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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Classe Média Sofre


Neste fim de semana ocorreu em Natal o seu carnaval fora de época em que bandas como Chiclete com Banana, Asa de Águia e Parangolé, além de cantoras como Cláudia Leite e Ivete Sangalo puxam trios elétricos na região sul da cidade. O Carnatal que acontece sempre em dezembro, no final de semana após o vestibular, é uma tradição da cidade e já foi o maior evento deste tipo a acontecer fora da Bahia. É uma festa imensa, regada a muita bebida, música alta, homens musculosos em roupas justas, sujeira pelas ruas, assaltos, meninas vestidas exatamente do mesmo jeito, beijos roubados, sexo atrás de carros estacionados, abadás caros e um trânsito infernal em toda a cidade das 14h até as 2h da madrugada. Esse, no entanto, foi o primeiro ano sem a barraca gay que centralizava toda a festa, o Caldeirão do Lu, que inclusive fazia com que Cláudia e Ivete fizessem questão de que o trajeto de seus blocos passasse diante da barraca aonde elas paravam e faziam um pequeno show para o seu público.
Neste ano, também, graças ao surgimento de uma imprensa de esquerda na cidade se ouviu muitas críticas ao evento. Sobretudo a Carta Potiguar afirmou com veemência que a festa não era do natalense, brincando com jingle “a festa é sua, meu amor, sorria”. O cerne das críticas era esse: a Destaque Promoções (a realizadora do evento) era a única dona da festa, uma festa privada que utilizava o espaço público e cobrava por isso. Eles criticavam a venda dos abadas para um público que faria uma festa privada num espaço que era público, as ruas da cidade. Também criticavam a construção de camarotes e de arquibancadas no logradouro público e, que isso, não trazia nada em contrapartida para a cidade. Também era uma festa que não celebrava a cultura potiguar ao importar atrações bahianas que cantam “we are the world of Carnaval, we are Bahia”. Eu os acuso de cegueira de classe média. 
Quem critica o carnatal é com certeza alguém que não enxerga a festa como um todo. Realmente, os espaços cobrados pela Destaque só rendem lucro a ela, mas a festa é muito mais do que o corredor por onde passa o trio elétrico. Existem inúmeros vendedores ambulantes que tomam as calçadas vendendo comida e bebida em carrinhos; bares também se deslocam para o local do evento e montam barracas; nas ruas em volta, terrenos baldios se transformam em estacionamentos; não se encontra uma latinha de cerveja no chão porque os catadores são muito mais rápidos. Quem critica o Carnatal não para para conversar com um vendedor de cervejas e saber que este fatura, em média, R$ 300,00 por dia de festa, são quatro. Existe um lucro que não é explorado pela Destaque ao redor do corredor, alimentado sobretudo pela pipoca. 
Ai está também parte da cegueira desta classe média que finge que é politizada, ela só consegue enxergar a festa de quem tem 300 a 500 reais e não de alguém que participa de toda festa fora das cordas que isolam os blocos. E é muita gente. Pessoas que ficam nas calçadas, barracas e pelas ruas consumindo e dançando conforme os blocos vão passando. A festa de quem gasta apenas 50 reais por noite entre cervejas, cachaças, acarajés e churrasquinhos compradas nos canteiros centrais das avenidas. Isso é o carnatal. 
A critica também ignora, de forma desavergonhada, que a festa atrai para a cidade turistas também. Pernambucanos, paraibanos e cearenses, além de muitos potiguares do interior visitam a cidade exclusivamente para pular nos blocos como os tradicionais Caju, de Cláudia Leite; o Cerveja e Coco, da Ivete Sangalo; o Nana Banana, do Chiclete com Banana; ou o Bicho Papão, do Ricardo Chaves, ou algum dos novos que tem o Swingaê, que traz o Parangolé; e o Bikoka, trazendo Netinho. Estes turistas vem para cá para aproveitar a festa bahiana que, sim, foi importada. Mas convenhamos: argumentar que nossa cultura está sendo destruída por causa de uma invasão de estrangeirismo é muito demodè, principalmente enquanto digita no seu iPhone o texto para um blog. Eu, particularmente, não tenho nada contra o Carnatal, mas me incomoda bastante esses comunistas de beira de piscina que não reconhecem o que significa “festa popular” de tão acostumados que estão de observar o mundo das varandas de seus apartamentos. 

23 comentários:

  1. "Eu, particularmente, não tenho nada contra o Carnatal, mas me incomoda bastante esses comunistas de beira de piscina que não reconhecem o que significa “festa popular” de tão acostumados que estão de observar o mundo das varandas de seus apartamentos."

    Eu gostei muito disso.. E é isso, Brasil.. Sempre vão existir todos os argumentos do planeta contra tudo que é popular.. Essa é a forma mais sutil de apresentação do mais forte e pertinente dos preconceitos.. O de classe...

    Atrás do discurso em defesa da cultura e da educação existe por parte das estancias que definem o que é ou não "culturalmente correto" uma política meio higienista e meio jesuíta de "catequização" do que de fato é cultura popular... A massa precisa criar identificação com o produto que não tem nada dela.

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    1. pois é, é o caso do funk no rio, e é o caso do axé aqui no nordeste, com a sua oposição ao samba e forró respectivamente. não que o Povo, com P maiúsculo, não goste de samba e forró, porém se exige que eles cristalizem o seu gosto no que é, principalmente, tradicional. ninguém aqui em Natal, por exemplo, sabe mais o que é um pastoril, mas quer apostar quanto como vai rolar rios de dinheiro agora no Natal para subsidiar apresentações de pastoril porque é cultura popular. Guardar o registro de coisas antigas é ótimo, devemos inclusive ensinar as crianças, mas forçar as pessoas a ouvirem coisas que elas não conhecem mais só por causa de uma faixa de "cultura popular" não me parece o correto, sobretudo, quando a imposição do que é cultura popular é sempre de cima (da Elite) para baixo (o Povo).

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  2. As festas de carnavais fora de época são comuns em tantas regiões e se tornaram culturalmente popular no Brasil, incrível como alguns ainda incomodam com a festança que acontece e alegra aos outros, essas festas que atraem tantas pessoas mostra que uma maioria da população gosta, fato.
    Os que criticam podem ainda não ter experimentado participar desse tipo de festa por achar somente o ambiente de seus apartamentos propicio a festejar do jeito deles.

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  3. CARNATAL? Rs* completamente novidade pra minha singela pessoas , que eu saiba não tem essas coisas por aqui , rs.

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  4. Oi menino
    Pessoas mal amadas encontram defeitos em tudo. Os pseudos esquerdistas protestam pelo simples fato de protestar.
    Bjux

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    1. pois é, só lembram meu pai que coloca o nome do filho de um revolucionário russo só pra chamar atenção dos amigos e dizer que é mais intelectual que os outros...

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  5. Rs, típico... Aqui também temos o "Caldas Country". Rs
    http://www.ocanal.org/caldas-country-2012-tem-sexo-na-rua-e-drogas-sendo-usadas-explicidamente/

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    1. Se vc reparar, é a mesma crítica a Parada Gay tb.

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  6. Mais uma vez eu uso o exemplo dos "socialistas" aqui de Berlin: "Capitalismo é uma merda! Deixa eu te mostrar um video sobre isso aqui no meu iPhone".

    Numa nota relacionada: Ricardo Chaves? Netinho? Que ano é hoje, Marco Aurélio?

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    1. preguiça dessa gente que só é "socialista" porque é intelectualmente mais charmoso por causa da imagem do rebelde... preguiça.

      Ricardo Chaves, Netinho, Asa de Águia e Chiclete com Banana não lançam uma música nova há séculos, mas no carnatal e carnaval bahiano tem seus seguidores fiéis.

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  7. Eu não curto este tipo de evento mas concordo plenamente com sua contextualização ... eu não gosto pq sou um velho chato mesmo ... já gostei e muito ... não gosto e não vou ... agora quem gosta e vai em q pode me incomodar ... é mania mesmo deste bando de intelectuais de merda ...

    bjão

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  8. Odeio carnaval. E festa popular. E classe média! Acho que só gosto de iPhone mesmo! Hahahahaha! Bjs, my princess!!!!!!

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    1. bem sua cara mesmo. sei que vc vai a bailes de fantasia na praça são pedro em Veneza, toma champagne e come caviar com amoras, não é Fred?

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  9. Igual as pessoas que acham que carnaval no Rio é o que mostram na televisão com preços absurdos pra ver escola de samba...

    AMO essas festas!

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  10. Se ninguém gostasse a festa seria outra, ora!
    Todos têm o direito de se divertirem como quiserem, sem fazer mal algum ao próximo.
    Eu não gosto, não vou. Pronto.
    Concoro que tem muito de preconceito nessas análises dos ditos intelectuais de beira de piscina.
    Cada um na sua.
    O resto... xapralá...

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  11. Foxx:

    Aquela repórter (Raquel Sherazaede) fez uma crítica ferrenha no SBt sobre a máfia dos abadás, um carnaval que exclui o pobre que não tem condições de participar em função de ser tão caro, um carnaval de exclusão não é do povo mesmo.

    Abraços, querido.

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    1. Mas isso não é verdade, o carnaval (e o carnatal) não são apenas o bloco + abadá, são pessoas que se preparam o ano todo, bebem nas suas casas, saem a pé para não precisar dirigir e brincam nas ruas ao som dos trios que passam puxando os blocos. Associar esses carnavais somente aos blocos, e é o que eu critico no texto, é ignorar completamente que existem outras formas de pular carnaval e carnatal sem estar no bloco.

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  12. A verdade é que cada um apenas enxerga o seu lado e quem não pode enxergar é o mais prejudicado.

    Beijo!

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  13. Caviar com amoras já vem na minha cesta básica! E o tal champagne eu só bebo nos "imbigo" dos meus boys-toys... hahahahahahahaha! Djuuuuuuuuuuura, nzé? Sou tri-proleta, filho! E sim: Cavill <3

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  14. Não sou muito chegado em carnaval mas o fato é que realmente muitas pessoas lucram com ele, direta ou indiretamente como é o caso dos ambulantes que as vezes tiram o sustento do ano todo nesses eventos.

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  15. essas festas são elitizadas e realmente o povo da cidade fica de fora, de fora até da corda como você falou. em salvador eu vi isso e achei muito ruim. o melhor seria algo mais aberto e acessível a todos.

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  16. Bikoka é este o bloco do Netinho? Aquele Netinho? Bi, essa koka é Fanta.. hahaha..

    Agora deixando a péssima piada de lado, adorei o texto, pensei sobre o caldas country que acontece em Caldas Novas e este ano falaram muito mal. Falaram de sexo que aconteceu, de morte, de um monte de coisa e deixaram fora as coisas boas.. Gostei do texto.

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    1. sim, aquele netinho sim. kkkk

      que bom que gostou.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway