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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Simples Especialistas



Todo homossexual se acha um especialista em homofobia e se vocês perguntarem a qualquer um significado desta palavra, a resposta virá imediatamente (tentem!): "é o preconceito/ódio que os heterossexuais têm pelos homossexuais". Em ciência, sobretudo nas ciências humanas, para uma definição ser válida, todavia, ela tem que cobrir todos os aspectos do problema. Aí surge nosso primeiro problema: existem homossexuais homofóbicos também (e estes costumam ser os mais difíceis de falar sobre o assunto), não é um problema que existe somente dentro do grupo heterossexual. Se estes existem, então a definição não pode dizer que é um preconceito oriundo do grupo que é a maioria, heterossexual, em relação ao grupo minoritário. Concordam? Outro problema: a homofobia é uma questão de ódio pelos gays? É uma simples questão de lógica,  a + b = c, se afirmamos que existem homossexuais homofóbicos, esta pessoa seria alguém que odeia outros homossexuais e, portanto, também odeia a si próprio sendo então sempre uma pessoa que está dentro do armário, que sofre por não se aceitar, certo? Errado! Quando um homossexual não se aceita, esta situação é chamada de de conflito egodistônico pela psicologia e é causada pela homofobia, é resultado dela, não sua geradora. Esta pessoa é muito mais uma vítima do que qualquer outra coisa. Afinal é o fato dele viver em um ambiente que não aceita os gays que impede que ele se aceite plenamente. Trocando em miúdos, ele é fruto do seu meio.
Outra resposta comum é que a homofobia é uma agressão que uma pessoa, pensa-se sempre primeiro em um heterossexual, faz a outra pessoa que julga ser homossexual. Nesta explicação deveras comum a homofobia é uma ação. Ela só existe quando alguém é agredido, quando alguém sofre um ferimento. Alguns, poucos, ampliam dizendo que se a agressão for apenas verbal também existe homofobia, mas para a maior parte das pessoas para sofrer esta espécie de preconceito é necessário que se derrame sangue. Há uma linha invisível que separa o olhar ameaçador, os xingamentos na rua, a perseguição na calçada do primeiro chute que derruba um garoto que volta de uma boate no chão. Até o agressor tocar a vítima, este estava apenas expressando seu direito sagrado de liberdade de pensamento. Afinal, ninguém tem o direito de dizer o que ele deve pensar ou o que não pode fazer. Deus nos livre da censura! Aqui, a confusão se dá sobretudo por causa da definição de crime com motivação homofóbica, sobretudo o principal crime que se pretende punir legalmente com as leis anti-homofobia que é a agressão física e a construção da motivação homofóbica para assassinatos. Como o tema Homofobia tem sido explorado sobretudo neste aspecto jurídico, para muitos, criou-se a ilusão de que ele só existe também neste formato jurídico, e um crime só existe após ser praticado, e o crime que se quer punir não é a homofobia e sim a "agressão por motivos homofóbicos".
Outro problema da definição que os homossexuais especializados em homofobia têm nos dado é que os heterossexuais (pasmem!) também sofrem esta espécie de discriminação. E muito além dos casos que foram relatados pela imprensa como o pai que teve a orelha arrancada porque estava abraçado ao filho, ou dos irmãos que um foi assassinado porque voltavam abraçados de uma festa, meio bêbados. Heterossexuais sofrem homofobia quando um menino ganha uma bola e uma menina uma boneca, quando um bebê é obrigado a usar azul e outro rosa, quando uma menina tem a orelha furada e um garoto não pode chorar. É isso que os gays, em sua maioria, não sabem: a verdadeira definição de homofobia diz que ela acontece quando definimos um modelo para ser homem e um modelo para ser mulher, e todas aquelas pessoas que desviam deste padrão são, furiosamente, atacadas. É por isso que o pai e os irmãos foram atacados, por exemplo, homens não abraçam outros homens.
Segundo uma sociedade homofóbica, e que se entenda este adjetivo a partir de agora como: "uma sociedade que impõe uma forma de comportamento para homens e mulheres", um homem precisa ser másculo, forte, insensível, sem habilidades artísticas, pouco detalhista, bom motorista, hábil em atividades físicas como esportes, agressivo, sem vaidade, entre outras coisas, e, principalmente, o oposto disto é o que faz uma mulher. Qualquer um que se arrisque a caminhar no meio destas situações opostas é visto como desviante, desviado, viado. Um ataque homofóbico não acontece porque os heterossexuais odeiam os gays, acontece porque para algumas pessoas ser homem significa seguir um padrão exato de características, os homens que não seguem estas características precisam então serem violentamente reeducados para "virar homem", é isso que está por trás de ataques com lâmpadas fluorescentes nas ruas de São Paulo, dos estupros corretivos nas quadras de Brasília ou dos assassinatos de travestis nas pequenas cidades da Bahia. Existem pessoas no mundo que acreditam que existe um modelo correto de homem e outro modelo correto de mulher.
Então quando afirmamos que também existem homossexuais homofóbicos é porque também entre este grupo que é o mais perseguido pela homofobia existem pessoas que aprovam esta teoria que existe um padrão para ser homem e um padrão para ser mulher, e que inclusive modelam o seu desejo pelo mesmo gênero seguindo este padrão que é arbitrário, totalmente construído e, poderíamos inclusive dizer, artificial. Vejamos um exemplo: nos sites de relacionamento (Manhunt, Disponível, Grindr, Scruff) é comum encontrar a expressão "não curto efeminados" nos perfis. Esta afirmação por si pode não dizer nada, ela passa inocentemente por uma descrição de um gosto pessoal, contudo, geralmente, as pessoas que tentam explicar porque não gostam de efeminados costumam afirmar que "se quisessem mulheres, eles seriam heterossexuais". Só que esta pessoa efeminada é um homem, ele tem pênis, tem um gene Y herdado de seu pai, poderíamos inclusive supor que esta pessoa se encaixasse em todos os outros aspectos que citei sobre o que é ser um homem menos o aspecto da masculinidade, porém a ausência deste aspecto torna a pessoa incapaz de despertar interesse. Por que isso se dá?
A homofobia não aparece quando um homossexual não se excita por um homem efeminado, ela aparece quando este define o que é ser homem. Os homossexuais retornam para o modelo imposto pela sociedade heteronormativa e projetam seu desejo para aquele manequim construído com pedaços de pessoas para representar o tal ser masculino ideal. Todos, no fundo, procuram um príncipe, e este não foi criado dentro da própria cultura gay, este homem ideal ainda é o reflexo doentio do pai machista que os criou, o Homem com H maiúsculo. O combate a homofobia, portanto, não pode ser considerado como a luta pela aceitação de gays e lésbicas, nem tampouco apenas conseguir direitos, é a batalha pela diversidade. Combater a homofobia é lutar pela destruição destes dois modelos de comportamento (Homem e Mulher) e, com isso, aceitar que os seres humanos não podem ser classificados dentro desta gama dualista quanto suas identidades e seus gêneros. Masculino e feminino não podem ser definidos de forma tão simplista como Homem e Mulher.

17 comentários:

  1. "Sem a liberdade de ofender, não existe a liberdade de expressão", já dizia Salman Rushdie. Mas que hajam mecanismos (eficazes e rápidos) de reparação de danos físicos e morais. Como prevenção, apenas mais educação (não censura).

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    1. Também acho, Edu, afinal o fato das pessoas terem direito de expressar suas ideias não quer dizer que elas não devam ser responsabilizadas pelo que dizem não é?

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  2. A homofobia afeta a todos, independente de classe social, credo ou posição que a pessoa ocupe.
    Não concordo em pensar que exista "direito sagrado" na liberdade de uma pessoa expressar sua opinião sobre o que acha de outra pessoa. Ela apenas está usando seu lado humano mais perverso!!!
    Sagrado pra mim é algo sublime!!

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  3. Teu texto me lembrou alguém que conheco...
    Meu melhor amigo namora faz 7 anos. Seu namorado é extremamente homofóbico. Fala mal, detesta lugares onde se concentram o povo GLS, costuma fazer programas mais caseiros com meu amigo e nunca se mistura com quem é gay. Eu, particularmente nao consigo conceber esta idéia...
    Eu adoro ele demais, gente boníssima e sou seu único amigo gay onde ele mesmo afirma veemente que sou a única pessoa que ele gosta do meio... vá entender!

    Grande abraco,
    Du Paiva.

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    1. Tem muito isso "Eduardo Paiva" tb. tenho amigos que enchem a boca pra dizer; não sou do meio!!! Como se ser do meio denegrisse a imagem de alguém, logico que isso não é homofobia, mas com certeza é um tipo de preconceito! gayxgay

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    2. Dih, isso pode ser homofobia, mas tb pode ser falta de aceitação de si mesmo projetada para outros. Precisaria se avaliar cada caso.

