantém nosso planeta intacto. Arimã tornar-se então um inimigo de Mazda, o que possuí a spenta mainyu (energia poistiva), que deve ser combatido, responsável pela destruição, pelas doenças, pelos desastres naturais, portador da angra mainyu (a energia negativa). Nesta lógica, haveria um dia, em que um descendente de Zaratustra, nascido de uma virgem, viria por fim realizar o Saoshyant, no qual o bem venceria definitivamente o mal e, com isso, Arimã seria finalmente derrotado. 
Sobre relações homoeróticas, na verdade, sobre relações sexuais, os Gathas não se pronunciam. Contudo, textos acrescidos posteriormente, inclusive para muitos estes textos são corrupções dos ensinamentos originais de Zaratustra. Um desses textos é o Vendidad, uma coleção de 22 fargards, isto é, preceitos religiosos escritos na forma de perguntas e respostas feitas ao próprio Ahura-Mazda, que fazia parte da tradição oral persa e foi compilado mais tarde e publicado junto com o Avesta. Neste, as relações homoeróticas são pintadas como uma mancha impossível de apagar na vida de qualquer iniciado na religião de Ahura-Mazda, um pecado imperdoável.
O Capítulo V, a partir do parágrafo 26, diz:

26. Ó, Criador do mundo material, tu és santo! Se um homem, pela força, comete o pecado não natural [relações homoeróticas], qual é a pena que ele deverá pagar?

Ahura Mazda respondeu: "Cem chibatadas com o Aspahe-astra, 800 chibatadas com o Sraosho-Charana."


27. Ó, Criador do mundo material, tu és santo! Se um homem voluntariamente comete o pecado não natural, que é a pena para ele? Qual é a expiação por ele? O que é a limpeza do mesmo?


Ahura Mazda respondeu: "Por esse ato, não há nada que possa pagar, nada que possa reparar, nada que possa limpar a partir dele, é uma ofensa para a qual não há expiação, para todo o sempre."


28. Quando é assim?


"É assim que se o pecador for um professor da religião de Mazda, ou aquele que tem sido ensinado nela. Mas, se ele não é um professor da religião de Mazda, nem aquele que tem sido ensinado nela, em seguida, seu pecado é tirado dele, se ele faz a confissão da religião de Mazda e resolve nunca cometer novamente tais atos proibidos."

29. A religião de Mazda na verdade, ó Spitama Zaratustra!, tira dele que faz a confissão os laços com seu pecado, que tira (o pecado de) quebra de confiança, leva embora (o pecado de) assassinando um dos fiéis, que tira (o pecado de) enterrando um cadáver, que tira (o pecado) de obras para as quais não há expiação, ele tira o pior pecado da usura, que tira todo o pecado que pode ser pecado.

30. Da mesma forma a Religião da Mazda, ó Spitama Zaratustra! purifica os fiéis de todo o mal pensamento, palavra e ação, como um vento impetuoso limpa a planície. Então, vamos todos os atos que ele pratica, doravante, ser bom, ó Zaratustra!, uma expiação completa para o seu pecado é efetuada por meio da religião de Mazda.


No entanto, o castigo que se apresenta aqui é o mesmo para diversos pecados sexuais. Vejamos, por exemplo para a masturbação, no capítulo oitavo:

26. Ó, Criador do mundo material, tu és santo! Se um homem involuntariamente emite sua semente, que é a pena que ele deverá pagar? 
Ahura Mazda respondeu: "Cem chibatadas com o Aspahê-astra, 800 chibatadas com o Sraoshô-karana".
27. Ó, Criador do mundo material, santo tu és! Se um homem voluntariamente emite sua semente, que é a pena para ele? Qual é a expiação por ele? O que é a limpeza do mesmo? 
Ahura Mazda respondeu: "Por esse ato, não há nada que possa pagar, nada que possa reparar, nada que possa limpar a partir dele, é uma ofensa para a qual não há expiação, para todo o sempre. "

É, portanto, apenas uma questão sobre vida sexual. A discussão aqui é sobre como se manter puro, e isto envolve manter-se distante de qualquer relação sexual, seja ela com uma pessoa do mesmo gênero, de um gênero diferente ou mesmo masturbando-se.

