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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Nova(mente)



A Parada do Orgulho Gay de Natal, em sua 15ª edição, não aconteceu novamente. A Prefeitura embargou o evento, impedindo que os trios elétricos saíssem pela Av. Engº Roberto Freire que corta a zona sul da cidade e leva a Ponta Negra, uma das praias que são cartões postais da cidade. Este é o segundo ano que o trajeto não é autorizado pelas secretarias municipais, contudo, os organizadores insistem que devem caminhar de Ponta Negra até concluir percurso sob a árvore de Natal montada anualmente para celebrar o aniversário da cidade e a festa da natividade de Jesus Cristo.
O impasse está então localizado. A Prefeitura não permite que cidadãos que paguem impostos utilizem o espaço público em meio as boas (e ricas) famílias da cidade, atrapalhando, com certeza, o trânsito caótico da região sul da cidade. O mesmo problema, no entanto, não existe para a Macha para Jesus, felizmente. Já o movimento gay não quer retornar para a Praia do Meio. Não quer voltar para aquela região marginalizada e degradada da cidade, em que seu público ficava segregado as classes C, D e E e que decretava que o lugar que os gays de Natal podem ter orgulho de sua sexualidade é nos subúrbios da cidade, em suas zonas de prostituição e no colo de cafuçus que bebem latas de Pitu com Coca-cola.
Ocupar Ponta Negra, sendo assim, e ter seu lugar dentro da programação da festa de aniversário da cidade é, para a militância LGBT, simbolicamente, muito importante. O dia que a parada gay conseguir sair, na verdade, vai marcar definitivamente uma percebepção diferente dos governantes potiguares e, principalmente, natalenses em relação a sua população de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros. Este dia histórico marcará o momento em que esta cidade finalmente aceitará com orgulho boa parte dos seus cidadãos que ainda vivem como uma segunda classe.
Mas o movimento gay de Natal também precisa aprender novos truques. Trios elétricos caríssimos, mas nenhum centavao em divulgação? Nada em outdoor ou TV, e uma campanha porca nas mídias sociais? É preciso se preparar todo ano, antes da parada, é preciso arrecadar o apoio, por exemplo, das boates da cidade para arrecadar fundos com festas beneficentes para a parada, com uma excelente assessoria de imprensa é preciso vender reportagens e levantar entrevistas chamando o povo para as ruas. Mas, principalmente, é também preciso atualizar o discurso: não existem mais "simpatizantes" na nossa sigla, até porque exigimos aceitação e respeito, não simpatia pela causa; também não cabe a ninguém em cima de um trio com o microfone na mão dizer que "nós temos que nos dar ao respeito", não cabe, definitivamente, a ninguém de uma militância LGBT levantar qualquer bandeira moralista. Não precisamos nos dar ao respeito para exigir respeito, esta frase machista não pode estar na boca de ninguém ali porque ela somente reforça o preconceito de qualquer heterossexual que escuta este discurso. "Posso bater naquele viadinho porque ele não se dá ao respeito", é o primeiro argumento que você vai escutar da boca de um homofóbico. 
Não que eu acredite que a parada estava mal organizada, sei que todos os problemas que ela teve não foi por culpa dos membros do movimento na cidade, mas é sim preciso, sobretudo, para a parada gay de Natal uma atuação mais profissional dos militantes e para isso é necessário que tenhamos pessoas capacitadas para todos os trabalhos. Jornalistas trabalhando como assessores de imprensa, advogados e gestores de políticas públicas entrando com as requisições para qualquer tipo de autorização para a realização do envento, publicitários lançando campanhas para a divulgação do evento, artistas realizando eventos para levantar fundos para evento. É preciso voluntários e para isso é necessário abrir as portas, é hora da militância natalense se renovar, mas eu mesmo já tentei participar do grupo e, apesar de todos os contatos para participar das reuniões, eu nem consegui descobrir onde ela se realizava. 
Vou esperar a 16ª Parada do Orgulho Gay e ver se a história muda.
Feliz Natal.

8 comentários:

  1. Isto é uma vergonha ... enfim ... coisas de pais tupiniquim mesmo ...

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    1. De fato, Paulo, coisa que só acontece nesse país de brincadeira que vivemos.

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  2. Tomara que ela aconteça. Mas as coisas são assim mesmo, nós, aqui com a Marcha das Vadias da cidade, também tivemos nossos empecilhos, mas conseguimos dar um jeito em tudo. Espero que vocês consigam!

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    1. É, tem muito trabalho ainda para conseguir, para transformar essa festa em algo que faça parte do calendário oficial. É o único jeito.

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  3. Belo texto Foxx, e concordo com o Paulo, é uma vergonha...

    Primeiro, pela prefeitura, que mostra total descaso com a população, que como você disse, também paga impostos. É simplesmente inadmissível, que proibições como essa sejam feitas, afinal, é um direito nosso. Inclusive, pesquisando sobre a parada deste ano, vi que a prefeitura usou a mesma desculpa do ano anterior, que os trios eram altos demais. Mas espero que a militância LGBT continue fazendo esse novo trajeto, ocupando Ponta Negra. E que fato conquiste seu espaço.

    E também acho que deve haver uma melhor organização no movimento LGBT, que organiza a parada, porque nessa rápida pesquisa que fiz, vi que APENAS pouco mais de 3.500 pessoas pessoas compareceram a parada desse ano, enquanto a estimativa que se tinha antes era de 10 mil. De fato, falta uma melhor divulgação, que poderia ser resolvida com uma parceria com as boates lgbt, como ocorre por exemplo aqui em Recife, onde o trio mais badalado é o da boate Metrópole. E a parada daqui, já faz parte do calendário da cidade, atraindo até turistas (e políticos espertinhos, que aproveitam pra fazer campanha, a.k.a Daniel Coelho). Mas no meu ponto de vista, pior do que o descaso da prefeitura, é o da própria população LGBT potiguar, porque só o movimento não consegue mudar muita coisa, falta a conscientização dessa população. Afinal eles é que deveriam estar mais empenhados em conquistar seus direitos, forçar o governo e as "boas familias" a enxergá-los. E não como marginais, mas como pessoas iguais, ou até melhores, que eles.

    PS: Acho que você se sairia muito bem fazendo parte do movimento. Aconselho você a tentar novamente Foxx. rs

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    1. A militância aqui é em Natal é um grupo fechado, esse é um grande problema deles porque eles não recebem o ar fresco de novas mentes, novas pessoas pensando, novas ideias, esse é sempre um grande problema.

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  4. acho que o pessoal de Natal tem que se unir e brigar, o lobby evangelico é forte! conicidencia, nu ano que estive a passeio em Natal me deparei com a parada gay bem na frente do nosso hotel!

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway