Grant Morrison, autor inglês de quadrinhos, começou, aos 17 anos, na década de 70 na DC Comics, a editora de Super-Homem, Batman e a Mulher-Maravilha, escrevendo a 2000 AD e o Homem-Animal. Foi, no entanto, em 1989 é que ele atingiu o sucesso ao escrever, com já quase trinta anos, o conto Asilo Arkham com o Batman e Coringa como personagens principais, com abordagens mais sombrias destes. Na década de 1990, ele é um dos autores que ajuda a fundar o selo Vertigo, um selo voltado a um público adulto, o que se destaca Como Matar Seu Namorado que fez estrondoso sucesso. É neste selo que ele conheceu Frank Quitely, desenhista com quem passou a trabalhar, com quem nos anos 2000 assumiu os X-Men, o que alterou extremamente a situação dos personagens da editora Marvel inclusive matando novamente a Fênix. Definitivamente, um grande escritor e, segundo o site Omelete, poucos são tão bons em fazer declarações polêmicas.
Neste último dia 26, o twitter ficou ouriçado com a entrevista que Morrison deu a Playboy americana deste mês afirmando que Batman era gay. A resposta do quadrinista foi a seguinte (a tradução é do Omelete):
"A gayzice faz parte do Batman. Não estou falando em gay num sentido pejorativo, mas Batman é muito, muito gay. Não tem como negar. É óbvio que enquanto personagem fictício ele é heterossexual, mas a base do conceito é absolutamente gay. Acho que é por isso que todo mundo gosta. Todas as mulheres querem ele, e saem usando essas roupas provocantes, pulando de telhado em telhado para chegar nele. E ele não está nem aí - quer mais é sair por aí com o velho e o guri."
Em resumo, eu poderia considerar Morrison homofóbico (e machista). Mas ai muita gente ia afirmar que ele nem está agredindo os gays dizendo isso, como ele seria homofóbico? A questão da homofobia (e do machismo) tem relação com a posição de o que significa ser homem. Ser homofóbico muitas vezes passa por uma pessoa considerar que só existe um modelo certo para ser homem e qualquer outra forma que fuja deste modelo pré-concebido é renegado. Homem precisa ser forte, não pode ser estudioso, não pode ter talento artístico, não poder demonstrar sentimentos, tem que brincar de bola e carrinho. E, para Morrison, por exemplo, ele deixa claro neste trecho, ser homem significa pegar geral. São várias mulheres usando roupas provocantes, pulando telhados, para chegar em Batman, e mesmo assim este homem não as quer, não as deseja, por isso ele só pode ser gay. A relação feita ai, neste trecho de algumas palavras, é de que Homem de verdade, com H maiúsculo mesmo, é aquele que não dispensa nenhuma rabo-de-saia. É o mesmo que vai exigir que meninos e homens não sejam fiéis a suas namoradas e esposas, porque homem de verdade não pode negar fogo. Morrison, este genial escritor (eu considero de verdade), infelizmente, também não tem culpa do que fala. Pai, perdoa, ele não sabe o que diz. Afinal ele só está repetindo um conceito que, em nossa sociedade ocidental, é extremamente integrado.
Por que me dei ao trabalho de apontar que Morrison está sendo homofóbico? Porque é este combate que evita que tanto homossexuais sejam atingidos, como no caso de Morrison agora, em que os heterossexuais estão sendo. A homofobia também atinge homens heterossexuais, não necessariamente quando eles são confundidos com gays, mas quando, como no caso de Morrison, eles são colocados contra a parede para representarem um papel de macho sob pena de, ao não participarem e reforçarem o modelo de homem, serem excluídos e marginalizados dentro do sistema e chamados de viadinhos. No mundo adulto, este problema pode ser resolvido com a elegância de Hugh Jackman, que afirmou que não negaria que é gay porque para ele não tem nada de mal em ser gay (lembrando que Jackman era um ator de teatro musical antes de se tornar o Wolverine no cinema, não é a toa o fato de cogitarem sua homossexualidade), mas se pensarmos no mundo infatil ou juvenil, seria fácil imaginar agora Morrison gritando para o Batman, na escola, viadinho, viadinho, viadinho!