- Oi, Foxx!
- Pode falar, amigo? - olhei no relógio e era quase meia-noite.
- Posso. Respondeu ele tímido, do outro lado do telefone.
- Tem certeza?
- Oxi, tenho. Que houve?
- Aconteceu uma coisa aqui...
- Omi, fale logo que já 'tô aqui agoniado...
- Lembra do Mr. Creepie, né? Ele colocou as garras de fora...
- Vixi, que foi que ele fez?
- Deixa eu te contar do início para você me dizer se ele tem alguma razão nisso...
- Humm...
- Você sabe que nós não estávamos namorando, não é?
- Sim, inclusive acho que você tava meio que enrolando o menino com essa estória de não assumir compromisso com ele...
- É exatamente este o ponto que quero chegar: eu não tinha nenhum compromisso com ele.
- Sim, de fato, vocês apenas ficavam.
- Então como eu não tinha nenhum compromisso com ele, eu me senti na liberdade de conhecer outras pessoas e teve um menino que eu estava conversando...
- Conversando?
- É, conversando!
- Conversando nada, seu malandrinho, dando mole para o menino, isso sim...
Eu ri, nesse momento, e admiti.
- Ok, era isso mesmo. Dando mole sim. E assim... esse menino me ligou uma noite, de madrugada, era por volta de 2h da madrugada. Eu estava com o Mr. Creepie e ele me perguntou quem era. Eu respondi que era um amigo, porque de fato ele era apenas um amigo, nós nunca nem chegamos a ficar, um amigo que normalmente me ligava de madrugada quando saía para beber, não era a primeira vez...
- Ok...
- Ai tem uma coisa que eu não sei se sonhei ou se aconteceu de verdade: depois dessa ligação, eu voltei a dormir, mas eu tive a nítida impressão que o Mr. Creepie levantou e olhou meu celular, mas não posso afirmar nada...
- Então, ignoremos a sua paranóia...
- Sim, vamos nos ater aos fatos: quando acordamos o Mr. Creepie me perguntou se havia alguma outra pessoa em quem eu estava interessado, e se eu estava sem tesão nele porque já fazia algumas semanas que nós não fazíamos mais sexo (ele havia calculado pelo menos 20 dias). Eu, sinceramente, achei que não devia contar nada sobre o outro menino com quem eu conversava, não tínhamos nenhum compromisso, não havia porque ficar falando coisas que provavelmente só o deixariam magoado, até porque o outro menino também não era nada sério, pois nem nos tínhamos visto pessoalmente ainda...
- Entendi...
- Só sei que fomos conversando no ônibus que me levaria ao trabalho e ele para poder pegar um outro ônibus para a casa dele (ele teria que pegar dois ônibus de qualquer jeito), e até chegamos a conclusão ali que o grande problema do nosso relacionamento era que ele me exigia coisas que eu não estava pronto para dar, e eu exigia coisas que ele não estava pronto para ceder... que era necessário termos paciência um com o outro.
- Ok, mas em que momento ele mostrou as garras.
- Eu estava no trabalho quando recebi uma mensagem do menino com quem eu falava no telefone me perguntando quem era o Mr. Creepie, que ele havia entrado em contato com ele pelo Facebook. Eu soube logo o que estava acontecendo, que ele estava investigando quem era o menino que me ligava de madrugada. Eu achei que por mais que eu tivesse dado chances para ele, esses comportamentos compulsivos sempre retornariam, e eu ia brigar, e ele pedir desculpas, e nós nunca nos moveríamos para frente porque ele estava sempre cometendo os mesmos erros que me incomodavam e prometendo mudar...
- Ai, amigo, você sabe que ninguém muda, né?
- Mas eu tinha que tentar, não tinha?
- Tinha...
- Pois, ele fez mais do que só investigar. Como ele investigou, eu liguei para ele dizendo que isso era a gota d'água, que tínhamos tido uma conversa séria sobre isso horas antes e ele estava fazendo novamente as mesmas coisas... terminei então o que nem havíamos começado, ele falou que não era assim, e começou a pedir desculpas, que precisávamos falar pessoalmente, eu disse que não, não precisávamos.
- Eita...
- Ele então, por telefone, concordou que era melhor ficarmos separados, por fim, terminou inclusive dizendo que eu era uma pessoa especial e que queria manter minha amizade e, que, quem sabe, quando eu me tornasse alguém mais maduro, nós poderíamos tentar de novo.
- Maduro?
- É, e eu concordei com ele, porque nesse quesito "relacionamento", eu sou mesmo imaturo. Mas quem disse que ele ia manter a palavra? Só sei que a próxima notícia dele foi ele me enviando uma mensagem, no Facebook, dizendo "adeus, Foxx", e me bloqueando na rede social. Soube depois que nas mídias dele, Twitter, Ask.Fm, ele começou uma saraivada de indiretas e diretas a mim, dizendo que a vingança era boa e que a raposa agora não passava de uma estola.
Ouvi risos do outro lado do telefone nesse momento.
- E o que ele fez, amigo?
- Bem, ele entrou em contato com o menino que eu estava falando no telefone e mentiu. Falou que éramos namorados, que na hora que ele ligou nós estávamos fazendo sexo, que eu estava enganando ele e o menino. O menino me ligou puto! Acreditou, obviamente, em todas as palavras dele e não gostou nada do que eu teria feito. E quem gostaria não é? Afinal, de repente, ele havia se tornado meu amante.
- Foi só isso que ele fez?
- Só isso? Você acha pouco?
Risos foram ouvidos antes a resposta.
- Claro que acho, por toda a sua história com esse menino, podia ter terminado bem pior. Mas, de fato, que bom que terminou e esse foi o maior mal que ele te causou: o fim de uma paquera. E você aproveitou não é? Você viveu essa estória como queria. Saiu de uma situação sem experiência nenhuma com essa espécie de psycho e aprendeu sua lição, inclusive, agora podendo reconhecer o que havia de psycho nos seus próprios comportamentos anteriormente. Você aprendeu, viveu isso, pena que não durou mais porque eu realmente estava torcendo por você, porque qualquer que te conhece sabe o quanto você desejava que isso desse certo...
- Sim, desejava...
- Pois é, agora só resta ir em frente, e torcer que o próximo que apareça seja um pouco melhor...