"É quando seus amigos te surpreendem, deixando a vida de repente". Somente nessas horas o tom da voz do Nazi me agrada aos ouvidos. Só nessas horas em que eu espero que a qualquer momento vou ver Raphael de novo. Porque eu estou aqui neste ônibus indo para o velório dele achando que isso tudo é uma piada de mal gosto. Sinceramente eu acho que quando chegar no centro de velório, vou encontrar Raphael bebendo em um bar na frente, e ele vai virar para mim, sorrir - porque essa era a marca de Raphael: um sorriso contagiante - e dizer: "Só assim para eu conseguir te encontrar, não é?".
Mas quando eu chego no primeiro degrau da Funerária São Francisco, e vejo o nome dele, e coroa de flores, o marido sentado enfraquecido numa cadeira, um caixão cheio de flores e a mãe debruçada sobre o mesmo, entre lágrimas, entre desesperos. Cláudio, o marido de Raphael há três anos, olha para o vazio quando eu e C&A entramos naquela sala quente e abafada, ele aperta nossa mão e tenta esboçar um sorriso de agradecimento que dispensamos, um abraço, um novo agradecimento. Mais coroas de flores, familiares e amigos, eternas saudades. E eu me aproximo.
"Eu não queria vê-lo desse jeito", me diz C&A, por trás de mim, e só quando eu vejo as mãos deles descansando pálidas e os lábios roxos, finalmente eu entendo. Lembro de Cláudio me ligando na noite anterior. Quando o celular brilhou com o nome de Raphael, atendi animado, mais uma resenha para começar, como ele gostava de falar. "Foxx, você está em Natal ainda? Ou já retornou a BH?". Estranhei. "É que Raphael faleceu hoje, às 17h". Eu fiquei paralisado! "O corpo dele está sendo velado, se você puder vir amanhã, porque uma hora dessas não dá mais para você vir né?", confirmei monossilabicamente. Ele agradeceu. Sem me explicar nada. "Raphael faleceu!".
Corri para o telefone, liguei para Peter. "Como é que é? Raphael, meu ex?". Contei a C&A e Michel pelo MSN. Conversando, uma enxurrada de imagens de Birita, de Priquitu, de Raphinha, de Rapha, vieram a mim. Conhecemo-nos no UOL, onde ele era apenas uma barriga perfeita; depois nos conhecemos na universidade e passei a ser a pessoa a quem ele contava suas peripécias sexuais com meninos héteros em shows de forró e de axé, viagens malucas para outras cidades apenas para conhecer o teto de quartos de hóteis, e crises surreais de ciúmes do seu ficante habitual, hétero. Ele era o menino que nos fazia rir nas casas de praia, na primeira que organizamos, em Santa Rita, na época eu namorava uma menina que era dançarina de uma banda de forró, naquele dia ela havia trazido parte do figurino junto com ela, logo, Raphael pegou um vestido, botas pretas até as coxas e subiu na mesa, e fez seu showzinho; uma outra, em Pirangi, gravamos uma pornochanchada na qual ele encarnou uma diva húngara que era estuprada por invasores, o melhor era ele falando húngaro em todo o filme. Era de esperar que tudo aquilo fosse uma piada.
Mas não era, Raphael estava ali. Inerte. E por um segundo o mundo sobre meus pés moveu-se mais rápido do que o normal, e tonto, me desequilibrei. C&A me puxou para uma cadeira. Sentamos, e em silêncio ficamos lá tentando assimilar aquela realidade. Ouvíamos conversas sobre ele. "Pneumonia, oito vezes entubado, internado desde quinta, respirando por aparelhos desde sexta, ontem de manhã ele estava bem, Cláudio ligou para mim já em prantos".
Nestes três anos de casamento Raphael mudou. Eles se conheceram na praia e Raphael me ligou dizendo que tinha conhecido um cara incrível nas areias de Ponta Negra. Dias depois eu fui apresentado a ele, baladas e raves juntos, barzinhos e conversas bobas e sorrisos, muitos sorrisos. Raphael Birita se transformava em "amando, casado e feliz". Um ano depois eles iam morar juntos. Um ano depois a família dele descobriu que ele não estava dividindo apartamento com um amigo, e após o drama inicial, agora Cláudio era quem segurava a mão da mãe dele do lado do esquife, era a Cláudio que as pessoas davam as condolências na saída. Mesmo que eu falasse a lingua dos homens e dos anjos, sem amor, eu nada seria, já dizia Paulo , num arroubo de romantismo, em uma das suas cartas aos coríntios.
Lágrimas rolavam silenciosas, pessoas saíam para respirar, C&A mantinha sua cabeça abaixada e seus olhos vidrados. "Vocês estudaram com ele?", me perguntou a irmã de Raphael. Expliquei quem éramos e ela me olhou sem choque, sem surpresa. "É que essa parte da vida dele sempre foi tão secreta, a gente não conhecia nenhum dos amigos gays dele". E ela agradeceu nossa presença, e novas lágrimas brotaram dos olhos castanhos dela, porém do lugar que eu estava o rio Jundiaí corria calmo. "E não se quer acreditar".
Mas quando eu chego no primeiro degrau da Funerária São Francisco, e vejo o nome dele, e coroa de flores, o marido sentado enfraquecido numa cadeira, um caixão cheio de flores e a mãe debruçada sobre o mesmo, entre lágrimas, entre desesperos. Cláudio, o marido de Raphael há três anos, olha para o vazio quando eu e C&A entramos naquela sala quente e abafada, ele aperta nossa mão e tenta esboçar um sorriso de agradecimento que dispensamos, um abraço, um novo agradecimento. Mais coroas de flores, familiares e amigos, eternas saudades. E eu me aproximo.
"Eu não queria vê-lo desse jeito", me diz C&A, por trás de mim, e só quando eu vejo as mãos deles descansando pálidas e os lábios roxos, finalmente eu entendo. Lembro de Cláudio me ligando na noite anterior. Quando o celular brilhou com o nome de Raphael, atendi animado, mais uma resenha para começar, como ele gostava de falar. "Foxx, você está em Natal ainda? Ou já retornou a BH?". Estranhei. "É que Raphael faleceu hoje, às 17h". Eu fiquei paralisado! "O corpo dele está sendo velado, se você puder vir amanhã, porque uma hora dessas não dá mais para você vir né?", confirmei monossilabicamente. Ele agradeceu. Sem me explicar nada. "Raphael faleceu!".
Corri para o telefone, liguei para Peter. "Como é que é? Raphael, meu ex?". Contei a C&A e Michel pelo MSN. Conversando, uma enxurrada de imagens de Birita, de Priquitu, de Raphinha, de Rapha, vieram a mim. Conhecemo-nos no UOL, onde ele era apenas uma barriga perfeita; depois nos conhecemos na universidade e passei a ser a pessoa a quem ele contava suas peripécias sexuais com meninos héteros em shows de forró e de axé, viagens malucas para outras cidades apenas para conhecer o teto de quartos de hóteis, e crises surreais de ciúmes do seu ficante habitual, hétero. Ele era o menino que nos fazia rir nas casas de praia, na primeira que organizamos, em Santa Rita, na época eu namorava uma menina que era dançarina de uma banda de forró, naquele dia ela havia trazido parte do figurino junto com ela, logo, Raphael pegou um vestido, botas pretas até as coxas e subiu na mesa, e fez seu showzinho; uma outra, em Pirangi, gravamos uma pornochanchada na qual ele encarnou uma diva húngara que era estuprada por invasores, o melhor era ele falando húngaro em todo o filme. Era de esperar que tudo aquilo fosse uma piada.
Mas não era, Raphael estava ali. Inerte. E por um segundo o mundo sobre meus pés moveu-se mais rápido do que o normal, e tonto, me desequilibrei. C&A me puxou para uma cadeira. Sentamos, e em silêncio ficamos lá tentando assimilar aquela realidade. Ouvíamos conversas sobre ele. "Pneumonia, oito vezes entubado, internado desde quinta, respirando por aparelhos desde sexta, ontem de manhã ele estava bem, Cláudio ligou para mim já em prantos".
Nestes três anos de casamento Raphael mudou. Eles se conheceram na praia e Raphael me ligou dizendo que tinha conhecido um cara incrível nas areias de Ponta Negra. Dias depois eu fui apresentado a ele, baladas e raves juntos, barzinhos e conversas bobas e sorrisos, muitos sorrisos. Raphael Birita se transformava em "amando, casado e feliz". Um ano depois eles iam morar juntos. Um ano depois a família dele descobriu que ele não estava dividindo apartamento com um amigo, e após o drama inicial, agora Cláudio era quem segurava a mão da mãe dele do lado do esquife, era a Cláudio que as pessoas davam as condolências na saída. Mesmo que eu falasse a lingua dos homens e dos anjos, sem amor, eu nada seria, já dizia Paulo , num arroubo de romantismo, em uma das suas cartas aos coríntios.
Lágrimas rolavam silenciosas, pessoas saíam para respirar, C&A mantinha sua cabeça abaixada e seus olhos vidrados. "Vocês estudaram com ele?", me perguntou a irmã de Raphael. Expliquei quem éramos e ela me olhou sem choque, sem surpresa. "É que essa parte da vida dele sempre foi tão secreta, a gente não conhecia nenhum dos amigos gays dele". E ela agradeceu nossa presença, e novas lágrimas brotaram dos olhos castanhos dela, porém do lugar que eu estava o rio Jundiaí corria calmo. "E não se quer acreditar".
Adeus, Rapha.
Como eu disse Deus sabe o que faz, eu sei que é complicado entender certas coisas na vida mas nós acabamos entendendo, =/
ResponderExcluirA maneira que voce escreve é muito verdadeira, com uma riqueza de detalhes tremenda fiquei triste de verdade pelo teu amigo. Nessas horas eu nao sei bem o que dizer mas só o tempo pra poder ajudar a superar a dor da perda de alguem tao querido;
Fica bem viu?!
;)
"É tão estranho, os bons morrem antes..."
ResponderExcluirVocê sabe que não é fácil me deixar sem palavras... mas você conseguiu, é um misto de sentimentos forte gigantesco... a tristeza pela perda de alguém querido e a cena de ver o marido dele segurando a mão da mãe dele... é algo indescritivel, é triste falar... mas existem coisas que somente a morte é capaz de fazer... não sei se esse seria o caso, mas você sabe que é verdade...
ResponderExcluire os bons sempre morrem cedo... já diria Renato Russo...
meus sentimentos...
Sinceramente sem palavras. É triste perder uma pessoa querida e somente o luto e o tempo podem transformar essa dor em saudade.
ResponderExcluirforça.
Nunca se tem o que dizer nessas horas. É muito triste. É lamentável.
ResponderExcluirPo kra, que barra!
ResponderExcluirNunca perdi ninguém assim, jovem, próximo...
Só posso imaginar o que vc está passando.
Que ele vá em paz, e que fiquem bem você e a família dele!
abs
Também perdi um grande amigo recentemente, em setembro, em razão de uma pneumonia (decorrência de leucemia). O mais trágico é que, na semana em que ele conseguiu o doador de medula e teve a cirurgia autorizada, contraiu a pneumonia e faleceu em poucas horas. O choque e a dor são incomensuráveis.
ResponderExcluirMinhas condolências
Thiago
Sem palavras...
ResponderExcluirNunca perdi alguém realmente próximo, não conheço essa dor.
Mas me compadeço com a sua tristeza.
Muito triste...
ResponderExcluirO bom que ficou somente as lembranças boas...
Deixo aqui meus sentimentos.
ResponderExcluirSei como é ruim perder alguém querido, é um banque enorme, nos deixa um vazio as vezes.
E essa peças a vida sempre irá nos pregar e sinta-se a vonade de se caso precisar, só me chamar.
Não sou o melhor com as palavras nessas horas, mas é nestes momentos que podemos agredercer ao silencio e rezar para sempre o melhor de todos, tenham eles partido ou não.
Beijos!
É sempre uma lástima
ResponderExcluirFicam as boas lembranças e a certeza de que ele mudou algo em você pra sempre...
Amigo.
ResponderExcluirNão sei o que dizer. Na verdade nessas horas nem tem muito a ser dito.
Desejo a vc força pra enfrentar esse momento.
(não fiquem com raiva, estou começando minha luta) foi uma piadinha pros evangelicos que irão visitar o meu blog, tipo falar essas coisas que admiro um homem ou o Senhor, essa duvida...
ResponderExcluirMinhas condolências, FOXX.
ResponderExcluirNossa. Já passei por isso. Força...
ResponderExcluirIncrível como nessas horas sempre ouço claramente a voz de Renato Russo cantando:
ResponderExcluir'É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando eu me lembro de vc...
Que acabou indo embora... Cedo demais...'
Amigo, força!
E força pra familia dele.
Triste, muito triste!
Hahahaha lembro sim! Mas até mesmo um clarim pode estar desafinado de vez em quando... mas to me afinando, to me afinando! =P
ResponderExcluirQue barra amigo... só agora li a tua postagem...
ResponderExcluirQuando uma pessoa querida assim parte, parece tudo meio irreal mesmo...
Força ae lindão! Qualquer coisa estou aqui.
nunca estamos preparados para lidar com esse tipo de sentimento
ResponderExcluiré a surpresa e dizer qualquer coisa além de abraçar é pura hipocrisia católica
bjo
Nessas horas, não há palavras para ajudar, apenas o tempo alivia a dor.
ResponderExcluirEspero que você esteja bem!
.................
ResponderExcluirsó o tempo diminuirá essa dor!!!
espero q vc fique bem......
Meus pêsames, amigo. Fique bem, viu.
ResponderExcluirPasse depois no VC, lá tem um negocinho pra você (faz uns dois ou três dias).
Bom, nossa, como começar... estou todo arrepiado...
ResponderExcluirIa comentar sobre o post do dia 29 mas depois que li esse, perdeu a graça...
Graças a Deus, e isso agradeço todos os dias, nunca perdi um amigo. Não tenho noção do que é essa dor. Cada vez que leio o poema de Vinícius penso que aquilo nunca vai acontecer comigo...
Não pode acontecer! Não vai!
A morte é uma situação que nunca nos adaptamos. Faltam palavras. Mas acredito que pessoas especiais, não tem mais provações, fardos ou lições a aprenderem e são requisitadas mais cedo por Deus. Muita força para você. Abraço.
ResponderExcluirQualquer coisa a se dizer nesse momento se torna vago e sem valor. Afinal, cada um sente de uma forma diferente. Espero que as coisas boas que ficaram do Raphael, permanecem para sempre na memória de todos aqueles que o conheceram.
ResponderExcluirPutz, é complicado perder alguem. Alias o grande mal de ficar velho é começar a ter as perdas da vida.
ResponderExcluirMas pelo seu relato ele era uma pessoa alegre, com certeza vai alegrar a outros nesta nova fase da vida dele.
E que fiquem as boas lembranças.
Putz, é complicado perder alguem. Alias o grande mal de ficar velho é começar a ter as perdas da vida.
ResponderExcluirMas pelo seu relato ele era uma pessoa alegre, com certeza vai alegrar a outros nesta nova fase da vida dele.
E que fiquem as boas lembranças.
Foxx, eu realmente sinto muito por essa perda. Ele parecia ser realmente um grande amigo.
ResponderExcluirMeus pezames
PS: Sei que não corro muitos riscos falando isso aqui: Meu nome também é Raphael!
..sinto muito...
ResponderExcluir...força ai....
...abraço
Lamento muito.
ResponderExcluirDe verdade.
Abraços!
Sinto muito... Um forte abraço!
ResponderExcluirResp: "maricona cansada?";uma bicha que já passou da 3 idade.
ResponderExcluirExplicado?!
Querido, tem um selo para você lá no blog... sim, eu te indiquei.
ResponderExcluirque triste...
ResponderExcluirNesse momento eu so quero pedir duas coisas: 1- que ele esteja num bom lugar. 2- muita força aos amigos e familiares.
Um abração, fique bem.
Oi, querido!!
ResponderExcluirTenho uma indicação dupla pra ti lá no meu blog... Aparece por lá pra conferir!!
Assim que der, volto pra ler as novidades!!!
Bjs!!!
Fico priste por ler isso. Melhoras!
ResponderExcluir---------------------------
Deixei uma homenagem para o teu blog te entregando um prêmio no meu blog. Espero que você possa ver em breve e passar adinate as homenagens.
abração
É um clichê, mas, realmente, não há o que dizer nessas horas... Como disseram, ele estará alegrando outros em algum lugar que vai além da nossa pequena compreensão...
ResponderExcluirUm grande abraço...
Barra.
ResponderExcluirDeus chama os seus bem pra perto pra ajudá-lo na tarefa de cuidar daqueles que estão por aqui ainda, olhando nossos caminhos e nossos destinos...
saudades de vc...
ResponderExcluirwe want news... thanks...
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