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sábado, 8 de maio de 2010

PRESENTE: Homofobia(s) II

Prólogo

Belo Horizonte é uma cidade extremamente tranquila. Uma metrópole pacata onde ainda se vê um ritmo de interior. A lei municipal 8.176/2001 também ajuda nisto. A capital mineira foi a segunda cidade do Estado a contar com uma lei que coíbe a discriminação por orientação sexual, a primeira foi Juiz de Fora (lei 9791/2000), ao sudeste do Estado. A época, nove anos atrás, em todo o país, 72 municípios também já possuíam leis semelhantes que garantinham proteção aos homossexuais através de dispositivos legais, tais como: Fortaleza, lei 8211/1989; Olinda, em sua lei orgânica; Salvador, lei 5275/1997; Natal, lei 152/1997; Maceió, lei 4667/1997; Campinas, lei 9809/1998 e Alfenas lei 3277/2001, além de três Estados: Rio de Janeiro, com a lei 3406/2000 e São Paulo, com a lei estadual 10.948/2001 e Alagoas, lei 23/2001; e o Distrito Federal com a lei 2615/2000. Veja os outros aqui.
Hoje o quadro muda para não muito diferente. Somente Recife, entre as capitais, teve uma lei semelhante aprovada (16780/2002), mas cidades como Londrina (lei 8812/2002), Novo Hamburgo (lei 1549/2007), Colatina (ES) (lei 5304/2007), Blumenau (lei 7153/2007) e São João Del Rey (MG) (lei 4172/2007) também aprovaram leis que protegem seus cidadãos homossexuais. E por serem cidades "de interior" merecem duplo aplauso. Entre os Estados, Rio Grande do Sul (lei estadual 11872/2002) e
Minas Gerais (lei 14170/2002) seguem logo o exemplo, logo em seguida a Paraíba (lei 7309/2003) e Santa Catarina (lei 12574/2003), também o Pará (com a renovação de sua constituição) e o Piauí (lei 5431/2004), e os últimos o Mato Grosso do Sul (3157/2005) e o Maranhão (8444/2006).
Isto é para lembrar que existem sim leis que nos protegem, mas precisamos conhecê-las para reivindicá-las. E, principalmente, que devemos saber os momentos de utilizá-las ao nosso favor. Agressão, física ou verbal, não deve passar impune, caso qualquer um de nós passe por estes problemas devemos sempre nos dirigirmos as autoridades competentes e registrar um boletim de ocorrência, tal como eu não fiz. Deixe que eu conte a vocês três momentos, muito raros em Belo Horizonte, repito, mas que aconteceram e eu não fiz nada...



Pampulha
As tardes costumo correr na lagoa, quando a preguiça não me segura em casa, ou um projeto, um trabalho, um livro, ou a chuva, não me impedem de sair de casa. Sempre a tarde. Prefiro o fim do dia. O pôr-do-sol sobre o espelho d'água da lagoa e as curvas das construções de Niemeyer. Tudo fruto da mente insana de um prefeito que virou presidente da república, JK, insana.
Eu já voltava do meu trajeto de 17km, quando cruzo com três garotos, nenhum devia ter mais que 17 anos, nenhum devia ter já chegado ao Ensino Médio. Negros. Usavam permudas e chinelos de dedos, um ostentava um abadá de alguma micareta perdida por aí. Observei-os de longe e percebi logo o que preparava-se para acontecer. Você está acostumado já. Já sabe como eles se preparam para o primeiro golpe, e já trava o abdômen para recebê-lo. O primeiro soco é sempre doce e meloso.
Em tom de deboche, um deles me cantou. "Gostosinha, a menininha né?". Eu não sorri, mas olhei diretamente nos olhos dele. Outro me cerca. "Por essa eu me apaixonava". E ri, gostosamente, como quem descobre uma bela piada. O terceiro não fica de fora: "Ah, me dá um beijo, vai? Só umzinho!". E eu tento continuar o passo, mas eles tentam me deter. Nada que eu não pudesse escapar, nada que eu ainda não pudesse sair dali. Afasto-me alguns passos dele e outro continua a falar: "Ah, beija ele mesmo! Vai!!". Eles riem entre si, satisfeitos em humilhar outra pessoa que não poderia se defender, é quando então eu paro, olho para trás, e sibilo: "Desculpa, mas você é realmente muito feio p'ra eu te beijar, sabe?". E saí, continuando pela orla da lagoa, já indo de volta pra casa. E agora os outros dois riam do que em silêncio ficou, mas não de mim.