Google+ Estórias Do Mundo: outubro 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

EXTRA, EXTRA, EXTRA: Que o Diabo Te Carregue!

No meu quarto, no computador passa Jericho há horas, deitados na minha cama estamos eu e o Pequeno Diabo.
- Você acha mesmo que sua vida hoje foi moldada por sua opção sexual? Ele me pergunta surpreso.
- Claro! Tenho certeza absoluta disso!
- Mas por quê? O Pequeno Diabo se senta, realmente querendo ouvir o que tenho a dizer.
Olho para ele e respondo: - Olha, eu tenho certeza que a pessoa que sou hoje foi moldada pelo fato de eu ser gay. A pessoa que eu me orgulho de ser hoje não seria a que é, se eu fosse hétero. Ou se, pelo menos, fosse possível disfarçar que eu sou gay.
- Como assim?
- Ah, se eu fosse hétero, ou pelo menos pudesses disfarçar, eu provavelmente estaria casado com alguma menina por aí, e teria dois filhos, ela - claro - teria casado grávida, e seria um professorzinho qualquer da prefeitura da cidade do Natal e do Estado do Rio Grande do Norte. Com poucas ambições, e provavelmente cheio de preconceitos.
- Mas por que você acha que se fosse hétero não teria as mesmas ambições?
- Porque minhas ambições são a tentativa de mostrar para mim mesmo que eu não preciso viver dentro do gueto que eu fui criado para viver. Eu fui criado para ser manicure num salão de beleza...
- Para tudo! Tua mãe te educou para ser manicure num salão de beleza?
- Não assim tão diretamente. Mas eu era um menino muito... como direi?
- Delicado?
- Isso! E as pessoas decidiram que eu era gay antes de eu saber o que era isso. E passaram a me tratar assim. Meus irmão evitavam ficar próximos a mim! Minha mãe... lembro que ela me chamava de "florzinha", quando se chateava com algo que eu tinha feito. Isso tudo me marcou muito profundamente... por isso, hoje, a pessoa que eu sou é exatamente o resultado de todas essas coisas.

sábado, 25 de outubro de 2008

PRESENTE: The Love Is Dead!

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada.
Concordo!
Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram.
Como assim? Mesmo não recebendo o carinho que procuramos devemos sempre tentar de novo e de novo? Isso não é o contrario do que a frase anterior dizia. Clarice, Clarice, minha adorada Libélula, não bagunça minha cabeça.
Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição.
É verdade, se ele não te ama, é melhor desistir, não vai ser seu carinho, suas grandes demonstrações que o vão fazê-lo do nada querer-te. O Amor sempre nasce a primeira vista: você olha e se encanta por alguém, se você vê-lo como um simples amigo, ele nunca se tornará um grande amor.
Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés.

Que bom que não sou só eu que acho o Cupido completamente louco.
Os sentimentos são sempre uma surpresa.

Atualmente eu não considero mais uma surpresa, é sempre tão lógico: eu gostei dele => ele não gostará de mim, uma sequência infalível. Acho que cada tentativa minha acaba se tornando uma forma do universo me mostrar que isso, encontrar um amor, não vai acontecer. Talvez algum anjo, santo ou deus olhe para mim e diga: "Meu querido, porque você ainda tenta? Não vê que é inútil?".
Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido
.
Quantas vezes eu procurei esmolas, hein? A última vez foi o Trintinha que jogou isso na minha cara, ainda não me recuperei das palavras dele, elas ficam ecoando na minha cabeça toda vez que eu saio para a balada. "Você é uma pessoa tão incrível, merece mais que isso!". Mas eu consigo encontrar algo a mais do que esmolas numa noite? Lábios e sexo descartáveis em "pessoas descartáveis", pra citar o Oz.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer.
Meu problema é que aqueles que me querem - é, existem uns poucos - eles não chegam nem aos pés do que eu considero que eu mereço. Durante muito tempo da minha vida, eu me acostumei a aceitar essas pessoas, a aceitar porque nenhuma outra pessoa se interessava por mim mesmo, então tinha que agradecer aos anjos, santos e deuses por alguém ter olhado para mim, ou seja, eu aceitava esmolas porque achava que não poderia conseguir aquilo que desejo. Isso não é saudável! E explica porque nunca me apaixonei por nenhuma das pessoas com quem tentei namorar. Com excessão de Beto, que nunca me amou de verdade, para quem eu era apenas uma muleta para ele recuperar-se do seu ex. E citando Ugly Betty: "Por que eu não teria direito ao meu próprio conto de fadas?"
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.
Pois é! O que caracteriza um psicótico? Ter os mesmos resultados e continuar tentando! Estou oficialmente desistindo de namoros, paqueras e afins, não nasci para este jogo. Este texto da Clarice Linspector (que roubei do blog do Latinha) serviu agora para corroborar minha tese.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

PASSADO: Quatorze Anos, Quinze Horas e Cinco Minutos

Lembro deste dia com uma clareza que nem as minhas lágrimas conseguem embaçar. Eu tinha quatorze anos, ou seja, coloca treze anos nas minhas costas. Eu estava deitado na minha cama, na parte de baixo de um beliche de madeira num quarto que eu dividia com meus três irmãos desde muito, lia Cinco Minutos de José de Alencar: "É uma história curiosa a que lhe vou contar, minha prima. Mas é uma história e não um romance". Foi quando meu irmão, o segundo filho do meu pai, eu sou o terceiro, entrou no quarto. Ele parecia nervoso. Juntou umas roupas, virou-se para mim com o dedo em riste e disse-me, as palavras ecooam até hoje nos meus ouvidos: "Você acha que quando papai morrer você vai poder virar uma bichinha, é? Na minha casa não, viu! Na minha casa não!". E saiu.
Eu não sabia de onde tinha surgido aquilo. "
A mulher é uma flor que se estuda, como a flor do campo, pelas suas cores, pelas suas folhas e sobretudo pelo seu perfume". As letras ficaram embaçadas rapidamente porque as lágrimas me saíam aos borbotões. Eu queria morrer. Definitivamente ali eu desejei profundissimamente a minha própria morte. Foi a primeira vez que eu pensei em suicídio. Pois eu tinha certeza que não era amado por ninguém naquela casa onde eu vivia. Meu coração de menino ficou em pedaços, "triste e pensativo, como um homem que ama uma mulher e que não conhece a mulher que ama".
Foi quando um calor - que os homens chamam de esperança - se ascendeu dentro de mim. Eu fechei meus olhos úmidos e sonhei que um dia alguém me salvaria daquela vida. Que alguém olharia para mim e me amaria por aquilo que eu era, por aquilo que eu sou. Que não se importaria se eu era gordo, magro, bicha ou não. Alguém que estaria ao meu lado em qualquer situação. Eu fechei os olhos e imaginei um príncipe que me resgataria da torre. Bobo? Infantil? Ora, eu tinha quatorze anos! Eu tinha uma imensa certeza que não importava o quanto demorasse, cedo ou tarde, esta pessoa surgiria na minha vida e realmente me amaria, realmente me aceitaria. Essa foi a primeira vez, que eu lembre, que eu sonhei com um amor para mim. Desde esse dia, eu espero...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

PRESENTE: Outro Ponto de Vista

Noite de uma sexta feira em Belo Horizonte, eu não sabia o que encontraria lá. Festa na Faculdade de Letras da UFMG, pensava em me divertir, beber um pouco, quem sabe descolar uma menina, mas quando cheguei foi com ele que me deparei. E estava parado na entrada da faculdade, e ele passou por mim. Odeio estes sentimentos dentro de mim, mas não consegui evitá-los. Eu o observei passar: casaco vermelho, com capuz, uma barba por fazer, lindo! Ele pareceu me notar, olhou-me por um segundo, mas logo baixou os olhos, eu não consegui fazer o mesmo, ele passou e eu só consegui acompanhá-lo com o olhar. Malditos desejos! Malditos sentimentos!
Nesta hora eu sabia que deveria ter ido embora. Sabia! Mas entrei, o encontrei lá dentro. Na verdade, entrei procurando por ele, eu o procurava e o encontrei, mas quando o vi tentei fugir. Tentei fugir de mim mesmo, da minha vontade, dos meus malditos desejos! Mas eu sempre voltava a procurá-lo, com o olhar, e quando ele estava fora do meu campo de visão eu sentia a imensa necessidade de descobrir onde ele estava. Foi assim que o vi conversando com amigos que fumavam maconha, outros que bebiam com ele, o vi conversando com meninas também. Foi quando decidi: não posso ficar com ele, isso é errado! Muito errado! Homem foi feito para mulher! E é com uma que eu vou ficar hoje.
Não foi dificil descolar uma bela morena. E, como por encanto, após o primeiro beijo que dei nela, vi que ele estava próximo a mim na hora, ele simplesmente sumiu. Aquele que era a minha tentação desaparecera logo após a cachaça grátis ser anunciada por uma menina no microfone. Não resisti, fui ver se ele estava lá. Bebia com dois amigos, um inclusive já estava ficando bêbado. Eu peguei uma bebida para mim também. Voltei para junto da minha mina. O que eu estava fazendo procurando por ele? Ora, eu gosto de mulher!
Com isso ele desaparecera de novo. E o pior é que quando ele sumia eu me desesperava. Não sei porquê, quer dizer, sabia, só não queria admitir. Não queria admitir que aqueles lábios me atraíam tanto quanto ou mais do que esta menina. Procurei-o durante toda a noite, e ele não reaparecera. Eu já tinha certeza que ele devia ter ido embora, quando o vi em meio a multidão e sorri. Não consegui evitar e sorri. Ele viu e sorriu também. Sorriu para mim. Aquele cara lindo abriu um sorriso lindo também para mim. Eu gelei, e gelei mais ainda quando o vi vindo em minha direção. Acho que tudo ficou em câmera lenta a cada passo que ele dava. Foi quando ele passou direto por mim, apenas apertando meu braço, e continuou caminhando. Eu olhei para trás, ele me olhava, sabia o que ele queria, que eu o seguisse. Mas eu não podia... ou podia?
Maldito álcool! Malditas cachaças! Foram elas que me fizeram seguir os passos dele. Mas eu fui certo de que ia dizer que foi tudo um mal entendido. Ia pedir desculpas para ele, se tinha dado a entender que queria algo com ele. Ia dar um fora nele. Se ele insistisse eu ia cair de porrada nele. Ia sim. Mas o encontrei atrás das escadas, ele sorriu e me disse boa noite. Eu balbuciei que aquilo era errado. Ele se fez de inocente, quando ele me perguntou "aquilo o quê?" de uma forma tão bonita que desmanchou todo o discurso que eu tinha planejado. Eu pretendia citar a Bíblia! A Bíblia! Mas ai ele me puxou para junto dele, quando vi aquela boca tão perto, aquela barba tão macia, eu não resisti e o beijei. Beijava, olhava nos olhos negros dele, o cabelo liso pintando de vermelho, a barba macia que eu fazia questão de passar a mão, como também passava a mão na cintura macia dele, e ele também me permitia apertar-lhe a bunda. Na verdade, foi ele quem colocou a minha mão na bunda dele. Ele me beijava e falava pouco. Não perguntou meu nome. Só me beijava e, quando percebia minha exitação, me tranquilizava. "Pare de racionalizar, só faça o que você está com vontade", ele me disse com um sotaque doce. Queria perguntar de onde ele era, de onde aquele homem tentador tinha aparecido, mas eu não queria me envolver com ele. Claro que não, ele é gay, eu não sou. Não sou! Eu sou homem! E teve uma hora q eu quis ir embora, mas acho que ele leu minha mente. Quando pensei em me afastar, ele segurou no meu pau sobre a calça. Cara, puta que o pariu! Eu queria, juro que eu queria sair dali, mas agora eu não conseguia mais. Não conseguia. Foi nessa hora que eu perguntei o nome dele: Foxx, ele respondeu.


PS: Meus caros, sim este texto é baseado em fatos reais. Eu fiquei com um menino que se dizia hétero numa festinha na universidade, esse texto, a partir da perspectiva dele foi possível porque ele mesmo me falou muitas coisas depois: que estava fugindo de mim e ao mesmo tempo me procurava; a parte da câmera lenta e de ter pensado em me bater e, sobretudo, cada elogio feito a minha pessoa saiu da boca dele.

PS²: No post anterior não aconteceu nada que mereça destaque. Fomos a boate e rolou uns beijinhos. Só.

sábado, 4 de outubro de 2008

PASSADO: Dito e Feito

Um sábado a tarde, em frente ao computador, era uma coisa comum. Era o horário de marcar a balada da noite, principalmente se na sexta ninguém tinha se jogado na Vogue. Ou seja, a pergunta no ar era "vamos ou não vamos para o Avesso?", nem sempre íamos, haviam outras opções, nenhuma outra gay - com excessão das raves da D-Place -, mas haviam. Foi num sábado a tarde que ele voltou a minha vida. Osama era seu nickname naquela tarde, e nada mais apropriado. "Foxx, quando a gente vai se ver, sair, fazer qualquer coisa?".
Meses atrás tínhamos nos conhecido, ele dizia-se hétero, negro, mas com traços delicados, minha altura, com um abdômen perfeito daqueles que são dons divinos. Eu o achava lindo. Felipe queria porque queria levá-lo para uma cama. Saímos algumas vezes juntos, com o Felipe, o Dim e a Mila, sempre programas héteros - boates e casas de praia - porque nós nem cogitávamos alguma possibilidade. Apesar que Felipe tentava. Ele sempre tivera este mal costume: nunca sabia ouvir um não. O que só o irritou quando aconteceu.
Devia ser um domingo. Tédio e calor empesteavam o ar. Estávamos os cinco no apartamento do Dim, tínhamos visto O Xangô de Bakerstreet no DVD e conversávamos quando alguém perguntou se o Osama ficaria com um menino. Ele pensou um pouco e, exitante, falou: "Eu poderia experimentar". Felipe, é óbvio, lançou olhares gulosos. "Mas só se fosse o Foxx". Eu fiquei vermelho. Mila riu alto e começou a incitá-lo: "Ele 'tá aí, ó, é só experimentar". Ele argumentou que era hétero, que não faria isso, mas completou: "Se fosse para ficar com um homem pela primeira vez eu escolheria o Foxx, sim". Ela insistiu mais, ele se negava mais, até que falei: "Olha, Mila, ele não quer! Deixa quieto que também ninguém perguntou se eu topava!". Não, eu não pretendia mexer com o orgulho dele. O orgulho que todo homem bonito tem. Ele, inclusive, adorava saber que muitos homens, além das mulheres, o desejavam, ele os esnobava dentro de um jogo que ele achava muito divertido. Eu presenciara em diversas outras ocasiões. "Então você não quer?". Ele perguntou sentando-se do meu lado. "Você é hetero! Ganho nada querendo você não! Sou vacinado!". Foi aí que ele me beijou, sem jeito e muito nervoso, um beijo tão rápido que quando acabou Mila falou: "Eu beijo minha mãe igualzinho, faça isso direito!", e ria, enquanto Dim e Felipe recolhiam os queixos que caíra ao chão.
Ele se levantou, parecia não saber se continuava ou não, eu o ignorei. Ele sentou-se perto da Mila, ela argumentava que ele tinha que ter a "experiência completa" ou não teria valido de nada. O olhar dele parecia muito confuso. Ele devia estar precisando de uma bebida, mas não havia nada além de água ou suco ali. Foi quando ele se levantou e veio em minha direção, pediu que eu levantasse e me puxou pela cintura, desta vez, beijando com vontade. "Sua barba arranha", eu disse que era porque ele tinha beijado um homem, ele riu. "Nem excitado você ficou, definitivamente o senhor é hétero".
Mas, naquele sábado à tarde, ele me chamava para sair, eu concordei e perguntei aonde ele gostaria de ir. "O Avesso, que tal? Eu queria conhecer! E quem sabe lá, a gente...". Eu, do outro lado do computador, não pude conter o sorriso. Topei. Queria ver no que isso ía dar. Lembrei das conversas com Mila, ela querendo saber se ía rolar algo entre a gente. Eu dizendo que se algo fosse acontecer só seria depois de alguns meses, que era o tempo que ele ia precisar para digerir todos os sentimentos confusos que estavam latejando na cabeça dele: a vontade e a culpa deviam estar corroendo-o. Dito e feito, meses depois ele estava de volta.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PRESENTE: Quanto Mais Eu Rezo...

Fim de tarde, um céu anil sobre Belo Horizonte esconde a ameaça de granizo que paira sobre a cidade. A aula acabara de terminar. Nós saímos juntos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, descendo a escada, que leva até o ponto de ônibus dentro do campus, quando ambos passamos direto.
- Ah, você também pega ônibus lá fora?
- Não, não! Eu moro logo ali. Uma quadra depois da Antônio Carlos. Acho que dá até para ver meu prédio daqui. - e me coloco na ponta dos pés - ó é aquele telhado ali.
- Ah, você é uma pessoa... - ele desiste do que vai falar de repente, eu percebo, mas finjo que nada aconteceu, pois ele continua - a gente tem uma turma ótima né?
- ... - melhor não responder, sei o que vai sair dali se eu continuar esta conversa.
- As aulas são sempre divertidas, né?
- Ah, sim! É verdade! - droga! - Tem sido bem divertido fazer essa disciplina.
- Quantos anos você tem?
- 27, e você?
- 25!
- Não parece! Você parece ter menos! - Parece mesmo, pena que parece que faz vinte anos que sua mãe largou você fora e criou a placenta! Vai ser feio assim no diabo que te carregue, prejura! 'Tá c'a muléstia!
- Sério?! Você é a primeira pessoa a dizer isso.
- É! Eu te daria, no máximo, 20 anos.
- ... - ele pára, parece tomar coragem - Já arranjou algum amor mineiro?
- Eu? Não sou disso não, menino!
- Mas por quê?
- O povo não gosta de mim não - falo enquanto caminho olhando como os galhos retorcidos das árvores daquela alameda emolduram o céu azul.
- Como isso é possível? - ele sorri aquele sorriso feio, mas cheio de bondade dele - Bonito, simpático, inteligente, bom papo, você deve arrasar corações por aí.
- Eu? Ah, quem dera! Se isso é verdade, então não sei demonstrar muito bem - fico conversando com o Jovem Grisalho, começo a acreditar nas coisas que ele me diz.
- Não? - ele deve ter planejado tudo isto, porque agora faz uma pausa dramática digna de um filme - Pois se você estiver aceitando currículos, eu me inscrevo.
- ... - Um buraco! Um buraco!
- ...
- Nem sei o que dizer.
- Fui muito direto né?
- Um pouco!
- Mas não precisa dizer nada não. Olha, eu vou ficando por aqui, viu? Qualquer dia me convida para conhecer sua casa, seus livros, 'tá?
- Convido sim! - Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! - Convido, pode deixar! - E um rapaz lindo, como só os mineiros conseguem ser bonitos, cruza meu caminho. Ah, um desses não vem me dizer uma coisa assim, né?