Muito se critica das paradas gays do mundo todo, estamos até cansados de ouvir que se tornaram um carnaval promíscuo, onde alguém de boa família não pode estar. Mas estes críticos esquecem o que elas representam. Nem vou entrar na história da parada, que ela remete ao levante ocorrido em 28 de junho de 1969 no bar gay Stonewall Inn, em que os gays de Nova Iorque marcharam contra a polícia e exigiram ali o fim da criminalização de sua condição sexual. Sim, até 1969 era crime punido com prisão nos Estados Unidos da América realizar algum ato "contra a natureza", isto é, ser gay. Segundo o The New York Times, 30 pessoas foram presas no primeiro dia do conflito, contudo o levante continuou e apesar de ter começado apenas com 200 pessoas somente em 3 de julho (durante 6 dias) ele foi dissipado, e é em homenagem a estes heróis que o Dia do Orgulho Gay foi instituído. Porém a parada não é um momento de luto, ela também não é uma oportunidade para um novo levante (apesar que eu, pessoalmente, acho que muitos dos nossos problemas se resolveriam se quebrássemos a Paulista toda!), mas a Parada, tanto aqui, quanto em Telavive, quanto em São Francisco, quanto em Sidney é uma festa para comemorar o orgulho. O orgulho de ser gay.
Porém eu já ouvi, inclusive, alguém dizer que ninguém deve ter orgulho de aquilo com o qual se nasce, só devemos ter orgulho daquilo que conquistamos. Lembro de outra argumentação que falaciosamente afirma que ser gay diz respeito apenas a intimidade sexual de uma pessoa, como se não interferisse em nada nas relações sociais (trabalho, escola, etc) do indivíduo e que por isso não nos cabe em momento algum fazer disto bandeira. Estes argumentos são simples elipses que omitem todo o meio homofóbico no qual nascemos, o que faz todo menino gay, toda menina lésbica, todo/a menino/a transexual sentir-se, em algum momento de sua vida, inferior ao outro dito normal. Se nós só podemos ter orgulho daquilo que conquistamos, eu quero que todos lembrem que nós somos educados todos os dias de nossa infância a considerar ser gay/lésbica pecado, imoral e doença, construir um sentimento de orgulho de nós mesmos sobre esta imagem depreciativa que nos é imposta, que nos denigre como seres humanos é, sim, uma conquista.
Neste caso, o simples fato de levantar-se todo dia de manhã da sua cama com orgulho, sem nenhuma tristeza, desânimo ou pensamento do tipo: "eu seria mais feliz se fosse hétero", será sempre o levantar de uma imensa bandeira do arco-íris, um posicionamento político claro de que você não é, não faz parte e não apóia uma sociedade que repete que você deve envergonhar-se de ser quem é. O dia do Orgulho então, e a parada que acontece em sua homenagem, é um dia para comemorar. Para comemorar que cada um de nós venceu a imagem negativa que o mundo heteronormativo quis impôr sobre nós, que cada um de nós sobreviveu aos inúmeros obstáculos que foram colocados em nosso caminho. Somos cada um de nós que chegou até aqui vencedores, e isso é um motivo de orgulho.