7 comentários:

  1. Nesse último parágrafo, vc diz que é uma questão de não manter prática sexual, seja ela solitária ou não, porém não creio bem que seja assim. Nas citações feitas, tanto em relação ao que vc diz ser prática homoerótica quanto a masturbação aparecem sendo nomeadas de pecado não natural, o que implica haver um pecado natural, que poderia estar vinculado justamente a prática sexual entre homem e mulher, ou alguma outra coisa, que embora pecaminosa siga um certo fluxo de "normalidade".

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    1. Daniel, uma coisa não exclui a outra. Manter uma prática sexual limpa e pura significa ter relações sexuais naturais sim, isto é, as que levam a procriação. A comparação das relações homoeróticas com a masturbação, o fato delas terem a mesma punição, as colocam diretamente do mesmo lado da moeda, e seu oposto natural se torna exatamente o sexo tolhido pelo casamento, só abençoado quando gera um rebento.

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  2. Farei meu comentário por tabela: O intercâmbio entre os diversos povos do crescente-fértil é comprovadamente antigo, não apenas uma relação de comércio ou de guerras, mas de pensamentos e ideias – sobre tudo religiosas. Israel sempre esteve em contato com esses povos – surgiu no meio deles . E, principalmente no período de maior elaboração de sua teologia, o exílio, manteve e assimilou novas concepções e ideias. Mas, já dividia muito antes disso todo um patrimônio ‘sapiencial’ que é proveniente dessas relações. Mitos, Teofanias, Gênesis, Códigos Legais, Rituais, Personagens lendários e edificantes ... tudo isso faz parte de um tesouro comum que era conhecido entre os povos, variando apenas nos detalhes. Em relação direta com a Pérsia, Israel desenvolve seu pensamento escatológico e uma certa noção de ‘dualidade’- a escolha entre dois caminhos – típicos do meio Persa. Podemos colocar em paralelo a história do diluvio bíblico com seu pares de outas culturas; o código de Hamurabi e o decálogo –pelo menos o seu núcleo ; a personagem sapiencial de Jó com o chamado Jó Sumérico ...etc.
    Mas, em relação a essas passagens dos fargads que tratam de ralações homoeróticas,me vem uma pergunta: Em se tratando de um código de conduta legal, e tendo como exemplo Israel, o texto não estaria mais interessado em salvaguardar a estrutura do clã, das relações familiares, que eram a base da sociedade de então, como uma forma de manter sua identidade cultural e cultual frente a outros grupos? Em Israel, o processo de “pureza” tenta eliminar tudo o que era diferente , não seria essa uma situação semelhante em meio aos Persas?


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    1. Não, Renato, porque os persas tem um império. Enquanto em Israel a preocupação é para manter a base da sociedade pura para que eles não se perdessem em meio a povos que os dominavam (egípcios, assírios, babilônicos, persas e romanos), os persas estavam em outra ponta do processo como os romanos, dominadores que para controlarem melhor o povo a quem haviam dominado pela força precisam é adaptar-se e muitas vezes adotar elementos desta cultura estrangeira e não se fechar como os hebreus. Veja o exemplo grego quando domina os persas: ao contrário dos hebreus, a primeira coisa que Alexandre faz ao dominar os persas é adotar os seus costumes de haréns, concubinatos e eunucos. Isso demonstra como funciona o processo de dominação de um povo na Antiguidade, é adotando os elementos culturais de um outro povo que você o integra, fazendo-o participar do império.
      No entanto, a religião persa é também uma religião de pureza que tem tabus sexuais claros, entre eles o homoerotismo, a masturbação e o sexo sem fins reprodutivos, que deveriam ser evitados para não conspurcar o corpo com a energia sexual.

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    2. Obrigado pelo esclarecimento Foxx, vai me ajudar bastante!

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  3. Convite à masturbação mesmo são os diálogos do Foxx com Helmut... genteinteligentemefascina... hahahahahaha!
    E querido... era uma baleia viajada... por isso "a mala"... djuuuuuuuuuuuura! Bjos!

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  4. Pois é... gostei de Australia, mas tb fiquei com a mesma sensação que tu... hehe! Bjs!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway