Aceitar-se é sempre um problema para qualquer um que se sente diferente. E a forma mais fácil de fazer isso é você perceber que não está sozinho. É você perceber que não é anormal. Que é apenas mais um. Que você faz parte de um todo. Lembro que uma vez escutei, uma psicóloga na tv falar que passamos a adolescência toda querendo ser alguém diferente, gritando para todos que temos personalidade, mas quando nós finalmente entendemos quem somos, e paramos de riscar nossos nomes em qualquer lugar, nós desistimos da individualidade e queremos apenas fazer parte de um grupo. Ter gente ao nosso redor. Iguais. Exatamente o contrário de Malhação. E não nego: se hoje estou tão bem com minha sexualidade isso se deve ao fato de eu ter feito grandes amigos gays. Como isso aconteceu? Bem, deixem-me lembrar...
Tudo começou quando Sílvia começou a contar-me que tinha curiosidade sobre a sexualidade dela. Ela queria experimentar. E eu apoiei. Dizia-lhe que ela deveria tentar, porque, senão, ela teria essa sombra sobre a vida dela. E ela foi. Contou-me que experimentou. Provou. Gostou. E a menina a havia convidado para uma boate gay. Ela foi. E provou. E gostou. E me convidou para também conhecer. Tive medo. Claro. As bobagens que todos pensam. "Será que vou encontrar algum conhecido?". Mas fui. E aos poucos conheci gente. Gente. E mais gente.
Entrementes, eu descobrira a internet. E conheci Felipe. Net, muitas conversas, telefonemas, mensagens de celular. Falávamos sobre o namorado dele. Diego. Falávamos sobre os homens bonitos que víamos na rua. Aos 22 anos, eu aprendi o que é ser adolescente. Felipe tinha 21. E eu e Felipe nos conhecemos pessoalmente. Tornamo-nos amigos. E era bom ter alguém para dividr aquelas coisas, aqueles sentimentos, aquelas dúvidas. Conversávamos sobre como nos descobrimos, como acontecera nossas primeiras vezes. Eu aos 13, ele aos 20.
Mas também nos tornamos baladeiros profissionais. Sexta, sábado e domingo. E pegadores. Adolescentes. Brincávamos com as pessoas. Trocávamos ficantes. Apostavámos quem beijaria mais numa noite. Eu sempre ganhava. Éramos irresponsáveis. Conosco e com os outros. Aos 23, eu cansei. Felipe não. Aos 23, eu sabia que aquela vida de menino não combinava com meus cabelos brancos. Aos 23 eu sabia que era ora de crescer um pouco, e eu sentia, apesar de não querer, que Felipe não estava preparado para isso. Eu procurava outros amigos. Outros que fossem mais adultos que Felipe. Alguém que estivesse ao meu lado para outra coisa além das baladas. E, num lugar insólito, conheci o Peter Pan.
Eu conhecia o Peter Pan da internet. Ele era famoso no Fotolog.com, e eu o achava lindo. E um dia, descobri que ele era gay. Com essa informação e cheio de más intenções, adicionei-o ao MSN, conversamos, conversamos, mas nada concreto se formou. Até que um dia, na praça do CEI, ele apareceu. Reconheci-o pelas fotos. E com uma coragem que às vezes meu sangue leonino me concede, aproximei-me e falei: "Sabe quem eu sou?". Ele inicialmente não reconheceu, mas depois lembrou. E, coincidentemente, nos reencontramos na balada naquela mesma noite. Balada que fui com Dim, ex-ficante de Felipe. Reencontramo-nos, ele estava sentado numa cadeira, eu passei a mão no cabelo dele, em direção a orelha, e fiquei brincando com o lóbulo, ai ele me olhou e me beijou. Ficamos. Eu não acreditava que aquilo fosse possível. Era um sonho! Um sonho que logo tornara-se um pesadelo. Uma hora fui comprar bebida, e quando voltei o Peter não estava mais lá. Sumira, e quando voltou, estava beijando outro. Engoli seco. Saí.
Mas em outro dia reencontramo-nos. Conversamos. Desculpas pedidas. Desculpas aceitas. E começamos a ser amigos. E percebi que o Peter, com sua tara por Garotos Perdidos era muito mais adulto do que Felipe podia ser naquele momento. Peter trabalhava. Peter estudava. Felipe fugia dessas responsabilidades do mundo adulto. Aproximei-me de Peter, meu namorado na época fazia parte do grupo de amigos de Peter e me fez conviver com ele, me fez ir para os lugares q ele frequentava, e como o Peter é alguém que você não consegue deixar de gostar dele, nós fomos nos aproximando e quando o namoro acabou, Peter ficou. Meu lucro. Quando minha amizade com Felipe se desgastou, Peter Pan já se tornara muito importante. Hoje, ele me chama de txio, primeiro porque sou professor, mas agora porque faço parte da família.
Peter Pan era amigo Andarilho. Os amigos do Peter costumavam todos se reunir num jardim a beira-mar numa das praias mais badaladas da cidade. Sentavam, bebiam, brincavam e namoravam. Uma noite, brincávamos todos de verdade ou consequência. E, eu havia visto o Andarilho algumas vezes apenas, sempre com o namorado dele (que no dia que eu conheci, deu em cima de mim) e girando a garrafa, caiu que eu deveria perguntar verdade ou consequência para o Andarilho, que agora já estava solteiro. Ele escolheu consequência e minha resposta foi mais rápida que meu senso de ridículo: "Posso usar a consequência comigo mesmo?". Ele riu. Todos riam. Conhecemo-nos. Na mesma brincadeira, Davi também deveria perguntar ao Andarilho verdade ou consequência, ele corajoso (ou safado) prontamente respondeu consequência e prontamente Davi setenciou: "Beije por 30 segundos o Foxx!". Depois nos conhecemos melhor nas baladas, ele me ouviu falar sobre meus foras, meus complexos, e minhas tristezas, e me apoiou, me deu ombro e conselhos, e durante meu namoro com Beto, nos aproximamos muito, e hoje somos como irmãos.
Ao lado do Peter Pan e do Andarilho, eu conheci pessoas. Amigos, gente igual a mim. Que me apóia. Que me conhece. Que me protege. Porque, quando estamos fora deste mundo (um tanto quanto marginal, não posso negar) pensamos que quando ficamos conhecidos no meio GLS essa informação vai correr como pavio de pólvora e logo estourar na sua vida. Contudo, os gays que sabem de você protegem seu segredo, como esperam que você proteja o segredo deles. "Ei aquele cara é gay?". "Eu não sei te dizer não". Quantas vezes presenciei este diálogo.
Sempre nos preocupamos com a opinião de nossos amigos heteros, contudo, quando os amigos mais importantes são gays, quando as pessoas que você sabe que pode contar são gays, o seu medo de ser descoberto ganha novas perspectivas. Resta-te apenas a família, a proteger dirão alguns, a esconder dirão outros, e dependendo da família as coisas são um tanto quanto mais fáceis.
Eita, que lembrou de tudo...
ResponderExcluirmais se enganou quando falou que beijamos por 30 segundos...na realidade foi por 10 segundos...
hauahuahuhua...eu lembro da cena ! posso pedir a consequência para mim...naquele dia você ganhou meu respeito..pela coragem de pedir uma coisa a um menino que nem conhecia...que já devias ter ouvido falar...que naquela altura do campeonato meu nome já era meio que sujo hehehehehehe...
Grande Peter...conheci na praia...ele infernizando meu namoro, ficando melhor amigo do meu namorado...e enchendo a cabeça dele...e ao mesmo tempo dando em cima de mim pela NET...mais depois disso tudo virou inteiramente amizade... GRAÇAS A DEUS...
Hoje acredito naquela frase que diz "Deus nos dá o direito de escolher nossos irmãos a dedo"
Nossa, que PPA!
ResponderExcluirCada um tem a sua descoberta e dá vazão às vontades de uma maneira. Acho importante, ninguém deve conseguir segurar seus anseios por mto tempo.
Esse mundo da net nos encoroja, qtas vezes passo no blog de um e mudo a minha cabeça completamente...
É isso, bom fds!
Abraço.
Maninho Foxx,
ResponderExcluirEstou sentindo falta disso que vc citou: amigos importantes gays. Conheço vários no mundo virtual, mas no mundo real não (só conheço 1). Sinto essa necessidade de apoio físico (não é isso que vcs estao pensando, ok?). Mas nao me sinto preparado ainda pra frequentar o mundo gls daqui da cidade. Entao, estou num dilema. Vejo que é importante esse tipo de apoio, vc falar e ser ouvido por pessoas que sao como vc, que sentem os mesmos dilemas e tem os mesmos desafios. Mas como encontrar alguem assim?
Bom fds
Beijos
Hauauahauhauhauahauhau!
ResponderExcluirMeu lindo, eu cada dia fica mais impressionado com a sua maneira de escrever... vc me encanta com isso!
E amizade nessa vida é como um alívio pras durezas da vida!
E então o Desbravador é o tal andarilho?
Hum... vou lá no blog dele!!!
Beijão!
E como foi o homem-aranha????
:D
Nesse vai e vem de internet, entra e sai de blogs, eu acabei conhecendo você, você acabou me conhecendo.
ResponderExcluirE a gente foi criando uma amizade que hoje eu adoro e que cada dia mais, eu considero você um grande amigo!
Te adoro, moço! =)
Essa foi a razao numero um por eu ter criado o meu blog: entrar mais no mundo gay. O contato que eu tinha com a realidade gay era muito pequeno, a nao se o que passava na minha cabeca.. entao resolvi fazer o blog. Mas realmente acho que a melhor maneira de voce se descobrir e essa!
ResponderExcluirAbracao cara
Foxx!
ResponderExcluirDepois que meus pais e meus irmãos ficaram sabendo, não tive mais medo de que outras pessoas descobrissem.
Quem realmente importava pra mim, já sabia e já me aceitava, entonces, o resto é resto...
Abraços!
Olá lenin!
ResponderExcluirAcabei de ler num livro algo sobre "não querer ser o único". Era sobre o pessimismo, pois ele te fazia pensar que não era o único desgraçado da terra. Mas acho que isso vale para qualquer coisa. Solidão não é algo que se goste.
E pela net nos conhecemos!! \o/
Abraços
Oi Foxx,
ResponderExcluirAdorei o post, concordo com você. Amigos nos ajudam o criar uma identidade e são geralmente que nos irão apoiar na entrada desse novo mundo.
Nessa brincadeira, eu fiz pelo menos 1 grande amigo... ele trabalhava no mesmo laboratório que eu, e quando descobriram que ele era gay, começaram a sacanea-lo de tudo o que foi jeito. Eu e uma outra amiga que "compramos" a briga e faziamos questão de te-lo por perto. Na época ele não sabia de mim, um tempo depois contei sobre mim.
Ele virou um amigão, é o irmão que não tive!
Abraços, grande post!!!
acho que na minha vida só mudam o nome dos persongens...
ResponderExcluirbom estou em crise com os amigos, mas... amanhã será um novo dia hehe
abraços
Oi, Foxx!!!
ResponderExcluirÉ, legal tua estória. Fiquei emocionado. Fiquei refletindo o tempo que eu perdi escondido no armário.
Abração.
Compreendo essa importância e foi essa uma das razões que me levou a criar o blogue, pois o meu contacto com a cena GLS sempre foi muito reduzido. O virtual é realmente importante, sobretudo para quem ainda não tem a coragem de se arriscar pessoalmente (o meu caso) e pode ser um primeiro passo, mas também é preciso ir com cuidado e não confiar de cara nos primeiros que nos aparecem cheios de boas intenções e conselhos para dar (já tive uma ou outra decepção).
ResponderExcluirGostei muito do teu texto. Abraço!
Amigoooooooooooo! Blz? Adorei teu post! Super bacana! Vc falou grandes verdades!
ResponderExcluirSuper beijo, tá?
OI!!!!
ResponderExcluirAdoro como vc escreve...
Tudo isso que vc viveu é muito importante... tenho tentado resgatar isso, mas não por aki... ainda não tive essa coragem... E muita vezes me sinto adolescente...
Mas é isso... Não é fácil ser diferente.. no fundo queremos ser igual... E ter amigos assim ajuda bastante...
Bjossss
Isso é que é memória, ehn?! Memória de um grande escritor. Querido, quando eu comecei a ter amigos gays tb relaxei quanto a minha homossexualidade, mas bem antes disso já tinha contado a todos os meus amigos heteros que eu curtia outra fruta e ele aceitaram bem. Realmente hj não pensa mais em ser diferente, pelo menos não na vida social. Quero apenas namorar, casar, ter filhos, todos esses sonhos tão comuns a qualquer cara, exceto por querer fazer tudo iso ao lado de um outro homem.
ResponderExcluirAbraços!!!
Gosto muito de ti, querido.
Nos sentirmo bem é fundamental. Eu nunca me senti devendo nada pra ninguém nem em dúvida, é estranho, nunca sai do armário...pq nunca entreo..hehehe Bjs querido
ResponderExcluirAmor...
ResponderExcluirTe amo...
Boa Semana BJos!
ola como vai? Sao tantas as questões que a gent ate se perde, entra em conflito e não sabe para onde correr e entao surge os amigos que te apoiam, opinam e ate te ajudam a resolver determinados questões existencias, sempre digo o que seria da minha vida sem os amigos e não importa se são gays ou HT o que importa é o afeto e consideração, abção ate mai
ResponderExcluirAdorei o texto.
ResponderExcluiressa fase de libertação é, com certeza, a que dá mais medo, por se tratar de um mundo inteiramente desconhecido que estamos prestes a entrar. Mas, depois de alguns anos, a gente olha pra trás e vê o quanto crescemos e como podemos realmente confiar nos nossos amigos.