- Desculpa, não deu p'ra ir na exposição.
Falou meu amigo que eu havia convidado uma semana antes para ir a uma exposição no bar Mahalila, o novo ponto de encontro underground da cidade, no dia seguinte através do Whatsapp. Se é que Natal tem um lugar underground, até porque este termo é fora de moda, agora se fala "alternativo".
- Tudo bem, mas você perdeu. Foi lindo!
- Como foi?
- Era uma exposição de fotografias misturado com poesias. Poesia visual, é o que eles chamam. Depois teve um sarau. E era um público de meninos lindos e inteligentes. Eles estavam por todo lado. Mas como fui sozinho, fiquei por pouco tempo. Cheguei umas 18h e as 20h eu já estava em casa, de banho tomado e vestindo pijamas. Fiquei com vergonha de ser a única pessoa desacompanhada lá.
Ele respondeu seis minutos depois.
- Ai, amigo, que coisa! Não tem nada de embaraçoso estar sozinho.
Eu respondi:
- Ah, p'ra mim tem sim! Eu queria conversar sobre a exposição e não havia com quem. Poemas lindos, fotos maravilhosas, e eu não tinha com quem falar. E eu também não ia sentar numa mesa, sozinho, e pedir uma cerveja que é alcoolismo demais na vida da pessoa.
- Não concordo com você. Interrompeu meu amigo.
- Bem, eu fiquei encostado numa parede tentando sorrir para não parecer deprimente, fingindo ser cool e que não preciso de ninguém para me divertir. Que sou aquela pessoa moderna que vai a qualquer lugar sozinho porque não precisa da companhia de outras pessoas. Aí eu lembrei quando era mais novo, tinha 21 anos, e eu ia para balada sozinho porque não tinha amigos gays e eu sentia a mesa coisa, tentava não parecer deprimente, mas com um hora e meia eu já queria estar em casa, foi reviver aquele tempo.
Ele discordou.
- No caso de ir a balada sozinho, até concordo, também passei por isso, mas da exposição não. Você apenas não conseguiu aproveitar um bom momento por estar sozinho. E isso eu não acho lógico. Você foi para ver a exposição e não aproveitou porque se sentiu envergonhado por estar sozinho. É um sentimento horrível, Foxx, não apreciar sua própria companhia.
Eu fiquei bastante confuso neste momento e tentei contra-argumentar.
- Eu convivo comigo mesmo, amigo. Eu moro só, trabalho sozinho e, portanto, quando eu saio meu objetivo é tirar férias de mim mesmo. Férias dos meus pensamentos. Acho que ninguém entende isso porque todo mundo convive com outras pessoas, e eu só me relaciono via Whatsapp.
Ele respondeu:
- Justamente por esse motivo você devia aprender a se aproveitar mais ao invés de não gostar de estar sozinho.
- Acho que você não entendeu. Eu vivo muito bem com meus livros, meu quadrinhos, meus filmes, meus programas de tv, minhas plantas e meu gato. Vivo sim. Mas eu não quero viver somente comigo. Principalmente quando eu saio de casa. Até porque é chato quando todas as discussões terminam com você concordando consigo mesmo.