Google+ Estórias Do Mundo: julho 2009

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sexta-feira, 24 de julho de 2009

PRESENTE: Tem Dias

Tem dias que tudo parece mais difícil. Tem dias que a gente acorda com vontade de gritar.
Tem dias que os joelhos fraquejam diante do peso a levantar e tudo parece um tanto impossível de realizar.
Tem dias que o sol parece não brilhar. Tem dias que as nuvens negras nos cercam, a neblina nos cobre e os buracos invisíveis nos surpreendem. tem dias que vamos cair, não há como evitar.
Tem dias que você gostaria de ficar embaixo de suas cobertas para que nada pudesse te tocar, talvez voltar aquele sonho que não tinha nada a ver com esta realidade onde monstros insistem em te cercar.
Tem dias que a gente queria ficar de fora do mundo, deixando ele correr, deixando ele passar, para talvez mais tarde tentar voltar. Tem dias que dá vontade de morrer , em outros, só queremos descansar.
Tem dias que o futuro parece um borrão de cores sombrias e virulentas que tememos entrar. Tem dias que as orações parecem não bastar. Tem dias que os medos nos controlam. Tem dias que é a falta de esperança que nos assombra. Tem dias que não dá para parar de reclamar.
Tem dias que dá para fugir, em outros, somos obrigados a ficar. Tem dias que terminam com cansaço, dores e desilusões e pensamos no porquê de continuar. Tem dias que a gente sofre mais, não dá para negar.
Tem dias que queremos ter somente um colo para deitar a cabeça e chorar.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A divina VIDA DE HEITOR RENARD



Heitor o sugava com desejo enquanto Marcelo gemia e tentava colocar todos os seus dezoito centímetros dentro da garganta do outro. Mãos deslizavam pelo corpo perfeito que Marcelo exibia, o abdômen rasgado e as coxas definidas, os braços musculosos e o peitoral forte. Heitor aproveitava aquele corpo que nunca mais voltaria a sua cama, mas que agora estava sentado no seu peito, revirando os olhos e contendo os gemidos que teimavam em escapar por entre aqueles dentes brancos. Foi quando Marcelo, ofegante, saiu de cima do outro e buscou sua carteira, tirou de lá de dentro um preservativo e vestiu-se com habilidade, colocando-se entre as pernas de Heitor com um olhar malicioso. Heitor sorriu e Marcelo o virou de bruços, e logo Heitor sentiu a língua do outro encontrar a pele macia e branca de suas nádegas e os dentes dele puxarem os pêlos de suas coxas. Foi então que o jovem moreno tentou penetrá-lo, porém Heitor instintivamente tentou escapar, Marcelo segurou-o pela cintura e beijou-lhe a nuca pedindo calma, Heitor então tomou o controle, segurou-lhe o pênis e o guiou para dentro dele, corajosamente, ouvindo por fim Marcelo gemer agradecidamente no seu ouvido. Logo, os únicos barulhos no quarto são gemidos abafados e o quadril de Marcelo batendo nas nádegas de Heitor.


sexta-feira, 17 de julho de 2009

PASSADO: Se Eu Fosse...

