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terça-feira, 22 de julho de 2014

Livro Ou Filme?

Dizemos sempre que os livros são melhores que os filmes, mas desta vez não podemos falar o mesmo sobre A Culpa É Das Estrelas que estreou mês passado (e eu esperei tanto tempo para publicar minha crítica para ninguém reclamar de spoiler). O livro de John Green e o filme de Josh Boone são obras completamente distintas, apesar de compartilharem os mesmos personagens e mesmo assim completamente incomparáveis. O livro, intimista, foca-se na história da jornada de morte por causa de um câncer da jovem de 18 anos, Hazel Grace. Dividimos os pensamentos da protagonista e não dá para evitar o sentimento "tamu junto aê, gata" que se forma. Hazel é irônica, sincera e egocêntrica (in a good way), porque afinal de contas a personagem narradora não é onicisciente e nós, leitores, só sabemos o que Hazel nos conta. Pelos olhos dela vemos o mundo e ela então se torna nossa melhor amiga.
O filme, e por isso ter uma linguagem completamente diferente, nos apresenta a mesma história através de outra perspectiva. Hazel não é mais ossa única ligação com aquela realidade e, sem seu filtro, ela perde força, principalmente por causa do que Augustus "Gus" Walters tem a nos oferecer. Seu sorriso torto (que Ansel Elgort não conseguiu reproduzir como eu imaginei, mas que ficou lindo do mesmo jeito), as tiradas inteligentes e as declarações de amor sem vergonha me obrigaram a dizer: "Sorry, Hazel, você tem câncer, mas eu vi primeiro!". A verdade é que o livro é sobre a Hazel, o filme sobre o Gus. São a mesma história, mas é tão injusto comparar um com o outro quanto comparar a lasanha da sua mãe com a da sua avó.
Porém, eles mantiveram outra coisa em comum. Tanto o livro quanto o filme me fizeram chorar muito. Também de formas diferentes. Quando Hazel escreve um elogio fúnebre para Gus (é um filme sobre adolescentes morrendo com câncer, todo mundo morre, é óbvio) e diz que entre 0 e 1 existe uma infinidade de números (0,1; 0,12; 0, 123) que é menor que a infinidade de números comportada entre 0 e 2, entre 0 e 100, entre 0 e 1 milhão. Ela conclui: "Alguns infinitos são maiores que os outros" e agradece ao infinito que Gus a proporcionou dentro de seus dias numerados. Numa torrente, eu lembrei de Shakira cantando que pedimos o eterno a míseros mortais, lembrei do Tato, do Anjo e do Menino Bonito, mas também de todos os homens que gastaram horas/minutos de suas vidas comigo e concederam-me um eterno/infinito entre nossas momentos contados. Como não chorar?
Ma também chorei quando Hazel e Gus beijam-se no quarto de Anne Frank. Celebrando a vida. É uma cena linda no livro por causa de seus significado poético, no filme, são os lábios convidativos de Elgort que o tornaram inesquecível. Obviamente eu já estava apaixonado pelo Gus aquela altura (coisa que não me aconteceu no livro, eu disse que são muito diferentes), afinal no filme ele é transformado, simplesmente, no homem mais sedutor, quer dizer, o tipo de homem que ME seduz muito fácil ao condensarem suas falas em 1:30 de fita. Acho que esta é a grande transformação que o personagem passa entre o livro e o filme, tudo que sabemos no livro sobre Gus é oriundo do filtro que Hazel faz, ela diluí o personagem nela mesma, no filme não. Nosso contato (e impacto) com o Gus é direto. Eu me peguei querendo estar no lugar dela, da Hazel. Sim, ela anda com uma cânula para poder respirar, um dreno no pulmão por causa de um edema, mas eu a invejei por causa do Gus. Fui mórbido?
Por fim, o último momento lacrimejante é quando ouvimos o elogio fúnebre que Gus escreveu para Hazel (ela é a protagonista, mas como eu já disse este não é um filme sobre alguém com câncer, mas sobre alguém morrendo de câncer, ela diz inclusive nas primeiras páginas do livro, e na cena que apresenta a personagem no filme: "a depressão não é um efeito colateral do câncer, é um efeito colateral de estar morrendo". A Culpa É Das Estrelas é um livro e filme sobre morrer, get over it!). Eu ouvi o elogio, ele fala muito sobre a própria Hazel, declama suas qualidades e termina (e voltei ao livro para lembrar) dizendo: "Eu a amo. Sou muito sortudo por amá-la, Van Houten. Não dá para escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo, meu velho, mas é possível escolher quem vai ferí-lo. Eu aceito minhas escolhas. Espero que a Hazel aceite as dela". Fico arrepiado de reler. Eu chorei muito no cinema, pensei ali sobre quem escreveria uma elegia, panegírico, nota fúnebre, para mim. Quem se sentiria ferido porque eu parti? Pensei sim na minha morte, em como Gus e Hazel marcaram a vida um do outro, e eu pensava: quem eu marquei? No que eu marquei? Como marquei? Quem se levantaria ao lado do caixão e diria algo para os vivos? Que estória contaria? Que qualidade exaltaria? Que lágrimas derramaria? Nós não temos consciência do quanto tocamos os outros e nem sabemos o quanto é bom dizer as pessoas que elas nos tocaram, antes que seja tarde. Mas também chorei porque, e esta sempre foi minha filosofia de vida, sofrer nesta vida é inevitável, tentar evitar o sofrimento normalmente é inútil, porém quando nós aceitamos e vivemos a vida este mal-fadado sofrer passa por nós sem muitas lágrimas. Deixe ele vir. Deixe-o passar por nós.

12 comentários:

  1. Bem, vamos comentar em partes. Primeiro eu não li e nem vi o filme. Escutei tantas criticas negativas que acabei deixando de lado. Verei em casa no escuro da sala, assim caso as lagrimas venham posso chora-las a vontade...rs. Segundo que filme de gente morrendo de câncer é um tanto desnecessário na minha visão. Choro todas as vezes que assisto Laços de Ternura, inevitavelmente. Depois que vc perde pessoas muito próximas fica-se um pouco sentimental demais. Terceiro...não consigo achar nenhuma adaptação de livros para o cinema bom. Apenas o Poderoso Chefão conseguir essa maestria. Isso pq o próprio Mario Puzzo ( autor) foi roteirista do filme. Ele transportou o que estava na cabeça dele para a tela numa visão perfeita de Coppola. Quarto, quanto a pensar quem sofrerá na ausência sua...o mundo. Sempre há e haverá pessoas que sentirão nossa falta. Não se é sozinho, não se vive sozinho, não surgimos do nada. O problema maior é quem permanecerá pensando em nós depois que formos. Chorar no momento da morte é facil...pode ter muitos...lembrar de vc anos depois é que a chave do “deixar algo que valha a pena” !...abração...e eu leio seu blog sim senhor...

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    1. Críticas negativas porque, Rafael? O que as pessoas não gostaram?
      Por que um filme sobre alguém morrendo é desnecessário?
      O mundo sofrerá minha ausência? isso não é se achar especial demais não, Fael? O mundo continuará do mesmo jeito, sem nenhuma mudança sequer. Eu concordo com vc sobre que é mais importante quem vai lembrar da gente. É essa a minha dúvida.

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    2. Vc subestima a sua existência...rs rs rs...Claro que haverá quem sofra, quem sinta sua falta qdo partir...é muito difícil encontrar alguém tão insignificante aos olhos do mundo para que ninguém sinta falta...Uma das pessoas que desceu a lenha no filme foi o Tony Goes, leia a resenha dele. Eu não gosto mais de filmes de sofrimento assim...sei la, ando sensível com essas coisas e acaba me fazendo mal...abração.

