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terça-feira, 24 de abril de 2012

Índia: A Menina Criada Como Menino




Outro personagem importante do poema épico, Mahabharata, é Shikhandi. Ela nasceu mulher, Shikhandini, mas foi criada como um menino, pois seu pai, o rei Drupada, o rei de Panchala, pedira a deus Mahadeva para dar-lhe um filho, ao qual o deus respondeu: ".. Terás uma criança que vai ser uma fêmea e, não macho. Desiste, ó rei, não vai ser diferente". Ela fora em uma vida passada uma mulher chamada Amba, princesa do reino Kashi. Amba fora tomada pelo rei Bhishma quando ele tomou o reino do seu pai e foi disponibilizada para casar-se com o irmão mais novo dele, no entanto, ela argumentou que estava apaixonada pelo príncipe Salya e que, por isso, não podia casar-se com outro. Salya havia lutado em defesa de Amba e o reino do pai dela, porém fora derrotado. Contudo Bhishma viu força na argumentação da princesa. Ele disse: "Você deveria ter deixado isso claro quando eu te sequestrei! No entanto, isso não importa. Vou tomar providências para que você seja escoltada para o reino de Salya. Vou, inclusive, dar-te um dote como eu faria a uma irmã minha. Não tenha medo, você será capaz de se casar com seu amado". 
Amba então foi levada ao reino de Salya, contudo, ao encontrar o príncipe este recusou-se casar-se com ela, porque como havia sido derrotado por Bhishma, não se considerava digno da esposa, e achava que o rei tinha direitos sobre a princesa. Ele disse: "Ó, princesa, Bhishma, o ilustre filho de Shantanu, ganhou de mim em combate justo. Ele me derrotou na presença dos meus colegas. Após esta vergonha, não posso me casar com você. Volta para Bhishma e pede-lhe uma solução para este impasse". Ela acabou sendo levada de volta ao palácio de Bhishma, com o coração partido. Amba ao encontrar o rei, o acusou e disse-lhe que para evitar o mau carma ele deveria reparar-lhe o mal que havia lhe feito casando-se com ela. Bhishma, no entanto, recusou-se. Ela então, desesperada, acabou com a própria vida, implorando aos deuses por vingança. 
Ela então renasceu como Shikhandi. Criada como menino, treinado nas artes da guerra,. Com quinze anos, na época de casar-se, a sua noiva "logo veio a saber que [Sikhandi] era uma mulher como ela, recusando-lhe". Fugindo do pai, enfurecida por causa da sua noiva, Sikhandi se exilou na floresta, onde encontrou um Yaksha (espírito da natureza) masculino, Gandharva, e eles concordam em trocar de corpos. Agora, em um corpo masculino, Sikhandi prova para o sogro que ele é verdadeiramente masculino, quando este enviou "uma série de jovens de grande beleza" para testá-lo. Elas então informam que ele é "uma pessoa poderosa do sexo masculino", e Sikhandi torna-se um guerreiro habilidoso e famoso, desempenham um papel crucial na guerra que seu pai move contra o reino de Bhishma. Quando ele trocou de corpo, Gandharva costumava usar uma guirlanda em torno do pescoço, e havia sido profetizado que Bhishma seria assassinado por alguém que usasse uma guirlanda de flores no pescoço. Durante a guerra, Shikandi e Bhishma se reencontraram e durante uma batalha épica, o rei foi morto, porém, antes de morrer, reconhecer nos olhos de Shikhandi que ele era a reencarnação de Amba.
A intenção do conto de Shikhandi é falar sobre o conceito de reencarnação, no entanto, ele deixa escapar que Shikhandini, aquela que ela ainda é mulher, tenta casar-se com a princesa que a recusa. Ou seja, ela sente atração pela noiva. 


21 comentários:

  1. Viajo nesses posts... maGavilha!
    E mostrar a cara, mostrar a bunda... importante é saber quando chega a hora - e a gente se sente pronto - pra se mostrar, nzé?! Hugzito!

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  2. ADOROOOOOO esses relatos q vc sempre posta. =)

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    1. agradeço os comentários dos quatro, de verdade.

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  4. Essa forma de pensar, esse discurso, sempre soa estranho, ao menos para mim. Eu penso que nós, ocidentais, somos tão enraizados em uma tradição racional que muito das culturas orientais nos escapa. Uma coisa, porém, me parece muito importante: o sentido ético, penso, não aceita diferenciações culturais. O que você acha disso?

    Abração... ótimo texto, como sempre!