Era um domingo, mais um domingo de sol em Natal, na tv, nada o que ver, vesti-me e decidi sair, sozinho, como eu sempre me senti, numa adolescência que se estendeu por tempo demais, que só terminou quando finalmente eu assumi para eu mesmo o que eu era e o que eu gostava. O destino: Natal Shopping Center, talvez uma sessão de cinema, sentar naquelas sofás macios e ver as pessoas passar, deveria me fazer bem ver pessoas, talvez ser visto, talvez conhecer alguém num conto de fadas muitas vezes sonhado. Por que não? Os filmes, as novelas, as músicas, todos falavam de encontros em locais que ninguém nunca espera, em encontros não programados, em estórias que começam do nada.
O caminho no shopping já havia sido muitas vezes traçado. Muitas vezes vivido, muitas vezes trilhado. Olhar as vitrines e parar na banca de revistas, ou descer pelas escadas rolantes, e cruzar a praça de alimentação até o cinema, depois, antes da sessão, uma parada obrigatória na Docelândia. Sempre preferi chocolate e salgadinhos, no cinema, a pipoca. Mas sempre sozinho. Naquele dia, não fora diferente. Segui entre as vitrines que distavam a Rio Center da banca de revistas, vasculhei os meus super-heróis preferidos, comprei aqueles que desejava, com uma sacola plática na mão e duas revistas lá dentro, desci as escadas e cruzei a praça de alimentação sendo observado pela foto de alguma campanha Dolce Gabanna, comprei o ingresso para algum filme desimportante e voltei-me aos doces. Lá eu estava, sozinho.
Era sozinho que eu era visto por outras pessoas sempre. Mas as outras pessoas nunca estavam sozinhas. Estavam sempre acompanhadas. Casais de namorados, ou grupos de amigos, olhando as vitrines, ou na banca de revistas, ou descendo as escadas rolantes, ou rindo na praça de alimentação, ou na fila do cinema, ou comprando doces na loja. E eu sentia inveja! Por que eu não podia também estar também acompanhado? Por que não tinha amigos ou estava namorando? A resposta para mim, naquela adolescência sem fim, era simples: eu era gay! Era por isso que não tinha amigos e era por isso que eu nunca encontraria ninguém para namorar comigo. Quantas noites, após o cinema, voltando para casa no onibus, eu chorei em silêncio na certeza que minha solidão duraria para sempre. As lágrimas caíam e eu tentava não soluçar para que ninguém percebesse. Agora repito o mesmo gesto, em Belo Horizonte, revivendo esses momentos, voltando de um shopping onde sozinho, também, fui ao cinema e agora volto para um apartamento vazio, e não consigo não me perguntar: se eu fosse hétero seria assim também?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

PRESENTE: "How Are You Doing?"

INSTRUÇÕES PARA LEITURA DO TEXTO:
Coloque o vídeo para rodar e só aí parta para a leitura.







Noite de quinta-feira, uma noite estranhamente agradável se deitou sobre a capital mineira. Encontramo-nos no apartamento de Aurélio e saímos de lá, eu e Pombinha. Chegamos cedo a Savassi, e fomos tomar algumas cervejas no Yo-yo. Sentados em mesas verdes de plástico na calçada, música eletrônica nos samplers, hashis nas mãos e sushis como tira-gosto, fumaça mentolada em torno de nós. Ríamos e falávamos sobre o Rio de Janeiro, e sobre São Paulo, e sobre Belo Horizonte, e sobre João Pessoa e Mariana. Logo a meia-noite chegou, e tomamos a Antônio de Albuquerque de assalto, chegando às portas da Josefine.
Pouca gente, e a pista principal ainda não abriu. Uma cortina a separa do publico. As pessoas de sempre na Jô, exibindo seus Dolce Gabbana, asco! , e muitas meninas comemorando suas despedidas de solteiro. Quinta-feira é o dia de clube das mulheres! A pista abre, e seis go-go boys em trajes sumários e músculos tesos já estão posicionados e dançam com sorrisos marotos e olhares safados que trocam entre eles. Mais cervejas, agora long neck, Pombinha se atreve a passar a mão nos go-go boys e a música corre solta. É quando escuto atrás de mim: "Hi!". Viro-me e ele continua: "How are you doing?". Eu sorri, ele pensou, provavelmente, que era para ele, mas na verdade me sinto cantado pelo Joey do Friends. "I'm great! Really great!". Ele sorri. "Could you say your name?", eu respondo e pergunto o nome dele: "Eddie", e olhando em volta diz, "Would you like to talk in another place? The music is so loud here!". Concordei e fomos para o lounge, próximo ao bar, pediu ajuda para pedir tequilas e sentamos with our shots. "So, Eddie," - ele sorri - "where are you from?". Antes dele responder, um menino lindo se aproxima e começa a falar com ele, ele olha para mim pedindo ajuda e eu interrompo: "Ele não fala português". O garoto sorri, lindo como só ele, e volta-se a mim. "É que minha amiga nunca viu dois homens se beijando e eu pensei que vocês poderiam...". Entre risos, traduzi: "She wanna see two guys kissing!". Ele sorriu e olhou para a menina, tomou sua tequila, lambeu o sal e mordeu o limão, deixando-o em sua boca, tomei minha dose logo após e mordi o limão na sua boca. Beijamo-nos.
E José Cuervo sobe rápido. Quando dei-me conta, ele me empurrava para dentro de um reservado em que três meninos acabaram de cheirar seu pó. A tampa do vaso que ele senta ainda está suja. Eddie, então, desabotoa minha calça e me engole com maestria. Fazendo com que rápido eu despeje meu prazer na boca dele. "I can't! I'm too drunk!", diz ele quando tento dar-lhe algum prazer. Ele se veste e saímos rápido, quando eu escuto: "Edvaldo! 'Tava te procurando! Ond'ocê 'tava?", ele gagueja em português, "no banheiro". Eu olhei e gargalhei passando direto por ele. "Edvaldo?!?". E voltei para dançar, para expulsar o maldito mexicano que teimava em querer controlar minha cabeça. "¿Que pasa?".

terça-feira, 7 de julho de 2009

A imóvel VIDA DE HEITOR RENARD

Madrugada em Belo Horizonte. Estão os dois deitados, lado a lado, naquela cama espaçosa. Flávio, do lado esquerdo, Heitor do lado direito, um gato cinzento andava pelo chão. Usavam somente suas cuecas, Heitor com uma boxer branca e justa, o outro com uma slip pequena. Conversavam bobagens, e é quando Heitor olha para o teto destraidamente que Flávio se dirige a ele.
- Eu não devia dizer isso, mas...
Heitor dirigiu seu olhar a ele, curioso com o que o outro gostaria de lhe dizer
- ... eu não gosto quando o passivo se mexe.
Heitor o fitou com um olhar sério e o outro sentiu-se no dever de explicar.
- É que quando você se animou, sabe? Ficava rebolando...
Heitor olhava incrédulo, sem saber o que pensar.
- ...eu preferia que, da próxima vez, você não se mexesse tanto.
Heitor levantou-se, o outro achou que ele iria até o banheiro, mas Heitor pegou suas roupas, e enquanto vestia a calça, respondeu:
- Não se preocupe, não acontecerá da próxima vez...
E vestiu a camiseta.
- ... porque não haverá uma próxima vez!
Flávio levantou-se assustado, quis argumentar, perguntar algo.
- É! Você realmente não devia ter dito isso! E obrigado, eu sei o caminho da saída.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

PASSADO: O Giz e a Madeira

Era um menino numa tarde de sol, seus pais trabalhavam na rua, mas ele não podia sair. Correr e brincar com os outros meninos estava vetado, "Fique em casa e cuide do seu irmão", diziam. Ele obedecia, e enquanto o irmão via televisão, ele arrastava um quadro negro pequeno, deitava-o no chão. Depois levantava e ia até seus brinquedos. Pegava uma bolsa, com tocos de giz colorido, amarelo, azul, verde, branco, rosa. Sentava-se numa esteira surrada, só com suas calças curtas, a pele exposta ao vento quente da tarde. Sentava-se.
No quadro ele então se jogava, e desenhava, o giz verde dava vida a árvores de longas e distantes florestas africancas, árvores vinham acompanhadas de montanhas, montanhas com cumes brancos como neve, como ele via nos filmes da Sessão da Tarde. O giz branco se transformava em neve. O menino então voltava a seu cesto de brinquedos e pegava pequenos pedaços de madeira, que guardava como menino pobre, levando o giz branco junto consigo, pintava-os de branco e as montanhas brotavam da bidimensionalidade do chão. Brotavam do Chão.
Virava então o cesto de brinquedos, bolas corriam para toda parte, pinos de plástico de boliche faziam barulho, procurava no fundo as peças pequenas de sua coleção de animais de plásticos. Um leão laranja, uma pantera negra, um hipopótamo roxo, um elefante rosa, uma garça amarela. E ele lembra que não fez um lago. Corre e, sem encontrar todos os bichos, desenha com o giz azul um lago e um rio tortuoso. O hipopótamo tem casa agora, a garça também. Ele então volta ao cesto. Cavalos que viram zebras, veados que viram antílopes, bois que se tornam gnus e o jacaré que vira crocodilo, todos os seus bichinhos de plástico colorido, cada um ganha seu nicho naquela savana de baobás frondosos. Naquela África de um só menino. Um menino.