(Uma explicação rápida: estou começando um novo romance histórico,
acompanhem conforme vou escrevendo os capítulos por aqui,
espero que gostem!)
Esta
é Natal, a cidade dos reis, capital da província do Rio Grande,
terra quente e arenosa, cercada por dunas de areia fina e branca, que
dificultam o caminhar, e árvores baixas de capoeira, ótima para a
macaxeira e os guajirus, mas que não dão sombra para o sol
escaldante que brilha acima de nossas cabeças. O ano era 1845, do
Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, eu me chamo Bartolomeu da Rocha
Fagundes, vigário da capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
Capelinha simples, que olha para o rio manso chamado de Grande,
invencionisse dos primeiros que pisaram nessa terra. Sou padre desta
gente simples e preta que nasce sobre a sombra baixa dos cajueiros e
bebendo água do Tiçuru, sou eu que dou a última penitência e
eucaristia e perdôou os pecados dessa gente bruta e pobre que se
enfeita com flores douradas de manjeriobas e come as pétalas brancas
da xanana. Essa gente como Alexandre José Barbosa e Inácio José
Baracho.
Já
se vão trinta dias de julho, e o calor nem está tão abrasador, os
ventos de agosto já se anunciam no horizonte e eu encomendei a alma
de Inácio e também de Alexandre. Foi no ano de 1809 ainda, trinta e
seis anos atrás, que Inácio nasceu, filho de caboclos, filho de
Marcolino Baracho, aquele mesmo que tentara matar o vigário da
igrejinha de São Miguel, o padre Zé Inácio, e que roubou um par de
pistolas do belo sobrinho do pároco, Manoel. Marcolino não era
flor, era um bandidindo processado em meio aqueles caboclos todos, e
foi na sombra desse pai que Inácio, que tinha o nome do padre, veja
só, cresceu forte na lida, aldeado em Extremoz. Era um homem forte
que cresceu com o peito aberto para o sol brilhante dessa terra,
robusto, de altura média, tinha a pele curtida daqueles que
trabalham com a mandioca, de olhos brilhantes e dentes brancos. Os
dentes tinha todos, mas não tinha letras, mas tinha voz bonita de
cantador. Cantava a lida, cantava amores e canções portuguesas e
tinha assim a admiração de raparigas morenas como ele.
Três
anos antes nacera Alexandre. Mulato, filho de pai que nunca conheceu e mãe da Guiné,
rebentara entre os charcos da Ribeira do Potengi, com a pele negra
enlameada pelo mangue salgado. Tinha os cabelos cacheados do pai,
pretos e sedosos, e uns olhos negros como jabuticaba. Cresceu com
pernas fortes de quem aprendeu a correr descalço pelas dunas, era
alto como a mãe, e quando vestiu a farda de soldado de polícia,
mesmo já tendo roubado uma cabra uma vez, fez logo boa figura. Era
inteligente e aprendeu as primeiras letras aqui nos bancos da minha
igreja. Estava todos os domingos na missa e trazia, com fervor, junto
ao peito, uma imagemzinha de Nossa Senhora do Rosário que ele mesmo
esculpira em um pedaço de goiabeira. Ao nascer, nenhum dos dois se
conheciam, mas morreram juntos, diante dessa boa gente cristã e
natalense, pagando por seus crimes e pecados.
Acompanhado.
ResponderExcluirEspero que goste, Gustavo.
Excluirlegal... vamos acompanhar...
ResponderExcluirVoce tem o talento e a poesia na escrita. Inicio perfeito!
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