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    1. na verdade, Lucas, eu discordaria de você. Os ocidentais não são enraizados em uma tradição racional, como vc diz, nós somos enraizados numa tradição iluminista QUE SE DIZ racional. ela construiu parâmetros que ela mesma definiu que eram racionais. eu, sinceramente, desconfio dessa racionalidade toda. a matemática e a ciência, por exemplo, requerem a mesma fé cega que a religião para funcionarem como discursos de verdade, porém quando se tem fé cega pela ciência vc é racional, e qndo se tem fé cega pela religião não. entende?
      outro ponto, o sentido ético SÓ aceita diferenciações culturais. a ética ateniense do século V a.C., por exemplo, permitia que vc maltratasse sua esposa enquanto podia ter casos sexuais com meninos de 13 anos de idade, hoje, em nossa cultura qualquer uma dessas opções são completamente anti-éticas. nossa moral e nossa ética são frutos única e exclusivamente do tempo em que vivemos e da cultura que participamos. Outro exemplo mais claro, até a década de 50 do século XX seria extremamente ético um homem de 45 anos casar com uma menina de 14 anos, seria ético e moralmente aceitável, hoje não é mais. entende?

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    2. Em relação à primeira parte você tá certo, sim. Faltou eu explicitar esse viés iluminista do que consideramos racional. Você está coberto de "razão" (rs). Quanto à segunda parte, eu falo de Ética (com "E" maiúsculo) e essa independe das diferenciações culturais. Mas isso é uma longa discussão que não cabe aqui.

      Parabéns pela sua inteligência e sentido de análise!

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    3. Lucas, o problema é que Ética, com E maiúsculo, pelo menos para mim que sou historiador não tem como existir. para a História toda a humanidade é um constructo histórico, não existe nada natural, ou que exista fora da História. falando em termos filosóficos, só existe o ser no tempo.

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    4. rsrs... eu entendo a sua visão de historiador, entendo mesmo! Qualquer dia podemos discutir sobre a perspectiva filosófica do conceito. Sem querer ser pretensioso, um livro que trata bem sobre esse conceito a que me refiro é o "Eu e Tu" do Martin Buber.

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  5. Legal... Gosto dessas histórias. Mas nenhuma das que eu tinha escutado fazia alusão a atração de uma mulher pela outra. Interessante. O mais interessante é que dá a entender que isso é uma coisa natural, tanto que nem tem tanta relevância assim na história, é algo que tem que ser pescado.

    Maneiro! :D

    Um abraço, Foxx... até

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    1. como a maior parte das histórias da antiguidade são registradas por homens, Júlio, é muito raro termos alguma história que trate da intimidade feminina, infelizmente.

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  6. Nem deve ser intolerância a lactose, primo. Eu como bastante queijo branco e tomo sempre iogurte desnatado, e nem dá nada.

    Beijo!

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  7. Desde o início do post fiquei colocando todo o conceito no nosso mundo atual (troca de sexo e etc), quando apareceu a vingança pensei que não haveria nenhuma relação com a sexualidade.

    Mas enfim, ela sentia atração pela noiva, e isso é bastante claro mas, acredito que o não se trata isoladamente de reencarnação ou sexualidade, sim, um misto de amor, ódio, vingança, sexualidade e reencarnação.

    Ps. Reencarnação é um assunto que me assusta, confesso.

    um beijo!

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  8. É épico, mas bem que daria um folhetim atual.

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  9. Em todo o texto pensei na questão do casamento como detalhe e fiquei focado exatamente na questão da encarnação, que surpresa tive quando vc puxou a fato da sexualidade.

    Fiquei pensando depois foi na questão de criação, educação interfere na sexualidade? Seria, não exatamente uma escolha, mas também não uma questão de genética (gay nasce gay). Seria a educação|criação fator importante para a "formação" de um gay?

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    1. boa pergunta, Otávio, eu acho q sim. nós também somos educados para ser gay. ou pelo menos, somos educados para saber como vamos viver essa parte de nossa sexualidade, pessoas que não se assumem, homofóbicos, ou pessoas bem resolvidas, ou gente que é gay mas não gosta de demonstrar isso, kda um é um tipo de pessoa q foi educada de uma forma diferente para viver sua própria sexualidade. não é?

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  10. Meu Raposão... rico, bem sucedido e tal é o homem que conquista amigos com a mnete aberta e a visão de mundo que tu tens... Grato pela tua presença, tua companhia e tua compreensão no TPM e na minha vida! Huzgão!

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  11. Eu também achei super bacana a sexualidade dela ser um detalhe com pouco destaque nesta estória. Sinal de que era algo natural para essa cultura, não? Beijos!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway