Google+ Estórias Do Mundo: Nancy Spungen

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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Nancy Spungen

Foi numa quinta-feira a noite, no Imperial, que reencontrei meu amigo baterista. Um dos poucos amigos heterossexuais que possuo. Ele estava em turnê com sua banda pelo sudeste, e me ligou quando pisou em Belo Horizonte horas antes. "Pois é, cheguei, vamos tocar no Velvet (acho que é esse o nome), vamos terminar de passar o som lá pelas 19h e já devo ficar por lá mesmo". Combinamos então de nos encontrarmos no Imperial, um bar defronte ao clube indie rock em que ele tocaria naquela noite. Cheguei as 20h, horário em que marcamos, e sentamos, junto com a banda, e colocamos o papo em dia. Trabalho, a banda, amigos em comum do período de faculdade, nossos antigos professores, notícias, filhos, do divórcio dele e do segundo casamento. Foi quando, em uma conversa sobre menáge a trois, a suprema fantasia sexual dele, a guitarrista da banda, lésbica, comentou que não sente a menor falta de pau. "Pois eu sinto, e muito", eu disse. Meu amigo gargalhou alto do meu lado. "Demorei anos p'ra ouvir essas palavras, mas valeu a pena". Ela não entendeu, e ele contou quem eu era quando nos conhecemos. "O Foxx (adoro a sonoridade deste nick), quando nos conhecemos, não se aceitava. Ele fingia p'ra todo mundo ainda". Ela me olhava incrédula. "Ele tem esse jeito low profile, nunca foi uma bicha escandalosa, mas sempre deu p'ra perceber que ele era gay, mas ele não aceitava isso". Ela continuava chocada, e eu me lembrava de um passado muito distante, como quem escuta a estória da vida de outra pessoa. "O problema sempre foi", disse eu, "que eu nunca me via como as pessoas me enxergavam, eu não conseguia entender porque ser gay estava tão estampado no meu rosto, se na minha cabeça eu não via nenhuma diferença entre meus comportamentos e dos outros meninos... mas havia... quando notei isso, e aceitei, minha vida ficou muito mais fácil". Continuamos a beber as Heinekens que os belos garçons do Imperial nos traziam. Falamos do meu blog e do twitter, que ele ainda não conhecia. Falamos da minha experiência em Belo Horizonte, dos planos e decepções que tive por aqui, minha tese, minha falta de namorados. "Sério que você ainda está nessa?", surpreendeu-se ele, "Cara, a gente se conhece desde 2000, e você ainda não encontrou ninguém?". Argumentei que se ninguém quer estar comigo, não posso obrigá-los e ele tentou me empurrar a baboseira de que se você acredita nisso, realmente acontece, e eu mandei ele parar de ler O Segredo. Coisas que só amizades de anos permitem mesmo. Falamos sobre meu retorno a Natal, ideia que ele não gostou. "Aquela cidade nunca serviu p'ra você", disse. Falei que se fosse tentar em outra cidade, seria o Rio de Janeiro, se eu pudesse ter escolha. Por causa dos amigos que fiz lá, eu pensava no Bruno, obviamente. "Sei, eu te conheço, rapá. Conte logo essa estória direito", disse carregando no sotaque natalense, que ele, paulista, nunca teve. "Ok, tem um menino, mas ele tem namorado...". Ele gargalhou alto. "Você vai lá roubar o cara do namorado dele, seu sem-vergonha?". Rimos juntos. Ele falou que acabara de chegar do Rio onde encontrou meu irmão mais novo que havia ido ao Rock In Rio. Falamos sobre nossas famílias, meus irmãos, os dele. Mais notícias, sempre boas notícias. Até que chegou a hora do show, entrei com a banda e vi os vi tocar de perto do palco. Rock de verdade faz um bem danado. Foi impossível não lembrar de todas as outras apresentações que eu assisti dele, de como, naquela época, eu sempre estava isolado porque eu não me aceitava e temia que qualquer um descobrisse que eu era gay. Ali, no entanto, era diferente, se eu ficasse com alguns dos presentes seria normal. Principalmente, seria normal para mim. No entanto, me concentrei no show, e observei ele suar muito na bateria até terminar, de pé, batendo forte nos pratos feitos por encomenda, até rachar as baquetas para delírio dos presentes naquele clube pequeno e escuro. Foi quando ele desceu, findo a apresentação, suado e me entregou as baquetas. "P'ra você!". E, sério, nunca me senti tão Nancy Spungen como naquele momento. Pelo menos o máximo do que eu poderia ser a Nancy dele.

23 comentários:

  1. Muito boa a narrativa... Gostei mesmo.

    Só não gosto dessa sua mania de reduzir o que as pessoas falam sobre autocondicionamento (aquele lance de profecia auto realizável), pretendendo reduzi-las ao mesmo nível do exoterismo do livro "O Segredo"...

    No mais, é sempre bacana esse encontro com o passado em que a gente percebe os passos que demos na direção de um crescimento pessoal, não é??

    Abraços!!

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  2. aahhhh q fofo...

    Q pena que nem todos os heteros são como deles, dia desses um amigo q n via há anos ao me ouvir falar que era gay me abraçou, disse que me amava, deu um beijo no meu rosto e disse que isso não mudava em nada o carinho absurdo que sentia por mim... Até postei isso...

    Bahhh;;; Tem preço????
    Tem nada....

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  3. amigos de verdade são pra sempre. E esse ai parece ser seu amigo de verdade!
    cultive-o!

    bjo Foxxinho! bom fds!

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  4. Nem sei quem ser essa Nancy. Mas que eu queria que pelo menos um dos meus amigos heteros fossem nesse naipe, ah queria.

    Beijos!

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  5. eu continuo me sentindo isolado. lendo esse texto achei estranho porque no fundo eu não mudei nada.

    as eu gosto de ler esses seus textos da noite de bh. me faz reviver as coisas.

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  6. Como é bom ser apreciado, ter amigos de verdade que participam da nossa vida, conhecem passagens importantes da nossa história.

    Se um desses amigos ainda nos presenteia com baquetas rachadas, então, como demonstração de carinho, é pra ganhar a noite!

    ;)

    Um beijo, moço.

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  7. Acho estranho essa história de amigo gay e amigo hétero.Amigos sao amigos.Meus amigos me tratam normalmente.Falamos besteiras como qq pessoa.Ah,nessas horas,nao sinto falta nenhuma do Brasil.
    Beijos.

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  8. nunca ganhei baquetas, bom também não tenho amigos héteros ehehehehe
    bjo bom final de semana

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  9. Há certos momentos com amigos que não tem preço.
    Bacana esse respeito e admiração que ele tem por ti...
    Quanto a tua solteirisse, relaxa que as coisas acontecerão quando tu menos esperar...
    Forte abraço!

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  10. Foi uma das noites que eu digo que valem a pena, não importa onde seja. Reencontrar amigos é sempre muito bom, melhor que isso, são momentos únicos e percebemos que amizades realmente são para sempre, quando verdadeiras. Adorei ler sua narrativa!

    Beijo querido!

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  11. Que texto gostoso de ler. Parabéns!
    ;-)

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  12. ...eu não conseguia entender porque ser gay estava tão estampado no meu rosto, se na minha cabeça eu não via nenhuma diferença entre meus comportamentos e dos outros meninos... mas havia... quando notei isso, e aceitei, minha vida ficou muito mais fácil...

    resumiu a minha vida em poucas linhas.

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  13. Amigos assim são mesmo muito raros na vida de qualquer um. Gente que te aceita como vc é, de verdade, e não apenas por ser politicamente correto hoje em dia... Não sei se posso dizer que tenho um amigo assim.

    O texto, gostoso. Reflexivo. O Segredo? Desconheço, o livro e o segredo pra mudar. Toda tentativa parecerá mesmo autoajuda.

    Gostei muito disso: "...eu não conseguia entender porque ser gay estava tão estampado no meu rosto... "
    A diferença é que eu, ao contrário, sempre me senti direrente dos demais...

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  14. Pra quem como eu - já foi "maria baqueta" - é necessário que se ressalte o "suado" do final do tetxo. Faz TODA a diferença! Hahahahahahaha!!! Hugz, Foxxito!

    E ps: Tiramisu eu gosto, visse?!? Hahahahaha!

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  15. Foxx, que delícia de texto e já até tava te imaginando entre Cervejas & Cigarros numa conversa sobre tudo e todos. E o final com a baqueta foi tudo, hein? Very Rock'n'roll, Mas que não termine como a verdadeira Nancy. rs

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  16. Você recebe as baquetas no fim do show e, mesmo assim, não acredita em "O Segredo"?

    Belíssimo texto.

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  17. Sabe eu só me atento ao que " não presta " .. por um momento pensei ele vai contar como foi o menáge a trois... pois bem coloquei a carroça na frente dos bois .. e terminei chupando baquetas .....

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  18. tenho vários amigos e amigas héteros assim ... acho q a vida me privilegiou ... #fato

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  19. Adorei o texto, Foxx, e o papo de vocês, guardadas as devidas proporções, me fez lembrar do ocorrido comigo conforme narrei na minha última postagem.
    Bjaum, Nancy (rs).

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  20. Não tem como não gostar de te ler... Isso é ótimo em verdadeiras amizades: a distância apenas as coloca em stand by... reencontros trazem à tona os sentimentos e histórias e risos de antes. Muito bom ter amigos verdadeiros. Gay, hétero, bi ou o que quer que seja.

    Xêro!

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  21. Acho que não restou pra mim nenhum amigo hetero... rs
    Ainda mais desse jeito! rs

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway