Google+ Estórias Do Mundo: junho 2009

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quinta-feira, 25 de junho de 2009

PRESENTE: "Teve Aquilo Que Queria"

Na sala do nosso apartamento, eu, Brunno e Anselmo, eles dois sentados, vendo tv, eu de pé, na janela, olhando para a tarde que começa a esfriar num sábado de outono.
- E aí, Anselmo, como foi seu "encontro" ontem?, pergunta o Brunno.
- Constrangedor! Responde ele, sem tirar os olhos da tv.
- Como assim? "Constrangedor"? Pergunto eu.
- Ora, eu, um outro cara, em um encontro... constrangedor...
Rimos da situação. Do fato dele se considerar hétero até pouco tempo atrás, hoje, já não tem mais tanta certeza.
- Bem, foi a primeira vez que você saiu com outro cara, né?, pergunto.
- Foi.
- Então é meio óbvio que seria meio constrangedor - continuo - Você ficou tímido?
- Ah, fiquei! Sabe aqueles silêncios constrangedores? Da próxima vez eu levo vocês.
- Deus me livre de tal sina! - exclamo - Meus tempos de segurar vela já se foram!
Todos nós então rimos.
- Ah, mas teria evitado...
- Mas era um encontro para vocês se conhecerem melhor ora, não tem necessidade de ninguém mais, repito.
- Mas e os silêncios?
- Silêncios? - interrompe o Brunno - Desde quando quando você bebe você consegue ficar em silêncio?
Rimos todos.
- É verdade, devia ter contado seus causos..., complemento e continuamos a rir.
- Mas vocês fizeram o quê tanto ontem a noite? Pergunta o Brunno.
- Nada!
- Nada não, que você chegou às 2:30h da manhã que eu vi. Interpelo.
- É, vocês foram p'ra onde? Pergunta o Brunno.
- P'ro Villa Paraty! Ficamos lá, bebendo, comendo, conversando. Só isso.
- Ah, 'tá! Conclui o Brunno.
Depois de uma pausa, olhando para tv, Anselmo volta-se a mim.
- Mas e você? E o Esaú, vai encontrar quando?
- Bem - depois de uma curta pausa - acho que nunca mais!
- Como assim?! - exclama Anselmo alto, e Brunno me olha assustado - Isso merece até que eu desligue a tv. Vocês estavam tão bonitinhos aqui vendo tv na quarta.
Rindo, eu explico ao Brunno.
- Esaú é o menino que eu conheci no Mineiro Bill domingo passado, e quarta-feira ele veio aqui em casa.
- Ah, aquele que dormiu aqui? Pergunta ele.
- Sim! Ele.
- Mas e aí - continua o Anselmo - porque nunca mais?
- Bem, desde quarta, eu tentei ligar e mandei mensagens e ele não me respondeu mais.
- Nada de três mensagens de boa noite então? Pergunta o Brunno.
- Ele nem responde as que eu enviei, quanto mais me manda mensagens de boa noite.
- É! Pelo jeito depois que ele teve aquilo que queria, sumiu. Disse o Anselmo.
- Pois é!
- Pelo menos você teve sexo de graça, né? Continuou Anselmo.
- Nu!! Surpreendeu-se o Brunno.
- Pois é, pior seria se eu tivesse que pagar. E, principalmente, levando em consideração que a bunda dele era linda. Uma das mais bonitas que já tive o prazer de comer. Lembra a do Fauno Satyr.
- Quem? Pergunta o Anselmo.
- Depois eu mostro o blog dele.

domingo, 21 de junho de 2009

A deliciosa VIDA DE HEITOR RENARD

O corpo de Heitor vibrava de gozo enquanto fleches rompiam a sua mente em disparos consecutivos, trazendo-lhe momentos, revivendo-os. Inicialmente, o fim de tarde em Belo Horizonte, quando Danilo o chamou para uma conversa no MSN pela primeira vez. Uma conversa tranquila. Em seguida, a tarde que Danilo o convidou finalmente para sair; naquela tarde em que estaria livre do consultório mais cedo, convidando-o para conhecer sua casa. Convite prontamente aceito. Exatamente aquela tarde ali.
Novamente suas sinapses se rompiam, fazendo-o perder a noção de tempo, enquanto Heitor lançava jatos para o ar, e tinha seu corpo envolto pelo braço forte do outro, lembrou-se de quando este chegou para buscá-lo, de seu cavanhaque bem feito que agora roçava-lhe a nuca, da camisa apertada mostrando o corpo definido. Conversaram no carro, dirigindo-se a casa de Danilo, este acariciou sua perna e segurou sua mão. Danilo era elegante e sedutor. Relembrou também do aquário, primeira visão assim que a porta se abriu para eles, "Peixes africanos", e da boca que o tocou com desejo, "Você é muito gostoso", ouviu.
Quando a respiração ofegante de Heitor tornara-se gemidos de prazer, com o outro ainda dentro dele, profundamente, comemorou que era a segunda vez que este prazer o encontrava naquela cama. Das nádegas firmes e musculosas que se ofereceram para ele, alguns instantes antes. "Com uma bunda dessas você não pode ser só ativo", lembrou de ter comentado e da risada do outro dizendo que sempre ouvira o contrário. "Quero ver então", e viu o sorriso de satisfação de Danilo, recordando a boca a percorrer-lhe as costas e encontrar as nádegas, e depois sentir seu peitoral rijo roçando-lhe os ombros.
O ventre de Heitor já estava sujo de seu próprio sêmem, quando com seus olhos fechados, ao mesmo tempo que Danilo mordia-lhe a orelha e beijava-lhe o pescoço, ele lembrava de como havia sido penetrado com calma, após o banho que os dois tomaram. Heitor fora o primeiro a deitar-se novamente, nu, de bruços. "Parece um menino de pouco mais de vinte anos", disse-lhe o outro.
Mas já agora, quase sem fôlego, quando sentia Danilo também gemer e tornar-se trêmulo atrás dele, buscando-lhe a boca que, sofregamente, beijava, ele voltou aquele pouco de realidade. "Definitivamente, você é delicioso de qualquer maneira". E Danilo sorriu, feliz com o elogio.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Parada Gay Bombando!!

Terra: Bomba deixa feridos no Centro de SP após Parada Gay

Folha de São Paulo: Bomba caseira explode e deixa três feridos no centro de São Paulo

O Globo: Bomba caseira explode e fere 21 após a Parada Gay em São Paulo

Estado de São Paulo: Bomba caseira fere 21 no Largo do Arouche após Parada Gay

Jornal do Brasil: Parada Gay termina com explosão de bomba caseira

Agora: Festa da Parada Gay tem tumulto e violência

BBC: Sao Paulo holds Gay Pride parade

O Dia: Manifestantes são atingidos por bomba na Parada Gay de SP

G1: Polícia investiga responsável por bomba que deixou feridos após a Parada Gay

Meio-Norte: Bomba deixa feridos na Parada Gay

Último Segundo: Bomba caseira deixa ao menos 20 feridos no centro de São Paulo

Gazeta do Povo: Bomba caseira deixa 20 feridos no centro de São Paulo

Agência WSCOM: Bomba deixou 21 feridos após a Parada Gay em São Paulo


Certo! Agora que vocês já sabem a informação! Vamos a minha interpretação, não dos fatos, mas das notícias. Comecemos pelas manchetes. Note-se que nenhum dos jornais e agências de notícias usou a palavra "atentado" em suas manchetes, ou seja, aquela bomba que foi construída sozinha, acidentalmente se lançou num suícidio bárbaro de uma janela caíndo em meio aos transeuntes. As manchetes poderiam ser: "Bomba suicida", "Bomba se joga em cima de passantes e, sem intenção, explode". O fato de que alguém construiu aquela bomba - "fabricação caseira" - e intencionalmente jogou-a entre outras pessoas é minimizado. Talvez pela certeza que a investigação não vai dar em nada, "Saber quem foi mesmo, a pessoa que fez isso, ninguém sabe", afirmou o tenente da PM Fábio de Nóbrega a O Globo, ou talvez porque jogar uma bomba entre gays é um crime menor. Porque foi tudo apenas um acidente. Somente um acidente.
Assim, chegamos ao nosso segundo ponto, somente O Globo, supõe que o ataque seja realizado por homofobia. O Globo, num artigo assinado por Gio Mendes, é o veículo que definitivamente dá a maior cobertura ao fatídico evento, associando-o a homofobia, ligando ao assassinato de travestis em Curitiba e ao espancamento de um adolescente de 17 anos na Frei Caneca, atualmente em coma, entrevista testemunhas e um policial. Informa, definitivamente, e também emite opinião! Ah, Pausa para explicar o termo, homofobia: crimes de homofobia são aqueles incitados por um ódio pela sexualidade da vítima, o qual o projeto que tramita no congresso quer dar a essa característica um agravante. Um exemplo claro, preconceito é crime no Brasil, existe preconceito por nordestinos, por idosos, por mulheres, porém o preconceito quando é racial, graças a uma lei, é tratado com mais gravidade; um crime de violência então, se a lei passar, se caracterizado por homofobia será tratado com mais gravidade ainda, da mesma forma que um roubo seguido de morte também é pior que um simples roubo. No entanto, nossos jornais analisados, querendo não tomar partido em relação a aprovação da lei, acabam por minimizar o incidente. O Agora, por exemplo, juntamente com a agência WSCOM, e os jornais Meio-Norte e Último Segundo, tratam a explosão apenas como um incidente violento, algo do tipo: "Que feio! Ai ai, viu?", e uma palmadinha na mão de quem jogou a bomba, comparando ao que em outros países é considerado terrorismo com assaltos, brigas e tumultos. É um crime comum! Jogar uma bomba em outras pessoas e bater uma carteira são crimes que devem ser encarados da mesma forma. Diz o Jornal do Brasil, por exemplo: "Aconteceram outros incidentes violentos durante a parada. Dois jovens foram espancados e a prefeitura encheu quatro caminhões de bebidas vendidas ilegalmente. Brigas pontuais também foram registradas durante a Parada, com um rapaz sendo esfaqueado após briga que deixou mais quatro feridos" (Repete comigo: foi tudo apenas um acidente, somente um acidente).
A minimização chega ao cúmulo em dois jornais especificamente, no Estado de São Paulo, que diz, através de Paulo Maciel: "O grupo estava parado ouvindo música alta e dançando em frente de prédios residenciais quando foi atingido", e o Agora, em que Adriana Ferraz e Janaína Nunes assinam a pérola: "Por volta das 22h, o morador de um edifício na avenida Vieira de Carvalho (centro) se irritou com o barulho que algumas pessoas que dispersaram da festa ainda faziam e jogou uma bomba caseira no grupo. Segundo a PM, 30 pessoas ficaram levemente feridas pelo artefato". Sério?! É lícito agora jogar uma bomba nas pessoas porque elas estão perturbando sua paz? Claro, é crime perturbar a paz pública após as 22h, no entanto, deve haver uma liberação naquele caso específico pois estava havendo um evento que precisa pedir esse tipo de autorização para o Ministério Público, e segundo outras notícias a explosão se deu entre 21h e 21:40h, nota-se que as belas e lindas jornalistas associadas a Folha de São Paulo, pois o Agora é o primo pobre da Folha, alteraram um pouco os dados, sem mentir, afinal 21:40h é por volta das 22h, para assim permitir que um senhor, vestindo pijamas e sandálias, incomodado com o barulho das crianças no pátio, jogasse uma bomba nelas. Vou fazer uma comunidade no Orkut: "Sou Fã de Adriana Ferraz e Janaína Nunez", ou melhor: "Eu Atiro Bombas Em Meninos Barulhentos". Pois pelo jeito pode né? (De novo: foi tudo apenas um acidente, somente um acidente).
Próximo ponto: como podemos ver nas manchetes há uma óbvia tentativa de desvincular o incidente (ou devo chamar de atentado?) da parada em si. O incidente/atentado aconteceu após o término da Parada sim, na "zona de dispersão", expressão usada pelos jornais, porém isso torna os dois eventos sem ligação? Mesmo? Então a pessoa jogaria a bomba em qualquer pessoa que passasse, foi apenas uma pura coincidência ter sido no domingo da 13ª Parada do Orgulho Gay de São Paulo, não é? A Folha de São Paulo, a Gazeta do Povo e o Último Segundo não associam na manchete a relação entre a bomba e os militantes/manifestantes/as bichas da parada, apesar de explicarem em suas reportagens; os outros jornais, com excessão do Agora e do Jornal do Brasil, falam primeiro da bomba e depois a localizam na parada, porque a parada gay já foi caracterizada em outro artigo, sendo linda, harmoniosa e desnecessária porque não existe homofobia algum no Brasil, nem nenhum tipo de preconceito, porque somos uma democracia perfeita. E viva Gilberto Freire! Viva! (Foi tudo apenas um acidente. Somente um acidente! Om!).
Acham que eu estou falando bobagem? É uma simples questão de lógica discursiva, se você atraí o termo para o início da sentença, você garante atenção a ele, se o desloca para o fim você garante que o leitor não vai prender-se muito a ele. Duvida que isso funcione? Faz o teste, lê duas dessas manchetes pra qualquer um, uma hora depois pergunta sobre o que era as manchetes, a pessoa responderá bomba em são paulo, não bomba na parada gay. Foi tudo apenas um acidente. Somente um acidente. Vamos repetir isso como um mantra. Quem sabe a gente acredita!?


segunda-feira, 8 de junho de 2009

PASSADO: Sabendo Entrar No Jogo

Eu o tinha visto nos corredores da faculdade. Ele descendo as escadas com seus olhos verdes, calças justas e cabelos espetados, trazia livros, e eu o acompanhei com o olhar, mas ele nem notara a minha presença, falava ao telefone. E eu era um como qualquer outro. Mas naquele domingo, enquanto uma banda sem nome acompanhava alguém cantando Ana Carolina, no Feitiço, ele tomava uma cerveja encostado no bar. Usava jeans e uma regata branca, a pele bronzeada ficava a mostra, exposta ao calor da noite. Seus olhos verdes dirigiam-se a massa que gritava por "Garganta". Foi quando me aproximei, me apresentei, ele sorriu simpaticamente, "Victor", falei que o tinha visto na faculdade, fazíamos o mesmo curso, eu calouro de um curso que fiz apenas um semestre, ciências da religião, ele pensando na sua monografia, algo sobre umbanda. A música ao nosso redor continuava, Fê me observava de longe, aprovando com o olhar. Conversávamos, riamos, eu então tentei segurar-lhe a mão, e ele permitiu, brincou com os dedos entre os meus e eu o puxei contra meu corpo e tentei beijá-lo, ele, exitante, deixou-se ficar e deixou-se beijar. Fê então se aproximou e lançou o olhar guloso dele, Victor o ignorava deitando sua cabeça no meu ombro, enquanto minhas mãos massageavam-lhe as costas. "Vamos sair daqui um pouco?", ele convidou. E nos dirigimos as mesas sob as estrelas daquela noite que continuava quente. Sentamos e conversamos mais, alguns beijos, ele sorria, acariciava minha barba com os dedos, eu brincava com o lóbulo de sua orelha e perguntei: "Vou ganhar seu telefone?", ele se afastou, olhou no fundo dos meus olhos, e disse: "Não!", eu disfarcei minha surpresa com um sorriso e ele sentiu necessidade de explicar-se: "Não me leve a mal, você é lindo, parece ser um cara bem legal, mas eu não quero me envolver com ninguém.", tive o impulso de me levantar e ir embora, mas algo me fez ficar, "Vamos fazer assim? Vamos aproveitar e ficar aqui, curtindo esse momento, você é tão carinhoso, me faz bem, sabe?". "E faz bem a mim?", pensei, sorri e o beijei mais uma vez, entrando no jogo.