Hoje faço 29 anos. E uma nova fase se inicia. Talvez por causa do retorno de Saturno, ou porque três décadas seja um peso considerável, ninguém passa incólume por esse ano que eu começo a viver agora. Segundo o meu mapa astral, um ano de Touro. Mas quais são as grandes mudanças da minha vida? Eu sinceramente não sei. Nunca me imaginei com 29 anos e aguardando os 30. Não fiz planos para chegar aos 30 anos. Mas podemos aqui pensar o que eu já fiz e o que deixei de fazer. Pode ser um jogo interessante.
Eu fiz sexo com mais pessoas do que posso contar, mas amei apenas uma e acho que somente uma vez fui amado de verdade. Fiz sexo em banheiros, em camas, em terrenos baldios, em móteis, com garotos de programa ou com pessoas que não sabiam nem escrever meu nome. Conheci muitas pessoas, mas pouquissimas ficaram, a maioria me achou chato, irritante, pedante ou descartável. Mas conquistei grandes amigos e poucas pessoas, mas sinceras, me dedicaram sua admiração. Com certeza fiz mais inimigos do que amigos. Ajudei aquelas pessoas no que estava ao meu alcance, contudo, as poucas vezes que precisei do apoio de pessoas, foi naquelas que eu menos esperava ajuda que a mão se estendeu mais facilmente. Já conheci pessoas que tive vergonha de apresentar para meus amigos e já outras que estar do lado delas me enchia de orgulho.
Aprendi muito, li muito, vi muita tv e li muitos quadrinhos, mas viajei pouco e vivi menos ainda. Falta muita coisa a aprender, muita coisa pra ler e muita tv para ver. Adoro seriados de tv. Continuo com uma sede de vida, do que a vida pode me oferecer, me mostrar, me desafiar. Nunca sai do país, mas não moro mais com meus pais. Saí do armário para todos os meus amigos, e por aqueles que não me aceitaram eu não derramei nenhuma lágrima, mas tenho pavor de fazer o mesmo para a minha família. Nunca tive um filho, mas plantei inúmeras árvores e escrevi quatro artigos, um livro, publiquei outro e estou editando o meu primeiro romance e escrevendo uma tese. Espartanos vai sair logo. Escrevi poesia, mas abandonei logo o ramo de poeta. Fiz curso de desenho por correspondência, e realmente aprendi.
Criei peixes e periquitos, mas nunca tive um cachorro ou um gato. Meu novo peixe se chama Barnabe, por causa de um filme da Sabrina, a Feiticeira Adolescente. Aprendi grego, inglês e espanhol, mas meu francês e italiano são ridículos. Já pesei 89kg, e também já cheguei a 60kg e tive uma barriga tanquinho, agora eu vivo de dieta e sonho em ser anoréxico, mas adoro pão. Sofro homofobia na pele todo dia que piso na rua, tenho medo de ser agredido e, quiçá, morto qualquer dia, mas tenho esperança que a lei seja aprovada logo. Já participei de reuniões budistas e frequento a Igreja católica com minha mãe, e tenho reservas sinceras contra o protestantismo evangélico que infesta o Brasil. Fiz aula de canto e de dança, também de kung fu, mas não sei dirigir até hoje.
Joguei handebol na escola, participei de coral e só passei a usar a internet em 1999. Já tive cadastro no Disponível e no Manhunt, e no Almas gêmeas. Tive e-mails no Bol, Zipmail, Yahoo, MagicLink, mas agora utilizo o Hotmail e o Gmail. Eu não falava o artigo na frente dos nomes pessoais, mas quando me mudei para Belo Horizonte adquiri esse hábito. Não falo "oxi" ou "oxente", mas adoro o meu sotaque de T's e D's surdos. Nunca me considerei bonito, apesar de realmente não ser muito difícil eu conseguir ficar com alguém, mas sempre me vejo como gordo, desinteressante ou bichinha demais, e sempre acho que todo mundo é areia demais para o meu caminhãozinho. Sou dramático, mas pé-no-chão. Não gosto de fazer convites, prefiro ser convidado. Não falo com ninguém se este não falar comigo antes. Tenho medo de incomodar, de ofender, de ferir, de magoar, de expôr.
Escolhi os nomes para meus filhos todos baseados em livros. Fernando, por causa de Senhora de José de Alencar; Alexandre, por causa de Portões de Fogo de Steven Pressfield; mas o que mora no meu coração é Heitor, por causa da Ilíada de Homero. Nunca me imaginei tendo uma filha. E sim, eu pretendo adotar esta criança. Sonho em ser professor de História Antiga numa universidade federal, por isso abandonei Natal e vim para cá fazer meu doutorado, mas também eu esperava que aqui as pessoas me achassem mais interessante do que na cidade onde eu nasci. Errei profundamente. Continuo aqui chato, irritante, pedante ou descartável, apesar de bom de cama.
Descobri recentemente que na verdade as pessoas têm vergonha de me apresentar a seus amigos. Sempre me pedem dinheiro em troca de sexo, mas eu gasto meu dinheiro com livros, bebida ou cigarro. Tenho mais roupas que meus três irmãos juntos, e sapatos também. Sou gay, mas já achei que eu era bi, o que me deixou bastante confuso. Já fiz ioga, musculação e gosto de fazer caminhadas longas. Gosto de praia e de raios e trovões, sou filho de Iemanjá e Xangô, mas Oxum luta pelo meu ori. Sou versátil, mas comecei passivo, no entanto, quando descobri o que era ser ativo nunca mais larguei o osso. Mas gosto de ser passivo, gosto sim. Não tenho mais o menor saco para pegação.
Gosto de ser útil e de ser importante para alguém. Eu sonhava com alguém que me amasse e que por isso eu me tornaria importante para ele, mas desisti deste sonho, não porque ninguém possa me amar, mas porque eu cansei de procurar. Tenho medo da solidão e adoro os mais magrinhos. Falso magro para mim é o que chamo de corpo perfeito. Depilo minhas costas, mas parei de depilar a bunda. Meu quarto só tem moveis reciclados, com excessão da mesa do computador. Meu computador foi R$ 800,00. Sou alérgico a maioria dos perfumes e o único desodorante que posso usar é Rexona Women Cotton. E eu concordo com meus amigos que acham que a Unilever quer dominar o mundo. Tenho 12 óculos escuros, e minha visão é completamente perfeita. Sou um bom cozinheiro, mas não sei fazer suco. Até hoje me enrolo na hora de colocar a camisinha.
Jogo tarot, baralho cigano, faço mapa astral e leio mão, e tenho um medo terrível do meu futuro. Sou reikiano e apaixonado por X-Men. Coleciono desde meus 12 anos e tenho todas as revistas já publicadas no Brasil. Algumas valem um bom dinheiro. Compro livros em sebos e livrarias e adoro comprar livros. Meu irmão me deu um canivete de presente, aceitei pensando que nunca teria uma oportunidade de usar, quando esta oportunidade apareceu o canivete estava guardado em casa. Tenho um poster de Rodin na parede do meu quarto e um papiro egípcio que me trouxeram do Cairo e cristais no parapeito da janela.
A raposa se tornou meu símbolo graças a meu primeiro namorado, mas hoje provavelmente ele nem se lembra mais disso. Sou facilmente esquecido pelas pessoas que passam por minha vida, pelo menos é o que eu acho. Eu no entanto lembro de todas elas. Tenho uma excelente memória que muitas vezes me faz reviver over and over again certos momentos constrangedores do meu passado. Contudo, uma dose de tequila apaga minha memória por pelo menos as últimas 4 horas. Detesto amnésia alcóolica.
Nunca me apaixonei por um amigo, mas os amo devotada e verdadeiramente. Já pensei em suicídio, mais de uma vez. E já tive chulé e chato, e tenho uma alergia que nenhum médico descobriu exatamente ao que é. Já frequentei psicólogos e acho a maior perda de tempo ever. Adoro ganhar e dar presente. Não sou chocolátra, nem bipolar. Gosto de fazer faxina e já pintei meu cabelo de borgonha e ele ficou vermelho e horrível. Sou careca e odeio isso profundamente. Sou efeminado e aprendi que tenho que odiar é quem me odeia pela forma que eu nasci. Gosto de celulares Nokia e tenho um Sony Erickson. Tive um namorado imaginário chamado Bruno. Tenho imaginação até demais, para dizer a verdade. Não sou altruísta, ajudo as pessoas porque me dá prazer ajuda-las. Já roubei chocolate no Carrefour e a carteira do meu irmão mais velho.
Já tomei Bloody Mary e Lemon Drops, também Sex On The Beach e China Village Mai Tai, e quero provar um Cosmopolitan. Leio tudo que cai na minha mão, mas odeio romances espíritas. Penduro minhas camisetas em cabides separadas por cor. Durmo com quatro travesseiros e amo meu nome russo. Nunca tive paciência para pintura, mas minha mãe sempre me comprava guaches e aquarelas. Foi minha mãe que sempre me incentivou a ler muito. Tenho dentes meio amarelados e meu cabelo, o que resta, é oleoso. Sei fazer argamassa, usar prumo, levantar parede e mexer em instalações elétricas, meu pai me ensinou. Tenho uma maleta de ferramentas. Corpos sarados atraem sim meu olhar, mas um bom papo é tão bom quanto. Acho a Júnior e a Dom revistas para quem não tem o que fazer com sua vida. Vai ler Foucault, amigo! Só tomo leite com achocolatado. Não uso colar ou anel, mas gosto de pulseiras. Sou apaixonado por fotografia. Não sou mais um menino, deixei isso para trás, agora é esperar para ver que tipo de homem eu vou ser.