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    3. Bem, Fael, eu sei que isto vai soar como baixa auto-estima, mas eu, ao contrário, não SUPERestimo minha existência. Eu sei que ninguém é tão especial que o planeta sinta nossa falta após a partida, e no meu caso específico se eu morresse HOJE, aqui em casa, como eu convivo com poucas pessoas, acho que demoraria pelo menos um mês para meu corpo ser encontrado. Meus amigos só notariam minha ausência com pelo menos uns seis meses. Será que me faço entender?

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  2. Geralmente, não choro ao assistir a filmes e esses livros/filmes "feitos para chorar" não me comovem, mas... já tiveram algumas películas que conseguiram. O último, lembro-me bem, foi um filme do italiano Federico Fellini, Noites de Cabíria (1957), que apresenta aquele que eu considero um dos melhores finais do mundo. Até indico, se não tiveres preconceito com filmes antigos e legendados.

    Mas voltemos a algo contido em seu texto: até que ponto marcamos? Às vezes, penso que não estou marcando em nada e me inquieto com isso. E não estou falando de lágrimas em velório, que não suporto, mas de fazer falta mesmo: alguém querer te ter por perto e não poder ou mesmo lembrar de ti através de uma música, por exemplo. Paremos por aqui porque isso também me faz chorar. Adorei a "filosofia de vida", é a minha também.

    B.H.

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    1. Ah, mas eu não acho que A Culpa É Das Estrelas foi feito para chorar, mas é uma estória triste que não finge que não é triste, Inclusive é o que considero mais interessante nela: ninguém precisa dizer que não é triste morrer, ninguém tenta fugir desta realidade a mascarando com tentativas de superação, é isso que é bom.
      Pois é, como eu tenho poucos amigos, todos morando distante de mim, ninguém me liga dizendo que tá com saudades e quer me ver, isso não existe sabe? Obviamente os amigos distantes dizem que sentem falta, mas a distância torna este discurso um tanto vazio. É horrível dizer, mas é verdade também. A solidão faz pensar essas coisas.

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  3. Não assisti e não li. Não quero ver coisas tristes por enquanto, além de parecer uma história, como você mesmo disse, sobre alguém morrendo de câncer. Ainda não sei de um dia viu assistir... Rsrsrs

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    1. Repito, não é uma história triste, é uma história verdadeira sobre alguém morrendo. É uma história verdadeira, ora. Ela sobrevive ao câncer por anos, até que um dia seus pulmões não aguentam mais. Simples. Não é triste, ou depressivo, é só verdadeiro. O mundo não é feito somente de histórias de superação e vitória, não é?

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  4. Tanta gente falando desse livro e filme, que estou ficando tentado em lê-lo ...

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  5. Achei o final do seu texto super Augustus Waters, na parte que ele fala que seu medo é de ser esquecido, rsrs. Então acho que posso usar a mesma fala da Hazel como comentário:

    "Vai chegar um dia em todos vamos estar mortos. Todos nós. Vai chegar um dia em que não vai sobrar nenhum ser humano sequer para lembrar de Aristóteles ou de Cleópatra. Tudo que fizemos, construímos, escrevemos, pensamos e descobrimos vai ser esquecido e tudo isso aqui vai ter sido inútil. Pode ser que esse dia chegue logo e pode ser que demore milhões de anos, mas, mesmo que o mundo sobreviva a uma explosão do Sol, não vamos viver para sempre. Houve um tempo antes do surgimento da consciência nos organismos vivos, e vai haver outro depois. E se a inevitabilidade do esquecimento humano preocupa você, sugiro que deixe esse assunto para lá." - Hazel Grace Lancaster. :)

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  6. Geralmente a gente não tem noção de quem a gente marcou em vida, principalmente se isto foi feito de forma sincera...

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  7. eu gostei dos dois e achei o filme bem fiel ao livro. isso que você disse de a gente só conhecer o gus pela perspectiva dela, é verdade, mas não achei que no filme isso mudou muito. enfim, recomendo a leitura e o filme para todos pois é muito bonito mesmo.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway