Era uma vez um menino que nasceu diferente e o mundo definiu que ele era gay. Ninguém perguntou o que ele era, eles só definiram um estigma e colocaram-no em sua testa como uma coroa de espinhos. O estigma também o feriu. Também o fez sangrar. Psicólogos foram chamados. Conselhos de padres foram buscados. Mas ninguém lembrou de perguntar ao menino o que ele era.
Ele tinha 7 anos e já era. Não importava o quê, mas era. Aos 7 anos, o menino não tinha noção do que ele era, mas ele era. Porque “quando o povo fala, ou é, ou foi, ou será”. Não tinha importância o que o menino era, importante era que todos já haviam decidido o que ele era. Não precisava perguntar.
Ele não podia ser só diferente? “Ele não é um menino igual aos outros, só isso”. Mas isso não é resposta que se dê. Ninguém “não é”, todos tem que “ser”. O mundo queria uma definição segura sobre aquele menino de 7 anos, queriam saber o que ele era e aquilo que ele não era. Por isso o batizaram apressadamente, correram apressadamente, o condenaram apressadamente. Mas ninguém lembrou de perguntar ao menino o que ele era.
Desde os 7 anos, o menino quis ser outra pessoa. Porque todos diziam que ele era uma coisa, que ele sentia profundamente que não era. Mas aos poucos, o menino começou a convencer-se de que era. O menino começou a achar que se todos falavam, ele devia ser, afinal, como todo mundo ia errar? O menino pensou: “Se eles dizem, eu devo ser”. E quando ele começou a pensar, até o menino esqueceu de perguntar a si mesmo se era.
Então, a partir dos 7 anos, sendo ou não, o menino achou que era. Ele devia ser. Todos diziam: “Parece que é”. Mas dentro dele, ele não era. O mundo queria que ele fosse, porque assim eles estavam mais seguros, não precisavam pensar uma nova categoria para o menino. Ficava mais fácil usar àquelas que todo mundo era. “Quem é esse menino para exigir que pensemos?”.
Mas um dia o menino de 7 anos cresceu. Claro ele cresceu pensando que era, contudo conhecendo como o mundo era, o menino descobriu que tinham decidido o que ele era sem tê-lo perguntado. Ele percebeu que antes que o perguntassem qualquer coisa haviam aprisionado qualquer desejo seu de ser alguma coisa. Afinal ele era. Agora que ele era, só lhe restava ser aquilo que quem é, era. Manter-se marginal e distante dos holofotes. Se era a sombra que lhe pertencia? Era.
Mas o menino não queria ser assim. Não queria prisões. Sua diferença estava exatamente na liberdade de fazer qualquer coisa. Sem limitações. Sem pré-definições. O menino queria lançar-se ao vazio e ver no que dá. Mas o menino era. E este era aprisionava-lhe na Terra, prendia seus pés no chão.
Ele precisou de ajuda para desamarrar os próprios pés. E tornar-se leve de novo. Leve o bastante para que o vento o levasse. E levasse o que ele era embora. Afinal aquilo que não somos, sai com água. Ele não era, e aprendeu que aquilo que ele é, ainda não foi inventado.