Google+ Estórias Do Mundo: novembro 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ESPECIAL SAMPA (Parte 3): Os Encontros

Era uma tarde quente que, de repente, passou a soprar um vento consideravelmente frio, enquanto eu caminhava por aquela calçada de pedras irregulares da Avenida Paulista. Meu ônibus deixara-me na altura da estação da Consolação, vinha de um almoço com o Vilser e o seu marido, Robson. "Não te achei aquela bichinha que você tanto dizia que era", intimidade é uma coisa né? "Era exatamente como eu pensava que você seria". O almoço começou tímido e terminou tímido, com o Vilser servindo de tradutor entre eu e o Robson, nos apresentando na verdade.
Da Consolação, parti em busca da Frei Caneca, pois, diante do shopping, eu deveria encontrar os blogayros. Mas antes eu deveria encontrar um banco porque eu não tinha dinheiro algum, e eu precisaria para pegar o metrô, pois dali eu me debandaria para a rodoviária. Sim, eu carregava minha mala comigo. Preocupado com o banco, não vi a Frei Caneca passar por mim. Encontrei o Banco Real, saquei o dinheiro que precisava, e continuei andando, até perceber que eu já deveria ter passado. Perguntei numa lanchonete e o rapaz me confirmou, eu deveria voltar. E eu que não queria fumar naquele dia, com ódio de mim, comprei um maço de Carlton. "Foda-se!" e acendi enquanto voltava quarteirões. Atrasado, já, mandei uma mensagem para o SAM: "Estou perdido! E a maldita OI não disponibiliza meus créditos!". Três cigarros depois, encontrei a rua, tencionei perguntar a dois seguranças que estavam por lá onde ficava o shopping, e mal eu citei "shopping frei caneca" um deles me interrompeu dizendo que ficava a quatro quadras dali. Agradeci, e segui meu caminho. Na porta do shopping estavam o Paulo, o Megafashionista, o SAM e o Demian. O Paulo me reconheceu: "Lá vem o Foxx!". E todos se apresentaram. Abraços! Mas faltaram os beijinhos! "Vamos p'ra onde?".
Voltamos então pela Frei Caneca, conversando e rindo já. Primeiro bar: "Se chegar mais alguém não vai caber aqui". Continuamos. Segundo bar: Bar da Loca! Entramos, sentamos no fundo do bar, e pedimos cervejas. Eu, o Paulo e o Mega. O SAM e o Demian começaram com suquinhos. "Laranja, com gelo, por favor!". Mas o Demian não resistiu e logo juntou-se ao grupo alcoolizado. Conversas e mais conversas, Demian: "Foxx, de que site você tira aqueles contos que você posta no seu blog mesmo?"; SAM: "Eu tava conversando com o Goiano outro dia e ele falou assim: 'Você acha mesmo que tudo o que ele posta é verdade?', você aumenta um pouquinho né?". Que maledicência!! "Eu só falo a verdade! No máximo dou uma arrumadinha p'ra ficar mais bonitinho. Mas tudo o que eu narro realmente aconteceu".
Risos. O Venenoso então liga para o SAM. O Edu-Ouriço me manda uma mensagem pedindo que eu o ligue. Eu ligo mas "o número ligado se encontra desligado ou fora da área de cobertura". Mais cervejas, mais cigarros, fumam eu, o Paulo e o Demian. As outras mesas nos olham. "Vamos sair daqui quilos e quilos mais magros". O Venenoso chega e, a seis, ficamos lá falando de baladas, nossas vidas, nossos mundos, relacionamentos, namoros e casamentos, experiências, Kylie Minogue e a pista VIP da Madonna, o make up do Venenoso, a chapinha do Demian e do Mega, a progressiva do SAM, "puf!", e que não tem graça ficar com amigos. "Pois me considere fora da sua lista de amigos, Paulo".
Entre piadinhas e conversas sérias, entre promessas de novos encontros e baladas marcadas para o próximo fim de semana, entre cervejas, sucos e sanduíches, ficamos lá até as 22h. Com uma chuvinha que ameaçava cair, deixamos o bar, de carona com o Paulo, eu e o SAM fomos novamente até a Consolação. Lá, me despedi do organizador do encontro, e desci para pegar o metrô enquanto ele ia em busca do seu ônibus. Lá, quando eu me dirigia para comprar o ticket, cruzei com um japonesinho lindo. Olhei para ele, apenas pelo costume de admirar a beleza quando ele fala: "Foxx?".
Facilmente o reconheço. "Edu!". Essas coincidências do destino. "Tentei te ligar...", "Eu te retornei...", "Deve ter sido na hora que eu entrei no metrô...". E um novo abraço. Ele ia encontrar um rolo. Eu tinha que ir pegar meu ônibus de volta a Belo Horizonte. Garoava lá fora. Conversamos um pouco, ali no metrô mesmo, mas eu precisava ir. De mala não mão entrei no metrô em direção ao terminal do Tietê. Plataforma 1, ônibus para Belo Horizonte das 23:00h. Cheguei em BH as 7h da manhã, bem mais feliz. Fiquei feliz em conhecê-los, todos, finalmente, foi apenas um breve encontro, mas que tenho certeza, só abriu novas portas para uma amizade que já existe.



CONVOCAÇÃO
Caríssimos, blogayros mineiros, venho por meio desta convocar a todos para a organização do I Encontro de Blogayros de Minas Gerais. Vamos lá?

sábado, 22 de novembro de 2008

ESPECIAL SAMPA (Parte 2): Diário de Campo

Era uma noite surpreendentemente quente em São Paulo. Eu esperava frio. Afinal chovia quando deixei Belo Horizonte para trás, mas alguns quilômetros de distância separam uma chuva torrencial de uma agradável noite com estrelas no céu. André nos pegou no carro dele. Eu saí para uma boate, ou como dizem os paulistas, "para uma balada", usando uma regata pela primeira vez. Emprestada, devo dizer, afinal eu esperava frio.
Estacionamos o carro. Para um lado a Ultra Diesel, "se você for bonito, ganha V.I.P."; do outro lado ABC Bailão, "acima de 65 anos - 15 reais". Bem, eu não estava disposto, e não me arrependi: ABC Bailão! "Mas qualquer coisa a gente vai p'ra Diesel, 'tá?". Entramos, à porta um simpático senhor de cabelos e bigode brancos apertava a mão de cada cliente que entrava. Apertou minha mão, desejou-me boa noite e eu sorri. E sorri durante toda a noite.
Primeiro pelo set list definitivamente único, o qual me lembrou muito minhas noites em Natal graças ao forró, samba e axé que apareceram entre as músicas. Sou feliz, por isso estou aqui, também quero viajar nesse balão. Superfantático! Mas, sobretudo, não é qualquer lugar que toca Cher, Cindy Lauper e Madonna, junto com Rihanna e Lindsay Lohan. Do you believe in life after love?
Segundo porque aquelas pessoas estavam ali para se divertir. E que pessoas eram essas? Sejamos claros, eu me senti um menino; e não duvido que fosse ali. Eu deveria ser com meus 27-quase-30, um dos mais novos presentes. Sim, eram quase todos velhos. Mas velhos que sabiam se divertir. A noite começou, por exemplo, com uma drag vestida de Clara Nunes dançando na pista diante de mim. "Foxx, você já viu coisa mais feia?". Ela então girava sua saia rodada. Bum bum be-dum bum bum be-dum bum, why do I feel like this? "O velhinho ali 'tá fritando mesmo!", eu e André observávamos enquanto o velhinho, baixinho, de cabelos completamente brancos, dançava e cantava animado. Because I'm living a bad dream. Um teddy também fritava atrás de mim. Suava, dançava, e me deu alguns empurrões enquanto cantava também. Come on up to the dance floor, I've got something so sweet. Dois senhores acompanhados por um loiro e moreno musculosos. Enquanto o loiro não se negava ao serviço que fora contratado, "Quanto será que eles cobram?", o moreno parecia envergonhado, principalmente quando seus olhos cruzavam com os meus. Eu não tinha culpa, meus olhos eram atraídos por aquela beleza. E ele parecia pedir socorro. "Mas eu não posso pagar o que ele te paga, queréedeenho!". Muitos casais também. Casais do tipo que não vemos na novela, nem na boate, nem na reportagem de capa da DOM, pessoas comuns, cheias de estereotipos de como é ser gay, mas felizes, se divertindo a olhos vistos, sem vergonha de ser quem são. Bichinhas tratadas como mulher de malandro, mas felizes por ser quem são.
Porém eu não fui ao Bailão apenas para ver, também fui visto, claro. Aos poucos olhares também começaram a se voltar para mim. At last, my love has come along, my lonely days over and life is like a song. Alguns senhores, outros homens, alguns meninos. Dos que me interessaram, comecei olhando para dois. Um japinha baixinho, de corpo escultural dentro de uma camiseta vermelha que marcava seu braço, ele percebera meus olhares e já sorrira também. "Calma! 'Tá cedo!". Também um loiro de olhos verdes, alto, peitoral largo, e queixo quadrado, usando uma bandana preta na cabeça. "Cara de homem, ao contrário do japinha que parece mais um menino". Tempos depois, eu localizei na pista, ao longe, ele estava do outro lado, um moreno de rosto perfeito, corpo nem tanto, uma bunda muito grande, quase feminina, bem alto, mais alto que o loiro que já era mais alto que eu. Os olhares com o japinha continuavam. Ele esperava que eu chegasse nele. "Foxx, aquele loiro de bandana veio me perguntar se você 'tá solteiro?". Minha surpresa ficou clara. Afinal eu tinha achado ele interessante, mas não tinha visto ele me achando interessante. "Ah, manda ele vir falar comigo". André foi saltitante enquanto eu corava de vergonha. De longe então ele olhou para mim por baixo das sobranceças, sorrindo, me chamou para perto dele. "Sabe quando eu passei por você e vi tua boca: eu precisava beijá-la". Foi a primeira coisa que ele me disse, me fazendo sorrir. "Com esse sorriso a vontade só aumenta". Não tinha como não beijá-lo. "Vamos ali para o canto". Eu o segui, enquanto ele me levava pela mão. Beijamos, um beijo macio, com calma, delicado, bom. Já as mãos vasculhavam. Nossas bundas, nossos paus, minhas coxas, seus braços, meu cabelo, seu rosto. "Queria que você me chupasse!". Eu ri e falei que ali era impossível. Ele concordou."Você é mestiço? Adoro olhinhos apertadinhos". Perguntou onde eu morava e se decepcionou ao ouvir que eu vinha de Belo Horizonte. Algum tempo depois, o amigo dele apareceu, falou que eles tinham que ir embora, e ele se demorou comigo despedindo-se. Afastou-se umas duas ou três vezes, retornando e me beijando mais um pouco. "Adeus!".
Voltei a pista. Encontrei o André que olhava para um cara feio enquanto um gato olhava pra ele. "Não faz meu tipo, pode ficar p'ra você". Chocado, resolvi arriscar, mas o gato só tinha olhos para o André, fiquei então dançando, foi quando o moreno que eu observara do outro lado da pista chegou do meu lado. Ofereceu-me uma Halls e ficamos batendo papo. Foi quando o amigo dele chegou. Pressupôs que estavamos ficando e enquanto o cara foi no bar, começou a elogiar o amigo, dizendo coisas que nós dizemos de nossos queridos amigos, eu então o avisei que não estávamos ficando. Nem um beijinho ainda. "Mas você quer beijá-lo?". Eu ri e disse que sim, e quando o amigo dele voltou, ele falou com ele, fazendo o moreno curvar-se para beijar-me. Foi quando o André chegou, convidando-me para ir embora. Eu me despedi e saí. "Você, hein, safadeeenho, pegou dois?". E rimos o caminho todo para casa.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ESPECIAL SAMPA (Parte 1): Carteado

Saí de Belo Horizonte esperando encontrar frio e chuva em São Paulo, porém cheguei lá numa noite estrelado de sextra feira, mas com uma certa cerração. A mesma cerração que eu costumo ver no meu futuro e que eu queria substituir por um sol claro, por isso estava ali sentado diante do Dih. Quando sentei-me e ele acendeu uma vela e um incenso, e escreveu meu nome numa folha de papel junto com a data do meu aniversário, um arrepio de medo me percorreu a espinha. Ele somou os números e um foi o resultado obtido. O número do individualismo. "Pronto! Vou ficar sozinho sempre é?". Ele me acalma e se explica: "Isso representa que sua Lição de Vida é desenvolver a individualidade e a liderança, ser o seu próprio chefe, não dependendo de ninguém". Eu respiro fundo, concordando. "Você precisa desenvolver a capacidade de tomar a iniciativa e nunca esperar os outros dizerem o que deve ser feito". Isso eu já faço. "Deve aproveitar para descobrir novos campos de atuação. Ser vanguardista, original e intuitivo, liderar e ser ambicioso se quer algum sucesso na vida, mas também não deixar ser envolvido pela arrogância, pelo orgulho e pelo egoísmo". Um outro suspiro meu, e ele termina: "Você é alguém que não precisa do outro para se conhecer, para ser feliz, mas que precisa de alguém para dividir aquele que você é, aquilo que costuma sempre conquistar sozinho, porque você consegue quando quer". Eu olho para aquele papel branco, agora coberto de números, e concordo: "O problema é exatamente esse: quando depende de mim, como meu doutorado, eu sou sempre um vitorioso, agora quando eu dependo de alguma outra pessoa, qualquer coisa que tenha uma outra pessoa no meio é naufrágio certo!".
Ele então veste suas guias. Azuis, verdes, brancas, amarelas, brozeadas. Juntamente com um bracelete. Joga, então, três vezes dezesseis búzios sobre a mesa branca, recolhendo aqueles que caíam virados para cima. Os búzios me deram sete meses. Novembro, dezembro, janeiro. Em sete meses eu serei agraciado com os prêmios que mereço e desejo. Fevereiro, março, abril. Em sete meses eu não terei motivos para reclamar de minha vida. Maio.
Mas que vida é essa? O Baralho Cigano é o primeiro a me responder. Ele inicia dizendo que voltarei a Natal, que minha vida está ligada aquela cidade, onde tenho raízes e família, e, sobretudo, minha vida está ligada ao mar. "Odoiá, minha mãe Iemanjá!". E que eu não preciso me preocupar com dinheiro, que o trabalho e meus estudos são os elementos que nasci para brilhar, que, nesta área da minha vida, o sucesso me aguarda, porém se, e somente se, eu manter-me nas graças de uma filha de Iansã. Uma mulher morena, filha da chuva. Que eu acho que sei quem é. Mas as mulheres me dão sorte.
Sobre o amor, no entanto, o Baralho Cigano me mostrou nuvens, um menino e um homem. A carta das nuvens fala de muitos amores, passageiros, vazios e que, na verdade, mas me iludem e decepcionam do que trazem alegrias. Ó sina, ó azar! E que por causa desses amores, eu não consigo enxergar nenhuma saída para este destino em que me meti. E por isso meu desespero e minha descrença. Mas o baralho também tem boas notícias: ele me contou de dois amores, a carta da Criança e a carta do Mensageiro.
Primeiro apareceu-me um menino. Este vai entrar na minha vida logo logo, mais novo, e muito complicado. Imaturo. Para ser imaturo não precisa ser mais novo, na verdade. O Dih me conta então que ele vai me trazer problemas, muitos. Era só o que me faltava! Porém eu vou me apaixonar verdadeiramente por ele. Um namoro longo, um namoro que pode se transformar incluvise em mais do que isso. "Minha nossa! Quem será?". E eu que sempre atraí menininhos! Mas o Dih ainda falou do Mensageiro, um outro homem, mais velho, rico, estável, adulto, o extremo oposto do menino vai cruzar meu caminho enquanto eu estivesse comprometido. "Mas não te vejo ficando com esse cara, deve ser um affair, coisa rápida, talvez sexo. E ele vai ser da área que você trabalha". Embaralha tudo de novo. "Corta em três com a mão direita". E ele me fala que o menino deve aparecer até o fim do ano. "Ele 'tá no teu presente! E, no fim, uma viagem que não sei se você o leva, ou se você tem que escolher entre ele e a viagem". Chocado! O mais velho, no entanto, só apareceu no baralho num futuro distante, junto com minha ascensão profissional e financeira. "Encerrou?". Ufa! Ufa! Surpreendentemente só coisa boa! "Só coisa boa, hein? E nós vamos comemorar aonde nesta noite esse seu futuro grandioso?". Eu sorri, e agradeci ao Dih com um abraço.

domingo, 9 de novembro de 2008

PRESENTE: Senhorita Porquinha


Como toda noite mineira, esta começou em um bar. Eu, Sibil e Bruno sentados numa mesa numa das calçadas da Savassi, após não encontrar lugar para sentar no Yo-Yo (como sempre!). Cerveja e Gin para a Sibil. Sexo povoando as conversas. "Sexo ativo, aquele quem fala, sexo passivo, aquele quem escuta". Risos demorados, Sibil falando da nova Barbie dele e homens lindos nos cercando como apenas Belo Horizonte proporciona. Uma e meia da madrugada e decidimos ir para casa, mas no meio do caminho, uma vontade de dançar explode nos três e dentro de um táxi rumamos para a Miss Pig. "Major Lock, por favor!". E entramos naquela boate com a luz do neon rosa iluminando nossos cabelos.'"Como o Foxx descobre esses lugares?".
Duas surpresas dentro da Miss Pig: a primeira, festa temática sado-masô! No palco, acima do dj, uma menina, vestida com couro e meia arrastão, chicoteia dois go-go boys mascarados ajoelhados no chão, manequins amarrados e submissos decoram a pista, e nós subimos para o mezaninno para observar melhor. Logo, um outro go-go, este apenas de sunga e enormes olhos castanhos, subiu no palco próximo ao mezaninno, dançava, fazendo meninas suspirarem e meninos tentarem algo com ele. Mãos e conversas no pé do ouvido, mas ele os ignora. Eu o observo dançar, somente. Não me atrevo, nem a tocá-lo e muito menos propôr algo. Acho que isso acaba por chamar atenção para mim, e ele começa a dançar, mirando nos meus olhos, rebola e tira a sunga para mim, sorrindo o sorriso mais safado que já vi.
Quase sem ar, descemos, preciso de uma bebida e vamos ao bar, no qual descubrimos a segunda surpresa: vodca liberada! Um copo, dois copos de vodca com energético. Encontro uma menina linda, de cabelo curtinho, regata verde-lodo e uma tatuagem de uma rosa vermelha que tomava quase toda a parte de trás de seu ombro. Três. "Linda você!", disparo. Um elogio apenas. Ela sorri e me agradece com um beijo demorado. Sorrindo ainda, vai embora sem nem me dizer seu nome. Quatro. Voltamos ao mezaninno, o go-go já passara para o palco principal, agora mais distante, ele não me via mais, mas eu via outros meninos, alguns se repetindo insistentemente, tentando arrancar-lhe um beijo ou um número de telefone. Observo-o de longe, quando uma menina, de cabelos castanhos compridos, usando um colete cheio de bottons se aproxima e começamos a conversar sobre a noite, a convido para ir buscar mais vodca.
Cinco. Ao pé da escada, reencontro a menina da rosa no ombro, ao me ver ela novamente me beija e eu, surpreso, retribuo, Sibil chocado presencia a cena. Mais vodca o acalma. Seis. A menina do colete, Camila, então se vira para mim e, um pouco envergonhada, pergunta se pode me pedir um beijo. "Claro!", e um se transformaram em três até ela sair a procura de suas amigas. Sete. Naquele instante, dou um passo para trás, acabo por esbarrar no go-go boy que dançara para mim lá em cima. Ele aperta meu braço com carinho, e antes que eu virasse para pedir desculpas ele diz: "É assim que você me agradece?". Eu me virei e o vi sorrindo e já se afastando quando eu o puxei pelo braço, "Não! É assim!", e dei-lhe um beijo. Um beijo macio como se meus lábios tocassem seda. Ele apenas sorriu, me olhou com o mesmo olhar safado com o qual dançara para mim e se afastou. Pouco tempo depois a Camila retornou, trazendo uma amiga dela, mas não a beijei de novo, afinal eu não estava mais ali, havia sido arrastado pelos olhos de ressaca que aquele go-go boy lançou para mim.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

PASSADO: Isso Tem Nome, Inveja!

Numa noite, há oito anos atrás, eu andava pelas salas de bate-papo no Uol. Pessoas entravam e saíam. Nicks, nomes falsos, ativos e passivos, "de onde você tecla?", "como você é?". Ele entrou e puxou papo comigo. Conversamos o trivial, MSN, fotos, papos mais quentes, ele quase virgem, eu com um passado que o encantava. Surpreendia. Tornei-me seu confidente. Eu fui a primeira pessoa a quem ele contou que estava namorando, com um menino que também conhecera no bate-papo, na mesma noite que eu.
Conheci-o pouco tempo depois, ao lado do namorado dele. Formavam um belo casal, marcamos no Feitiço, uma boate que funciona aos domingos. Eu os encontrei no fundo da pista, próximo a mesa de som. Conversamos, rimos juntos e tornamo-nos grandes amigos. Fê e eu tornamo-nos unha e carne. Ligações diárias, conversas longas, nos encontravámos quase todo dia. "Eu não achei que faria um novo amigo assim. É bom ter com quem compartilhar essas coisas pela primeira vez". Ele me mandou essa mensagem, e ali eu soube que ele me considerava seu melhor amigo. Meses depois, o namoro terminou. Eu fui seu conselheiro, e seu ombro quando ele precisou. Tornamo-nos figurinha fácil de ser encontrada nas baladas pela cidade. Sempre juntos. Baladas hetero na semana. Baladas gays no fim de semana. E um padrão começou a aparecer.
Fê via minhas façanhas. Os homens que eu pegava. Boates, bares, casas de praia. Ele via os olhares que eu atraía. Na rua, na praia, na padaria. Ele via a coragem que eu tinha. Felipe ficou com inveja. Primeiro, ele propunha competições com um riso irônico no rosto. "Vamos ver quem beija mais hoje?", e ele cansou de perder. Depois ele começou a dar em cima de todos os meninos que já haviam ficado comigo. "Tem uma tensão estranha entre vocês dois", disse-me um, uma vez, "parece que vocês estão competindo". Eu não estava, já ele. O terceiro passo do Fê foi tentar me imitar: e aí eu o vi se arriscar, dar em cima de homens héteros não é para qualquer um, é necessário um radar muito apurado para saber onde você está se metendo, e saber avançar na medida que ele te dá espaço. Felipe não sabia disso. E eu o vi apanhar, sendo necessário eu salvá-lo de um cara que gritava: "Porra! Eu não sou viado!". A quarta tentativa foi começar a se interessar pelos meninos que eu queria ficar. Ele sabia dos meus interesses, sobretudo dos meus gostos, então, quando conheci o Peter Pan e me interessei, Fê decidiu que conseguiria ficar com ele antes de mim. Numa festa de carnaval que eu o vi tentar agir, puxei-o num canto e disse-lhe que ali ele estava passando dos limites. "Nós não temos inveja dos nossos amigos!". Ele respirou fundo, e me olhou com os olhos negros e apertados que ele tinha. "Então acho que não somos amigos!". E saiu, e nunca mais falou comigo.