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  4. Pelo que li no seu texto, devo deduzir que. Silas Malafaia está correto quando associa homossexualidade à perturbações demoníacas, compara-os a bandidos drogados etc? Afinal ele estar exercendo o seu "direito sagrado", não importa se no exercício desse direito ele, como formador de opiniões incita os seus seguidores a cometerem crimes de homofobia? Existem formas de dizer que não gosta desse o daquele comportamento ou prática sem ser tão pragmático! Percebi uma certa confusão quando diz que alguns gays não gostam de efeminados, não gostam em que sentido? Não sentem atração ou acham que eles devem ser espancados, por serem efeminados? Cada um sexualmente falando, tem o direito de gostar ou não desse ou daquele comportamento, mas não deve xingar um indivíduo por ser dessa ou daquela forma! Concordo quando diz que alguns gays são homofóbicos, sim eles são os mais homofóbicos que existem os enrustidos é claro! O que é fobia? medo! Então homofobia é, "medo de homossexuais". E quem tem mais motivos pra ter esse medo? O maior pavor de um gay enrustido é ser reconhecido por outro. lá no meu blog escrevi um texto sobre os preconceitos gays, que pra mim são diferentes de homofobia. Longe de mim achar que todo mundo tem que concordar com com práticas homossexuais, mas se um homem não poder sair nas ruas sem ser achincalhado por quem não aceita seu modo de ser, então cadê o direito de cidadão de ir e vir? Vou te contar rapidamente algo que me aconteceu! "Há algum tempo atrás eu estava nas casas bahia, da praça ramos, fui até o banheiro, entrei no reservado a tinha um outro individuo, no reservado ao lado, nisso entra uma bichinha muito da escrota, que tem que ser muito escroto pra fazer isso, e empurra a minha porta eu empurrei de volta, não satisfeito ele empurrou a porta do outro, e foi embora, quando sai estava lavando as mãos, o cara sai do banheiro e cismou que tinha sido eu quem empurrou a porta dele, e não adiantou eu dizer que não tinha sido eu, ele saiu do banheiro aos berros, como um louco me xingando de bicha pra baixo, por toda a loja. Isso poderia ter acontecido com qualquer pessoas inclusive com um heterossexual. E posso te garantir isso dói tanto quanto a agressão física! E não é direito sagrado porra nenhuma! É imbecilidade de idiota que além de um doente homofóbico é louco, se ele não tinha visto a cara do individuo que empurrou a porta como ele sai despejando a ira patológica dele em qualquer um?

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    1. Acho que vc precisa ler o texto de novo, Dih Melo.

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    2. Agora vc volta e le meu texto, Dih.

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  5. Que conste nos autos: eu não me acho um especialista em homofobia!!!

    PS: Tô achando que esse ano a caneca tá querendo ser tua...;)

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    1. Kkkkkkk
      Eu ganhar algo em suas gincanas? Não sou inteligente o bastante pra isso não.

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  6. Sou tão especialista em homofobia, que nem consegui entender o texto, rsrsrsrsrs Desculpe vou estudar um pouco mais "interpretação de textos" e volto. Um abraço!

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    1. Sendo bem sincero, eu acho que vc não o leu...
      Vc falou que eu apoiava Malafaia, quando eu estava criticando as pessoas que acham que podem ofender os outros, vc falou que eu fiz uma confusão sobre efeminados, mas vc claramente não entendeu o que eu quis dizer, uma leitura mais atenta, no mínimo, ajudaria. Vc tb associa os gays homofóbicos com enrustidos, coisa que eu disse especificamente para não fazer. Então das duas uma: ou vc não leu ou intencionalmente resolveu ignorá-lo.

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  7. Cientificidade à parte, essas discussões todas talvez fossem desnecessárias num mundo onde houvesse simplesmente respeito pelo outro como ser humano.
    Seres humanos são diversos, na forma e no comportamento, e todos deveriam respeitar e serem respeitados. E enganam-se aqueles que acham que um afeminado o é também entre quatro paredes. Pode ser, pode não ser.
    Pessoalmente, adoro gente inteligente e respeitosa. Sexo é só um complemento. E adoro homens delicados!!

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    1. Com certeza, Alex, em um mundo em que as pessoas respeitem as diferenças, que respeitem o outro como gostariam de ser respeitadas, nenhuma dessas discussões existiram de fato.
      Sobre os efeminados, supor qualquer coisa sobre alguém sem antes conhecê-la é simplesmente errado, não acha?

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  8. Acho que tem a questão de gosto, cada um tem o seu, mas é mesmo um engano. Inclusive porque não poucas vezes em conheci homens que eram aparentemente afeminados e delicados e, na cama, no sexo, davam literalmente um banho, se transformavam maravilhosamente... Tudo preconceito. Mas eu, por gosto meu, continuo preferindo homens e mulheres delicados...

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway