Tenho sido muito injusto ultimamente! Tenho sido muito injusto comigo. Reclamo e sofro tanto por estar sozinho. Procuro em todo lugar uma saída para esta situação como se tudo isso fosse minha responsabilidade. Como se eu fosse o causador desta solidão intensa que me encontro. Como se eu a houvesse escolhido. E, repito, injustamente me acuso, me ataco, me culpo. Acho que é por isso que sofro tanto. Acho que é por isso que essa dor me é tão querida, porque eu me castigo com ela. E, no fim, apesar de racionalmente eu saber que não sou culpado de nada, nas brumas do meu subconsciente, eu me responsabilizo por ter atraído essa solidão para mim.
Egoisticamente (se essa palavra existe) eu queria ser o responsável por minha vida, mas não sou. Na verdade, sou totalmente incapaz de gerenciar sozinho minha própria vida. Todos nós somos. Essa ilusão de independência, esse castelo de cartas de autonomia, essa miragem de isolamento, nós dependemos o tempo todo de outras pessoas, direta e indiretamente. Do motorista de ônibus que não atrasou o trânsito e você conseguiu chegar mais cedo em casa, ao seu irmão que emprestou parte do dinheiro para comprar seu primeiro apartamento. Nós dependemos de pequenos gestos dos outros, sempre. Mas eu, egocêntrico como minha estrela anuncia, achava que o único culpado, implicado, fiador, responsável, só poderia ser eu. Tolices de um orgulhoso leonino.
Todavia, eu não sou o culpado de nada. São os outros. Estes seres estranhos que não desejam a minha companhia. Os outros são os únicos responsáveis por não estarem na minha vida. Escolha deles. Somente deles. E, neste caso, meu sofrimento então não viria da minha solidão, mas o que realmente doeria seria o orgulho ferido de não conseguir controlar algo que considero tão importante para minha própria vida. Porque é sim importante, pelo menos para mim. Sofro porque não tenho controle algum e me culpo, me torturando, para conseguir acreditar que eu tenho algum controle sobre isso. Perco meu tempo na terapia tentando parar de sofrer só para construir uma nova ilusão de controle. Porque eu iria poder controlar minha dor, tomar as rédeas deste carro desgovernado acreditando que se eu puxá-las com força os cavalos hão de parar. Mas eles não vão.
Essas pessoas que nunca se interessarão por mim (porque de fato nenhum homem é capaz disso) sempre existirão. Essa dor, portanto, sempre existirá. Essa porrada sempre vai me derrubar, só me resta, sem culpar a mim mesmo, sorrir e me levantar. Claro, talvez, dê para evitar os golpes - evitando ao máximo me envolver com alguém, por exemplo -, mas de vez em quando talvez eu não consiga evitar. Sendo assim, qual o novo caminho? Acredito que agora eu devo tentar encarar tudo com um sorriso irônico, como se tudo não passasse de uma comédia romântica dirigida pelo Zé do Caixão. Uma comédia mórbida com um senso de humor negro, mas no fundo tudo não deve passar de uma grande piada. Só me restou esta opção, então, está na hora de adotar o cinismo.