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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ESPECIAL RIO DE JANEIRO: Asfalto Escuro

O corpo estava estendido no asfalto escuro. Havia cérebro espalhado por toda rua. Branco, contrastando com a escuridão do asfalto. O vestido daquela falsa loira estava levantado. Sua bunda exposta, a calcinha delicada. Seu cabelo, cacheado e visivelmente tingido estava encharcado de sangue. Os olhos esbugalhados. Caíra da moto, que dividia com outra loira idêntica a ela, que usava uma sandália gladiador, que agora gritava com um celular ao ouvido, e um homem baixo e de cabeça raspada, que tentava contê-la. Eram três na moto que se chocou com a parede lateral do ônibus. Ela caiu, e de dentro do ônibus se sentiu que o veículo passara por cima de algo. Foi uma menina de óculos e cabelo curto que gritou: "O ônibus passou por cima da cabeça dela! Ela 'tá morta! Ela 'tá morta!". A morte a alcançara numa tolice. Bêbados, num sábado pela manhã. Num erro. Um péssimo cálculo de probabilidades, afinal todos acreditam que nunca aconteceriam com eles. Mas agora a outra loira, que gritava e chorava, com um vestido curto e justo, penava com a morte daquela outra tão parecida com ela. O cobrador do ônibus repetia nervoso: "Alguém tem que ficar como testemunha! Como testemunha!". O homem baixo e de cabeça raspada levava a mão constantemente a cabeça, com um olhar vidrado, de quem se acreditava dentro de um pesadelo. Alguns passageiros do ônibus olhavam a cena surpreendidos, outros visivelmente enojados, alguns emocionados. Aquela morte, inesperada no sábado pela manhã, tocara a vida de todos aqueles que foram envolvidos. Envolvidos aleatoriamente, simplesmente por estarem dentro do ônibus, passando pela rua, parados em frente a seus trabalhos. Aquela menina, de cabelos tingidos, cujo o corpo continuava la, tocara a vida de todos eles, estendida no asfalto, naquela manhã de sábado, em uma rua de Niterói.

19 comentários:

  1. Lindo texto, Foxx. Só espero nunca ser tocado (muito menos tocar) através desses métodos.

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  2. (Percebo... através do seu texto, já o fui)

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  3. Já vivi muito isso.

    Quando tinha 12 anos, fui ajudar a tirar um corpo das ferragens de um carro que caiu de um barranco e demos de cara com uma cabeça decepada no meio.

    E essa foi só a primeira de muitas...

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  4. tensíssimo
    história muito triste...

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  5. Nossa, que bizarro.
    Ainda bem que nunca passei por algo parecido.

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  6. nossa.

    me lembrou six feet under.

    basta estar vivo, ainda que isso seja coisa que a minha mãe diria.

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  7. Foxx, respondi sua msg agora no Facebook.
    Vc ainda ta aki no Rio? Te passei meu tel lá, ok?
    Bjaum.

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  8. ce nao viu isso no Rio nao né?

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  9. Infelizmente este o Rio de Janeiro, que continua "lindo"

    Um abraço!!!

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  10. Dá pra acreditar que as pessoas morrem até no Rio???

    Pois é... Eu acho normal. Quer dizer, não gosto de ver, pois não tenho nenhum prazer mórbido de expectador dessas coisas. Mas quando posso socorrer ou ajudar de alguma forma, sangue frio comanda e bora fazer o que tem que ser feito...

    Abraços!!

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  11. Nunca presenciei uma cena dessa.
    Tenso 5.

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  12. Ai, só de imaginar a cena eu fico tenso! Nem quero imaginar mais isso.

    -> Até a próxima, seu lindo.

    *DB*

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  13. Momentos assim nos mostram que, apesar de alma, energia, espirito, sentimentos e todas as coisas abstratas que nos envolvem, ainda somos de carne e osso. Nosso corpo é frágil, e por mais imortais que nos sintamos (ta certo isso?), no fim somos frágeis e estaremos para sempre submetidos as limitacoes da natureza.

    Filosofei.

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" Gosto de ouvir. Aprendi muita coisa por ouvir cuidadosamente."

Ernest Hemmingway