Agora, na casa nova, minha vida tem sido pensar em cada detalhezinho para torná-la minha. Isto tem sido o meu passatempo mais prazeroso e ela tem tomado forma aos pouquinhos. Primeiro foi meu escritório que ficou de pé, ou pelo menos aquilo que chamo de escritório. São duas estantes com meus livros e quadrinhos, mais um bureau com meu computador e minha mesa digitalizadora; o quarto também ficou logo de pé com a cama, o guarda-roupa e uma caixa de papelão que transformei em criado-mudo com cola, fita adesiva e eucatex onde tenho minha luminária (um presente do meu pai) e deixo meu celular carregando durante a noite. Alguns posteres de moda estão presos na parede, sobre a cabeceira da cama. Mas nestes dois casos, tudo isso, eu já tinha ou da época que eu morava com meus pais, ou fiz durante minha estadia no antigo apartamento.
Já minha cozinha tornou-se um verdadeiro desafio. Quando me pudei para minha primeira casa eu comprei um fogão (usado), ganhei de um blogayro, o Dramma, um botijão de gás e comprei um jogo de panelas, depois ganhei outro. Ganhei muitos presentes, na verdade, do meu chefe, as panelas que citei e um conjunto de espátula, concha e escumadeira; da menina do Finaceiro, escorredor de macarrão, lavador de arroz, sempre coisinhas pequenas para ajudar a montar a cozinha que não tinha nada. Mas chegando aqui, nesta casa nova que fica em uma vila, fiz uma lista do que ainda faltava e era primordial: pratos, talheres, copos, vasilhamos plásticos, jarra para água, escorredor de pratos, panos de prato, esponjas, vasilhas para mantimentos, fósforos, lixeiras, vassoura, pano de chão, todas essas coisas que antes eu usava da menina que morava comigo foram compradas uma a uma. Também me aproveitei de minhas habilidades artísticas e de minha cara de pau e me apossei de um armário de escritório que estava largado, juntando poeira na casa do meu irmão, ele se tornou minha despensa; também tomei uma estante de metal que estava enferrujando no depósito da loja da minha mãe que após uma mão de tinta branca agora guarda tudo o que eu comprei. Sem esquecer de uma estante que também era da loja da minha mãe, que desmontada, foi para debaixo da minha pia e agora guarda minhas panelas. Agora, falta uma geladeira. E, olha, tô sentindo uma falta de beber água gelada.
Na sala não tem nada ainda, apenas meu altar no chão, alguns desenhos meus pelas paredes em molduras compradas em camelôs no bairro do Alecrim, aquele que em toda cidade concentra o comércio popular, mas que dei uma mão de tinta spray verde abacate e três cadeiras (extremamente desconfortáveis) que pedi emprestado com meus pais. Ainda não sei como conseguirei preenchê-la. A ideia seria ter um sofá-cama confortável que pudesse abrigar os amigos que viessem me visitar, comprar uma tv que estaria na parede oposta, um bom tapete, com algumas almofadas, porque às vezes é bom deitar no chão, mas tudo isso sem impedir um altar no canto da parede e, se der vontade, estendermos uma rede pela sala. Mas também não temos pressa, não é? E a graça é justamente esta, ir montando devagar, escolhendo cada peça, para que ela tenha significado e história.